Se “quem cala consente”, o que pensar de quem reclama muito, de tudo, de todos e o tempo todo? É claramente perceptível na cultura brasileira a dificuldade que muitas pessoas e organizações humanas têm para conviver com críticas e reclamações, consistentes ou não.

Acredito que, se alguém reclama, é porque está querendo passar alguma mensagem, dar algum recado e, portanto, não é só para encher a paciência do outro. Para quem trabalha com a gestão estruturada na condução do seu negócio, seja ele público ou privado, ouvir a voz do cliente e ter canais para a sua manifestação é o mínimo que se espera de quem possui inteligência estratégica. É preciso dar vez e voz ao cliente e se preparar para responder às suas necessidades e expectativas. Isso deve ser feito em tempo rápido e compatível com a complexidade da situação, tanto para assimilar as reclamações procedentes quanto para mostrar as causas das reclamações que não procedem. Qualquer fornecedor de bens e serviços, interno ou externo às organizações, deveria ter a consciência de que o cliente interno ou externo também está cada vez mais consciente, exigente e informado. Não dá para enganá-lo ou omitir condições gerais e específicas, pois as informações estão cada vez mais disponíveis por diversos meios no mundo digital e até fora dele.

Além disso, podemos considerar o cliente que reclama como alguém que tem um certo grau de esperança na solução do seu problema pelo fornecedor, no qual ele ainda acredita. Já o cliente que não reclama pode silenciosamente abandonar o seu fornecedor, principalmente nos segmentos da economia em que existe grande concorrência.

É dessa capacidade de ouvir o cliente que surgem muitas informações e oportunidades de melhoria e inovação de todo um processo de trabalho e, provavelmente, a um custo bem menor, por exemplo, do que o de uma pesquisa encomendada para esse fim.

Nunca é demais lembrar que uma oportunidade perdida não tem recuperação. Ainda mais sabendo-se que a informação que chega através da reclamação pode se transformar em conhecimento. E esse conhecimento pode melhor orientar a tomada de decisão de quem precisa se posicionar nessa era de incertezas em que vivemos.

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A palavra problema é provavelmente uma das que mais aparece no vocabulário das pessoas nesses tempos de prevalência prolongada das crises política e econômica. Essas crises se realimentaram ante a incapacidade e a falta de legitimidade e liderança dos participantes do cenário e nas cenas que protagonizaram, tanto na ação quanto na omissão. Tudo depende dos projetos de poder geradores de todos os tipos de alianças e movimentos.

Conceitualmente, do ponto de vista da gestão, considera-se que problema é o resultado indesejável de um processo que, por sua vez, é um conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos. Portanto, se não houver causas e acontecer um efeito, no mínimo estaremos diante de um “milagre”.

A primeira condição para se resolver um problema é admitir que ele existe. Isso pode ser considerado como a metade da sua solução, sabedores também que gerenciar é resolver problemas. Entretanto muita água costuma passar por debaixo da ponte até que se demonstre e que se aceite a existência de um determinado problema.

Uma atitude bem frequente para muitas pessoas é simplesmente a de ignorar a existência do problema. É como se ele não existisse enquanto a vida segue, parecendo que nada de diferente está acontecendo.

Outra atitude, mas com ligeira evolução em relação à anterior, é aquela em que as pessoas negam o problema ao saber de sua existência.

Também existe uma outra variação em que as pessoas não assumem o problema e criam desculpas para se colocar fora do processo. Também é uma atitude muito frequente de quem não quer resolver nada, simplesmente achar um culpado e jogar a bola para cima dele.

E a outra metade?

Obviamente que os outros 50% necessários para a solução de um problema estão com as pessoas que querem solucioná-lo, inclusive com a consciência de saberem o que depende delas ou de outras pessoas e instâncias de poder. Nesse caso prevalecem o querer, o foco, o método e a constância de propósitos na busca da solução do problema. Pode-se até chegar à conclusão de que o problema não tem condições de ser solucionado naquele momento, mas se chegará a uma conclusão e a uma tomada de decisão. Isso espantará a sensação de que existem problemas parados no meio do caminho e sem solução.

O grande desafio será sempre a atitude proativa em busca da solução do problema pois, caso contrário, o que às vezes é apenas uma simples anomalia pode se transformar num problema crônico e de solução mais cara à medida em que o tempo passa.

