Tenho conversado com pessoas de diferentes faixas etárias sobre as condições em que estão trabalhando e como vão as relações com quem ocupa os diferentes níveis hierárquicos da estrutura organizacional do negócio. Em sua maioria, essas pessoas trabalham em organizações de médio e grande porte do setor público – inclusive empresas estatais – e setor privado.

Perguntei a uma delas, que trabalha com vendas, sobre como está a relação com seu ex-colega de setor que tornou-se seu novo chefe imediato após assumir a superintendência comercial há seis meses em Belo Horizonte, devido à demissão do ocupante anterior do cargo.

A matriz fica na cidade de São Paulo, onde está o diretor comercial, a quem os diretores das filiais são subordinados. Trata-se de uma concessionária focada na venda de automóveis zero km, que presta serviços de assistência técnica e tem um setor para a venda de carros usados que entram como parte do pagamento dos veículos novos vendidos.

É interessante registrar que, do quadro de 10 vendedores da empresa, 6 trabalham juntos desde 2017 e um deles é o que foi promovido para exercer a função de superintendente. A vaga de vendedor deixada por ele só foi ocupada no início deste mês após longo processo seletivo.

A grande questão levantada pelo vendedor é a mudança de postura do colega que virou chefe após assumir a nova função, com a perspectiva de um nível mais alto de remuneração atrelado ao atingimento das metas mensais estabelecidas. Antes da promoção ele participava de conversas informais do grupo, que não era equipe, falava da importância da gestão pela liderança, e não pelo comando, bem como demostrava sua expectativa por processos de trabalhos participativos no dia a dia e realçava a essencialidade da cooperação entre as partes envolvidas na busca para entregar o resultado esperado.

Fazia coro com as clássicas críticas à postura do chefe anterior, que não era gestor nem líder, e só cuidava de atender as solicitações dos superiores hierárquicos em Belo Horizonte e São Paulo.

Até agora nada mudou com o novo colega na chefia da superintendência comercial. Ele só fala em atingir cada vez mais metas malucas, portanto inatingíveis, passa a maior parte do tempo em reuniões e contatos pelos dispositivos tecnológicos. Ao final do dia, pergunta aos vendedores se as vendas estão na linha da meta mensal. Lembra a todos que é preciso faturar, que a remuneração do grupo está em jogo e que não se deve ficar na zona de conforto, pois ninguém terá lugar garantido se não houver entregas.

A expectativa em relação ao novo chefe é a mesma que existia em relação ao anterior, ou seja, que ele converse e oriente as pessoas, que discuta com todos as dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico, inclusive falta de componentes para montagem de veículos novos, perfil de clientes numa conjuntura econômica tão adversa sem perspectivas de crescimento…

O jeito é cada vendedor usar o Índice de Viração Própria – IVP – diante da necessidade de sobreviver. Dá para imaginar o terrível clima organizacional diante de posturas que se repetem por parte daqueles que teoricamente ganham para dar a direção dos negócios. Acaba prevalecendo a Lei de Murici, cada um cuida de si. No caso, as intenções de outrora não foram acompanhadas pelos gestos de agora.

E você, caro leitor, conhece ou tem convivido com um caso semelhante?

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As confraternizações de fim de ano no local de trabalho, seja ele público ou privado, as conhecidas “festas da firma”, ganharam um bom fôlego neste mês. O mesmo mês de dezembro do ano passado parece ter deixado muitas pessoas com saudades desse tipo de evento.

É interessante notar algumas perguntas clássicas que surgem entre as pessoas que estão conseguindo trabalhar formalmente, principalmente com a carteira assinada ou concursados no serviço público, nestes tempos tão bicudos marcados pelas estratégias de sobrevivência. Geralmente alguém pergunta para o outro se haverá uma festa ou encontro no trabalho nesse final de ano e se a pessoa está disposta a comparecer, se haverá troca de presentes no modo amigo secreto ou oculto (qual o valor máximo e mínimo), quanto vai custar o evento, quem bancará, se vai sobrar a conta para ser dividida entre os participantes e assim por diante.

