Pessoas e números

por Convidado 3 de outubro de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Eu sempre achei, desde tenra idade, que o mundo é feito de muitas partes, todas elas interligadas. E que, em tudo que criou, Deus estabeleceu relação. Nada é por acaso, nem existe plena independência. Para exemplificar minha visão, vou escolher os números – justamente por serem parte de uma ciência exata – e demonstrar como estabelecer uma relação com as pessoas – apesar de serem puramente inexatas.

Observem, leitores atentos, que tem gente que entra em nossas vidas, ou nós entramos nas delas, por uma via transversal. Seja como colegas de trabalho ou mesmo na família. E aí ingressa a linguagem numérica. Vocês já sentiram, meus leitores racionais, que algumas dessas criaturas têm valor relativo pois, embora sejam poucos, acabam por representar muito e ter atitudes que fazem a diferença na vida de várias pessoas? Eu os chamo de agregadores. Seres assim são compreensivos, prestativos e se sentem bem ajudando ao próximo. Esses são os que somam. Outros, porém, ficam no valor absoluto. São denominados de “zero à esquerda” por não acrescentarem nada às relações ou grupos. São os números neutros. Há também aqueles que só fazem a operação de dividir. Organizam grupinhos, criam adversários, fazem reuniões às escondidas e adoram conspirar. São desagregadores, imprestáveis e bem piores do que os neutros. Para esses, sempre haverá a identificação de inimigos e a necessidade de exclusão. Normalmente são interesseiros, oportunistas, invejosos, egoístas e nada confiáveis. Escrúpulo é uma palavra que não pertence ao seu dicionário. Costumam trair quem mais os ajudou.

Viram como existe uma forte relação entre pessoas e operações matemáticas? Com o racional conseguimos estabelecer uma classificação para o emocional. Mas não acabou. Vamos aos que subtraem. Meu Deus! Infelizmente esse é o maior grupo. Eles mentem descaradamente, se passam por pessoas ingênuas, inocentes, injustiçadas e ousam jurar em nome de Deus. Podem ser encontrados em qualquer parte do mundo, como na política, quando subtraem o dinheiro público (não disse que são todos), em grande proporção na mídia, que subtrai o que não lhe convém informar, nos assaltantes que, em São Paulo, praticam um assalto a cada cinco minutos, nos que exploram o próximo, e em todas as formas de fazer com que a outra parte seja descriminada ou prejudicada. Contudo, a desgraça não anda só. Muitos dos que pertencem ao grupo da subtração adotam também as características da divisão e vice-versa.  Sobre a subtração, tive um tio que dizia que a pior de todas as pobrezas era a ignorância, o pior dos defeitos era ser ladrão e que a doença mais grave de um povo era fechar os olhos para a corrupção — o câncer da sociedade.

Mas nem tudo está perdido. Não se desespere, meu caro leitor. A verdade machuca, fere, mas nos traz para a realidade. Ainda temos uma outra operação, a última das quatro: a multiplicação, que é a geração de produtos por intermédio dos fatores. Há muitas pessoas que multiplicam o bem, praticam o “amai-vos uns aos outros”, têm empatia e compaixão. Eu, especialmente, quero ser um multiplicador, plantar uma semente que possa florescer e levar sentimentos bons a todos a quem conseguir alcançar. E seguir a sugestão de Santa Tereza de Calcutá:

“Espalhe o amor por onde você for: antes de tudo, em sua própria casa. Dê amor a seus filhos, sua esposa ou seu marido, a um vizinho próximo…  Não permita jamais que alguém se aproxime de você sem que viva melhor e se sinta mais feliz…”

Amém!

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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2022 está logo ali

por Convidado 13 de setembro de 2021   Convidado

*por Malco Camargos 

Ainda falta um ano para as eleições e as campanhas estão a todo vapor. De um lado, a situação representada pelo Presidente Jair Bolsonaro que, mesmo negando em comunicado à nação, age como um jogador apostando no “tudo ou nada”. Bolsonaro sabe que já não tem mais a quantidade de votos que teve outrora. Sabe que seu governo não entregou o que era esperado. Sabe que não deu conta de resolver os problemas do país. E, como sabe que irá perder as eleições, busca inimigos, busca culpados, busca justificativas para explicar o que não fez e, também, para tentar permanecer no poder por mais tempo.

