Quando a meta não é atingida

por Luis Borges 29 de abril de 2015   Gestão em pauta

No último dia 15 a Presidência da República enviou ao Congresso Nacional o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2016. Umas das premissas da proposta é a de que a inflação de 2015 será de 8,2%, e a de 2016 está projetada em 5,63%. Daí a projeção do salário mínimo de R$854,00 em 2016 e algo em torno de R$900,00 em 2017.

Esse introito é para nos ajudar a refletir sobre o significado real do não atingimento de uma meta. No caso da inflação anual, a meta perseguida pelo Banco Central do Brasil é de 4,5%. Com a LDO, o poder executivo está assumindo mais uma vez que ela não será atingida, e que ficará 82% acima do que foi proposto. Aliás, desde agosto de 2010 a meta anualizada de 4,5% não é atingida.

Para quem trabalha com um sistema de gestão estruturado para implementar seu negócio é assustador verificar, ao longo de tanto tempo, uma meta não ser atingida e ficar cada vez mais distante do valor proposto. Os atos devem ter consequências e isso deveria ser levado em consideração a partir das observações e análises que fundamentam a definição de um objetivo. Se conceitualmente meta é um objetivo que possui valor e prazo para ser alcançado, por que o Governo Federal está errando tanto? Quais são as causas que estão levando a esse efeito indesejável seguidamente?

A primeira causa pode nos mostrar que a meta tem sido apenas desejo e que o plano de ação para atingi-la está muito aquém daquilo que deveria ser feito estrategicamente.

Uma segunda causa pode ser uma análise superficial dos fatores determinantes para a definição dos objetivos, a começar pela necessidade política de manter a inflação baixa para aparecer “bem na fita” perante a população. O resultado é que a meta torna-se simplesmente maluca, inatingível desde o início e desmotivadora. O oposto disso é a meta desafiadora, aquela que mobiliza todos os envolvidos no processo para que seja atingida, ainda que muito difícil, mas não impossível.

Uma terceira causa está ligada à presença ou ausência da liderança do gestor da meta e das demais pessoas que participam do gerenciamento, também pela liderança, nas partes desdobradas que se desdobram. Também é premissa que todos devem saber se posicionar e se reposicionar no dinamismo que o tempo do processo exige.

Uma quarta causa está na dificuldade de se ter uma visão sistêmica, na perda de foco, na pouca constância de propósitos e na indisciplina durante a utilização do método gerencial.

No exemplo citado fica claro que melhor seria assumir a realidade dos fatos e dados. Insistir em 4,5%, inatingíveis nas atuais condições, só serve para usar o índice na correção da tabela do Imposto de Renda.

Em função de todas as variáveis que envolvem o caso, melhor seria assumir uma inflação de 8% para o ano em curso, outra de 6% para o ano que vem e, finalmente, reafirmar o desafio de atingir os 4,5% em 2017. Mas, para isso, um plano de ação contendo as alternativas estratégicas necessárias e suficientes deve ser parte integrante da meta. Tudo isso sem contabilidade criativa, sem pedalada fiscal e sem revogação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para ajustar as responsabilidades fiscais.

Isso vale para nós também, tanto na pessoa física quanto na família. Não há espaço para meta maluca, só para metas desafiadoras.

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