Mas que motivos teriam as pessoas para ir ou não ir a esse tipo de encontro depois de tudo de bom e de ruim que aconteceu ao longo do ano? As mágoas ainda marcam os corações após as trombadas. Ainda mais se forem com o chefe que não é gestor pela liderança e que termina a parada em qualquer embate no melhor estilo do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Tudo isso apesar do discurso enaltecendo – sem praticar – o respeito às pessoas, o processo de trabalho participativo, o clima organizacional favorável à obtenção de resultados/entregas, as perspectivas de crescimento profissional, a transparência…

Muitos dizem que o comparecimento será uma forma de ficar bem politicamente com todo mundo em seus diversos níveis de cargos e funções. Outros dizem que é hora de perdoar, reconciliar e de ter esperança em dias melhores nas relações de trabalho, acreditando que os outros também poderão mudar.

Também dá para lembrar daqueles que dão uma passada básica pela festa para ficar “bem na fita” e aqueles que agradecem a Deus por estarem de férias durante todo o mês de dezembro, o que traz uma boa justificativa perante os que observam e analisam as causas que levam alguém a não comparecer a esse tipo de evento, que alguns consideram ser uma extensão do trabalho.

“Um pouco de hipocrisia não faz mal a ninguém”, costumam dizer os que tem um alto Índice de Viração Própria- IVP.

Se “o melhor da festa é esperar por ela”, podemos também ter expectativas em relação aos “babados e bafões” que terão repercussão durante a própria festa e após o seu término. Geralmente existem alguns participantes que se entusiasmam com a bebidas alcoólicas e de repente começam a falar tudo o que pensam, estimulados pelo “soro da verdade”.

Existem aqueles que emitem pareceres sobre o desempenho de colegas e dizem que demitiriam determinados chefes num verdadeiro ato de sincericídio – sinceridade suicida. Vale realçar os que repetem várias vezes declarações do tipo “gosto muito de você”, ” te admiro muito no seu modo de ser” e “desculpe-me por qualquer coisa ao longo do ano”. Alguns sinceramente choram diante de tanta emoção.

Interessante é notar a vergonha daqueles que ficam fechados em suas salas no primeiro dia de trabalho após a festa e só circulam pelos corredores quando estritamente necessário. Existem também os que reclamam porque deram um presente de amigo secreto no valor do teto estabelecido e receberam um presente no menor valor fixado.

Enfim, pode acontecer um pouco de tudo, mas com certeza muita gente estará de olho na tela do celular o maior tempo possível. Provavelmente existirão aqueles que se perguntarão se aquele ambiente, provavelmente fechado, poderia ser transformado num verdadeiro “covidário” diante da aglomeração e da dispensa das máscaras. E você, caro leitor, como tem sido a sua experiência diante desse tipo de confraternização no trabalho?

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Em 15 de setembro aconteceu mais um Dia do Cliente. A data tem como objetivo chamar a atenção de todos para a importância de quem está no papel de cliente nas relações entre as pessoas, a começar pela premissa que do outro lado existe alguém no papel de fornecedor. Aproveitando a onda surgem também as promoções comerciais do tipo “Setembro, mês do cliente” ou “Semana do Cliente”, por exemplo.
Sabemos que o cliente tem necessidades e expectativas relativas ao fornecimento de um determinado bem ou serviço. Isso pode acontecer no mercado amplo, nacional e internacional, ou internamente entre unidades de uma organização humana.
O cliente espera sempre que lhe seja fornecido tudo conforme as especificações combinadas, por um preço justo e atendimento de qualidade em todas as atividades do processo, inclusive no cumprimento de prazos.
É importante ressaltar que cabe ao cliente avaliar a qualidade da entrega feita pelo seu fornecedor, até mesmo dando uma nota na escala de 0 a 10, mas também deve se comportar de maneira clara, educada e sem arrogância, apesar de sua máxima e decisiva importância na relação entre as duas partes.
Nesse sentido, que avaliação podemos fazer sobre as nossas experiências vividas no papel de clientes? É bom também aproveitar a oportunidade para pensar sobre a qualidade do nosso trabalho quando estamos no papel de fornecedor. Será que é a mesma que exigimos como clientes ou deixamos a desejar? Sejamos sinceros.
Pelo que percebo está um pouco distante o tempo em que todo dia será do cliente e é por isso mesmo que existe a necessidade de se chamar a atenção sobre o tema. Ainda estamos longe da excelência e é preciso investir muito em gestão, educação e treinamento de modo permanente.
Fico pensando em alguns aspectos que mais me incomodam quando estou no papel de cliente. O primeiro deles é ser tratado como paciente na relação com qualquer profissional da área da saúde. Chega a incomodar a incapacidade de alguns para ouvir, só querem falar, determinar o que deve ser feito com absolutismo e arrogância. A empatia é próxima de zero. Outro incômodo grande é causado pelo acréscimo unilateral de serviços ou tarifas não contratados com operadoras de telecomunicações, bancos, distribuidoras de energia elétrica (bandeira vermelha nível 2 e emergência hídrica)…
Encerro lembrando de dissabores causados na prestação de muitos serviços públicos em que não existe outra opção e por isso somos classificados como usuários. É só lembrar dos transportes coletivos por ônibus e metro, a renovação de uma carteira de motorista num departamento de trânsito e o atendimento dos cartórios notariais, um serviço público concedido pelo Estado com preços corrigidos automaticamente a cada ano.