E você, que atitudes toma diante dos problemas que vão surgindo no seu dia-a-dia?

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Eu não sabia

por Luis Borges 1 de julho de 2016   Gestão em pauta

Escrevi o texto abaixo em 04 de novembro de 2005. Há pouco mais de dez anos o Brasil passava pela CPMI dos Correios e tomava conhecimento da existência do Mensalão, pagamento feito a deputados que votassem favoravelmente aos interesses do Poder Executivo Federal. A narrativa básica do Presidente da República à época era só dizer que “não sabia de nada”. Mais de uma década se passou e continuamos a ouvir histórias de corrupção e de poderosos que “não sabiam de nada”, apesar dos bilhões de reais envolvidos.

Como se vê é preciso muita paciência histórica diante de tantas mudanças que ainda precisam acontecer.

“Quem não mede não gerencia”

por Luis Borges em 04/11/2005

A nação brasileira está sendo espectadora de um festival de denúncias, surpresas, escavações de fatos, apresentação de documentos, acareações e muito espaço na mídia. Tudo isso se enrola e desenrola na formação de um longo crepúsculo em cujo caminho aparecem furacões, tempestades tropicais, operações “abafa” e pizzas que se assam lentamente.

Se eu tomar emprestados os versos de Chico Buarque e adaptá-los ao momento, eu poderia dizer que “vai passar essa fase de nossa história de tenebrosas transações”. Mas até quando vamos esperar que se mude a vida e a postura perante a vida? Até quando continuaremos a bradar o discurso da ética, da transparência e da cidadania, sempre na esperança de que a prática seja um dos critérios da verdade?

Por que acontece tudo isso e logo aparecem as lideranças do país dizendo que “eu não sabia”, e todos se blindando com argumentos abusivos em relação à inteligência de qualquer ser humano?

Imaginemos uma pessoa que seja empreendedora, mas que se utilize de um método consistente para gerenciar o seu negócio. Poderia ela ter tanto susto? Ela poderia dizer que não sabia? Claro que não! Se ela tem método, obviamente ela controla, mede os seus resultados e sabe o que se passa em sua organização humana, seja ela uma empresa, uma escola, uma ONG, uma entidade ou mesmo um órgão público explícito. Planejar é pensar antes e é da essência do método. Não dá para fazer as coisas duas vezes antes de pensar e é preciso saber que todos os atos trazem consequências.

Portanto dizer que “eu não sabia”, não exime ninguém da responsabilidade que tem na gestão de qualquer negócio, ainda que seja por omissão, conveniência ou conivência.

E você, como está em relação ao controle das variáveis que impactam fortemente o seu negócio? Com que frequência você faz as suas medições? Ou você vai me dizer que não sabia que deveria medi-las?

Medir para controlar e controlar para gerenciar são partes importantes nas boas práticas da gestão de qualquer negócio.

Reflita sobre isso! Se a sua prática ainda não é suficiente lembre-se que é possível “despiorar”, atingir o nível zero, manter, melhorar e inovar, sabendo-se que “do passo a passo se faz o caminho”. Mas é preciso querer e não abusar da inteligência das pessoas dizendo que “eu não sabia”. Para aprender, talvez seja necessário cortar na própria carne e no próprio osso que a suporta, mas também isso deve ser feito com método.

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Quem quiser ou precisar conhecer com um bom nível de confiabilidade a real situação do funcionalismo público brasileiro poderá encontrar uma razoável dificuldade. Muitas vezes as informações estão escondidinhas em vários tipos de relatórios, que são apresentados de maneira desintegrada e nem sempre amigável. Outras vezes os acessos não estão disponíveis apesar de aparecerem citados nos sites como se estivessem. Mesmo quando se recorre à Lei de Acesso à Informação não se tem a garantia de que ela será obtida e em quanto tempo.

Nesse momento em que o país se encontra em plena recessão econômica e sofrendo todas as suas consequências – inclusive queda na arrecadação de impostos, contribuições e taxas – crescem os questionamentos sobre diversas variáveis que envolvem as pessoas que trabalham para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Salários, gratificações, benefícios, horizontes de carreira, aposentadoria integral pelo regime próprio, penduricalhos como auxílio para moradia, livro e mudança de domicílio, diárias e jatinhos, só para citar alguns exemplos, pressionam os custos sempre crescentes independentemente do nível da receita. As disparidades existentes entre os três poderes e o Ministério Público chamam a atenção para determinados níveis de privilégios e colocam em questão a qualidade do gasto, a Previdência Social própria para o setor público bem como sobre o tamanho que o Estado deveria ter.