De outro lado, nomes da oposição se colocam de maneira diferente no tabuleiro político. O líder da disputa no momento, o ex-presidente Lula, aposta em uma campanha retrospectiva, de comparação entre como era a vida enquanto ele era presidente e como é a vida agora. Usando e abusando de gatilhos de memória, Lula destacará os sonhos de um tempo versus as agruras do presente.

Além de Lula, a oposição conta também com outros nomes, mais ao centro, que buscam os chamados eleitores “nem-nem”- aqueles que não querem nem Lula, nem Bolsonaro. Pelo PSDB a disputa ainda está em níveis internos e, com a realização de prévias, o partido escolherá entre João Dória e Eduardo Leite. Ambos pré-candidatos têm como ponto forte do discurso a palavra “gestão”. O PSDB aposta que a falta de gestão do governo Bolsonaro pode fazer com que o eleitor aja de maneira mais racional em 2022 e valorize a capacidade de gestão tradicionalmente destacada pelos tucanos.

Mais próximo de Lula está Ciro Gomes, que busca polarizar com Bolsonaro mas fica muito perto do eleitor de esquerda que, no momento, prefere o ex-presidente Lula e deixa limitado o espaço de crescimento do pré-candidato do PSB.

Outro pré-candidato importante no momento é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O senador mineiro tem se apresentado como um conciliador e aposta na estratégia da pacificação como sendo o principal argumento para alavancar sua candidatura nos próximos meses.

Os últimos movimentos, principalmente após o dia 07/09, demostram que a terceira via terá que rever suas estratégias pois, por mais que tenha perdido força, Bolsonaro ainda mantém um percentual significativo de votos que dificilmente o deixa fora do segundo turno. Aos que buscam os eleitores “nem-nem” resta trabalhar para a união com outros candidatos ou apostar, eventualmente, em uma decisão da justiça que possa tirar do jogo um dos dois candidatos que lideram a disputa atualmente.

Parece longe mas, como podemos ver, 2022 está logo ali.

*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas. 

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Um ponto de vista sobre a liberdade

por Convidado 3 de setembro de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Há um bom tempo tenho sido agraciado por escrever neste espaço. E, é com muita honra, que usufruo da liberdade de expor, aqui, fatos, histórias e, ainda, de expressar minha opinião, sem ter a pretensão de agradar a todos, mas sem extrapolar meu direito de opinião e ferir princípios de terceiros.

Tive um professor no antigo colegial (não sei se já falei dele) que dizia que poucas pessoas estariam aptas a receber um tratamento de liberdade plena. Um dia, ao iniciar sua aula, disse que poderíamos dar risadas à vontade e conversar com os colegas do lado por cinco minutos. Depois, faríamos silêncio total.

Óbvio que, imediatamente, se viu um falatório geral com todas as vozes ao mesmo tempo, pés batendo no chão e gritaria, sem falar dos tapas nas cabeças dos colegas da frente. De repente, um grito: — silêncio! Acabou o tempo de vocês.

Naquele dia, compreendi que somente uma minoria está preparada para ter liberdade. Naquele profético dia, compreendi também que não era a liberdade nossa primeira necessidade. Era a educação — um povo sem educação não consegue identificar os limites do respeito.

Transcorreram-se anos, entretanto aquela lição continua forte em minhas convicções. Apesar de, em minha vida profissional, sempre me opor à autocracia e, arduamente, defender a liderança pela competência, sou obrigado a aceitar que o pulso forte tem seu momento e lugar. E corroboro com a teoria da Liderança Situacional de Hersey e Blanchard. Em resumo: aos mais preparados, delegue. E, aos menos preparados, dê ordens.