Imagine o estrago que uma pessoa maltratada como cliente, paciente ou usuária pode fazer ao seu fornecedor se resolver dar publicidade à suas queixas e reclamações, a começar pelas diversas mídias digitais…

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Admitir que um problema existe pode ser meio caminho andado para a sua solução. O maior desafio é esse mesmo. É mais fácil ignorar, negar ou justificar (arrumando culpados ou mentindo) a existência de um problema do que buscar soluções gerenciadas, sem contaminações de qualquer natureza, que possam resolver o que precisa ser resolvido.

Se observarmos a atual crise hídrica poderemos verificar que só agora ela está sendo assumida pelas autoridades governamentais. Já estamos no início de setembro enquanto todos os fatos e dados existentes anteriormente foram enfiados nos balões de ensaio suavizando os sinais da crise hídrica para tentar medir sua repercussão na sociedade.

Diante de tudo, o que sobrou para nós outros foi pagar a conta com mais uma bandeira tarifária muito além da vermelha nível 2, a mais alta, agora denominada “Escassez Hídrica”, custando R$14,20 a cada 100 kwh(Quilowatt-hora) consumidos mensalmente. De qualquer maneira é só mais inflação e menos poder aquisitivo que nos obriga a fazer escolhas de gastos para que não sobre tanto mês no fim do salário.

Por isso mesmo é que estou fazendo a pergunta sobre como economizar energia elétrica. Ela não é feita por boniteza, mas por necessidade. Também nos ajuda a lembrar dos ensinamentos da gestão, nem sempre praticados, mostrando que gerenciar é resolver problemas, é atingir metas. Isso nos obrigará a relembrar os parâmetros usados para estabelecer metas, que aliás, devem ser desafiadoras, mas jamais malucas ou frouxas.

Outra lembrança é a do plano de ação contendo as medidas necessárias para atingir a meta. É preciso ficar claro o que vai ser feito, quem é o responsável, até quando precisa ser feito e como será o passo-a-passo na execução de cada medida (3W1H – o quê, quem, quando e como?). Enfim não existe meta sem plano de ação e muito menos planos de ação sem meta, como erroneamente se vê em diferentes ambientes.

Nesse sentido será que é desafiadora a meta de reduzir em 20% o consumo de energia elétrica em nossas residências até dezembro de 2021, como propõe o governo? Como se deu isso no apagão de energia elétrica em 2001? O que a história nos conta diante das necessidades daquela época? Será necessário, no caso da família, conhecer os principais itens consumidores de energia elétrica, frequência de uso e tempo de utilização, por exemplo. Serão lembrados os banhos demorados com chuveiro na posição inverno, o forno elétrico usado várias vezes ao dia, o ferro de passar roupas acionado sempre que necessário (é preciso passar todas as roupas?), lâmpadas acesas em cômodos vazios, equipamentos ligados sem ser usados, uso prolongado de ar-condicionado, ventiladores, secadores de roupas e de cabelo, geladeira no abre e fecha e às vezes precisando de manutenção na vedação da porta… Interessante observar também a perda de energia devido à insuficiência da carga contratada em relação à quantidade demandada por tantos aparelhos ligados – principalmente em edifícios – bem como periodicamente revisar a fiação da rede elétrica. Seria possível usar a energia fotovoltaica (solar)?