Ao garimpar mais informações consistentes envolvendo essas questões encontrei o Relatório Final dos Debates sobre a Previdência Social, produzido no âmbito do Fórum de Debates sobre Políticas de Emprego, Trabalho e Renda e de Previdência Social. Ele foi produzido pelo então Ministério do Trabalho e Previdência Social, tendo sido divulgado em 10 de maio de 2016 e publicado no dia seguinte pelo DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.

Apresento a seguir alguns pouquíssimos fatos e dados contidos no Relatório que chamaram minha atenção sobre a dimensão da estrutura existente nesse grande sistema.

  • Os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) asseguram a proteção previdenciária aos servidores públicos titulares de cargos efetivos e são disciplinados pelo art. 40 da Constituição Federal, pela Lei nº 9.717/1998 e por alguns dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal.
  • Além da União, dos Estados e do Distrito Federal, existem RPPS em 2052 municípios, incluídas todas as Capitais;
  • Não possuem RPPS outros 3.517 municípios, cujos servidores vinculam-se ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS) do INSS que paga os proventos de seus servidores aposentados e pensionistas (porém, cerca de 70% da população brasileira vive em Municípios que instituíram o RPPS, devido a sua prevalência naqueles de maior porte).
  • Em 2014 existiam no RPPS da União 1.195.852 servidores ativos, 566.390 aposentados e 411.475 pensionistas perfazendo um total de 2.173.717 pessoas.
  • Nos Estados e Distrito Federal eram 2.678.043 servidores ativos, 1.442.815 aposentados e 490.215 pensionistas num total de 4.611.073 pessoas.
  • Já nos Municípios eram 2.379.189 servidores ativos, 449.055 aposentados e 132.573 pensionistas dando um total de 2.960.817 pessoas.
  • Portanto são 9.745.607 servidores entre ativos e inativos sempre recebendo proventos integrais.

O que mostrei aqui é apenas a ponta da ponta do iceberg que envolve o serviço público, mas dá para sentir o tamanho do desafio a ser enfrentado por quem espera equilibrar as contas públicas a partir de premissas racionais.

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Há pelo menos 30 anos ouço falar em reforma da Previdência Social enquanto entra e sai governo. Se reforma pode significar a reorganização de um sistema, o remendo apenas substitui uma pequena parte que já não funciona a contento. Alguns governantes tiveram até dois mandatos consecutivos, que resultaram em pequenos remendos e muitas bravatas, num jogo mais de cenas do que de vontade de mudar alguma coisa para melhor. Basta a lembrança do fator previdenciário, que reduz a remuneração de quem se aposenta em torno dos 50 anos de idade mesmo tendo atingido o tempo de contribuição por ter começado a pagar lá pelos 15 ou 16 anos de idade.

Mas por que a reforma da Previdência Social incomoda tanto a todos nós? Está em nossa cultura o desejo de parar de trabalhar profissionalmente o mais cedo possível e com a garantia de receber proventos que nos assegure a continuidade da vida no ócio com dignidade até o dia em que os olhos se fecharem definitivamente. Mas o que pesa tanto para o equilíbrio e a sustentabilidade da Previdência Social nos setores privado e público?

No caso do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que se aplica aos trabalhadores da iniciativa privada, é importante enumerar alguns aspectos marcantes que o evolvem. Sempre se fala aos quatro ventos que “existe um déficit anual crescente em suas contas”, mas ninguém se lembra de apontar que em 1988 a Constituição Brasileira determinou a incorporação de 5 milhões de trabalhadores rurais na condição de aposentados. A condição era que o Tesouro Nacional repassaria ao INSS o valor gasto com os pagamentos, mas isso já deixou de ser feito há décadas. Em 2015 o RGPS teve um resultado negativo de R$85,8 bilhões em função do superávit de R$5,1 bilhões da previdência urbana e do déficit de R$91 bilhões da previdência rural. A contribuição urbana representa 98% e a rural 2% Como falta transparência e a gestão é frágil, sobram informações incorretas, manipulação de dados, fraudes, roubos e desperdícios. Não dá para esquecer que a recessão econômica e 11,5 milhões de desempregados impactam e contribuem para reduzir a arrecadação, bem como a desoneração da folha de pagamentos salariais das empresas. Também é importante lembrar que a taxa de fecundidade já chegou a 1,7 filhos por mulher e a expectativa média de vida já se aproxima dos 75 anos.

