Oi, oia o trem

por Convidado 8 de maio de 2023   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Vem surgindo de trás da fumaça azul. “Oi, oia o trem”, vem fazendo um barulho estrondoso. E atrapalha meu sono, pois a casa em que habito está logo acima da estação — da linda estação, tão judiada pelo tempo, pela chuva, pelo sol e pelo descaso das pessoas que não têm sensibilidade para compreender o valor da memória. E, estou certo de que não sabem que “ A plataforma dessa estação/ É a vida desse meu lugar/ É a vida desse meu lugar/ É a vida…”

Na minha Barbacena amada e desleixada, vejo com tristeza, “da janela lateral do quarto de dormir”, nossas montanhas indo embora. Conto até cem vagões. Depois, desisto de contar. A tristeza me impede de continuar assistindo ao dolorido desfecho de uma ganância sem fim. E, para tão desumana tarefa, incumbiram locomotivas cruéis, se assim posso chamá-las, pois não têm doçura, beleza, bucolismo, e nem mais o piuííí! piuííí! saudoso da Maria-Fumaça. Ao contrário, elas vêm fazendo barulho e demonstrando todo o seu poder. Ferozes, informam com seus apitos ensurdecedores que nada impedirá sua missão, e que irão atropelar quem se arriscar a passar na sua frente. E o trem — fantasia da minha infância —  em sua trajetória, mais parece uma jiboia gigantesca engolindo montanhas e destruindo a natureza. Os vagões, sem vida, cumprem os comandos das perversas máquinas que os escravizam e os puxam num som torturante e ritmado, como se houvesse um metrônomo seguido de uma marcha fúnebre. Assim, acorrentados e engatados, seguem o cortejo levando histórias transformadas em partículas de minério que um dia, em seu esplendor, serviram de palco para fazendas, bosques e histórias de famílias, de um tempo em que nossos trens tinham funções mais nobres de levar e trazer pessoas. “Todos os dias é um vai e vem/ A vida se repete na estação…” ou se repetia, como escreveram Milton e Brant.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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A linguagem dos provérbios

por Convidado 13 de abril de 2023   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Ultimamente, tenho visto a língua portuguesa sendo tão maltratada e não é a primeira vez que venho, caríssimos leitores, desabafar com vocês.

Ao que pude saber, estão matando a Flor do Lácio, tão bem cuidada por Olavo Bilac. Talvez alguns brasileiros mais jovens nunca tenham ouvido falar dele. E, constato, que a ignorância é a mãe de todas as doenças. Pois, foi aquele poeta brasileiro que usou tal expressão no primeiro verso de seu soneto “Língua Portuguesa”, se referindo ao idioma português, por ser a última língua derivada do Latim Vulgar, falado no Lácio, uma região italiana.

Porém, a despeito de Bilac, temos a impressão de que muitos brasileiros não gostam da nossa língua. Adoram os estrangeirismos ou são os frequentadores da casa da mãe Joana, e falam errado por uma rebeldia às regras e padrões — que está na moda nos dias atuais. E nem me atrevo a falar de concordância, pois sei que nossa língua não é fácil, mas optar pela discordância verbal, propositadamente, é desobediência linguística totalmente dispensável. Não pensem que sou contra a evolução da língua. Mas quem avisa, amigo é. Saibam que as provas de redação não caíram nesse conto do vigário. Continuam exigentes e reprovando candidatos.

Pasmem, leitores que dominam o léxico. Em sua nova fase, o Museu da Língua Portuguesa adotou o pronome neutro “todes” em suas redes sociais, o que contraria às normas da própria língua. Mas papagaio que acompanha João-de-barro vira ajudante de pedreiro, e não podemos admitir que desmoralizem nossa expressão mais rica de comunicação. Há também muitas pessoas que não pontuam as frases. Dizem que não é necessário. Uma delas me disse que José Saramago também não pontuava e ganhou o Nobel de literatura. Não tive argumentos. É verdade, mas era um gênio.

