O telefone ficou mudo outra vez

por Luis Borges 17 de outubro de 2022   Pensata

Nenhum dia é como o anterior no passar do tempo, mas algumas coisas podem acabar por se repetir, principalmente quando se trata da prestação de serviços. Foi o que aconteceu em minha residência por volta das 9h do sábado, 8 de outubro. O telefone fixo simplesmente ficou mudo e arrastou com ele a internet e a TV a cabo.

Tudo voltou a funcionar, ou seja, o serviço voltou a ser prestado pela operadora lá pelas 16h.

Quando reclamei da indisponibilidade dos serviços, a operadora informou que havia problemas técnicos na minha região, sempre eles, e que a solução estava programada para ocorrer até o final da tarde.

Se a prestação do serviço não fosse retomada até aquele momento, o procedimento a ser feito consistiria em desligar o equipamento da tomada de energia elétrica, deixá-lo desligado durante 10 segundos e religá-lo em seguida. Isso acabou não sendo necessário porque o serviço foi normalizado antes do tempo estimado.

No dia seguinte, domingo pela manhã, o telefone e demais partes do sistema (combo) ficaram indisponíveis de 7h às 11h, enquanto a previsão de retorno era para as 14h30. Os contatos com o serviço de atendimento ao cliente foram feitos por chamada de voz através do telefone celular.

É importante registrar que problemas dessa natureza já ocorreram outras cinco vezes ao longo desse ano, sendo que a pior delas foi durante a chuvarada de janeiro, ocasião em que o telefone ficou mudo durante 4 dias conforme postei aqui no blog.

Vale a pena lembrar nesse momento a quantas anda a utilização da telefonia fixa pelo país a fora. Segundo o site Teleco – Inteligência em Telecomunicação, existiam 27,5 milhões de telefones fixos em operação no Brasil no mês de agosto desse ano. Esse número era de 45 milhões em 2014, no auge dos sistemas de telefonia fixa, mas em novembro de 2021 já tinha caído para 28,9 milhões. Estima-se entre os especialistas do setor que esse número chegará a 20 milhões no final de 2026.  Enquanto isso, o número de telefones celulares chegou a 262,5 milhões em agosto, ao mesmo tempo em que a geração 5G vai avançando pelo país e a 6G dá seus sinais de aproximação.

Em função desses números podemos nos lembrar, sem muito esforço, de quantas pessoas próximas de nós “demitiram” o telefone fixo nesses últimos tempos.

Diante dessas constatações, é importante dar uma ida até a parede da memória para observar a telefonia brasileira nos últimos 50 anos (1972- 2022). Na primeira metade desse período, o telefone fixo era um investimento, a Telemig vendia uma linha no plano de expansão em 36 parcelas mensais, muitos proprietários alugavam suas linhas telefônicas, residenciais ou comerciais, e o Telefone Público (TP), o popular “orelhão”, era muito útil, mas também muito depredado…

Voltando para o presente, constato que a operadora do meu telefone fixo seguirá insistindo para que eu mude o quanto antes para a fibra óptica, o telefone ficará mudo outras vezes e o período em que ele ficar indisponível não será deduzido da conta mensal, mesmo diante das solicitações feitas. Ainda assim, o telefone fixo continua firme, mesmo minguando dia após dia. Até quando?

E você, ainda possui um telefone fixo ou ele já está com os dias contados?

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Eram muitas e diversas as expectativas daqueles que se envolveram, em diferentes níveis de intensidade, no primeiro turno das eleições. Agora só falta definir o Presidente da República e alguns Governadores no segundo turno, dia 30 de outubro.

Enquanto isso, podemos observar e analisar o processo eleitoral para evidenciar algumas percepções após os resultados trazidos e mostrados pelas urnas.