Sendo assim, vale discutir de maneira racional, sem manipulações governamentais, sindicais – de empregados e empregadores – e de partidos políticos as várias variáveis que interferem no modelo e na gestão do RGPS, tais como idade mínima para se aposentar, tempo e teto máximo de contribuição, fontes de financiamento, auditorias e transparência para permitir o acesso a todas as informações.

Espera-se que dessa grande discussão não prevaleçam propostas que só transfiram para os trabalhadores todos os ônus de uma reforma que reequilibre o sistema, enquanto o Estado e seus governantes de cada momento poderão fingir que a solução não passa por eles.

Enquanto isso, um grupo de trabalho foi criado em Brasília para apresentar uma proposta de reforma em 30 dias para posterior discussão no Congresso Nacional. Esse tempo já está quase acabando, mas a discussão será muito desgastante e penosa devido aos interesses em disputa no jogo. É claro, e também se espera, que o Regime Próprio da Previdência Social que se aplica aos servidores públicos federais, estaduais e municipais dos três poderes também faça parte dessa discussão, que deve apresentar uma solução integrada para toda a Previdência Social – para o serviço público e o serviço privado – , seja ele na cidade ou no campo.

Até lá, a corrida para a aposentadoria só tem aumentado, em função daqueles que querem assegurar os direitos adquiridos em vigor sem ter que se submeter a possíveis regras de transição.

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Quem herda o cargo, herda também os encargos. Essa frase é frequentemente citada para lembrar àqueles que assumem um determinado cargo, seja ele público ou privado, que as coisas boas e os problemas ruins fazem parte do pacote. São a dor e a delícia inerentes ao exercício do poder, emanado das atribuições advindas do cargo.

Observando e analisando especificamente o cargo de Presidente da República Federativa do Brasil nas ultimas décadas constata-se, por parte de quem o assume e de seus aliados partidários, uma constante denúncia de que a situação está ruim e que receberam uma “herança maldita”.

A julgar pelos balões de ensaio e pelas “bateções” de cabeça entre Ministros do interino Presidente da República, que têm como pano de fundo o desequilíbrio das contas públicas, não me surpreenderei se eles começarem a falar que receberam uma “herança maldita”.

A razão é simples. Nos últimos dias a mídia repercutiu que o rombo nas contas publicas gerou um déficit em torno de R$170 bilhões. Como não basta ser eleito, é preciso mostrar resultados positivos, dá para imaginar o desafio que está nas mãos de quem chegou ao poder via impeachment e tem que rapidamente dizer a que veio.

Essa é a hora ideal para que o Presidente em exercício, sua equipe de Ministros e sua base partidária aliada mostrem e demonstrem toda a sua capacidade de resolver problemas, de atingir metas. É hora de demonstrar competências que vão muito além da mera ocupação do poder pelo poder. Também é hora de apresentar o planejamento estratégico, o desdobramento de suas metas, uma estrutura organizacional adequada ao atingimento das metas e um orçamento “pra valer”, compatível com a realidade econômica do país. Tudo isso visto de maneira dinâmica pela gestão estratégica, que reforçará os posicionamentos e determinará os necessários reposicionamentos estratégicos.

Como diria Assis Valente em sua musica Brasil Pandeiro, “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. Eu diria que, para isso, será necessário ter competência política e gerencial. Caso contrário, o grito das ruas soará cada vez mais alto e o discurso da “herança maldita” não será suficiente para justificar as expectativas frustradas de quem acreditou que bastaria assumir o poder para que tudo fosse modificado para melhor, como num passe de mágica.