Há um movimento no ar, cujo objetivo é a destruição de padrões, incluindo-se nele, a família, os costumes, as crenças, além da correção da linguagem — valores que, até então, conduziram a sociedade. E, sabemos que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. É o que esperam os detratores da comunicação, pois, onde há fogo, há fumaça e devagar se chega ao longe, mas, cá entre nós, sentimos vergonha alheia quando, de repente, soltam uma pérola como “vareia”, “interviu”, “maqueia” e frases profundas como: “A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos” ou “O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo”. Sim, exigentes leitores, não é fácil sofrer tanta tortura, “Enem” aguentarmos ouvir tanta bobagem. Pior é que as agressões aos nossos ouvidos não ficam somente nos estudantes, mas também em profissionais em entrevistas de televisão que dizem: “a perca foi grande”, e “que se soubesse tinha trago o documento solicitado.”

Seguindo por esse caminho, há que se observar que a vida é um processo em construção e, que há milhares de anos, outros, antes de nós, arquitetaram o futuro e criaram regras e itinerários seguros para que tivéssemos mais conforto, longevidade, saúde e cultura. Desfazer caminhos é uma ação que exige discernimento e, para tal, se faz necessário ter conhecimento. E aquele que desqualifica o saber, está mais perdido do que um barco à deriva. Lembrem-se de que quem desdenha quer comprar. Antigamente, quando nos deparávamos com um indivíduo que desejava subverter a ordem, dizíamos que era do contra. E, dependendo da ordem: iconoclasta. Mas “no fundo” não passa de um chato que ainda terá que aprender que a essência da palavra liberdade não é simplesmente fazer o que “der na telha”, mas sim aprender a respeitar as regras e o direito do outro.

Pensem nisso, porque, depois, não adianta chorar pelo leite derramado.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Um mergulho na alma

por Convidado 22 de março de 2023   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Dia desses estava de folga numa bela praia. Mergulhei no mar e senti a onda passando sobre meu corpo. Uma sensação de limpeza me envolveu, enquanto submergia naquelas águas frias e salgadas. E ao emergir, uma nova onda me fez repetir o procedimento. Vieram outras, e mais outras… até que, cansado, já não aguentava furá-las como fazia antigamente. Olhei para a praia e observei que estava longe. Havia perdido a noção de distância. Procurei manter-me calmo, apesar do esgotamento, e esperei que alguma onda me levasse de volta até a areia. Mas a correnteza não vinha para o lado que precisava. A cota de calma estava se esgotando e o cortisol me informou que estava em perigo… aí veio o medo de me afogar e, só não aconteceu porque surgiu um surfista com cara e cabelo de anjo, e me rebocou até um local seguro.

Ao sair da água, estava tonto. Mas não quis comentar o aperto que passara. Óbvio que a primeira coisa que iria ouvir é: — você não tem idade para mergulhar e isso é uma atitude irresponsável. Então, me sentei, fechei os olhos e fiquei refletindo sobre o ocorrido. Eu poderia ter morrido por causa de uma distração ou ousadia. Confesso que fui sendo envolvido pelo prazer de ficar sob as ondas e não havia percebido o quanto me afastara da zona de segurança e das pessoas que lá estavam. Fiquei em silêncio. A quietude nos ajuda a desintoxicar a alma. E, como eu estava no mar, aproveitei para fazer uma analogia entre o quase afogamento e a nossa própria vida, sujeita a chuvas, ventos e correntes que nos levam a lugares indesejados.

Meu leitor mais reflexivo, você concorda que nossas vidas têm sido golpeadas por ações compulsivas que — assim como as ondas — não nos permitem parar para descansar? Os inúmeros recursos de comunicação nos massacram com informações desnecessárias e numa intensidade nunca vista. Assim, como neste episódio, as pessoas estão se distanciando umas das outras sem perceberem. Estamos sendo, por assim dizer, “afogados” por uma sucessão de serviços, novos aprendizados e venda massificada que mais se parecem com uma avalanche de ideias nos impedindo de respirar.

Determinados filósofos gregos, bem antes de Cristo, não acreditavam no acaso, e afirmavam que tudo tem uma razão de ser. Partindo daquele princípio, qual lição que devo retirar do incidente? O que devo concluir? Que talvez a vida seja uma sequência de ondas num processo contínuo de mudanças imprevisíveis?  Também posso beneficiar-me do susto como um aviso, um sinal de que depois de enfrentar muitas ondas, energia, força e equilíbrio estarão debilitados. É isso mesmo, meus perceptivos leitores, embora esperemos que a próxima onda nos traga paz e calma — que fizemos por merecer — não temos a menor garantia de que virá amena. Infelizmente não depende somente de nós. Porém, prudência e coerência jamais poderão ser relegadas a segundo plano, porque devemos estar conscientes de que “A vida vem em ondas/ como um mar/ num indo e vindo infinito…” ( L.S.)

