Quanto mais distração, melhor

por Luis Borges 19 de janeiro de 2017   Pensata

Quem parar um pouco para se lembrar e pensar sobre as notícias que foram manchetes nos últimos 30 dias nos grandes jornalões, nas revistas semanais, nas emissoras de rádio e nas TVs abertas ou por assinaturas poderá se surpreender com a quantidade dos assuntos abordados. Tem de quase tudo um pouco, exposto com maior ou menor veemência e contundência conforme os interesses e crenças de seus proprietários.

São tantas as informações e as novidades que vão sendo apresentadas quase que instantaneamente que não há tempo para pensar. Os cérebros vão sendo bombardeados e vencidos pelo cansaço quando o assunto é tratado por dias, semanas e meses. Noutro extremo a pessoa simplesmente se desinteressa pelo que está sendo mostrado e sai de cena para se alienar. De uma forma ou de outra o que acaba prevalecendo é a distração, a perda do foco em relação ao que é essencial em meio a tantos fatos triviais.

Se tudo é colocado no mesmo plano e se falta capacidade ou tempo para analisar a inundação de informações, tudo fica mais fácil para quem tem o poder nas mãos e para aqueles que querem se perpetuar nele. E é claro, sempre se valendo do não questionamento dos padrões de dominação usados bem como abusando da inteligência dos cidadãos.

O impopular Presidente da República teve a audácia de chamar de “acidente” o massacre ocorrido no presídio de Manaus enquanto a ocorrência de fato semelhante em outros estados expõe a grande lentidão do bem remunerado Poder Judiciário. Eu poderia continuar escrevendo aqui sobre outros temas que estão nos distraindo, digamos, só por esses dias de janeiro. É febre amarela, o aedes aegypti no verão, as prefeituras municipais em calamidade financeira, os estados quebrados, o fim das férias da maioria dos membros da força tarefa da Operação Lava Jato, o recesso dos Tribunais de Justiça, a delação premiada da Construtora Norberto Odebrecht ou o Plano Nacional de Segurança que está no papel há duas décadas…

E assim, de tema em tema e de dificuldade em dificuldade, fica até mais fácil convencer a população de que “o trem tá feio” e que só nos resta acatar as medidas que estão sendo aprovadas pelo Congresso Nacional como se elas fossem o máximo possível diante da escassez e da ameaça do caos.

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