A magia das palavras

por Convidado 4 de março de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

 “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.” ( Fernando Pessoa)

As pessoas que me procuram para participar de cursos e aulas individuais de oratória apresentam sempre um ponto comum, que é informado por eles: o nervosismo.

Para mim, que estou há 25 anos ministrando cursos de oratória, não é nenhuma novidade. O que desconhecem, entretanto, é que há outros problemas que, se solucionados, irão contribuir com a diminuição do nervosismo. São vários, mas, hoje, quero destacar o vocabulário.

Em ocasiões anteriores, cheguei a falar sobre a variação do vocabulário, dependendo de cada ambiente. Na leitura de um texto num tribunal, há, data vênia, a aplicação de palavras técnicas, antigas, eruditas e incompreensíveis para alguns. Num discurso médico, os termos técnicos também podem não ser entendidos por leigos. E assim acontece com cada segmento. A comunicação tem inúmeras línguas que, por sua vez, apresentam linguagens diferentes.

Imagine que a língua portuguesa tenha em torno de 600 mil palavras (Ieda Alves), presuma quantas palavras você utiliza em seu vocabulário. Há uma disparidade enorme entre o que temos à disposição e o que realmente aplicamos. Com isso, chegamos à conclusão de que não precisávamos de tantas palavras, porém, não satisfeitos linguisticamente, ainda criamos vocábulos novos e importamos muitos outros de várias línguas, sobretudo do inglês. O estrangeirismo ou barbarismo acomete todas as línguas.

O que sugiro aos meus alunos é que procurem ampliar seus vocabulários, anotando algumas palavras que ouvem numa palestra ou reunião, mas que não têm o hábito de usar. Outro exercício interessante é ler uma frase já escrita e alterar todas (ou quase todas) as palavras, sem que haja a mínima perda do sentido do texto.

Conhecer as palavras e saber quando usá-las é como aprender etiqueta e saber que cada talher tem sua função. Os vocábulos têm vida própria, são específicos para transmitir uma mensagem com exatidão. Ou seja, obter êxito na semântica.

Quero chamar a atenção, também, para expressões e alguns contextos curiosos. No futebol, por exemplo, um antigo – e já falecido – técnico da nossa seleção descobriu o ponto futuro e, como não ganhou nada, deve ser deixado num ponto do passado. Mas, em outra decepcionante Copa do Mundo, aqui no Brasil (gol da Alemanha, gol da Alemanha, outro gol da Alemanha… Chega!), disseram que faltou atitude. Já falei disso, mas tem mais: agora, jogadores flutuam em campo. Talvez imaginem o ponto futuro e voem. Aí, os comentaristas, praticando o neologismo, inventaram jogadas cirúrgicas e a falta de gols é atribuída a erro na tomada de decisão. Mas não satisfeitos, ainda fazem análises psicológicas e atribuem as derrotas ao estado anímico dos jogadores. A palavra, vinda do latim “anima” ou do grego “psykhé” significa “alma”, e deve exigir um religioso para cuidar daqueles pobres atletas que padecem em sua pesada labuta. Sendo latim ou grego, nossos times estão longe de atingir um patamar que nos faça ter orgulho deles.

Para ser bem sincero, acreditava mais quando os jogadores não flutuavam, apenas corriam nos gramados com os pés firmes no chão, o coração na ponta da chuteira preta e com muita vontade de vencer.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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A argumentação

por Convidado 5 de fevereiro de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

“Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo.” (Wittgenstein)

Posso dizer que houve, nesses últimos vinte anos, a maior expansão da literatura de todos os tempos sobre os diversos e mais variados assuntos. Mas, de forma avassaladora, também cresceu o número de pessoas que discutem temas, sobretudo polêmicos, somente com os ímpetos da paixão, que os impedem de aceitar quaisquer argumentos, ainda que documentados oficialmente.

Em minhas aulas e nas orientações individuais sobre o tema argumentação, meus alunos me indagam sobre como proceder quando argumentos inquestionáveis são desprezados pelos oponentes. Eu respondo que, conforme já diziam os antigos: “contra fatos não há argumentos”. Mas sei que não é o que tem ocorrido na prática, em discussões formais e informais.

Vejam, receptivos leitores, como é difícil a arte de comunicar: três pessoas olham para um indivíduo barbudo e de cabelos longos. Um diz que é Jesus, outro que é um hippie qualquer. E um terceiro, que não tem coragem de arriscar, diz que ambos são ignorantes. Ou seja, critica, mas não soluciona. E isso não é novidade. É sabido que, desde os primórdios, onde houvesse três seres pensantes, fatalmente haveria algum tipo de discordância e, possivelmente, alguém “em cima do muro”.