Será que as expectativas foram maiores do que a realidade? Até que ponto os desejos dos participantes do processo eleitoral puderam se concretizar? A polarização se cristalizou entre progressistas e conservadores, que juntos somaram 91,63% dos votos válidos, mas não foi suficiente para resolver a disputa no primeiro turno. Os votos brancos e nulos ficaram em 4,41%, bem abaixo dos 8,79% registrados no mesmo turno de 2018.

A abstenção continuou crescendo e chegou a 32,7 milhões de pessoas, 20,95% do universo de 156,4 milhões de eleitores aptos a votar. Em 2018, a abstenção no mesmo turno foi de 29,9 milhões de pessoas, 20,33% dos 147, 3 milhões aptos.

Outra percepção importante durante a campanha eleitoral foi a grande quantidade de citações do tipo “Eu fiz, eu fiz isso e aquilo…”, principalmente os candidatos a Presidente da República que tiveram ou tem mandato, e também Governadores em busca de reeleição, inclusive alguns se dizendo vítimas de heranças malditas.

Percebi a falta de programas e projetos mais detalhados sobre o que e como fazer para que o país volte a crescer e se desenvolver de maneira sustentável, que possa nos levar a um crescimento do PIB em torno de 4% ao ano e retirar o país do mapa da fome.

Quanto às pesquisas de intenção de votos, é importante reconhecer que elas refletem a situação daquele determinado momento em que foram feitas, mas não podem ser vistas como um prognóstico. Não dá para simplesmente demonizar os institutos de pesquisas e nem para negar a matemática ou se esquecer que tudo é feito por amostragem em determinadas situações e condições de contorno.

O que sempre pode ser feito é a melhoria continua dos métodos e técnicas de pesquisas por exemplo, como captar melhor o percentual de eleitores que vão se abster de ir às urnas, focar mais na medição espontânea de intenção de voto ou apresentar uma menor quantidade de perguntas durante a pesquisa…

Vale também registrar a percepção dos índices relativamente baixos na renovação da composição do poder legislativo. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais 52 dos 77 deputados se reelegeram , ou seja , a renovação foi de apenas 32% (25 novos eleitos).
Outras observações importantes podem ser feitas em relação aos novos campeões de votos, ao decaimento de campeões de eleições anteriores, às derrotas de parlamentares que chegaram a acumular de 4 a 7 mandatos e as novas configurações de bancadas como as do agronegócio, da segurança, da saúde…

Realce também deve ser dado à confiabilidade, segurança e integridade das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral, mais uma vez comprovadas. Não nos esqueçamos que muitas foram as tentativas infundadas de colocar as urnas eletrônicas sob suspeição. Imaginemos um questionamento desse tipo em relação à segurança do sistema da Receita Federal, do INSS, dos laboratórios de análises clínicas ou do sistema bancário, por exemplo.

Por último lembremos que 15 dos 32 partidos políticos do país não tiveram desempenho eleitoral suficiente e caíram na cláusula de barreira da lei e ficarão impedidos de receber recursos públicos como os do questionadíssimo Fundo Eleitoral (R$ 4,9 bilhões nessa eleição).

Será que o comparecimento às urnas no segundo turno será maior do que no primeiro? A conferir…

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O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE – divulgou o resultado das negociações salariais das categorias de trabalhadores sob seu acompanhamento, com data-base em julho de 2022. O resumo das negociações mostrou que 47,3% das categorias envolvidas teve reajuste abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC dos últimos 12 meses, que ficou em 10,12%.  Por outro lado, em 31,8% dos acordos o reajuste ficou acima do INPC e outros 20,8% fecharam o acordo com a reposição integral do índice.

A Inflação, por si só, causa perdas ao poder aquisitivo e elas se consolidam quando não há reposição integral dos índices nas negociações salariais. Mas, independentemente do tamanho do reajuste, o que fica é a certeza do aumento da carga tributária devido à não correção da tabela do Imposto de Renda – IR, congelada desde 2015. Na prática, uma parte do que seria o novo poder aquisitivo acaba sendo engolida sem a correção do IR.

De 2015 para cá, até julho, a defasagem medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA do IBGE ficou em 57,94%.

