Ir ou não à festa da empresa?

por Luis Borges 23 de dezembro de 2017   Pensata

O final do ano é sempre marcado por uma correria louca nas organizações humanas – empresas, órgãos públicos, entidades do terceiro setor – porque é preciso fazer a confraternização anual que o Natal estimula, seja no âmbito da diretoria, gerências ou setores em função do porte da estrutura organizacional. Ao mesmo tempo continua sendo necessário produzir, faturar, receber verbas governamentais, obter doações para filantropia, fazer o planejamento estratégico para o próximo ano alinhado com o orçamento, fechar o balanço contábil… Simultaneamente ganha espaço o planejamento da festa com a definição da data, a estimativa do número de participantes, o que será servido em termos de alimentação e bebidas, se haverá troca de presentes, sorteio de brindes e, é claro, o levantamento do custo e a definição das fontes de recursos financeiros para bancar o evento.

O fato é que entra ano e sai ano e muitos são os questionamentos sobre a vontade ou a conveniência das pessoas participarem de uma festa dessa natureza. A razão para as dúvidas pode ser até bem simples. Uma pergunta bastante difundida no ambiente do trabalho de qualquer natureza questiona qual é o sentido da confraternização para um grupo, não uma equipe, de pessoas que trabalham juntas num clima bastante pesado e em que as coisas pegam a todo momento. Predominam aqueles que fazem minimamente o que pensam ser a sua parte gastando o maior tempo possível da jornada, sem se preocupar com a integração dos processos de trabalho de outros colegas e nem com a qualidade do resultado a ser alcançado. Também pudera, o chefe não é líder, sabe ter sua panelinha de favoritos, adora xingar algumas pessoas de fora da panela diante do menor deslize segundo sua ótica e fica possesso ao repassar ao grupo uma cobrança feita pelo seu superior hierárquico.

Como ainda estamos muito longe da excelência da gestão no Brasil, e aí se inclui a gestão de pessoas, não é difícil encontrar um ambiente de trabalho com as características citadas anteriormente. Muitas pessoas que estão ali até gostam do que fazem mas só permanecem lá porque a estratégia é de sobrevivência nesse momento dificílimo do mercado de trabalho.

Na prática um pequeno percentual de pessoas realmente não comparece à festa, um outro bem mais expressivo dá uma passada rápida por conveniência política visando não piorar  mais ainda o clima organizacional e até se lembrando do fundamento segundo o qual “um pouco de hipocrisia não faz mal a ninguém”. Já a turma que gravita em torno do poderoso chefinho se esmera para aparecer bem na fita cumprimentando a todos efusivamente e até fotografando, filmando ou narrando em conversas posteriores os momentos mais contundentes. Imaginemos o que pode ser dito por um colega insatisfeito com certos fatos ocorridos durante o ano e que começa a falar tudo o que estava entalado após tomar algumas doses a mais de determinadas bebidas alcoólicas que tem o poder de virar o soro da verdade.

Este tipo de questionamento passa pela sua cabeça? Ou você pensa que, após um ano de convivência, é melhor deixar essas coisas pra lá e conviver com os colegas durante algum tempo que passará rapidinho, mesmo sabendo que nada vai mudar até o dia em que você ou eles, os colegas, deixarão o trabalho para buscar outras oportunidades de sobrevivência e realização no mercado?

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