Não se deixe afogar.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Vira o disco. Fala de outra coisa!

por Convidado 13 de fevereiro de 2023   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Há um clima tenso que tem me incomodado. Uma energia pesada que insiste em nos circundar. Uma acentuada cor cinzenta que nos lembra o nevoeiro de Londres, fenômeno climático comum naquela cidade, mas que, em dezembro de 1952, durou cerca de cinco dias, trazendo problemas a toda população. Pois, aqui no Brasil, já está perdurando há anos. E, como se não bastasse, vivemos um sentimento de dúvida: em quê e em quem acreditar? As verdades já não são dignas de confiança, porque aquele que outrora o ofendia peremptoriamente, agora o defende e ocupa lugar, à sua direita, no barco de Caronte.

As pessoas estão estranhas, intolerantes, egoístas, desconfiadas, agressivas e más, como se fossem cúmplices de Simonini, protagonista de O Cemitério de Praga, que diz que o ódio aquecia seu coração. E vocês, leitores observadores, têm notado a quantidade de latrocínios, assassinatos em brigas de bares, trânsito, conflitos entre vizinhos, etc? E feminicídio?

Para resumir, no Brasil, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no primeiro semestre de 2022. Média de quatro casos por dia, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número, segundo os jornais, atualmente já é de sete casos. Então, vou me ater “apenas” ao feminicídio, pois falar dos demais crimes seria exorbitar o sentimento negativo e avançar além das linhas deste texto.

Vocês, leitores atentos, têm visto alguma noticia de suicídio? Não?! Sabem por quê? Porque violência gera violência. David Phillips, estudioso da Universidade da Califórnia, nos anos 1947 a 1968, baseado em longas pesquisas, descobriu que a cada suicídio que saía nos jornais, em média, 58 pessoas a mais do que o normal se suicidavam. Já pararam para pensar nesse efeito? Ele tem nome. Phillips o batizou de Efeito Werther, baseado no romance Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), de Goethe. O fenômeno ocorrido há duzentos anos constatou que muitos de seus leitores, ao lerem que seu protagonista cometeu suicídio, tomavam a mesma atitude.

Principalmente por essa, e também por outras razões, as divulgações deixaram de ser feitas e o número de suicídios diminuiu. Ficou evidente que as pessoas, por indução, imitam o funesto comportamento. O mesmo princípio se aplica aos demais crimes de morte, incluindo-se, sobretudo, o feminicídio.

A tese de Phillips foi comprovada e os estudos vigentes corroboram e atestam suas observações. Então, se todos sabem dessa verdade, por que os jornais continuam noticiando, enfaticamente, os crimes hediondos?

É como diria um senhorzinho lá do interior de Araxá: — “Oceis” fica dando ideia…

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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“A falta que ela me faz”

por Convidado 10 de janeiro de 2023   Convidado

*por Sérgio Marchetti

O ano novo é um momento para reflexões e mudanças daquilo que não deu certo no ano que se findou. Sim, meus persistentes leitores, o momento pede planejamento, resiliência e sabedoria. Mas embora seja novo, o mundo está mais velho e nós também. A experiência nos chama a rever ensinamentos que deram certo e que são atemporais. Então, nestes primeiros dias, estou me dedicando a reler alguns livros. E, mexendo em minha estante, para minha surpresa, alguns me chamaram mais a atenção. A falta que ela me faz, de Fernando Sabino, foi um deles. O livro é muito bom, mas confesso que não é dos meus preferidos. Dos livros do autor, gosto mais do Encontro marcado e O grande mentecapto. Ambos são primorosos. Mas deixemo-los para depois e vamos pensar na falta que Sabino diz sentir, e que pode ser de tanta coisa. No texto, inicialmente, ao dispensar a empregada doméstica, a primeira descoberta da falta foi justamente quando viu que tudo estava em desordem. Entretanto, “ela”, de acordo com o escritor, pode ser muitas coisas: a liberdade, a democracia, a sinceridade, a esposa etc.

Imagino que os leitores estejam tentando entender o que pretendo trazer de interessante, pois o ato de ler (referido por mim em outra oportunidade) tem sido sacrificante para tantos e passou a ser um diferencial e uma qualidade. E, ao constatar tal verdade, o pesar toma conta de mim, porque sem leitura o raciocínio é mais lento, a fluência fica prejudicada, a compreensão se torna difícil, a escrita pobre e o fracasso na interpretação de texto é iminente.