Você, meu educado leitor, há de concordar comigo, quando digo que o que está faltando é educação — pré-requisito de liberdade, porque esta é um prato fino que poucas pessoas sabem apreciar. Recorra a sua memória, lembradiço leitor. Lembrou-se de alguém? Por faltar a elegância, os ditos “sem cerimônia” confundem tudo e cometem grosserias, contam piadas de mau gosto, invadindo a privacidade e o campo magnético das pessoas. Tratá-los com plena igualdade é sacrificá-los e deixá-los embaraçados. Por essa razão sou a favor de adequações pois, insisto, tudo depende do contexto e dos padrões pré-estabelecidos.

Arthur Schopenhauer dizia que só havia liberdade no momento de solidão. Na presença de outras pessoas, nosso comportamento se altera. “Sozinhos somos mais independentes”, o que concordo plenamente. Pois, normalmente, não estamos sozinhos. Existe o outro. Então, pensando assim, derrubadas as teses da liberdade plena que, convenhamos, em muitos casos são pura hipocrisia, e lembrando, aqui, um exemplo que reforça minha tese, o escritor existencialista Jean-Paul Sartre, defensor da liberdade, que manteve um relacionamento aberto (extremamente avançado para a época), com Simone de Beauvoir, disse: “ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode”.

Ora, meus libertários leitores. Querer não é poder. A palavra dita é linda, principalmente se fizer parte de uma frase bem construída mas, caso não se respalde na prática e verdadeiramente na ação, pode se tornar apenas um recurso linguístico, um efeito de retórica sem compromisso com a verdade, conforme temos visto até em veículos da mídia.

Liberdade — que precede à independência, exige educação, que é sinônimo de respeito.

Constato, sem nenhuma alegria, que ainda temos uma longa caminhada até aprender a sutil diferença entre usufruir e abusar da liberdade.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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*por Malco Camargos

Desde as eleições americanas de 1936, quando George Horace GALLUP (1901-1984), fundador do Gallup previu a vitória de Franklin Roosevelt sobre Alf Landon nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, as pesquisas eleitorais se disseminaram por todo o mundo. No Brasil, já em 1942 o IBOPE era inaugurado e iniciava o trabalho de realização de pesquisas.

De lá para cá o mercado brasileiro se pulverizou e se especializou e supera os dois bilhões de faturamento anual. Contudo muito ainda se desconhece sobre essa atividade.

Pesquisas são instrumentos de escuta da sociedade, que podem ser realizados por meio de computadores, smartphones, telefones e face a face. Em todos esses meios de coleta se registram informações que retratam um determinado momento. E aí começa o mau uso da pesquisa.

As informações coletadas até permitem analisar tendências mas não são determinações de futuro. Entre a coleta dos dados e o fato a que ele se refere pode haver alterações, que mudam todo o resultado. Diga-se de passagem, é bom que haja alterações pois pesquisa é um instrumento estratégico que atores relevantes usam para interferir e mudar a tendência dos fatos.

Está aí o primeiro e o mais comum dos maus usos que se fazem das pesquisas – analisar o resultado como se ele fosse determinante da apuração das eleições e comparar o resultado apontado pela pesquisa com o resultado das urnas para aferir a qualidade de um levantamento.

Outro erro muito comum é achar que a pesquisa pode ludibriar os eleitores quando aponta um resultado diferente da realidade. É comum no mercado político, em meios às equipes estratégicas das campanhas, a tentativa de buscar um resultado mais favorável ao seu candidato, ampliando seus números ou diminuindo a força dos seus oponentes. Essa fraude nos números dificilmente impacta nos eleitores que, alheios à força de um candidato ou outro, votam muito mais a partir de critérios de confiança ou proximidade do que para maximizar a chance de um candidato ou outro ser eleito.

Os bons profissionais de campanha e os políticos éticos e responsáveis usam a pesquisa não como fim, mas como meio. Ao ler as entrelinhas dos resultados, ao fazer a segmentação das opiniões e comportamentos, eles orientam suas ações, propostas e discursos para públicos específicos e, com isso, conseguem aproximar sua imagem do que os eleitores esperam da atuação de um político ou candidato.