A gravidade do momento aumenta a urgência para a apresentação de soluções, principalmente sabendo-se que o caminho mais curto e tentador do aumento de impostos, contribuições e taxas é cada vez mais inviável e insustentável. Portanto, só resta a quem está no cargo cumprir com a sua obrigação, principalmente depois de tanta desenvoltura demonstrada no período que antecedeu o dia da posse interina no cargo. As águas ainda estão passando debaixo da ponte e estrelas mudam de lugar.

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A julgar pela quantidade de pessoas que percebo reclamando de tudo e de todos nos mais diversos ambientes, fico com a sensação de que só existem pessoas no papel de clientes. Tudo é causa para reclamação, ainda que nem sempre os critérios de mensuração da qualidade estejam claramente definidos e especificados.

Clientes tão exigentes assim insatisfeitos e intolerantes com os outros, notadamente em tempos de recessão econômica,  bem que poderiam se lembrar que também cumprem o papel de fornecedores.

Papéis

No dia-a-dia, somos clientes mas também fornecedores de bens e serviços. Essa relação entre fornecedores e clientes obriga as pessoas a terem atenção ao papel que cumprem nos diversos processos em que atuam cotidianamente. Tudo depende do referencial, que dinamicamente as coloca em mão dupla, ora fornecendo e processando os insumos, ora recebendo os resultados do processo.

Os papéis de cliente e fornecedor se alternam sem cessar.

Os papéis de cliente e fornecedor se alternam sem cessar.

Inegavelmente, quem avalia e diz se está satisfeito ou não, inclusive atribuindo uma nota, é quem recebe o resultado. Nesse sentido a primeira pergunta que as pessoas deveriam lutar para responder é se os seus clientes estão satisfeitos com o que lhes está sendo entregue.

Isso poderia ser feito avaliando-se três dimensões básicas: qualidade intrínseca, preço e atendimento. São itens que são – ou deveriam ser – sempre observados, analisados e medidos por quem está no papel de cliente. A partir de medidas e critérios definidos, esse espaço de avaliação é o espaço aberto para que se defina se a reclamação do cliente é procedente ou não.

Como se vê, essa é uma maneira bem simples de ouvir a voz do cliente e torná-la parte integrante do processo que deve satisfazer suas necessidades e expectativas. Essa avaliação pode ser conseguida com uma pesquisa de satisfação formal ou com um bate-papo informal durante os contatos diários com os clientes, por exemplo.

Fica aqui o grande chamamento para uma reflexão sincera para embalar a nossa melhoria contínua no papel de fornecedores. Estamos cumprindo todos os prazos combinados, seja para entregar um simples relatório seja para entrar com um processo no Poder Judiciário? Estamos atendendo a todas as especificações estabelecidas para os bens e serviços contratados? Os preços praticados estão adequados e competitivos ou tentam repassar ruindades internas para os clientes?

Sei que é mais fácil cobrar, reclamar e ser vítima dos outros, mas se tudo começa com a gente, por que não atuar no papel de fornecedor com mesmo afinco demonstrado no papel de cliente?

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Já são passados 20 dias da ruptura de uma barragem de rejeitos da Samarco Mineração, empresa controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, em Mariana (MG). As tragédias social, ambiental, tecnológica e econômica, dentre outras dimensões, prosseguem estampadas em diversas mídias.

Se considerarmos um conceito bem simples sobre o que é um sistema, podemos defini-lo como um conjunto de partes interligadas. Mais uma vez, ainda poderemos aprender com as lições trazidas pela tragédia apesar do alto custo desse aprendizado.

Em função das informações já disponíveis, que observações podemos fazer em relação ao sistema de gestão do negócio usado por todas as partes envolvidas e interessadas em seu resultado? Fazendo uma análise crítica fica visível que muitos fundamentos da gestão estão presentes apenas na intenção, mas não são acompanhados da necessária intensidade dos gestos. Neste texto, a proposta é tirar lições desse caso para as demais organizações.

Imagem de satélite mostrando a área atingida pela lama em Mariana. / Foto:  Globalgeo Geotecnologias, retirada do portal G1

Imagem de satélite mostrando a área atingida pela lama em Mariana. / Foto: Globalgeo Geotecnologias, retirada do portal G1

Plano de ação

O caso de Mariana evidencia desleixo na preparação e na execução do plano de ação para desastres. Nesta matéria da Folha, por exemplo, mostra-se o “jogo de empurra” entre governo federal e estadual. Afinal, quem aprovou o documento, que não previa uma estratégia para avisar os moradores da região em caso de rompimento da barragem? Na terça, o jornal Estado de Minas afirmou que um plano de ação contratado pela Samarco há anos nunca foi posto em prática, por razões econômicas. A empresa contratada à época diz ter feito um planejamento extenso, prevendo proteção à comunidade e aos funcionários, mas disse que ele não saiu do papel.