Agora cabe ao gestor da meta colocar o gerenciamento em movimento ajudado pelos responsáveis de cada medida do plano de ação bem como avaliar periodicamente se tudo está acontecendo conforme o planejado ou se novas medidas deverão ser tomadas para que o processo continue caminhando na linha da meta. Mas a gestão transparente e participativa é o que todos precisam, a começar por nós em nossas famílias e chegando aos mais diversos níveis das organizações humanas da República.

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Gestão é o que todos precisam, mas nem todos ainda sabem que precisam. Essa é uma afirmação que tenho feito sempre que percebo a sua pertinência num determinado contexto. Por isso é que ela cabe nesse 5 de julho, 186º dia do ano cuja metade já foi embora, para que possamos fazer um balanço da nossa gestão individual visando atingir as metas estabelecidas para serem alcançadas até o final do ano. Será que os planos de ação formulados estão sendo cumpridos e os resultados parciais aparecendo na linha da meta a indicar que o rumo esta certo? Ou será necessário um reposicionamento estratégico em função de mudanças na conjuntura e nos cenários que poderão impactar nas entregas que nos desafiam?

O ponto aqui é fazer uma avaliação crítica, sem medo dos fatos e dados, sobre as metas pessoais, profissionais e familiares com as quais temos engajamento / comprometimento. Um método consistente a ser usado propõe que sejam respondidas as 5 perguntas básicas listadas a seguir:

  • O que foi planejado em função das premissas da virada do ano, portanto há meio ano?
  • O que foi executado nesse período de tempo?
  • Quais foram os resultados parciais alcançados até o momento?
  • O que está pendente no caminho traçado para o avanço da linha da meta?
  • Quais são os próximos passos, inclusive levando-se em conta os reposicionamentos estratégicos em função da conjuntura atual – após meio ano- e dos cenários que se desenham no horizonte?

É importante avaliar a consistência do que foi planejado e a sua capacidade de operar bem o plano de ação para atingir as metas, com foco, disciplina, constância de propósitos e verificação da qualidade da gestão naquilo que só depende de você, de suas iniciativas e protagonismos. Só reclamar dos outros e se vitimizar não te levará ao resultado esperado.

É fundamental também ter em mente que nós respondemos pelos processos sobre os quais temos autoridade e que devemos acompanhar as variáveis que não controlamos, mas que nos impactam direta ou indiretamente. Por exemplo, a inflação oficial e setorial, a carga tributária, o aumento de preços administrados pelos governos da União, estados, municípios, crescimento da economia, tamanho do mercado de trabalho, a relação entre o real e o dólar…

Caro leitor, será que o resultado do seu balanço de meio do ano é satisfatório ou são muitas as correções na rota para que você consiga atingir suas metas até o final do ano?

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Estamos chegando aos 15 meses da pandemia da Covid-19, agora com outras variantes advindas das mutações do vírus cujo combate necessita do conhecimento científico e gerencial.

Às vezes podemos ter a sensação de que estamos diante de um grande problema, e realmente estamos, mas muitas pessoas acreditam que antes da pandemia as coisas estavam até indo bem, no melhor estilo “agora vai”. Entretanto não podemos e não devemos nos iludir diante das tentativas de mostrar que muitos problemas só pioraram por causa da pandemia, que surpreendeu todo mundo.

Segundo o dicionário eletrônico Houaiss a palavra problema, em um de seus verbetes, é “mau funcionamento crônico de alguma coisa, que acarreta transtornos, pobreza, miséria, desgraças etc., e que exigiria grande esforço e determinação para ser solucionado”.

Do ponto de vista de um sistema de Gestão de Negócios de qualquer natureza o conceito mais simples de problema diz que ele é o resultado indesejável de um processo, que por sua vez, é um conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos. Fundamentalmente é a relação causa e efeito que nos ajuda a compreender os fenômenos e como eles são gerados.