As pesquisas ajudam a informar a campanha que, com seu uso, trabalha a gestão da informação gerando uma imagem mais próxima da expectativa do cidadão. Neste artifício dois são os caminhos para quem faz o bom e o mau uso da informação. No lado negativo, a construção artificial de uma imagem pode ser rapidamente abandonada mostrando no exercício do poder uma figura diferente daquela apresentada durante uma campanha e, neste caso, encurtando a carreira de um político. Agora, já do lado positivo, políticos que aprendem a fazer uso da pesquisa diuturnamente aproximam cada vez mais sua imagem e seus atos em relação ao que os cidadãos esperam e conseguem uma carreira mais próspera na área.

*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas. 

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De volta pra casa

por Convidado 30 de julho de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Ultimamente tenho visto muitas pessoas e famílias indo para o interior e, mesmo, para o campo. Será que já podemos chamar de êxodo urbano? Creio que sim. E, confesso, meus confidentes leitores, que sinto uma pontinha de inveja (Leandro Karnal critica a inveja) daqueles que vão morar numa cidadezinha calma, aonde o tempo passa devagar e há muito mais natureza cercada de verde, terra e água. Adoro trabalhar no interior, andar pelas ruas e receber um bom-dia ou boa-tarde de quem não me conhece. Fosse para realizar um curso ou uma consultoria, o interior sempre foi minha preferência, e a FGV me proporcionou esta alegria. Viajei pelo Brasil (e fora) de norte a sul com muito conforto e conheci lugares lindos, mas o aconchego do interior é inigualável. Entre tantas, destaco uma lembrança, Ipanema, aqui em Minas, pelo panorama pitoresco. O escritório da empresa ficava no final de uma das poucas ruas daquele lugar e, com a janela aberta, além de desfrutar da mata verde, tive o privilégio de ver o gado pastando na porta do escritório. Que paz!

Dizem que a gente sai da roça, mas a roça não sai da gente. E a roça está presente nas mais lindas lembranças da minha existência… “Que saudade imensa do campo e do mato/do manso regato que corta as campinas…”  Lembranças que renovo sempre, porque sou agraciado pelos anjos que me possibilitam visitar minha Pasárgada. E, em seu caminho, um outro lugar da minha vida, minha Barbacena que está sentada no alto da serra, com seu vento frio e úmido para, quem sabe um dia, me receber de volta.  “…foi lá que nasci, lá quero morrer…”

Como costumamos ouvir e dizer: há um tempo de ir e há um tempo de voltar… e ando pensando na possibilidade de retornar. Porém, me bate no hipocampo, dos dois lados do cérebro, uma lembrança recorrente do conto de Aníbal Machado, Viagem aos seios de Duília, adaptado depois para o cinema, que nos faz pensar muito sobre a impossibilidade do resgate do passado. Também vale trazer à tona o pensamento de Heráclito de que “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Quando imergimos, águas novas substituem aquelas que nos banharam antes”.  Entendemos que a água e o homem estão em constante transformação e não serão os mesmos num segundo momento. Também penso sobre isso e me digo em pensamento que Barbacena não é mesma. Tampouco reencontrarei a maioria das pessoas que lá deixei. Em vez de braços abertos, haverá cruzes, pois a vida é breve e, por essa razão, não há tempo para pensar e procrastinar. Somos um corpo em movimento de mudança e transformação, e isso é tudo que somos. Uma constituição física com prazo de validade, que não pode voltar a ser o que era, mas que pode voltar às origens, se assim o desejar e o acaso permitir. Contudo, sem autoengano e ilusões.

Vejo a vida como um livro; o nascimento vem no capítulo primeiro, e o retorno está no epílogo, “tudo e todos se dirigem para o mesmo fim: tudo vem do pó e tudo retorna ao pó”. (Eclesiastes 3:20)

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Pessoas em situação de rua

por Convidado 2 de julho de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Em oportunidades anteriores, afirmei que este momento do mundo será registrado na história e lembrado pelas gerações futuras como um marco doloroso da vida da Terra. Já seríamos lembrados por termos presenciado a mudança de século e de milênio. Mas, infelizmente, as tristezas marcam mais do que as alegrias. E, fato é, que a desigualdade cresceu demasiadamente por consequência da pandemia que se iniciou em Wuhan, na China.

