O arquétipo de Bolsonaro

por Convidado 3 de março de 2022   Convidado

* por Malco Camargos

Você já ouviu falar em arquétipo? No Marketing Político os arquétipos são usados como atalhos para demarcar traços de personalidade, valores, visão de mundo e crenças. A construção de um arquétipo ajuda a equipe de campanha a unificar a narrativa, facilitando o reconhecimento do candidato pelos eleitores.

O Presidente Jair Bolsonaro fez – e faz – uso contínuo desta associação. Entre os vários arquétipos possíveis, Bolsonaro escolheu o que representa a PESSOA COMUM, alguém próximo do eleitor, com os mesmos gostos, o mesmo estilo de vida.

Desde a campanha eleitoral, quando fez uma live cortando cabelo em um salão simples no Rio de Janeiro, passando pelas várias aparições públicas com camisas de times de futebol, até o uso da caneta BIC em reuniões oficiais podemos lembrar fatos que demostram o esforço do Presidente de se aproximar deste arquétipo.

Nos últimos tempos a construção deste arquétipo está também nas saídas do Presidente, seja comendo pizza em Nova York, seja na escolha do cardápio em barracas nos arredores de Brasília em seus passeios de moto pela Capital Federal.

Em tempo recente foi publicada em redes sociais (e depois excluída) pelo Ministro das Comunicações, Fábio Faria, uma filmagem de Bolsonaro, em um dos seus passeios de moto, parado em uma barraca de rua comendo frango com farofa.

A cena não impacta pela simplicidade do lugar, a cena impacta pela forma com que o Presidente se alimenta e pela bagunça que faz ao manusear os alimentos. Na cena em tela, Bolsonaro exagera nos trejeitos e passa uma imagem bem distinta de uma pessoa comum se alimentando com frango e farofa em uma barraca de rua ou mesmo dentro de sua casa.

Em tempos de escassez de alimentos, em um país onde mais de 50% da população não faz três refeições diárias, a pessoa comum nunca se alimenta da maneira que o Presidente representou.

Se Bolsonaro circulasse um pouco mais pelas periferias iria observar pessoas carentes, talvez famintas, mas que não jogam comida no chão ao se alimentar. Bolsonaro observaria que o arquétipo que tenta encarnar está cada vez mais distante da pessoa comum no Brasil de hoje.

*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas. 

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