Se olharmos de 2019 até julho de 2022, veremos que a defasagem é de 25,71%. Quem quiser conferir a defasagem de 1996 até julho de 2022 encontrará um valor em torno de 142% segundo o Sindifisco Nacional – Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil.

Na campanha eleitoral para presidente da república, em 2018, o candidato eleito prometeu isentar do IR os ganhos mensais de quem recebe até cinco salários mínimos, atualmente equivalentes a R$ 6.160,00. Entretanto, tudo continua limitado aos mesmos R$ 1.903,99 que estão em vigor desde 2015.

No ano passado, o Congresso Nacional constituído pelos 513 deputados federais e 81 senadores jogaram para a plateia um balão de ensaio tentando uma pequena correção da tabela como parte da reforma tributária, mas está tudo parado no Senado, a casa revisora de leis, até hoje. Será que algo acontecerá até o fim do ano eleitoral?

Aliás, hoje, a 31 dias das eleições para a presidência da república, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, muitos candidatos estão falando em correção da tabela do IR com a isenção do imposto para os ganhos até 5 salários mínimos mensais. Será? Afinal de contas, queiramos ou não, o fato é que lá se vão quase 8 anos de congelamento da tabela do IR e tudo ficou por isso mesmo apesar das perdas do poder aquisitivo e do aumento da carga tributária. Até quando será possível suportar isso?

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Lázara Borges partiu sob aplausos

por Luis Borges 15 de agosto de 2022   Pensata

Aconteceu que às 11:02 do dia 5 de agosto, uma sexta-feira, o espírito deixou o corpo de Lázara Barreto Borges, minha mãe, e partiu para outro plano espiritual, onde já está bem acolhido.

Mesmo para quem tem clareza sobre a finitude da vida e a opção pelos cuidados paliativos em contraposição a obsessão terapêutica pela cura diante do sabidamente incurável, a chegada do momento final e dos primeiros dias após o desenlace mexe bem com o nosso eixo. Aí é só o tempo que passará para dissipar a dor, que será transformada em saudades e lembranças, boas ou não, de tudo o que foi vivido.

O ritual do velório do corpo teve expressiva presença das pessoas de seu convívio cotidiano ao longo dos 79 anos em que morou em Araxá. Marcante também foram a duração do velório no modelo reduzido – 4 horas-, herança dos tempos do auge da pandemia da Covid-19, a cerimônia de encomendação da alma feita pelo diácono Valtinho e os aplausos à Lazinha no momento do fechamento da urna mortuária.

Mas o que quero relembrar e registrar aqui são alguns fatos que marcaram muito a passagem da Lazinha pela terra.

O primeiro deles é que ela era quase uma unanimidade nos ambientes em que circulava, ou seja, tinha grande aceitação. Era marcante o seu jeito doce de ser, o rosto sorridente, o batom vermelho nos lábios e a grande capacidade de ouvir a todos. Sentia-se confortável e elegante com os tipos de roupas e complementos que gostava de usar. Ela dizia que ficava chiquérrima.

Interessante lembrar a sua religiosidade, sua devoção à Nossa senhora da abadia e a Santa Luzia além da necessidade de rezar para as almas antes de dormir. Ela dizia que se não fizesse isso não teria um sono tranquilo.

Gostava de ler o jornal Correio de Araxá, do qual foi a primeira assinante, e de revistas que abordavam temas ligados à televisão, principalmente das novelas das 6, das 7 e das 9 da noite.

Lazinha também gostava muito da mídia rádio e foi com ela que comecei a ouvir, ainda bem criança. Em Araxá, ela sempre ouvia a rádio Imbiara e, quando se mudou para Belo Horizonte, onde viveu seus últimos 10 anos, ouvia alguns programas da rádio Itatiaia.

Também gostava muito de conversar, de se informar sobre os parentes e amigos. Seu time de futebol era o Galo.