Diante de um quadro avassalador, o desemprego cresceu em todo o mundo e muitas famílias, sem trabalho, não tiveram outra opção a não ser morar nas ruas. Para mim, meus solidários leitores, é inconcebível que pessoas, que gente, idosos, adultos e crianças durmam com os ratos e passem fome e frio num mundo de tanta ganância e de renda tão injustamente distribuída.

Confesso que não estou conseguindo parar num sinal de trânsito e ver tanta gente tentando se reinventar, seja fazendo malabarismos ou vendendo alguma coisa. Dói não poder ajudá-los em sua luta pela sobrevivência. Meu sentimento é o de ver alguém se afogando e não fazer nada para salvá-lo.

É triste saber que a tragédia pintada nesse quadro não toca, não gera compaixão em grande parte das pessoas. Os miseráveis não precisavam sofrer tanto, eles precisam de ajuda para moradia e alimentação. Não me entendam errado, esclarecidos leitores. Eles não pedem auxílio-moradia, auxílio-terno, auxílio-alimentação, auxilio-engraxate, quota de combustível, etc. Alguns só pedem que o seu próximo abra o vidro do automóvel e lhe dê uma moeda. Depois, óbvio, o doador pode pegar o álcool gel e reforçar a proteção contra o coronavírus.

E é nesse momento que aparecem os anjos, sem voarem porque não têm asas, mas com corações de gigantes para ajudarem os mais necessitados. Nem tudo está perdido. Pessoas boas, muitas vezes com o orçamentado estrangulado, se comprometem a ajudar a matar a fome e o frio de pessoas em situação de rua. Isso me conforta, me dá um alento e uma esperança.

Recentemente, pude, por iniciativa de minha mulher, Rose, engajar e dar uma pequena ajuda a uma campanha feita com o coração, solidariedade e esforço de um grupo de caridosos que distribuem comida, roupa, agasalho, cobertores e calçados. A ajuda continua, o inverno chegou agora e, certamente, poderemos salvar irmãos de menor sorte de padecerem ou até de morrerem de frio.

Aquele que quiser fazer parte poderá doar agasalhos, calçados, cobertores e roupas. Um caso curioso aconteceu há alguns dias, quando um doador, jogador de voleibol, doou, além de roupas, alguns pares de tênis, número 46, e pensamos que em ninguém serviriam. Mas, para nosso espanto, foi muito festejado por um rapaz de estatura elevada que disse estar descalço porque ninguém havia doado sapatos que coubessem em seus pés.

Então… tudo pode, tudo serve, tudo vale quando é doado com o coração.

Quem desejar conhecer melhor o trabalho realizado, pode visitar o perfil do Instagram @hojevamosjantarfora.

“Não há frio tão intenso e congelante quanto o da indiferença” (Júlio César)

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Não me interprete mal

por Convidado 6 de junho de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Napoleon Hill conta uma história de um avô que, estando perante seu neto:

“retirou milho do galinheiro, espalhou pelo chão de terra e cobriu com palha. Quando indagado por que se dera a todo esse trabalho, ele respondeu: — por dois motivos muito bons: primeiro, porque cobrir o milho com palha, de modo que as galinhas tenham que ciscar para encontrá-lo, proporciona o exercício de que elas precisam para ficar saudáveis; e, em segundo lugar, dá a elas a oportunidade de terem o prazer de mostrar o quanto são espertas ao encontrar o milho que pensam que tentei esconder delas”.