Diante disso, creio que poderemos avaliar a falta que a leitura nos faz. Mas, como disse, assim como Sabino, lograremos examinar tantas coisas que nos fizeram e fazem falta, com o intuito de começarmos a próxima jornada cometendo menos erros — o que por si só já representa um avanço. Portanto, comecemos pelo o que nos faz falta.  Garanto-lhes que não tenho o dom de adivinhar, porém, posso ajudá-los sugerindo que comecem por aquilo que podem mudar, sem precisar de terceiros. Talvez, como exemplo, ter mais amigos, mais viagens, participar de eventos, fazer cursos e ler mais.

Vocês sentem falta de namorar? De encontrar com amigos e visitar parentes? Ah! Sentem falta de ficar em casa? De ir ao cinema em vez de ficar de pijama em frente à televisão? Eu sinto falta de tantas coisas… e, fortemente, da presença de meu pai, que partiu em 2022. Mas também ando carente de uma sociedade humanizada, de mais pessoas honestas, de solidariedade, de menos corrupção e de mais justiça.

Enfim, sinto falta de um mundo que já vivi, que sei que era real, de mais afeto, amizades, sinceridade, mas que não há como recuperá-lo.  Aí, giro meu caleidoscópio e vejo, assim como os dias, que o movimento é o mesmo, mas que os resultados são diferentes e que há um número enorme de possibilidades de vermos imagens mais bonitas e coloridas. E, como disse o escritor Richard Bach, enquanto estivermos por aqui ainda teremos uma missão a cumprir.

O que vocês estão esperando meus inovadores leitores? Um caleidoscópio?

Que falta que ele faz.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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*por Sérgio Marchetti

“Palavras são palavras, nada mais do que palavras“ (Odorico Paraguaçu)

Permitam-me, meus caros leitores, perguntar-lhes se vocês têm lido mais ou menos livros nos últimos anos. E textos? Ah! Falta paciência? O assunto não desperta interesse? Minhas indagações se baseiam numa conclusão simples de que estamos trocando os livros por navegações na rede social. Mas advirto que quem navega sem uma bússola pode ficar à deriva. Os piratas do tempo são mestres em desviar sua atenção e lhe transportar para lugares que não acrescentam nada às suas vidas.

Como muitas pessoas já sabem, um de meus trabalhos é o coaching e, nele, percebo a dificuldade de meus coachees (clientes) de ler textos e livros sugeridos por mim, sob a alegação de não terem tempo. Mas, sabemos que não é uma verdade absoluta. E não estou falando da substituição do livro impresso pelas telas do kindle ou notebook; estou me referindo à abolição da leitura propriamente dita e de seus prejuízos. As crianças que são incentivadas a ler ampliam a memória, melhoram o raciocínio, desenvolvem o poder de concentração e compreensão, estimulam a linguagem oral, expandem a capacidade criativa e se tornam adultos mais cultos e com hábito de leitura.

Sabemos, por pesquisas, que muitas pessoas não conseguem ler mais do que manchetes. Isso é grave, principalmente quando esses mesmos indivíduos entram em discussões sobre quaisquer temas, mas, por não terem conhecimento, demonstram em suas argumentações que têm a profundidade de uma xícara. Não me interpretem mal, nem me tomem por um piolho de biblioteca, mas convenhamos, é difícil ter que ouvir bobagens descabidas de quem não tem argumentos e, cuja criatividade, nem de longe, chega aos pés do Odorico Paraguaçu, personagem vivido por Paulo Gracindo e criado pelo saudoso Dias Gomes.

Ler é ver além da bolha em que vivemos. É sair da caverna para descobrir que existem outras formas, maneiras, costumes e espécies de vida. Ao mesmo tempo, é viajar pelo passado, por lugares distantes, desfrutar de histórias fantásticas, conhecer locais mágicos e pessoas diferentes de nós. Um livro é a história de vida de personagens que, em seus problemas cotidianos, nos dão exemplo, nos ensinam, nos tocam, emocionam e nos aculturam.