Um plano de ação é o caminho usado para se atingir uma meta. Ele mostra o que vai ser feito, como vai ser feito, a qual custo, quem será o responsável pela ação e em que prazo tudo deverá ser feito. Portanto, se não houver esforço e transpiração, o plano será estéril, não permitirá que se chegue ao resultado esperado.

Responsabilidades

A Organização das Nações Unidas (ONU) cobrou publicamente governo e empresa pelas falhas na condução do caso. Criticou as medidas insuficientes e a demora na ação, evidenciando a inaptidão das partes para tomarem para si as responsabilidades.

Por que as pessoas que possuem atribuições em função das partes que representam, tais como poder público, investidores, clientes, fornecedores… não cumprem na íntegra os seus papéis? Por que faltam o querer, a vontade de fazer acontecer, a cooperação nos processos de trabalho e o assumir explícito da responsabilidade de cada pessoa e sua respectiva organização?

Creio que falta a presença firme dos líderes e também a cobrança dos resultados das ações ao longo da hierarquia presente na estrutura organizacional. Cada instância deve cumprir de maneira integrada o seu papel e, para isso, é preciso querer, ter vontade política e encarar todos os riscos decorrentes do seu exercício. Os atos e as omissões têm que ter consequências mas, se isso não acontece e predomina a complacência entre as partes, fica claro que ainda estamos longe da excelência que um sistema de gestão integrado pode ajudar a alcançar.

Dilma Rousseff e Fernando Pimentel durante sobrevoo das áreas atingidas pelo rompimento da barragem em Mariana. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma Rousseff e Fernando Pimentel durante sobrevoo das áreas atingidas pelo rompimento da barragem em Mariana. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Cumprimento da legislação

Nesse caso específico, fica evidente que a lei que trata da segurança de barragens não foi cumprida em sua plenitude. Também é visível que quem tem a missão de verificar seu cumprimento também teve seus momentos de inércia e negligência. Basta verificar o que fizeram – ou deixaram de fazer – antes da tragédia a própria empresa, os órgãos fiscalizadores de município, estado e União, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Ministério Público entre outros.

As normas e leis fazem parte do ambiente de negócios e devem ser levadas em conta. Ninguém está isento de suas responsabilidades ou das consequências em caso de descumprimento das regras. Todo empreendimento tem uma responsabilidade social e não cabe omissão.  

Como prosseguir?

A lição que fica é que ainda faltam disciplina, constância de propósitos e  líderes para praticar efetivamente o que sistemas, métodos, normas e leis determinam, apesar dos inúmeros interesses das partes envolvidas que sempre estão em jogo. Os fatos e os dados estão aí sendo escancarados e a nos mostrar que o escondidinho, a omissão e a resistência à transparência vão ficando cada vez mais insustentáveis.

Querer trabalhar com método e saber que as organizações são feitas por pessoas que cumprem papéis ligados aos diversos interessados são necessidades que jamais poderiam ou podem ser ignoradas. Estamos na era do conhecimento e, se o plano proposto para uma ação orientada não for colocado em prática, com certeza ele será estéril, não dará resultados e deixará evidente que foi apenas uma carta de intenções. A prática é um dos critérios da verdade.

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Meta flexível não é meta

por Luis Borges 27 de outubro de 2015   Gestão em pauta

A meta de superávit primário, a economia que é feita para pagamento dos juros da dívida pública, novamente não foi atingida.

meta, superávit

Um breve histórico

A meta inicial era encerrar o ano de 2015 com uma sobra de R$66,3 bilhões, o equivalente a 1,19% do Produto Interno Bruto (PIB). Em julho, era visível que a meta não seria atingida. Por isso, ela foi revisada para baixo, passou a R$8,747 bilhões – 0,15% do PIB.