Na antiga Grécia, nos tempos platônicos, existiram os sofistas que cobravam pelos ensinamentos da argumentação sobre qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos e nem reproduzissem a verdade. Ora, a busca da verdade não é tarefa fácil. E muitos não a querem. Há casos em que, mesmo sob flagrante, o criminoso nega o que todos estão presenciando. Então, como vemos, não foram somente alguns gregos que desenvolveram teses falsas, defendidas pela retórica quase que perfeita. Na realidade, com o advento da democracia, todas as pessoas passaram a ter direito de defender suas ideias e, com isso, a prática da argumentação, falsa ou verdadeira, cresceu bastante desde os tempos de Aristóteles.

Em breves palavras e sem aprofundar no assunto, pois sabemos que o novo leitor se impacienta diante de muitas palavras, podemos dizer que a arte da dialética, tão desprezada nos novos tempos, é a melhor forma de aprender a argumentar. Tal arte tem como pré-requisito não apenas saber falar, mas também saber ouvir, pois se você, meu ansioso leitor, não conseguir ouvir para conhecer pontos de vista diferentes e contrários aos seus, jamais conseguirá ser um bom argumentador. E ainda tem mais um elemento para compor o perfil de quem defende honestamente suas ideias: procure trabalhar com a razão — pois somente ela é conselheira fiel de quem busca a verdade dos fatos.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Simples reflexões

por Convidado 4 de janeiro de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

O Discípulo perguntou ao Mestre: – o que é a vida?

O Mestre lhe respondeu: – é um campo de luta de uma disputa eterna.

O discípulo ficou pensativo e decepcionado com aquela resposta. Ora, se a vida é uma disputa, nós seremos eternamente adversários de alguém – pensou. Então, voltou a indagar: – mas nós, em todos os dezembros, desejamos e externamos votos de paz e de um ano novo feliz. Estamos errados?

– Caro Discípulo, emendou o Mestre, cantarolando: – “…Cantar nunca foi só de alegria/com tempo ruim /todo mundo também dá bom dia…” (Gonzaguinha). E continuou: – São tradições, etiquetas, costumes que nos ensinaram e que tentamos crer que possam nos ajudar a construir um mundo melhor. Mas, via de regra, são ações automatizadas que, em raríssimos casos, contêm sentimentos que passam energias positivas e desejos reais.

– Que frustração me causou sua resposta.

– Você é jovem, meu querido seguidor. Quando for mais velho, verá que a vida não é exatamente como pensa hoje. O tempo se incumbe de minimizar as decepções. Tudo muda com o tempo, inclusive conceitos, ideologias, crenças e etc.

– Qual é a maior vantagem de ser velho? Será a sabedoria que se tem da vida? – indagou o jovem.

– Não. Nem todo velho é sábio. Os néscios também envelhecem. A vantagem é não ter morrido jovem (risos). Ademais, salvo melhor juízo de valor, é o tempo de convivência com as pessoas que amamos.

– O senhor é partidário do poema de Cassiano Ricardo que diz que “…desde o momento em que se nasce, já se começa a morrer…” ou que cada dia é mais, e não menos um dia?

– Poderíamos dizer que quem dá a vida, também dá a morte. Mas cada dia, para mim, é mais um dia. A vida, com toda a luta, é uma unidade que recebemos de presente e que devemos saber valorizar.

– E por que unidade?

– Porque é um verbo em movimento e não tem, como as outras coisas da vida, duas faces.

– Não entendi.

– Explico: o contrário de morrer, qual é?

– Viver, ora!

– Errou. É nascer. Viver não tem contrário. Viver é uma dádiva durante um determinado tempo. Naturalmente, quem embarcou primeiro tem um número de senha menor, e será convocado a descer antes. O que é justo; afinal quem chega primeiro tem o direto de ser chamado antes. O que ocorre fora da regra é que muitos jovens afoitos, acostumados a furar filas, acabam passando na frente.

– Crueldade, Mestre. E sobre o ano de 2021? O que acha dele, Mestre?

– Estamos nele, vamos “começar de novo/ E contar comigo/ Vai valer a pena/ Ter amanhecido…Ter sobrevivido…” (Ivan Lins / Vitor Martins).

– Está certo. Valeu a pena ter sobrevivido. Tive muito medo de perder pessoas e até de não sobreviver, mesmo sendo jovem.