O que tem a história das galinhas a ver conosco, pode estar pensando meu leitor mais questionador. Mas acredito que a interpretação dela nos possa ser útil. E quero crer que seja um exercício salutar, pois, segundo o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, em pesquisa de 2016, somente 8% da população brasileira conseguia ler e interpretar textos. Pesquisas atuais confirmam que não houve melhoria, apesar de, em 2019, segundo o IBGE, a internet ser utilizada em 82,7% dos domicílios brasileiros. Podemos deduzir que o fato de utilizarmos a tecnologia não ajudou na melhoria do entendimento das mensagens. Ao que nos parece, as evidências indicam que piorou. O que não nos surpreende, pois quantidade de informações não é igual à qualidade de informações.

Constatadas as dificuldades, vale praticar um pouco de interpretação. De volta ao galinheiro, poderíamos dizer que o autor desejou nos mostrar que fazer exercício é saudável e essencial, e que não menos importante é estarmos felizes por atingirmos nossos objetivos. Será que exagerei na interpretação, meu contido leitor? E digo mais. Acredito ser impossível alcançar a felicidade sem conquistas, sem descobertas e tendo nossa liberdade tolhida. Porém, atualmente, um dos erros mais cometidos em nossa sociedade educada é a superproteção dos filhos. E, sem perceber (ou percebendo), muitos pais não permitem que seus filhos evoluam, andem sozinhos e façam suas necessárias descobertas. Com suas mãos de tesoura, como Edward, podam suas asas para não voarem alto nem longe do ninho. O resultado é simples; criam-se filhos mimados, egocêntricos e que continuam, como se fossem crianças, dependendo do esforço dos mais velhos para lhes prover de tudo que necessitam, enquanto trabalham (isso quando trabalham). E, tudo isso, sem falar dos “nomofóbicos” e “autistas tecnológicos”, que se dedicam mais de doze horas por dia à doentia utilização de seus smartphones e computadores — razão mais do que justificada para não poderem auxiliar nas tarefas domésticas, compras no supermercado e trazerem um copo d’água para aquele pai idoso e cansado.

E as causas principais? Reputamos, entre outras, o ensino ruim, a apatia de muitos pais e a péssima influência de algumas mídias, que funcionam como alavancas propulsoras da inversão de valores, incentivando os jovens a tomarem a batuta e regerem, como se soubessem, a orquestra de seus lares.

Mas jovens envelhecem e, com o passar do tempo, irão perceber (já estamos percebendo) suas dificuldades — patrocinadas pela tecnologia — de concentrar, ouvir, interpretar e compreender as entrelinhas das mensagens.

E você, meu atento leitor, como interpretaria as causas dessa grande dificuldade?

Eu, na minha humilde opinião, acredito que esteja sobrando tecnologia e faltando galinheiro.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Como será o amanhã?

por Convidado 6 de maio de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Observem, persistentes leitores, as frases que tenho ouvido:

Depois da pandemia da COVID-19, nada voltará a ser como antes.”

“No novo normal, as pessoas serão meros robôs.”

“Os trabalhos serão realizados à distância e nunca mais voltarão a ser como antes.”

“Era necessário um castigo para que a humanidade se tornasse melhor.”

Como vimos, o que não faltam são palpites, suposições, opiniões, interpretações e achismos que preenchem nossos dias, prenunciando um novo tempo que está por vir. Surgem, então, os cientistas, futurólogos, profetas do acontecido e oportunistas que exploram a doença e a desgraça alheias para alcançarem seus objetivos escusos.

É num momento como este que percebemos o quanto somos frágeis. A morte chega sem aviso e carrega as pessoas que amamos. O que já é ruim fica pior, quando algumas mídias desestabilizadoras do equilíbrio emocional — de tanto repetirem, massificarem, induzirem — nos transformam em pessoas tristes, depressivas e isoladas. E, embora desejemos entender como tudo acontece, a pandemia não dá dicas, nem nos deixa estabelecer padrões de acometimento de pacientes. O pânico cresce e traz com ele doenças psicológicas.

Em face do caos que testemunhamos, as pessoas se perguntam: como será o futuro próximo? O que é real? Pergunta difícil, meus leitores realistas. Aprendemos que o real é tudo o que existe, independentemente de nossa inteligência interpretativa. O que significa dizer que realidade, diferentemente do real, é uma espécie de alucinação coletiva, um sentimento solidário, com o qual muitas pessoas concordam. A partir desse entendimento, fica evidente a necessidade de reequilíbrio, de manter a calma e estabelecer um plano para sobreviver no mundo real.