Ainda do ponto de vista da gestão podemos dizer que gerenciar é resolver problemas e isso traz sempre o desafio do “como fazer” para chegar a um resultado desejável e com método, não na “bistunta”. Um caminho esta no método de análise e solução de problemas – MASP – principalmente para os casos em que um pequeno problema não resolvido no início torna-se crônico com o passar do tempo e a sua solução mais cara. É claro que a primeira condição para quem quer resolver um problema é admitir que ele existe ao invés de negar ou ignorar a sua presença.

Vale lembrar como estavam alguns problemas crônicos em janeiro de 2020, portanto há 16 meses. A economia brasileira cresceu apenas 1,1% no ano anterior e seu crescimento era estimado em 2,5% no final do ano. Veio a pandemia e com ela uma retração de 4,1% na economia, que muitos consideram razoável mas se esquecem que as comparações foram feitas com uma base anterior fraca, praticamente no fundo do poço. Um problema que se arrasta praticamente por toda a última década.

Também em janeiro de 2020 o número de pessoas desempregadas já era de aproximadamente 12 milhões e hoje se aproxima dos 14,5 milhões. Na mesma época, quais eram as dificuldades para marcar uma consulta médica ou conseguir uma vaga para se internar numa UTI, tanto pelo SUS quanto pelos planos de saúde? No início da pandemia já era grande o temor de um colapso do sistema de saúde e ficou tudo escancarado nessa segunda onda da pandemia.

Na educação, o ensino a distancia também escancarou a desigualdade e a concentração da renda. Estão postas as diferentes condições dos alunos para ter acesso a um dispositivo tecnológico e à internet nas diferentes regiões do país, inclusive nas condições físicas de suas moradias.

Que outros problemas crônicos estão muito mais visíveis nesse momento crítico que estamos atravessando em busca da sobrevivência?

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No dia 15/02, segunda-feira do cancelado Carnaval, diversos meios de comunicação divulgaram a perda de 229 doses da vacina contra a Covid-19 na Policlínica de Igarapé, em Minas Gerais. Segundo as explicações iniciais dadas teria ocorrido uma falha no circuito elétrico, que ocasionou uma pane no sistema de refrigeração do equipamento que armazenava as vacinas no final de semana. As doses das vacinas deveriam ser mantidas numa temperatura que variasse de 2°C a 8°C, mas o equipamento marcava 36°C quando foi aberto na manhã daquela segunda-feira.

Em casos como esse em que a coisa “dá ruim” sempre aparecem os que procuram os culpados pelo acontecido, os que tentam uma justificativa salvadora de todos os envolvidos e até alguns poucos que tentam encontrar as causas do problema. Nesse caso das vacinas, a escassez do bem no momento em que o processo de imunização se inicia a passos lentos faz com que o sentimento de perda pareça ser ainda maior, principalmente diante da faixa etária a quem se destinava.

Ao analisar as causas da pane elétrica a primeira coisa a se fazer seria buscar um histórico, preenchido com fatos e dados, sobre a utilização e manutenção do equipamento. Se não houver tais registros, o jeito é fazer um trabalho quase artesanal e arqueológico pra encontrar o retrospecto do aparelho. É bem provável que a expressão “falta de” comece a surgir. Provavelmente surgirão afirmações como falta de manutenção eletromecânica, falta de recursos financeiros para a substituição de equipamentos com a vida útil vencida, falta de treinamento para os funcionários do setor, falta de energia momentânea na região…

O fato é que a gestão da manutenção ainda é uma grande lacuna a ser preenchida em todos os níveis da sociedade brasileira. Podemos começar pela manutenção do próprio corpo dos seres humanos, de suas moradias, dos locais em que trabalham, estudam ou das vias públicas nas quais transitam ou nos veículos em que se deslocam por terra, água ou ar, isso para citar apenas algumas possibilidades. Classicamente podemos considerar que a manutenção pode ser corretiva, preventiva ou preditiva, mas é grande a prevalência da manutenção corretiva. Se olharmos para os seres humanos veremos que muitos deles só procuram os profissionais da saúde quando algum problema surge nos dentes, no coração, nas glândulas endócrinas, no sistema neurológico, no sistema urológico… Outras vezes só se percebe que a calha do telhado de uma casa está entupida de folhas quando a água da chuva inunda a sala à procura de um caminho para escoar.