Já na arte culinária, estão marcados para sempre o pé de moleque da Lazinha, feito com o amendoim moído, o arroz doce, a queijadinha, o doce de mamão e de moranga madura, o pão de queijo, a língua de boi, o frango ao molho e o cafezinho especial de todas as tardes.

Meu espaço está chegando ao fim, mas infindáveis são as lembranças e recordações que eternizam a marcante presença da sempre querida Lazinha Borges, uma grande mãe.

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Partindo da premissa de que “a política é a arte do possível” nas relações político partidárias, onde são intensas as negociações entre suas tendências e grupos, bem como as alianças com outros partidos federados ou não, fiz uma transposição para a política no convívio familiar. Pensei no grande e complexo desafio na arte de viver nesse meio que é uma organização de base na sociedade ampla em que vivemos. Foi aí que se inseriu um caso acontecido no último dia de julho no reencontro de parte de uma família de Belo Horizonte.

O fato é que essa família composta por 9 irmãos entrou no período inicial da pandemia da covid-19 rachada pela polarização política. De lá para cá, dois irmãos se finaram devido a causas não-relacionadas diretamente com o vírus, cuja disseminação ainda se combate até o momento com diversas medidas de saúde pública. A medida propondo o distanciamento social veio em boa hora para ajudar a manter cada um em seu canto. Entretanto, ao longo da pandemia a guerra da comunicação familiar prosseguiu com alguns momentos tensos pelo grupo de WhatsApp da família que, aliás, já perdeu a maior parte de seus participantes.

Como ninguém é de ferro e os seres humanos são gregários, uma sobrinha propôs um almoço de domingo, para um reencontro presencial de parte da família que se entende um pouco melhor. Dos 4 convidados, um não pôde comparecer porque tinha um compromisso inadiável na mesma data. A vontade de se encontrar após um distanciamento de dois anos e meio era tamanha que o encontro foi mantido assim mesmo.

O encontro na casa da sobrinha começou com a chegada simultânea de dois irmãos que são gêmeos acompanhados das suas respectivas esposas. Um pouco depois chegou sozinho o irmão mais novo.

Tudo transcorreu muito bem nas conversas amenas e animadas pelas narrativas que todos fizeram para contar como chegaram vivos até aquele encontro, inclusive com saúde mental. Apesar das perdas anteriores no convívio familiar, era visível o esforço de todos para tentar ouvir e falar respeitosamente uns aos outros e sem retrocessos civilizatórios.

Caminhando para o final do encontro chegou em casa um adolescente de 17 anos, filho mais velho da sobrinha anfitriã e, portanto, sobrinho-neto dos três irmãos presentes no evento. Ele falou um “oi” rapidamente para todos, sentou-se à mesa e começou rapidamente a operar a tela do telefone celular totalmente desligado do ambiente.

O tio mais novo não concorda com o manuseio das telas quando as pessoas estão reunidas à mesa para o café, almoço ou jantar. Ele é famoso na família pela rigorosa posição da qual nunca se arredou. Ele tentou chamar a atenção do sobrinho-neto no intuito de trazê-lo para as conversas com todos que estavam à mesa. O adolescente não se fez de rogado e continuou firme em seu foco na tela. Então o tio-avô, que sempre fez palestrinhas para fazer valer as suas posições, acabou de tomar um café, agradeceu a todos pela convivência respeitosa após tanto tempo e deixou rapidamente o local antes dos demais, temendo ter uma recaída nas posturas de outrora. Enquanto isso o sobrinho-neto prosseguiu firme na tela do celular.

Parafraseando os compositores Vinícius de Moraes e Baden Powell na música Samba Da Benção, feita em 1967, “A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Como se vê ainda é grande o desafio para que se prevaleça o respeito, a tolerância e a capacidade de dialogar entre as pessoas na plenitude dos conflitos geracionais e dos embalos da transformação digital.