Temos uma problemática. Pensemos juntos. Estamos enfrentando um inimigo invisível que nos impõe restrições, falências, desempregos, enfermidades e nos leva à morte. Soluções: mudanças de trabalho ou de metodologia de trabalho, planejamento, distanciamento racional (considerando saúde e economia), uso de álcool gel, máscaras, e, embora ainda faltem respostas às reações que a doença nos causa, gradativamente, as vacinas começam a resguardar vidas. Outros inimigos, igualmente preocupantes, podem causar danos tão irreversíveis quanto o da pandemia. O pior deles é o radicalismo —  que, sendo dono da verdade, presta desserviços, massifica ideias, assombra incautos e simplórios. Infelizmente, ainda não há vacinas para a doença que torna as pessoas radicais. Os infectados sofrem alucinações, não aceitam argumentos (comprovações) que contrariem suas suposições e veem como inimigos todos que discordam deles. Os sintomas mais comuns são: apontar culpados pela doença e mortes, em vez de pensar nas causas e soluções; emitir opiniões sobre assuntos que não dominam; fazer afirmações sem base comprobatória e misturar ideologia com pandemia.

Diante disso, precisamos de ações que tragam desfechos positivo para nossas vidas. Pois, como disse Santa Tereza de Calcutá: “o dia mais importante de nossas vidas é hoje”.  E completo: colheremos amanhã o que plantarmos hoje.

Então, vamos lá, esperançosos leitores. Parem! Respirem fundo. Inspirem, expirem… Luzes, ação!

 “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer…”

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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As mentiras de cada um

por Convidado 1 de abril de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Você costuma mentir? Não?  Será que não está mentindo agora?

Particularmente, odeio mentira. Porém, saibam, leitores mais verdadeiros, que a mentira faz parte da vida de todos nós. Que atire a primeira pedra aquele que nunca mentiu. Sim. Desde crianças, a mentira nos acompanha como uma sombra. E com quem a prendemos a mentir? Com os adultos. E desculpas não faltam para explicar.  – Eu não minto. Apenas omito.  – Somente desta vez foi que menti. Este é mais mentiroso ainda. Somente nessa frase já mentiu duas vezes. E concurso de Miss? – Qual o livro que mais gostou? Quando não respondem que é o Pequeno Príncipe, pode vir uma mentira descarada: Crime e Castigo, de Dostoiévski.

Este tema (mentira) me veio à cabeça porque no palco da maldita Covid-19 foram criadas mentiras brandas, pecados veniais, como por exemplo — eu uso máscara em qualquer lugar. – Almocei lá porque o restaurante estava vazio. – Eu não saio de casa para nada. – Lá não tem ninguém com Covid. Mentirosos!

Para ficar claro, elenquei algumas categorias de mentiras:

*Comercial – esta blusa é a sua cara. – Aproveite a promoção. Amanhã será mais caro.

*Carinhosa — seu filho é lindo (muitas vezes é feio).

*Alcoólica — agora só bebo socialmente.

*Trabalho — eu faltei porque minha mãe morreu. Sobre esta última, um funcionário certa vez me justificou a falta ao trabalho em decorrência da perda da mãe. Fiquei muito penalizado, pois em poucos meses ele havia perdido as duas avós. Mas o que me chocou, especificamente naquele dia, foi ele ter perdido a mãe pela segunda vez.

As causas dessa fuga da realidade estão na busca de afeto, no sentimento de pena, no medo das consequências por terem feito algo errado. Alguns mentem com o intuito de parecerem melhores do que são. Outros, para serem aceitos em determinados grupos e empregos. E, em casos mais graves, o embusteiro convicto que forja situações para enganar alguém numa venda de um veículo, transação financeira ou algo que venha lhe gerar vantagem.

Falando em falta de veracidade, obviamente que não dá para esquecer das fake news que tanto distorcem fatos quanto destróem a imagem e a reputação de pessoas. Lamentavelmente, teremos que conviver com essa nova modalidade de notícias.