– Está vendo. Estávamos, ainda estamos e sempre estaremos lutando contra um inimigo perverso. A vida, como lhe disse, é uma eterna competição; seja contra um adversário como a Covid, seja contra o desemprego, a estagnação, um vício, um parente, um colega traíra. Mas, e sobretudo, estaremos combatendo aquilo que pode nos tirar a vida. A sabedoria consiste em viver cada coisa de cada vez.

– Sabe, Mestre, queria muito que a vida fosse melhor, bem mais justa e menos desigual. Que as pessoas fossem melhores e mais honestas. Tudo não passa de um enredo, cuja essência é o engano. Até os pais mentem para seus filhos…

– Entendo seu sentimento. Um compositor-poeta, sentindo a mesma dor, escreveu:  … “Mas, a vida anda louca/ As pessoas andam tristes/ Meus amigos são amigos de ninguém …“ (Vander Lee).

– Mas a vida é boa sim. O mundo é um palco no qual realizamos espetáculos diversos e, mesmo tendo inúmeros vilões, há sempre muitas pessoas bondosas, solidárias e amigas que protagonizam a peça. Como disse Carlos Drummond: “existe uma pedra no meio do caminho”. A diferença entre sofrer e não sofrer depende de cada pessoa. Uns vão tropeçar na pedra, cair, se debater. Muitos irão atirá-la em alguém. Alguns vão se sentar nela. Outros, porém, irão utilizá-la como pedestal.

A escolha é de cada um.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Agora vai…

por Convidado 21 de dezembro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Enfim, chegamos ao final do sofrido e inusitado ano de 2020. Aos poucos, como um maratonista alquebrado e sem fôlego, mas que não se entrega ao cansaço, estamos próximos da linha de chegada. O mês do nascimento de Jesus, provavelmente, representa apenas o “box” – parada para descanso de uma jornada que nos surpreendeu com chuvas acima da média, queimadas recordistas e uma pandemia que encerrou os sonhos de tantas pessoas.

Em dezembro passado escrevi neste espaço que acreditava em dias melhores. Meu realismo “Nostradamicus” havia sido corrompido, possivelmente, por milhares de mensagens de otimismo que me levaram a fazer previsões ilusórias de que viria a bonança. Tive esperanças e acreditei mesmo. Não aconteceu. Vieram as tempestades, infelizmente.

E, falando nisso, peço licença aos meus bem-aventurados leitores para fazer um aparte. Vocês já devem ter percebido que as pessoas mais realistas acabam fingindo que acreditam num monte de baboseiras que, certamente, extrapolam os dogmas do pensamento positivo? Perceberam que, caso não concordem com certas extravagâncias, vocês serão taxados de pessimistas?

Entretanto, cabe a lembrança de que o pêndulo da vida, a temperança, está no centro das coisas, assim como o realismo é o ponto de equilíbrio entre o otimismo e o pessimismo – o que não significa que eu seja contra o otimismo. Creio que haja um momento para cada sentimento, e a esperança chega a ser milagrosa, sim, desde que exista a possibilidade de que algo se concretize. O autoengano, uma das faces do otimismo, nos leva à procrastinação de um ato que não irá acontecer e, certamente, não nos levará ao pódio.

Estão pensando que não acredito em dias melhores? Erraram. E, já que estamos falando em otimismo, creiam, meus fervorosos leitores, continuarei persistindo em minhas profecias de que 2021 nos será mais favorável. Transfiro todos os planos sonhados e os objetivos malogrados para o próximo ano e convido-os a refazerem seus propósitos com os pés no chão, mas com a alma nas estrelas. Afinal, merecemos momentos mais agradáveis.

Tudo isso me remete a um fato, ocorrido há muitos anos, numa empresa em que eu era recém-admitido e para a qual havia elaborado um projeto de mudanças e melhorias. Um dos gerentes, ao final de minha explanação, disse uma frase que me deixou feliz: “Agora vai…” e prosseguiu com um discurso de credibilidade, dizendo que havia esperado muito por aquela oportunidade, pois tentativas anteriores o haviam frustrado.

Num segundo momento, após a reunião, comentei com colegas sobre minha satisfação ao ver a reação do referido gerente. Recebi de volta um sorriso coletivo e, desconfiado, indaguei o porquê daquela risada. Tive como resposta de que não deveria levar em consideração aquele nobre colega, pois todos os anos, na reunião estratégica, a reação era sempre a mesma: “Agora vai…”

Mas, voltando ao fatídico 2020, contabilizamos perdas irreparáveis tanto de pessoas quanto financeiras. Porém, não temos outra opção a não ser nos reinventarmos e prosseguirmos em nossa corrida pelo circuito da vida. Para outros, foi um ano rentável e isento de doenças e perdas. Felizes são esses últimos que foram escolhidos e abençoados.