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Faz tempo que estamos convivendo com o fantasma da inflação, após praticamente duas décadas e meia de estabilização econômica advinda do plano real de 1994, no governo federal do engenheiro Itamar Franco. Temos toda uma geração de brasileiros que ainda não tinha convivido com essa tamanha perda do poder de compra de bens e serviços.

Precisamos olhar bem e prestar atenção redobrada nas inúmeras sutilezas que acompanham os processos inflacionários.

O fato é que a inflação é uma garantia da perda de poder aquisitivo a começar pela incapacidade de muitas categorias de trabalhadores para conseguir repor em suas negociações salariais, pelo menos, a metade dos índices inflacionários do período negociado. Ainda assim, a carga tributária também aumenta devido a não correção da tabela do imposto de renda na fonte desde 2015.

Como existe uma forte tributação sobre o consumo dos alimentos, combustíveis, serviços de saneamento, energia elétrica, telecomunicações e transportes, fica claro que quem mais paga o pato são as camadas de mais baixa renda, que fazem parte da cada vez mais larga base da pirâmide social. Diante de tudo que está sendo falado e não falado nesse ano eleitoral polarizado, é grande o desafio para os diversos setores da economia em tentativas para mascarar a inflação na busca da minimização de seus efeitos.

Esse fenômeno é abordado pelo neologismo denominado reduflação, que segundo a enciclopédia livre Wikipedia é “o processo em que os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto que o seu preço se mantém inalterado ou aumenta. Este efeito é consequência do aumento do nível geral dos preços dos bens, manifestado por unidade de peso ou volume, causado por inúmeros fatores, principalmente a perda do poder aquisitivo da moeda e a queda do poder de compra dos consumidores e/ou do aumento do custo dos insumos, cuja resposta da oferta é a redução do peso ou tamanho dos bens transacionados”.

Um bom exemplo foi dado por um supermercado na zona leste de Belo Horizonte que vendia uma dúzia de ovos de galinha por R$ 11,90 e agora passou a vender uma caixa com espaço para 10 unidades (dúzia de 10) pelo mesmo preço da dúzia. Será que a pesquisa para compor o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA do IBGE consegue captar essa diferença sutil? Vale lembrar que nos últimos 12 meses (julho 2021 à junho 2022) ele ficou em 11,89%.

Inúmeros outros exemplos podem ser citados para chamar a nossa atenção sobre esse fenômeno e o processo que o gera. Lembremos da comida congelada, que você comprava em quantidade suficiente para alimentar duas pessoas e que o preço ainda é o mesmo, mas a quantidade foi reduzida em 40% e até a embalagem passou por uma readequação.

Lembremos também daquele medicamento de uso diário e contínuo que a indústria farmacêutica embalava no blister contendo 30 comprimidos, que agora vem com 28 e pelo mesmo preço alto de sempre.

Que tal a lembrança das bolachas recheadas, que tiveram a quantidade reduzia de 10 para 8, bem como o próprio diâmetro, e o preço simplesmente aumentou. Assim, cada um de nós pode perceber a enorme criatividade de todos que tentam fazer algo se parecer com o que não é. Mas é no bolso que cada um, conforme seu tamanho, pode perceber o quanto já perdeu e o enorme desafio que é fazer a gestão do orçamento.

Outros aspectos da reduflação estão ligados à legislação existente sobre a obrigatoriedade de informar ao consumidor a redução da quantidade e peso dos bens durante seis meses após a alteração. Vale também lembrar que existe no país o código de defesa do consumidor há mais de três décadas.

Mas esses temas ficarão para outra pensata.

