A tornozeleira de “gominha”

por Luis Borges 22 de junho de 2016   Pensata

A tornozeleira é uma peça feita de malha para proteger o tornozelo, que é uma saliência óssea na articulação do pé com a perna. Pode ser feita também usando-se outros materiais como couro, prata, ouro e pérolas conforme o país e sua cultura. De uns tempos para cá, ela ganhou destaque no sistema prisional brasileiro ao ser usada para controlar pessoas cumprindo alguns tipos de sentenças fora das penitenciárias. A Operação Lava Jato da Polícia Federal ampliou bastante a visibilidade das tornozeleiras em função dos tornozelos famosos em que passaram a ser usadas e do potencial que tem para uso em tantos outros igualmente famosos. Do ponto de vista jurídico, segundo o Dicionário Informal tornozeleira é um “objeto com a função de ser fixado a uma parte do corpo humano a fim de que haja o monitoramento eletrônico do indivíduo que cumpre medida cautelar, determinada pela autoridade judicial, não prisional, tais como: proibição de frequentar determinados lugares, recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, monitoração eletrônica, dentre outros”.

Agora surgiu uma nova e criativa modalidade de tornozeleira, feita com gominha de borracha, que é usada por diversos frequentadores de um bar que funciona há 20 anos no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. A função básica do dispositivo é monitorar o inchaço do tornozelo dos frequentadores mais assíduos, notadamente os que aparecem uma vez por dia e os diaristas de dois turnos (manhã e noite). É claro que existem também os frequentadores do meio da semana e outros que emendam de sexta a domingo. O fato é que, enquanto o tempo passa joga-se muita conversa fora, um pouco de sinuca e  ótimas doses de cachaça que ocupam a metade de um copo de vidro do tipo “Lagoinha” ao preço de R$2 cada uma. Também não faltam a cerveja geladinha e alguns tira-gostos que facilitam no aumento do colesterol. Os fiéis frequentadores podem fazer o acerto de suas contas mensalmente e pagar com cartão de crédito ou débito, o que também não impede que, de vez em quando, alguém mais apertado dependure a conta.

Momentos de surpresa, aumento da falação e muita preocupação acontecem quando a tornozeleira de gominha de algum frequentador se arrebenta. É o sinal de que algo não vai bem e logo vem alguém lembrando que o colega abusou da quantidade de cachaça ou que vinha bebendo sem se preocupar com os efeitos colaterais. Outros até enaltecem a gominha alegando que, se não fosse ela, talvez o colega nem percebesse a silenciosa piora em seu quadro clínico sinalizada pelo inchaço do tornozelo. Alguns ainda brincam dizendo que o colega pode tentar recuperar a forma física frequentando o bar, mas tomando apenas uma cerveja sem álcool caso o seu médico autorize. A vida no bar não é fácil e o seu proprietário morre de medo de perder sua clientela, principalmente sabendo que é mais fácil manter um cliente do que arrumar um cliente novo ou recuperar um cliente perdido. Pior do que isso, só a morte, que de vez em quando tem chegado para alguns frequentadores do referido bar.

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