Restrições crescentes

por Luis Borges 3 de agosto de 2016   Pensata

Fiz um balanço com as pessoas que fazem parte de minha rede, em diferentes níveis de relacionamento, e que cumprimentei pelo aniversário do início do inverno (em 22 de junho) para cá. Para esse levantamento, usei como critério a necessidade de se ter a idade cronológica igual ou superior a 60 anos e, portanto cumprindo a condição de idoso segundo a lei em vigor no país.

Nesses 45 dias, foram 12 as pessoas cumprimentadas, das quais 9 por telefone e 3 presencialmente. O calor do afeto inicial logo foi se irradiando a partir de minha fala enunciando o motivo de meu contato. Em seguida, invariavelmente, fui perguntado sobre como está minha vida. É bom lembrar que também me enquadro na referida faixa etária. Também invariavelmente, respondi a todos com a tranquilidade de um jogador de futebol batendo um pênalti que prossigo no curso da vida encarando com altivez os desafios trazidos pelo ciclo idoso rumo à trajetória final.

Complementei a resposta afirmando que não considero esta a melhor idade e que, como em ciclos anteriores, essa etapa também tem suas alegrias e dores inerentes. Terminei esse início de conversa lembrando da importância de se ter independência e autonomia, ainda que o tempo nos imponha restrições crescentes que podem limitá-las ou reduzi-las.

As conversas prosseguiram em função do tempo disponível, mas dois tópicos fizeram parte das falas de todos os aniversariantes. Grupo que, é bom lembrar, em sua maioria está na faixa de 60 a 65 anos, mas que tem gente acabando de completar 80 anos.

O primeiro tópico foi a manifestação de um agradecimento e satisfação pelo conjunto da obra que está em permanente construção, agora mais cadenciada, em função de tudo que vem sendo aprendido.

O segundo tópico está ligado à gestão da saúde para se buscar uma continuidade da vida com níveis adequados de qualidade. Todos citaram algumas restrições que já enfrentam e o grau de medicalização para enfrentar certas doenças.

Ainda que cada caso seja um caso, em suas especificidades, o medicamento mais usado e citado por 75% dos aniversariantes é aquele para manter níveis adequados de pressão arterial. Já 50% queixaram-se da necessidade de usar medicamentos para reduzir os níveis do colesterol e 25% estão com problemas ligados à coluna vertebral, ao sistema respiratório e à glicose. Com apenas uma citação apareceram os casos de cirurgias para a colocação de pontes de safena no coração, ácido úrico elevado, dificuldade para locomoção devido a fratura de uma perna, implante dentário e pólipos intestinais.

Ainda bem que esses assuntos logo foram substituídos por outros. E, no caso das conversas presenciais, um gostoso lanche também se fez presente.

Mas nada me tira a certeza e a sensação de que esta não é a melhor idade, e que devemos ter uma grande capacidade para gerenciar as restrições crescentes.

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