Diante de tudo isso e, apesar do ano frustrante, eu agradeço a Deus por estar aqui, chegando ao “box” para repouso, exaurido, mas grato por existir, resistir e trabalhar para ajudar pessoas a ressignificarem seus traumas e suas carreiras. Enfim, desejo a todos vocês que estiveram comigo e mantiveram viva a minha vontade de escrever, um Feliz Natal, pleno de harmonia e, carinhosamente, reafirmo em meu realismo, meio otimista, de que o ano novo nos possibilitará encontrar a paz que buscamos, a justiça, a alegria, a saúde, os encontros presenciais com abraços calorosos, e renovará a esperança de que as expectativas represadas transbordem e transformem nossos dias em conquistas.

Que tudo se realize em 2021.

Agora vai…

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Leve e solto, mas sem exageros

por Convidado 3 de novembro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Em tempos tão desalumiados, gerados por uma doença pandêmica, a possibilidade de parar e refletir talvez possa ser entendida como uma oportunidade para quase todos nós. Não obstante os inúmeros contratempos em um processo dolorido de perdas, temores e prejuízos, ainda assim, prodigiosos leitores, em que pese todas as adversidades testemunhadas, posso lhes afiançar que tivemos algum tempo para fazer uma higiene espiritual e rever nossas atitudes perante o mundo e a sociedade.

Para resguardar meu senso de utilidade, tenho tirado proveito de algum ócio para meditar e buscar o tão propagado (e até desgastado) autoconhecimento, que para literaturas bem atuais, esconde um tesouro com imensas riquezas.

Mas, depois do prazer em me conhecer, investi literalmente na limpeza, no descarte e no desapego e confesso que, posteriormente, senti um bem-estar muito grande. Adoro livros, coleções de clássicos. E, entre o pesar e a insustentável leveza do ser, vi meus livros sendo encaixotados e, creiam, ouvi gritos de personagens de romances me pedindo para ficar. Alguns disseram que jamais seriam entendidos por outra pessoa como foram por mim. Mas me fiz de frio e disse que a mudança era necessária. Capitu me chamou de traidor. Madame Bovary chamou-me de ingrato pelo amor secreto dedicado a mim. Dante Alighieri prometeu que, por minha insensibilidade, me mandaria para o inferno. George Orwell rogou a praga para Stálin me assombrar, e Dostoiévski me garantiu que crime e castigo andam juntos.

Era como se eu os tivesse sepultando. E o que era difícil se tornou ainda mais penoso porque eu estava tomando uma atitude que contrariava meu apego e, por isso, me incomodou. Mas fui determinado porque, em minha meditação, descobri que nada aqui nesta parte do cosmos é nosso. Somos seres passageiros (e como é rápido) e não temos o direito de guardar algo que pode ser utilizado por outras pessoas. Ainda que sejam livros e num país que se lê pouco.

Após sufocar os gritos dos autores e personagens nas caixas, virei minha metralhadora para o guarda-roupa. Esta parte merece uma explicação: quando se trata de roupa tem uma frase que diz – “e se a moda voltar? ”. Confesso que a ouvi. Porém, a decisão já estava tomada e não teria essa história da moda voltar. No embalo, depois das roupas antigas, parti para as novas. Pesaroso, encarei meu blazer e me perguntei: doa ou não? Mas senti orgulho de mim; lancei mão de outras roupas atualíssimas e embrechei na sacola junto com as demais.

No embalo, foram fitas de videocassetes que talvez um dia eu fosse assistir. CDs que poderia ouvir numa ocasião especial, móveis que estavam guardados no quartinho de despejo e objetos que não sabia que possuía.

Enfim, estava mais leve. As práticas de Feng Shui comprovam isso. Coisas velhas e não usadas acumulam energia negativa.

Meus condescendentes leitores, diante do que relatei, recomendo e os convido a aproveitarem seu tempo da melhor maneira possível. Para ajudá-los, lanço aqui neste espaço precioso de Observação e Análise, 5S (Cinco Esses), que são os sensos traduzidos do programa de Kaoru Ishikawa. São eles:

Senso de utilização: mantenha somente os recursos necessários nos locais específicos.

Senso de organização: os recursos e materiais devem estar à mão, devidamente identificados e arrumados.

Senso de limpeza: tudo limpo e funcionando.

Senso de padronização: processos claros e uniformes.

Senso de disciplina: manter, cumprir e comprometer-se a fazer certo.