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Panela vazia na carestia

por Luis Borges 18 de julho de 2022   Pensata

As pessoas nascidas em 1954 estão completando 68 anos ao longo desses 12 meses que vão se passando. Naquele ano, a música Panela Vazia, na voz de Leny Eversong, fez muito sucesso ao mostrar a carestia reinante no país. Aliás, segundo o dicionário eletrônico Houaiss, carestia é “escassez de víveres ou de determinado produto; encarecimento do custo de vida; preço elevado, acima do valor real”.
Passado todo esse tempo, a história se repete, apesar das transformações cada vez mais aceleradas nas várias dimensões da vida que também geram muitas desigualdades.
A sensação que tenho nesse momento é que estamos passando e sobrevivendo em meio à grandes pontos de inflexão, em busca de novos rumos dentro de uma sociedade polarizada em meio a alguns pequeninos satélites.
 É chocante a desigualdade na distribuição de renda no Brasil, que nos mantém muito distantes da equidade social enquanto a realidade grita diante da fome que tem pressa.
Conforme o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, no Brasil são 33 milhões de pessoas em situação de insegurança grave, ou seja , em situação de fome. A inflação alta e persistente só faz aumentar a perda do poder aquisitivo que atinge a todos de maneira desigual, bem menos aos poucos que estão no topo da pirâmide social e extremamente mais a quem está na sua ampla base.
A carestia convive com o alto número de pessoas desempregadas (10,3 milhões), com o crescimento da quantidade de moradores de rua e com o aumento da insegurança diante saques, furtos e roubos a começar por onde tem comida.
 Enquanto isso, o endividamento das pessoas e famílias vai crescendo e alguma reserva, por ventura existente, vai sendo queimada rapidamente. No primeiro semestre desse ano foram retirados mais de 50 bilhões de reais da caderneta de poupança.
A carestia prossegue tão grande e crescente que até as solidárias doações da fase mais aguda da pandemia da covid-19 caíram assustadoramente, o que só acentua o quanto as panelas estão vazias.
Como canta Leny Eversong, “Meu Deus do céu que carestia / Falta tudo na vida hoje em dia / Falta gás no fogão, falta luz no fulhão / Falta água na pia/ Fogo apagado panela vazia / A minha situação não tá boa, não / Já não sei o que fazer…” (Confira a letra completa)
O que e como fazer, pois o trem tá feio e quanto pior, pior mesmo.

 

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Um senhor de 65 anos de idade, recém aposentado, tem um plano de saúde co-participativo na expectativa de não ter dor de cabeça quando precisar ser atendido em suas necessidades de assistência médica. O pior foi descobrir que seu plano também lhe causa dor de cabeça. Nesse início de julho, entrou em contato com a secretária de seu cardiologista para marcar uma consulta. O meio disponível para acesso foi o telefone celular, pois o seu preferido, o telefone fixo, foi desativado há algum tempo.
Após tentar pela 4ª vez, finalmente foi atendido e antes de mais nada reclamou da demora. O fato foi justificado pela secretária devido à sua ida a portaria do edifício resolver um problema momentâneo para o seu chefe.
Logo em seguida, o cliente disse boa tarde rapidamente e pediu para marcar uma consulta com o doutor. Quase sem esperar que a fala terminasse, a secretária disse ao cliente que a as consultas passaram a ser marcadas apenas pelo WhatsApp, através de mensagem de texto, forneceu o número e desligou logo em seguida, pelo visto, para não dar chance de nenhum questionamento. Dá até para lembrar de um ditado popular dizendo que “Manda quem pode, obedece quem tem juízo “. A respeitosa relação entre cliente e fornecedor quase sofreu um abalo. O jeito foi o cliente passar uma mensagem de texto perguntando quando haveria um horário vago para consulta.
Quase meia hora depois ele recebeu mensagem dizendo que, pelo seu plano de saúde, naquele momento, só existia vaga para o final de setembro. Pensou em perguntar sobre a possibilidade de uma consulta particular, que possivelmente existiria para o dia seguinte, mas desistiu da ideia para não estourar seu orçamento mensal.
Na sequência, o cliente enviou nova mensagem perguntando se havia vaga disponível para a terça feira, 27 de setembro, às 14 horas. Esperou mais 15 minutos e recebeu nova mensagem da secretária dizendo que terça não daria, mas que poderia deixar a consulta marcada para a quinta-feira, 29 de setembro, no mesmo horário solicitado.
Na mensagem seguinte o cliente confirmou a aceitação da agenda proposta e perguntou pela possibilidade de receber antecipadamente uma lista contendo alguns exames laboratoriais que geralmente o médico solicita. A ideia era tentar ganhar algum tempo. A secretária respondeu que só daria uma informação segura assim que o médico estivesse disponível no intervalo entre consultas.
No início da noite, o cliente recebeu a mensagem com o pedido dos exames laboratoriais a serem feitos na semana anterior à da consulta. Enquanto isso, caberá ao cliente esperar e torcer para que na data marcada o médico possa cumprir a agenda.
Fiquei pensando como que a gestão estruturada e a tecnologia da informação precisam caminhar juntas, pois os processos de trabalho devem sempre ser racionalizados, simplificados, buscando a melhoria contínua e a inovação de maneira adequada. Independente do tamanho do negócio.

