Na toada das chuvas do verão

por Luis Borges 30 de janeiro de 2020   Gestão em pauta

Sabe-se da geografia que o período das chuvas na região Sudeste vai de outubro a março, mas com intensidade maior a partir do início do verão. Os índices pluviométricos desse janeiro, e notadamente da segunda quinzena do mês, estão mostrando um aumento significativo no volume das águas, tanto na forma de pancadões de menor duração quanto por períodos mais longos com menores quantidades formando um somatório também expressivo. Até agora os resultados de tudo isso estão expostos na tragédia vivida diretamente pelas pessoas que moram em Belo Horizonte e sua região metropolitana, bem como na Zona da Mata mineira, no sul do Espírito Santo e no Norte do Rio de Janeiro.

Não há duvidas de que água é vida e de que as chuvas são extremamente necessárias para equilibrar o ciclo. Mas diante de tudo que está acontecendo nesse período com todos os tipos de perdas, a começar pelas vidas humanas, é fácil constatar que a maioria das pessoas se volta quase que naturalmente para combater os efeitos trazidos pelo modo que as chuvas vieram e provavelmente voltarão em outros anos. Até as autoridades e os políticos partidários sobrevoam as regiões atingidas para constatar esses mesmos efeitos, notadamente em anos eleitorais.

É preciso dar grandes passos à frente para solucionar esse problema de maneira mais duradoura a partir do conhecimento das causas que estão no processo que o geraram. Também é importante lembrar que a remoção das poucas causas vitais pode ajudar a resolver uma significativa parte do problema. Diante da enorme quantidade de fatos e dados disponíveis e de muitos resultados indesejáveis que se repetem ano após ano com as diferentes políticas de governo no sistema capitalista – no estado de bem estar social ou no liberalismo econômico – é preciso repensar o modelo de desenvolvimento urbano vigente.

Se conceitualmente sistema é um conjunto de partes interligadas, a gestão das águas deve ser feita por bacias hidrográficas em toda a sua plenitude. A presença maciça das estruturas de concreto armado, o adensamento populacional, o encarceramento dos rios em canais fechados, as cirurgias plásticas feitas nas encostas de montanhas e serras, a impermeabilização do solo através de cimento e asfalto, a deseducada destinação do lixo domiciliar e outros resíduos bem como a brutal concentração de renda que empurra uma expressiva camada da população para moradias na beira de cursos d’água já dão sinais visíveis de que precisam ser repensados.

E o que dizer do aquecimento global e da mudança de clima que alguns ainda tentam negar apesar de todas as evidências científicas? Para quem gosta de alegar que os recursos não são suficientes é só lembrar que é por isso que um modelo de gestão estruturada trabalha com a priorização de necessidades que precisam ser atendidas num determinado horizonte de tempo.

Caminhemos mesmo sabedores de que gestão é o que todos precisam, mas nem todos sabem que precisam, nessa toada realista e esperançosa em meio à dor das perdas.

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