São muitos os gêneros literários e com variadas opções que, além dos livros técnicos, devem fazer parte de nossas escolhas. Sim, a leitura de uma boa história nos abduz para dentro das páginas e, por algum tempo, ficamos tão absorvidos que nos ausentamos deste mundo e de seus problemas. Além disso, presumo que todos nós tenhamos algumas manias e adquirir a mania de ler nunca seria desventura.

Procurem uma livraria, olhem as capas, os títulos, dúvidas que têm, vejam o que lhes causa curiosidade e, quando simpatizarem por um exemplar qualquer, abram-no, leiam suas orelhas, sinta o cheiro de suas páginas e… acreditem, meus crédulos leitores, vocês acabam de encontrar um excelente companheiro de viagem.

Boa leitura!

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Quando foi que isso começou?

por Convidado 4 de novembro de 2022   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Não quero ser pessimista, meus caros (e)leitores, mas tenho a impressão de que estamos testemunhando um dos piores momentos de nossa história política. Aqui, nesta terra descoberta por Cabral, há uma guerra psicológica gerada pela disputa de poder que tem por inspiração (apenas por inspiração) o famoso “Manifesto Comunista, no qual Marx e Engels afirmam que “a história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes”. Pena que mais de 90 por cento das pessoas desconheçam tal teoria. Porém, ainda assim, e não por acaso, servem ao objetivo dos que pretendem alçar voo rumo ao pódio. No aqui e no agora há exageros e jogos de interesses dos dois lados. Mas, sendo justo, a hipocrisia dos que não governam extrapolou os limites, inclusive voltando ao tempo das censuras, que tanto queremos esquecer. E a parcialidade prejudica a já abalada confiança das pessoas. Imaginem um jogo entre Brasil e Argentina cujos árbitros sejam torcedores da Seleção Argentina e fãs de Maradona…

Descobrimos que o poder é uma doença maldita e que George Orwell foi magnificamente brilhante ao escrever a Revolução dos Bichos. A América do Sul sobreviveu à ditadura militar, mas, numa análise crítica constatada pela mídia mundial, com a ideologia atual, sua destruição será iminente. Os bichos de Orwell são mais deslumbrados, desleais, inescrupulosos e desonestos do que os antigos donos da fazenda.

Recorrendo um pouco ao passado, como fuga para deixar o cérebro esfriar, quando ouço pessoas que viveram na década de 1950 dizerem que foi o melhor momento do mundo — não por acaso denominado de anos dourados —, me ponho a lembrar de minha infância e percebo que provavelmente tenha sido o melhor tempo para se viver. Era o pós-guerra. Buscava-se a recuperação do ser humano e a tentativa de viver em paz. O mundo tornava a começar e trazia em sua bagagem um propósito de ser feliz. Prevaleciam as reuniões de família, amigos, vizinhos, empregos duradouros…

O relógio girou. Estávamos na década de 1960 — era criança, mas daquela posso falar. As pessoas eram mais humanas. Minha casa no interior nunca ficou fechada à chave durante o dia. Mas o mundo mudou, e como uma enchente carregou nossa tranquilidade e segurança para muito distante.

O período do “para sempre” havia se encerrado. Na terra do pau-brasil a geração X experimentava tempos cinzentos e aplaudia a riqueza rebelde da música brasileira. Continuamos “caminhando e cantando e seguindo a canção…” mas a ilusão de sermos iguais se findou.

De volta ao mundo real, a desigualdade aumentou e vieram novos dias e novas doenças, sobretudo as psicológicas. A vida perdeu o seu valor. O futuro agia na surdina e nos preparava a maior mudança que os seres vivos já presenciaram. Os bens não seriam duráveis como antes. Vieram as gerações Y e Z e a desumanização se acelerou e, embora na teoria trocássemos os chefes por líderes, o distanciamento hierárquico e a pressão por resultados só aumentaram.

Caminhando mais um pouco, a palavra “conectados” se tornou sinônimo de pessoa desenvolvida, atualizada. Muitos perderam suas “faculdades” mentais ao desvalorizarem o ensino universitário. Mas nada de emoção. Apenas prazer. Somos razão — pensam os desavisados. Aristipo está de volta, mas certamente seus adeptos ainda não o conhecem. E, tudo isso, provavelmente fez tremer até a um Daniel Goleman.

Os antigos valores, lamentavelmente, se tornaram obsoletos. A palavra honestidade, que tem origem no latim honos e remete para dignidade e honra, não encontra respaldo na sociedade atual. Os fins justificam os meios escusos para se chegar ao poder.