Você já enfrentou alguma situação semelhante a essa que foi contada aqui? Apenas uma vez ou mais de uma?

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No início da noite de 27 de junho, uma segunda-feira, aconteceu um incêndio no quarto 61 do décimo andar do hospital da Santa Casa em Belo Horizonte. Segundo o portal G1, o fogo foi causado por um vazamento de oxigênio atrelado à pane de um equipamento. No andar existem 50 leitos do Centro de Tratamento Intensivo-CTI e naquele momento 931 pessoas estavam internadas no hospital, que teve de ser evacuado. Foram confirmadas as mortes de duas pessoas no translado.
Incêndio causou estragos no 10º andar da Santa Casa — Foto: Santa Casa/Divulgação

Santa Casa/Divulgação

Quando surgem problemas desse e de outros tipos que tem grande repercussão na mídia a pergunta imediata é sempre a mesma, ou seja, quais as causas do incêndio. Em menor escala surgem os caçadores de culpados de qualquer natureza e também alguns propondo soluções para que o fato não se repita.
 Mas que lições podemos tirar e pontuar para que todos possam conhecer, compreender e se conscientizar da importância da gestão da manutenção para colocá-la em prática. Isso vale para as pessoas físicas e jurídicas nos setores públicos e privados.
É importante lembrar que Sistema é um conjunto de partes interligadas que por sua vez possuem inúmeros processos, conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos. Quando o resultado de um processo é ruim, indesejável nos deparamos com um problema, mas que precisa ser resolvido, jamais ignorado, negado ou justificado com desculpas. Gerenciar é resolver problemas com uma visão sistêmica.
A nossa reflexão aqui deve partir da premissa de que tudo começa com a gente e com o nosso querer nos ambientes em que atuamos devidamente comprometidos. Mas quais tem sido as nossas atitudes perante a necessária e prioritária gestão da manutenção? Podemos começar, por exemplo com a gestão da saúde individual nos diversos níveis de cuidados e descuidos que cada um tem, o que mostram os indicadores e os sintomas (sinais) disponíveis.
Essencialmente a gestão da manutenção poderá ser corretiva – a mais cara – para remover as falhas, preventiva para evitar que as falhas ocorram e preditiva para predizer que algo deve ser feito a partir da probabilidade de ocorrer uma falha em determinado componente após certo tempo de uso (num avião, por exemplo). Não dá para esperar a exaustão para depois agir.
Raciocínio semelhante pode ser feito para a manutenção de nossas residências ao longo do seu tempo de uso. Daqui a 3 meses terá início o período chuvoso. Será que os nossos telhados com as suas calhas serão revisados e limpos para evitar futuros entupimentos? Caso contrário a água das chuvas procurará caminhos alternativos para seu escoamento e poderá pingar dentro da casa.
Na mesma direção e sentido podemos pensar sobre a quantas anda a gestão da manutenção em tudo aquilo que está sob a responsabilidade dos municípios, dos estados e da União. A sensação que dá é de muita manutenção corretiva, mas isso precisava ser confirmado pelos dados constantes nos respectivos portais da transparência, pois afinal de contas, quem não mede, não gerencia e quem não controla também não gerencia.
E se houver um incêndio no local de trabalho público ou privado de cada um de nós, se o elevador emperrar com sua lotação máxima no vigésimo andar de um prédio, se o motor do veículo fundir no meio do viaduto ou se uma carreta perder o freio na decida de uma avenida, por exemplo, o que fazer? Ou apenas sentiremos falta da gestão da manutenção?
Como se vê gestão é o que todos precisam, inclusive a da manutenção, mas nem todos ainda sabem que precisam.
Para ler a matéria do G1, clique aqui.
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Pensemos na situação de uma pessoa que está procurando uma vaga para consulta médica, eletiva ou de urgência, preocupada para encontrar um profissional que aceita atender pelo plano de saúde já na primeira prestação de serviço. E como ela ficará se a espera for pelo resultado de determinado exame de apoio a um diagnóstico médico? Pensemos também em quem está esperando a reconstrução da casa destruída numa das enchentes do início do ano. Ou em outra pessoa que continua aguardando a liberação de sua parte na herança deixada por uma tia solteira que se finou no início do ano passado. Meu ponto aqui está ligado às expectativas geradas pelas respostas que temos de esperar e também pelas que nunca chegam. É muita expectativa, que segundo o dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa é “situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento”.