Então, utilizem o bons sensos.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Contextualização e processo

por Convidado 15 de outubro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Há muitos anos, participei de um curso de consultoria que mudou a minha vida. Nele, aprendi que não se analisa um fato sem considerar o contexto. Tudo depende do contexto que envolve ambiente, situação, tempo, local, pessoas e uma série de fatores. Um criminoso pode não ser condenado se analisarmos profundamente o processo que o levou a cometer um crime. Ou seja, a vida é processual. Não é por acaso que os japoneses criaram a qualidade total. E, total, quer dizer visão de todo o processo. Também no mesmo curso recebi uma lição que me fez administrar com justiça e margem de erro reduzida qualquer processo. A lição trazia a sigla GOIA. Foi lançada num filme cujo nome era “Efeito Goia”. Resumidamente dizia: Gerencie Onde Incidentes Acontecem.

Os ensinamentos do curso foram tão valiosos que obtive autorização da presidência da empresa na qual trabalhava para conhecer, ao vivo, a realidade de suas filiais. E, assim, desta maneira, passei a viajar e, lhes asseguro que, durante quase três anos, pude compreender e resolver problemas que, estando distante, jamais teria tido o “timing” para buscar soluções, tampouco faria descobertas e obteria insights se não presenciasse os fatos lá bem no local. Sim, meus estimulantes leitores, como podem perceber, o segredo do sucesso estava na palavra presencial. E sabem por qual razão? Porque não há como ter empatia sem sentir na pele o que está acontecendo. E tudo, utilizando-se da estratégia de ver, ouvir e sentir, mas dentro do habitat dos outros profissionais. Talvez muitos de vocês se lembrem que, num programa noturno de domingo, uma emissora corroborava com esta ideia e demonstrava a importância de se estar no local. Normalmente, era um dirigente que, secretamente, se fazia passar por um empregado novo e com isso poderia vivenciar a realidade de cada lugar e, sobretudo, conhecer, literalmente, quem eram seus empregados. As descobertas foram magníficas.

Em todos os meus trabalhos, sejam eles de comunicação, gestão, planejamento estratégico, carreira, oratória (timidez, fluência, postura, conteúdo, pitch, etc) e outros, inequivocamente, utilizo o contexto para entender o porquê de cada fato. Reputo a isso a razão de meus acertos. Por isso, com os devidos e necessários cuidados, atendo presencialmente e treino pessoas que carecem de se apresentar ao vivo ou através de lives e podcasts. Os resultados em encontros presenciais são bem mais produtivos, eficazes e, obviamente, mais rápidos.

Sei que estão pensando que no “novo normal” (detesto o termo) todos os aprendizados dos quais estou relatando serão inócuos. E que, no mundo virtual, o que vale é dominar a tecnologia. Mas e se pudéssemos trabalhar com um pouco de presencial somado ao virtual? O ser humano necessita de conversar, de argumentar, de convencer, de ser ouvido, de fazer parte, de ser parte, de ser importante e útil e, sucintamente falando, precisa de existir. Ver Paris na tela de um computador ou pela televisão não é igual a estar lá e sentir o cheiro do lugar, o frio ou o calor. Caso assim fosse, ninguém precisaria viajar tanto. E a cada dia viajamos mais.

Mestre Gonzaguinha disse:

“Um homem também chora/ Menina morena/ Também deseja colo/ Palavras amenas/ Precisa de carinho/ Precisa de ternura/ Precisa de um abraço/ Da própria candura…” 

Compactuo com a mensagem da música. Homens e mulheres precisam da presença de gente, pois somos vida, energia que só circula presencialmente.

Quem não gosta de um aconchego? De estar ao vivo com alguém que é importante para você?

“…Querendo um sorriso sincero, um abraço/ E toda essa minha vontade/ que bom poder estar contigo de novo/ roçando teu corpo e beijando você…” (Dominguinhos e Nando Cordel)

“Temos que ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade.” (Santa Tereza de Calcutá).

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Do outro lado

por Convidado 17 de setembro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Somos mais vida ou mais morte? Haverá vida em outro plano, em outra dimensão? E voltaremos para cá, numa reencarnação? Essas são perguntas que tantas pessoas fazem quando perdem seus entes mais queridos. E, neste ano, tivemos um número significativo de perdas humanas em decorrência da Covid-19 e de outras doenças. Não há dúvidas de que este evento ficará marcado para sempre na história. Aliás, a vida, independentemente das respostas sobre o outro lado, em muitas ocasiões, me remete a um livro. Cada pessoa escreve o seu. E, a cada dia, vamos acrescentando um novo episódio.

