De volta ao trabalho

por Convidado 14 de novembro de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Não imaginei que, nos dias atuais, estaria falando sobre a mesma pandemia. Porém, “o sentimento não para, a doença não sara” (MF). Viver se tornou chato e muitas pessoas, não suportando psicologicamente a tensão, sucumbiram diante de outras doenças, mesmo tendo passado imunes à Covid-19. A resiliência nunca foi tão essencial. O momento é de perseverança.

Provavelmente, meus bucólicos leitores, todos já foram a uma zona rural e tiveram a oportunidade de ver aves soltas no quintal. Na fazenda do meu avô havia uma horta de verduras e, a cada descuido, as galinhas saltavam a pequena cerca de tela e a invadiam. Sei que vocês estão pensando que gosto de galinhas. É verdade. Já usei as galinhas, recentemente, para outro exemplo. Mas continuando… Uma das minhas tias, mais atenta ao problema, gritava e espantava as galinhas de lá. Passado algum tempo, uma por uma, olhando de soslaio, com aquele sonzinho de Cóo… Cóo… e desconfiadas como nós mineiros, com passos lentos, voltavam e cometiam a mesma transgressão.

Por que as galinhas? A nossa realidade me remeteu a elas; para mim é uma imagem do que ocorre hoje. — O comércio vai abrir! — Os bares vão funcionar! —  As aulas vão voltar! Os treinamentos presenciais vão acontecer! E, assim como a galinhas, vamos voltando desconfiados, com receio de que nos espantem outra vez para longe de nossas fontes de alimentos. De repente, alguém então grita: — o Kalil vai fechar tudo!!!

O grito de terror gera a incerteza. O medo e a ameaça ligam nosso alarme cerebral e fazem derramar em nossas correntes sanguíneas a adrenalina e o cortisol. A tensão não acaba e, tampouco a mente identifica saídas para o problema. O estresse se aproveita de nós. Vem a tristeza, a impotência, e a depressão toma conta. As perdas são contabilizadas e, com toda certeza, muitas serão irrecuperáveis. Não há conquista nem realização. Não haverá dopamina, o neurotransmissor que reage às ações realizadas.  E nem a serotonina será derramada, pois não existe bem-estar numa situação como essa. Dá vontade de fugir. Mas “José, para onde”? (CDA)

Bem, aqui termina o capítulo da problemática e começa o da solucionática, como diz o Dadá Maravilha. A fuga não é a solução. Calma! Deus não está morto, como nos sugeriu Friedrich Nietzsche, o filósofo maluco.  Se estamos vivos, como Deus poderia não estar? Sempre defendi, leitores de boa memória, que a vida é sistêmica e que o contexto explica os efeitos e pode nos mostrar a causa e a solução. Nem sempre a saída é pela porta da frente. As respostas podem estar fora do quadrado. Estamos vivendo uma guerra e, de alguma forma, todos foram atingidos ou tiveram suas vidas alteradas pela maldita doença. Muitos reagiram bem. Alguns perderam tudo, inclusive a vida. Outros tentam se recuperar alterando ou buscando um novo trabalho. Estes últimos fazem parte do maior número dos clientes que oriento. Seja pela permanência do negócio ou pela mudança radical; o que tem sido muito recorrente é a pressa. E o que confirma esse senso de urgência são frases como — “tenho que aprender a trocar o pneu com o carro andando”. Sabe quando isso vai acontecer, meu visionário leitor?

A objetividade é positiva mas, o desespero, compreensível até certo ponto pela necessidade premente de recuperação, leva as pessoas a serem muito imediatistas. Querem tratar exclusivamente do pontual em detrimento do contexto. Confundem “o ter foco” com ignorar o todo e ainda usam a emoção para tomarem decisões.

Calma! “Gente! A vida não se resume a festivais”.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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