Quero realçar a imperiosa necessidade que cada um de nós deve ter perante a manutenção, com prevalência da ação em detrimento da omissão. Essa matéria é longa e podermos voltar a ela outras vezes.

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Faz algum tempo que as expressões “buscar o equilíbrio das contas públicas” e “não podemos aumentar mais a nossa alta carga tributária” aparecem nos aspectos políticos, econômicos e sociais das nossas análises de conjuntura e nas tentativas de desenhar cenários. No caso da carga tributária, vale lembrar que ela aumenta a cada ano em que a tabela do Imposto de Renda Retido na Fonte deixa de ser corrigida. E isso é o que mais ocorreu nos últimos 24 anos, causando um aumento real de 113% na tributação.

Agora, enquanto a pandemia da Covid-19 recrudesce e persiste com seus números exuberantes, a Fundação Getúlio Vargas mostra que atualmente 30% da população está na linha da pobreza e 10% no patamar da miséria. Enquanto a fome grita, 20 projetos tramitam na Câmara dos Deputados propondo um novo auxílio emergencial, com vigência até o final do ano. Apenas 3 deles defendem o valor de R$300 mensais enquanto a maioria chega aos R$600 por mês. Isso é o embrião para uma futura garantia de renda mínima, uma espécie de bolsa capital para atenuar as tensões sociais no tardio capitalismo brasileiro, hoje liderado pelo segmento financeiro.

Lembremos que já estamos no meio do mês de fevereiro – felizmente sem carnaval – e o Congresso Nacional ainda não começou a discussão e negociação que precederá a aprovação do orçamento da União Federal para o ano de 2021. Portanto, ainda dá tempo para o Ministério da Economia mostrar de onde virão os recursos para o auxílio emergencial ao longo do ano. Um bom caminho para encontrar recursos seria fazer uma análise da qualidade dos gastos feitos nos últimos orçamentos e das premissas de arrecadação e despesas utilizadas. A partir daí muitos gastos não resistirão ao primeiro questionamento sobre o que é vital e o que é trivial, quando se defende o uso racional de recursos escassos diante de tantas necessidades básicas. Vale lembrar que onde tudo é prioritário nada é prioritário.

Só para ilustrar olhemos para o tamanho de alguns gastos como os que são feitos para manter os privilégios na remuneração cheia de penduricalhos da casta dos super funcionários públicos dos três poderes, as mordomias presentes nas licitações de compras de itens não essenciais, os aviões da FAB à disposição para transporte individual de autoridades, a manutenção de palácios residenciais e de trabalho, a quantidade de empreendimentos cujas obras estão paralisadas… Basta olhar o que é publicado no Portal da Transparência para melhor conhecer o destino do dinheiro público.

O momento exige muito foco e determinação para combater o desperdício e melhorar a qualidade dos gastos num país tão desigual, onde a população já chega a 212 milhões de pessoas, segundo a mais recente estimativa do IBGE.

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Gestão é o que todos precisam, mas nem todos sabem que precisam. Essa afirmação esteve em grande evidência no Brasil na última década do século passado, quando a gestão pela qualidade deu uma sacudida no método gerencial, no caminho para conduzir bem os negócios.

Passadas quase 3 décadas vai ficando visível que é necessária uma nova sacudida na medida em que diversas premissas da gestão vão sendo deixadas de lado ou são praticadas parcialmente, além de continuar ignoradas pelos céticos daquela época. O método gerencial se baseia no conhecimento científico a partir dos fundamentos, conceitos e técnicas que aplicados levam a resultados – entregas dentro de expectativas estabelecidas pelo plano estratégico.

Nesse sentido saltam aos olhos alguns fatos e dados que mostram a enorme dificuldade para resolver problemas sem o uso de um método consistente, cuja ausência só facilita a prevalência das tentativas e erros com seus altíssimos custos.

O caso do combate à pandemia da Covid-19 traz alguns exemplos do que não fazer. A primeira condição para resolver um problema é admitir que ele existe, e isso pode significar até 50% da sua solução. Essa gestão exige que ela seja feita pela liderança e não pelo comando, e de maneira integrada num processo participativo. Não há espaço para o achismo e o “mandonismo” no melhor estilo do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Isso vale para todos os níveis de uma organização humana, seja ela pública ou privada, sempre tendo como base o conhecimento e o método com muito foco, determinação, disciplina e constância de propósitos.