Mas, saibam, meus sinceros leitores, que quando esse comportamento passa a ser compulsivo, ele pode ser considerado como doença. A mitomania ou mentira compulsiva é uma tendência patológica que acomete muitas pessoas. Também os alerto que, em qualquer contexto, mais cedo ou mais tarde, a verdade prevalecerá.  “A mentira tem pernas curtas”.

“Você pode enganar muitas pessoas por pouco tempo, pode enganar algumas pessoas por muito tempo, mas não pode enganar todo mundo o tempo todo. ” (Abraham Lincoln)

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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A magia das palavras

por Convidado 4 de março de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

 “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.” ( Fernando Pessoa)

As pessoas que me procuram para participar de cursos e aulas individuais de oratória apresentam sempre um ponto comum, que é informado por eles: o nervosismo.

Para mim, que estou há 25 anos ministrando cursos de oratória, não é nenhuma novidade. O que desconhecem, entretanto, é que há outros problemas que, se solucionados, irão contribuir com a diminuição do nervosismo. São vários, mas, hoje, quero destacar o vocabulário.

Em ocasiões anteriores, cheguei a falar sobre a variação do vocabulário, dependendo de cada ambiente. Na leitura de um texto num tribunal, há, data vênia, a aplicação de palavras técnicas, antigas, eruditas e incompreensíveis para alguns. Num discurso médico, os termos técnicos também podem não ser entendidos por leigos. E assim acontece com cada segmento. A comunicação tem inúmeras línguas que, por sua vez, apresentam linguagens diferentes.

Imagine que a língua portuguesa tenha em torno de 600 mil palavras (Ieda Alves), presuma quantas palavras você utiliza em seu vocabulário. Há uma disparidade enorme entre o que temos à disposição e o que realmente aplicamos. Com isso, chegamos à conclusão de que não precisávamos de tantas palavras, porém, não satisfeitos linguisticamente, ainda criamos vocábulos novos e importamos muitos outros de várias línguas, sobretudo do inglês. O estrangeirismo ou barbarismo acomete todas as línguas.

O que sugiro aos meus alunos é que procurem ampliar seus vocabulários, anotando algumas palavras que ouvem numa palestra ou reunião, mas que não têm o hábito de usar. Outro exercício interessante é ler uma frase já escrita e alterar todas (ou quase todas) as palavras, sem que haja a mínima perda do sentido do texto.

Conhecer as palavras e saber quando usá-las é como aprender etiqueta e saber que cada talher tem sua função. Os vocábulos têm vida própria, são específicos para transmitir uma mensagem com exatidão. Ou seja, obter êxito na semântica.

Quero chamar a atenção, também, para expressões e alguns contextos curiosos. No futebol, por exemplo, um antigo – e já falecido – técnico da nossa seleção descobriu o ponto futuro e, como não ganhou nada, deve ser deixado num ponto do passado. Mas, em outra decepcionante Copa do Mundo, aqui no Brasil (gol da Alemanha, gol da Alemanha, outro gol da Alemanha… Chega!), disseram que faltou atitude. Já falei disso, mas tem mais: agora, jogadores flutuam em campo. Talvez imaginem o ponto futuro e voem. Aí, os comentaristas, praticando o neologismo, inventaram jogadas cirúrgicas e a falta de gols é atribuída a erro na tomada de decisão. Mas não satisfeitos, ainda fazem análises psicológicas e atribuem as derrotas ao estado anímico dos jogadores. A palavra, vinda do latim “anima” ou do grego “psykhé” significa “alma”, e deve exigir um religioso para cuidar daqueles pobres atletas que padecem em sua pesada labuta. Sendo latim ou grego, nossos times estão longe de atingir um patamar que nos faça ter orgulho deles.

Para ser bem sincero, acreditava mais quando os jogadores não flutuavam, apenas corriam nos gramados com os pés firmes no chão, o coração na ponta da chuteira preta e com muita vontade de vencer.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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