As narrativas variam em tempo, espaço, personagens e enredo. Algumas pessoas parecem viver somente o passado e, por isso, escrevem lembranças que estão vivas em suas memórias. Eu gosto disso, por ser um registro de história de algo que não vimos, mas que nos contaram. Outras pessoas, ao contrário, vivem o futuro, têm cara de extraterrestres e parecem escrever romance de ficção. Sendo futuristas ou saudosistas, nos primeiros capítulos, ou seja, na juventude, normalmente observamos a confiança com que se apresentam e defendem ideais e sonhos. Nele estão declarados os princípios, a política e uma ilusória crença das personagens de que são portadoras de cultura e verdades inquestionáveis. São homens e mulheres corajosos que lutam por um mundo melhor. Quase sempre são protagonistas e narradores oniscientes – e ponham onisciência nisso – conhecem tudo e todas as personagens de seu romance com profundidade.

No segundo capítulo, que denominamos de fase adulta, o romance começa a mudar e passa a ter ideias mais consistentes e fatos mais marcantes, como conquistas profissionais, casamentos, nascimentos de filhos, estudos avançados. A narrativa fica mais objetiva ao entrarem no terceiro capítulo, que é a meia idade. Até aqui, sendo drama, tragédia ou comédia, a trama frequentemente vai se tornando madura e mais realista.

No último capítulo, que é a velhice, os romances de cada vida levam à constatação de que Fernando Sabino tinha razão quando pediu para escreverem em sua lápide que: “nasceu homem e morreu menino”.

Em muitos epílogos, a escrita demonstra que nem sempre a morte dá aviso prévio, e que não há controle sobre o dia e o número da nossa senha. Quando somos chamados, não há quem nos segure neste lado de cá.

Ora, meus leitores de fé, desculpem-me se os decepciono, mas não tenho resposta alguma sobre as indagações. Apenas imagino que temos uma missão, aqui neste latifúndio e, que, devemos identificá-la para cumpri-la rigorosamente.

Mas, se algo puder fazer para amenizar a dor de quem sofreu perda de um ente querido, deixo que Santo Agostinho fale por mim:

A morte não é nada (Santo Agostinho)

“A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.”

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Parece que foi ontem

por Convidado 21 de agosto de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Outro dia, mexendo em papéis antigos e guardados por minha mãe, encontrei um caderno que usei em minha infância. Junto com os escritos vieram as lembranças de um passado precioso, vivido em família. Coincidência ou não, pois, já sou saudosista por natureza, acionei o “recordar é viver” e viajei num lindo avião contornando a rota presente-passado, e ele foi pousar justamente na infância. Parece que foi ontem, minha mãe me ensinando a escrever o meu nome, o dela, o dos meus avós. Como um simples caderno pode trazer tanta recordação e reviver os mortos que um dia estiveram conosco? Estavam ali: um registro de vida, um momento, um carinho, um cuidado. Na contracapa do caderno azul constava a letra do Hino Nacional (a mídia ainda permitia), escrita por Joaquim Osório Duque Estrada. E, embora não pudesse naquele momento ouvir a música, é bom registar que o autor foi Francisco Manuel da Silva.

Toda essa anamnese por causa de um caderno velho, preenchido por garranchos inocentes de uma criança que começava a despertar para o mundo. Aliás, devo lembrar-lhes, leitores persistentes, um mundo tão mais simples do que o de hoje. Sei que pensaram que o mundo é o mesmo. Sim, porém, é só o lugar. O cenário e o palco não são os mesmos, muito menos as personagens. Nada é igual ao que já foi um dia. Tudo flui, tudo muda o tempo todo – já disse Heráclito.

Cabe observar que somente o caderno não se modificou. E que, talvez por isso, tenha me vindo à mente a canção maravilhosa de Mutinho e Toquinho:

“Sou eu que vou seguir você/ Do primeiro rabisco até o bê-a-bá./Em todos os desenhos coloridos vou estar:/ A casa, a montanha, duas nuvens no céu/ E um sol a sorrir no papel… Só peço a você um favor, se puder:/Não me esqueça num canto qualquer”.

E eu o esqueci num armário qualquer.

Assim, simplesmente assim, a estrada do tempo nos conduziu e, hoje, de posse de um outro caderno, parecido com o meu, estou ao lado de minha mãe, pedindo a ela que escreva seu nome, o de seus filhos e o de meu pai. E ela, com seus olhos grandes de boneca, já cansados e descoloridos, lentamente começa a escrever, mas com lentidão e um certo tremor nas mãos. Olha para mim e, assim como eu fazia, espera aprovação – que dou imediatamente.