Entretanto esse momento nem sempre chega para muitas pessoas que participam de processos seletivos que visam preencher vagas de trabalho em determinados tipos de organizações humanas, a começar por empresas dos mais diferentes portes. E isso não é de agora. É que nelas predomina a incapacidade de informar aos candidatos não selecionados a sua real situação, ou seja, que não foram aprovados. Se essa informação não vem, podemos até imaginar quanto tempo vai se passar para que a pessoa conclua que aquele determinado processo não resultará em nada positivo. Essa ausência de retorno acaba sendo uma postura muito desrespeitosa com quem está procurando uma oportunidade de trabalho para bancar a própria sobrevivência.

Outra modalidade que tem sido usada sem se preocupar com o retorno para quem entra no processo é o anúncio de vaga para trabalho com inscrição a ser feita no portal de algumas empresas com o pedido de preenchimento da ficha e anexação do currículo. De repente, o anúncio é retirado do ar durante o período de inscrição, sem nenhuma explicação, e tudo fica por isso mesmo.

Alguns que se inscreveram ficam matutando sobre o destino da vaga. Será que foi cancelada, adiada ou redirecionada para outra necessidade mais prioritária de determinado setor da empresa em tempo de orçamento apertado? Dá até para pensar se a empresa só queria medir o mercado para verificar as principais características do momento, inclusive a disponibilidade de pessoas capacitadas, por exemplo. Obviamente que organizações humanas desse tipo sempre terão variados argumentos para justificar o ato desinformativo.

Muitos dirão que a organização não tem estrutura e tempo para dar esse tipo de retorno diante da quantidade de candidatos. Também justificam o ato sob a alegação de que existia muita pressa para admitir quem foi selecionado para preencher logo uma lacuna existente e combater a sobrecarga da equipe. Outros alegaram dificuldades para dar uma notícia ruim a alguém. Mas, cá para nós, é melhor saber logo o resultado do processo, inclusive se ele foi cancelado. Isso é mais respeitoso com as pessoas participantes e deixará o caminho livre, sem ilusões para ajudar no reposicionamento de cada um na vida que prossegue.
Uma oportunidade para trabalhar com dignidade nessa conjuntura em que a estratégia é de sobrevivência é o que muitas pessoas querem e precisam. Isso torna-se cada vez mais agudo diante dos 11,3 milhões de desempregados e 4,6 milhões de desalentados – os que desistiram de procurar trabalho -, além da fome e da insegurança alimentar.

Como se vê não dá para simplesmente deixar de levar em consideração as expectativas das pessoas enquanto o tempo vai passando. Alguma resposta é muito mais respeitosa com as pessoas do que nenhuma resposta.

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