Em outubro, sem atingir a segunda meta – que ainda não foi aprovada pelo Congresso Nacional, conforme exigem as Leis de Responsabilidade Fiscal e Diretrizes Orçamentárias – o Ministério do Planejamento está propondo a terceira meta para fechar o ano. Dessa vez será com um déficit, que pode chegar aos 90 bilhões de reais.

Além disso, está em discussão a meta de superávit primário para 2016 que, em função das várias variáveis que a cercam, pode ficar muito aquém dos 0,7% do PIB atualmente previstos.

Onde vão parar as metas?

O superávit primário é mais um exemplo de indicador com sucessivas metas não atingidas. Outro exemplo de meta fracassada é a da inflação anual, com seu “centro da meta” em 4,5%. Essa incapacidade de atingir os indicadores cria ambiente propício para a criação de heresias em relação ao sistema de gestão de negócios. A Presidente da República solicitou opções para a criação de uma meta flexível, casuísmo que finalmente tornará a meta atingível em função da mudança dos números conforme os choques conjunturais. É como se, num jogo de futebol, um pênalti fosse batido com o gol vazio, dependendo apenas do jogador chutar a bola com alguma direção para marcar.

Na prática, isso significa se isentar da gestão de riscos ao mesmo tempo em que são revogados conhecimentos científicos que fundamentam e conceituam uma meta como sendo um objetivo que possui valor e prazo para ser atingido. Meta, como este blog já abordou em postagens anteriores, não comporta um adjetivo como flexível, nem eufemismos como “centro da meta”, “limite inferior” e “limite superior”. O objetivo a ser atingido é o alvo que faz movimentar todo um plano de ação. Não existe sub alvo.

Para quem, como eu, acredita na essencialidade do conhecimento gerencial e que a gestão é o que todos precisam para resolver problemas de qualquer natureza, fica a certeza de que a catequese tem que continuar. Não existe substituto para o conhecimento, que deve ser continuamente buscado e aplicado com a disciplina e constância de propósitos que os sistemas e seus métodos exigem. Esse é o caminho para quem quer ter uma credibilidade sustentável.

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A cultura brasileira está fortemente impregnada pela afirmação de que errar é humano. Ela acaba sendo um lenitivo para as pessoas que admitem ter cometido um erro e que se auto-absolvem quando tocam no assunto. A expressão está se ampliando, e muitos já dizem que errar é humano e permanecer no erro é burrice.

No entanto, persistem muitos casos em que as pessoas não admitem que erram e reafirmam, com muita convicção e arrogância, que estão no caminho certo. Elas não dão o braço a torcer, consciente ou inconscientemente, mas primam pela teimosia aliada a uma boa dose de autismo. Só depois de muito apanhar com o próprio erro é que, às vezes, passam a ensaiar uma forma de admitir que, de repente, algo não saiu conforme o imaginado ou que algum detalhe importante não foi percebido como deveria ter sido. Seja lá como for, o fato é que os erros sempre têm consequências e, em muitos casos, é necessário conviver com os seus resultados ruins.

Você já imaginou outra lógica para abordar o assunto? Podemos partir da premissa de que acertar é humano e que, por isso, é possível e preciso fazer o certo desde a primeira vez. Poderíamos também pensar numa salvaguarda, reforçando que acertar é humano, mas às vezes os humanos erram e até reconhecem isso. Um pouco de humildade ajuda na percepção de limitações e imperfeições.

Tomando como referência o dicionário inFormal, a palavra certo indica exatidão. Entre seus sinônimos são citadas as palavras correto, exato, preciso, verdadeiro e apropriado.

Sendo assim quais seriam as condições necessárias para se fazer algo certo desde a primeira vez? Eu digo que é preciso ter método e conhecê-lo bem para poder aplicá-lo na solução de um problema em função do seu tamanho e natureza. Portanto é preciso conhecer e reconhecer que o problema existe e que pode ser demonstrado através de fatos e dados. Aqui não pode existir espaço para o achismo e nem para os desejos de que a realidade seja moldada em função de meras necessidades de um projeto de poder, seja ele individual ou de grupos. É preciso ter foco, disciplina e muita transpiração, com alguma inspiração. Assim, da observação dos fenômenos e da análise dos processos virão as informações que se transformarão em conhecimentos, necessários para se encontrar o que é certo desde a primeira vez. E assim a credibilidade e a confiança contribuirão para um ambiente melhor e mais sustentável.

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