O colapso da saúde pública vivido pela cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, nos mostra as consequências danosas da não observância de fundamentos básicos da gestão. Nesse caso se esqueceram que “quem não controla não gerencia”, embora gerenciar não seja só controlar. Aqui também vale lembrar que “quem não mede não gerencia” e isso é fundamental para o controle de qualquer processo. Nesses tempos que vivemos não dá para dizer que “eu não sabia” e ainda tentar construir narrativas para defender o indefensável. Os atos tem suas consequências.

No caso específico da vacina para a imunização contra a Covid-19 são visíveis as lacunas na gestão da cadeia de suprimentos, que é globalizada e exige inteligência estratégica nas relações diplomáticas e comerciais que permeiam os negócios. Não dá para colocar todos os ovos na mesma cesta, pois isso caminha na contramão das estratégia.

Como se vê ainda estamos longe da excelência na gestão. Está na hora de uma nova sacudida no conhecimento gerencial, mas enfatizando que sua aplicação deve ser permanente e em consonância com a melhoria contínua. O desafio continua!

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O mês de janeiro costuma ser um bom momento para que possamos questionar os benefícios que temos quando comparados aos custos gerados por um determinado bem ou serviço que usamos. Isso torna-se cada vez mais necessário diante da crescente perda de poder aquisitivo ou mesmo da falta de oportunidade para conseguir um trabalho que complemente parte da renda perdida. O fato é que a maior parte dos salários tem tido enormes dificuldades para, pelo menos, repor as perdas inflacionárias de um período anterior. Enquanto isso, a inflação galopa há vários meses, sempre justificada como um ponto fora da curva, e a tabela do Imposto de Renda retido na fonte não e corrigida há tempos, o que caracteriza mais aumento da carga tributária nacional. Diante da correlação de forças totalmente desfavorável a quem tenta vender seu trabalho o caminho mais curto, obrigatório é o corte de custos a começar pelos desperdícios gritantes nem sempre percebidos por nós. Por isso é fundamental conhecer todos os custos que se tem e buscar responder à pergunta que tenta saber para onde foi o nosso dinheiro.

Nesse sentido, meu ponto aqui é observar e analisar o custo que alguém tem para usufruir de um bem de consumo durável que é o carro. Aliás é importante lembrar que a indústria automobilística é um dos pilares da economia nacional.

Conversando com um profissional de tecnologia da informação, 39 anos de idade, ouvi dele alguns questionamentos sobre os custos de se ter um carro. Por exemplo, o capital empatado e os gastos permanentes/obrigatórios. Basicamente ele usa o carro para ir ao trabalho, que é presencial mesmo na pandemia, e para fazer compras no supermercado. Há pouco mais de um ano ele comprou esse carro zero km por R$60.000,00, padrão básico de uma montadora asiática. Agora o carro já está fora da garantia e também vale no mercado dos usados 30% menos que seu preço na tabela da época.

O imposto sobre a propriedade de veículos automotores –IPVA, que nesse ano vence a partir desta semana – foi pago à vista e ficou em R$ 1.700,00. O seguro contra danos de qualquer natureza consumiu mais R$ 1.500,00 enquanto os serviços de assistência técnica após o vencimento da garantia levou R$ 1.000,00 até o momento. O inevitável consumo de combustível tem girado em torno de R$ 400,00 mensais e, por enquanto, ainda não ocorreram multas de trânsito nem necessidade de trocar pneus danificados em vias públicas mal conservadas. Mesmo reconhecendo os benefícios trazido pelo carro, ficou claro que os custos também precisam ser computados e nunca ignorados.

Nesse caso foi levantada a hipótese de não se ter carro próprio, mas sim alugar um ou usar carros de transporte por aplicativo. Esta hipótese recebeu objeções devido às variações de preços decorrentes da tabela dinâmica – oferta e procura – bem como o aumento da demora para atendimento. Quando nada, vale a pena estudar melhor as condições que estão sendo oferecidas pelas locadoras para o aluguel de um carro no mercado de hoje. Conhecer é preciso não só nesse caso mas também outros custos que fazem parte de nosso orçamento.

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