Agora, devido à doença, sou eu quem a ensina e, talvez, não tenha tanta paciência e calma como ela me dedicou. Mas trago comigo um sentimento de gratidão do tamanho do mundo por tudo e por todos que fizeram algo por mim. Ser grato me faz ser mais solidário e compreensivo com as pessoas. E é aconselhável pensar no amanhã, e em quem irá colocar sua cadeira no sol. Não riam, o ontem e o hoje sempre estão nos demonstrando o quanto é importante plantar para um dia, bem próximo, ter o que colher. Sim, meus amigos, a lei da vida se resume nisso. Assegure-se do que está plantando para o futuro. Caso contrário irá colher ervas daninhas.

Muitos dias se passaram e o vento os levou. O menino cresceu e precisa cuidar da velha-menina que carece de proteção. E, assim:

“um menino caminha/E caminhando chega no muro/E ali logo em frente a esperar/Pela gente o futuro está…/ Nessa estrada não nos cabe/ Conhecer ou ver o que virá /O fim dela ninguém sabe/ Bem ao certo onde vai dar… / vamos todos / Numa linda passarela/ de uma aquarela que um dia enfim…

…Descolorirá.”

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Veredas da vida

por Convidado 16 de julho de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Nestes tempos obscuros de pânico causado pelas pessoas – mais do que pela pandemia – resolvi voltar para mim, como cantava Geraldo Vandré, e me recolher num ambiente rural, distante do ambiente tóxico das grandes cidades. Com o passar dos dias, pude perceber e sentir “a insustentável leveza do ser”, sentimento este, que serviu de título a uma obra de Milan Kundera.

Confesso que, a cada dia, o verde me parece mais verde, mais belo e as cerejeiras, fazendo par com as camélias (que não caíram do galho), completam o quadro com um colorido perfeito. De repente, redescubro valores que já não faziam parte de minha vida. É como se, ontem, eu olhasse para uma paisagem com minhas retinas tão fatigadas”(C.D.A.) e já não percebesse suas nuances. Mas, gradativamente, em descanso, meus olhos começaram a ver o que já não viam e percebo a beleza de um dia de sol, com uma relva molhada e pássaros cantando. E, assim, já me desintoxicando da poluição mental, vejo o que estava tão claro, e o que minha lente embaçada me impedia de enxergar. Ouço o som do silêncio, a manifestação dos bichos – coisa que meus ouvidos já não identificavam. Tenho a liberdade de caminhar pela estrada de terra, respirando o ar puro sem contaminação de vírus. Coisa rara. Riqueza incomensurável.

Sabem, meus críticos leitores, eu aprendi que depois de algum tempo, mesmo que os olhos fraquejem, a gente amplia a visão e vê o mapa por inteiro e, ainda, descobre que há outros mundos neste mundo. E que corremos muito e sem saber o porquê. *“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Também, em descanso, damos vez ao espírito que, na roça, é mais presente do que o corpo. Diminui-se a vaidade e passam a ter outros valores. Lá *“o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada”. E a vida nos revela um novo lugar que pode ser a nossa Shangri-lá, num horizonte perdido, como escreveu James Hilton, ou na Pasárgada de Manuel Bandeira.

Falando em Bandeira e, diante de todas estas reflexões, acho que “vou-me embora pra Pasárgada”, definitivamente. Lá não tem Market Share, nem competição. Não tem Mindset, apenas modelos mentais. As pessoas contam causos, mas nada de storytelling. E não tem essa coisa de background. Tem sim experiência de vida e segredos de “veiacaria”.  E, como cantou Martinho da Vila “Je ne sais pás parle français/ Também não falo português/ Meu idioma é o brasileiro…”

E como é bom falar a nossa língua com desenvoltura e do nosso jeitinho diminuto de colocar as palavras. No sertão das Minas Gerais, a língua é o mineirês, e quase tudo a gente entende. E eles não têm o hábito de atazaná a vida do outro. Diante de uma boa prosa, ninguém arreda pé. Tem também muita lubrina e cai geada no inverno. Mas é bom demais da conta. Eles só não gostam de gente xexelenta e entojada.

Dizem os estudiosos e os que possuem bola de cristal que o êxodo, agora, será urbano. No novo mundo, pós-pandemia, as pessoas devem fazer o caminho inverso, buscar mais sossego, já que poderão trabalhar à distância. As cidades do litoral e propriedades rurais poderão ser o destino de muitos trabalhadores. Com o distanciamento social descobrimos que podemos prescindir de escritórios, de idas e vindas diárias para trabalhar e que, de nossas casas, poderemos realizar nossas tarefas com a mesma eficiência. Então… concluímos, a vida é um caminhar com muitas possibilidades que só não se realizam em larga escala porque a acomodação é característica do ser humano.

*“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.”

*Guimarães Rosa

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Penso, logo desisto

por Convidado 17 de junho de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Diante do quadro inédito que estamos testemunhando e vivendo ativamente é muito previsível que tenhamos um número acentuado de pessoas sofrendo de tristeza e depressão. É sabido que a quantidade de suicídios aumentou significativamente no mundo. Mas ainda não para por aí. As pessoas estão mais agressivas e inflamadas. Infelizmente, no Brasil, a guerra pelo poder é maior do que contra a pandemia. Lamentavelmente, as pessoas estão se digladiando nas ruas por interesses que nem são delas. E a impressão que me passam é a de que são zumbis, perdidos pelas avenidas, mas programados para agir.

Confesso que sinto muito medo disso. Já vimos ideologias políticas se transformarem em seitas assassinas e gerarem guerra mundial. Adolf Hitler e Josef Stalin, a exemplo desse condicionamento assassino e macabro, protagonizaram as maiores peças de terror de toda a história.

E hoje? Que fenômeno estaremos vivendo? Por que tantas pessoas estão apresentando reações estranhas? Ora, a carga psicológica da doença causada pela Covid-19 é intensa, constante e ainda crescente. Não precisávamos de sensacionalismo, oportunismo, inverdade, grosseria, desonestidade e drama, além da falta de ética acentuada e praticada exaustivamente por algumas mídias. Mas o que dói é saber que, por trás da informação, há interesses escusos, financeiros, políticos e sociais.

Sabem o que é mais difícil, meus caros leitores? É nos mantermos na neutralidade diante de um quadro caótico. Só para entender, comparando a um trabalho de consultoria empresarial, qualquer pessoa que tome posse na presidência de uma entidade só terá êxito se sua equipe for de sua confiança e estiver remando a favor dos objetivos comuns.  Não é a realidade brasileira. Será ruim para todos. No governo anterior, os ventos lhe foram mais favoráveis. Alerto, entretanto, que não houve nem haverá perfeição em nenhum dirigente. Pelo contrário. Todos tiveram deslizes e até crimes contra nosso patrimônio, nossa economia e nossas vidas – muitas delas perdidas e não contabilizadas, porque não era conveniente aos interesses midiáticos. Um certo ex-ministro já dizia que a gente só mostra o que nos é conveniente…

É difícil ser neutro quando o assunto é esporte, política e religião. Os olhos veem, porém, o cérebro emocional deturpa a visão. Mas daí, usar a pandemia…

Ainda assim, excluindo-se o paradigma de jogo de interesses – que por si só já se explica – podemos tentar entender o contexto e obter a verdade, recorrendo  à Grécia, em seu período helênico. Podemos ter, como amparo para argumento, o pensamento de que “nada acontece por acaso” (tem sempre um diabinho soprando em nossos ouvidos), da Escola Estoica, fundada por Zenão (V a.C). Em Sócrates, vislumbramos a busca da Verdade e da Ética que permitiria tornar os homens virtuosos. Eu disse, permitiria. Em Platão, um pouco mais à frente, surge a tese do Mundo das Ideias que continua em busca da verdade e da ascensão do homem para a realidade do bem. Preconizava o conhecimento, a força e a temperança, em síntese, a virtude da justiça.

Tempos mais tarde, outro filósofo de destaque, René Descartes (1596-1650), afirmava que “para conhecer a verdade é preciso, de início, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo…”.

Diante das teses mencionadas, creio que estejam nos faltando, critérios de análise, coerência, verdade, ética, honestidade, visão sistêmica e, em contrapartida, estejam sobrando hipocrisia, desonestidade, corrupção e paixão cega. 

De tanto esperar, “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça…”.e me decepcionar, hoje, já não confio na palavra dos homens, tampouco e, sobretudo, em promessas políticas. Apenas em meu juízo de valores, não me conformo com o lucro em detrimento de vidas.

Vocês ainda querem saber por que há tanta depressão? Não é pela pandemia. Ela é a gotinha d’água. Eu lhes asseguro. É por vermos a degradação dos seres humanos, que trocaram a virtude pelo vício da desonestidade, equação que permite dizer que os meios fraudulentos justificam os fins.

Não é bom pensar e, se penso, logo desisto.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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