Acredito que estejamos vivendo a era do desamor. Falta respeito, afeto e carinho. Notadamente, o esforço para destruir os antigos costumes tem sido cada vez maior e com mais seguidores.

Registrem para não esquecer: ”haverá choro e ranger de dentes”.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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A saúde psicossocial

por Convidado 3 de outubro de 2022   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Todos sabemos que a saúde ocupacional é exigida em programas obrigatórios por lei, como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), além das exigências discriminadas nas 36 Normas Regulamentadoras (NRs) previstas na Portaria nº 3.214.

Mas quero, meu saudável leitor, falar da saúde psicossocial que foi fortemente abalada e que merece atenção especial e cuidados para minimizar as doenças  psicológicas na vida pessoal e nas empresas. Independentemente do nome que possamos dar, o que tenho observado em meus trabalhos é que a saúde das pessoas, em todos os sentidos, sofreu uma agressão das mais intensas, em todos os âmbitos e lugares, justificando, assim, o nome de pandemia.

As pessoas estão fragilizadas. E ainda, neste momento, vivemos um processo político recheado por um elenco de péssimos atores, onde ditadores sem nenhum talento fazem o papel de democratas, se apropriando de setores essenciais da sociedade para difundirem um enredo atulhado de mentiras, desprezando valores como a verdade,  o jornalismo ético, a família e a honestidade e tornando normal ofensas políticas, alianças com inimigos, discursos falsos, hipocrisia, corrupção, ingerências de poderes, perseguições e autoritarismo como práticas cotidianas no vale-tudo da asquerosa política em busca do totalitarismo. Por isso, julgo de fundamental importância discutirmos a inserção do tema saúde psicológica em cursos e treinamentos organizacionais, visando alertar não só empresas, mas toda a sociedade para que a saúde mental, tão afetada por doenças e interesses de determinadas partes, possa ser trabalhada, restituindo assim, aos jovens, o direito sagrado de escolherem o mundo que desejam para eles e para seus filhos. “Deixa-nos sozinhos, sem um livro, e imediatamente ficaremos confusos, vamos perder-nos; não saberemos a quem aderir, a quem nos ater, o que amar e o que odiar, o que respeitar e o que desprezar…” (Fiódor Dostoiévski )

Por tudo isso, mais do que a integração das práticas de saúde assistencial e saúde ocupacional, se faz urgente a reabilitação dos profissionais envolvendo a recuperação da autoconfiança, motivação, aprendizagem e aquisição de saberes fora da cartilha delimitadora de novas metodologias. Para essa finalidade, sugerimos a utilização de acompanhamento psicológico, mentoria, trabalho de coaching e outras condutas que poderão alcançar resultados efetivos nas organizações como: colaboradores mais saudáveis, motivados, seguros, atualizados, dispostos, engajados, produtivos e felizes.

Para a eficácia dos recursos elencados e o alcance desses objetivos, poderemos contar com os fundamentos da Inteligência Emocional e da Psicologia Positiva, entre outros, visando estudos das características adaptativas, como resiliência, esperança, sabedoria, criatividade, coragem e espiritualidade que, a nosso ver, são mecanismos valiosos para se obter êxito na nova caminhada.  Lembrando que a qualidade de vida no ambiente corporativo não fica restrita ao espaço de trabalho. Tem reflexos na vida em sociedade, no bem-estar e no comportamento das pessoas, da mesma forma que no ambiente organizacional.

A hostilidade, intolerância e violência são efeitos de causas que nenhuma autoridade tem trabalhado. Então, caros apaziguadores leitores, julgo que, quando se tem uma vontade, os obstáculos se tornam menores e, com as providências sendo tomadas e os resultados alcançados, a adesão é automática porque o movimento humano ainda tem efeito manada. Minha crença é a de que colaboradores felizes, num ambiente saudável, que os permitam praticar seus valores e gerar resultados, serão sempre premiados por desfechos gratificantes. O homem, em sua natureza, precisa de liberdade, ser aceito, fazer parte, pertencer. Depois, ser reconhecido e, assim, poderá encontrar a felicidade.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Avoroço

por Convidado 20 de agosto de 2022   Convidado

por Sérgio Marchetti

Por acaso, caros leitores, vocês conhecem um avô que mergulha na piscina com os netos, brinca como se fossem da mesma idade, dá “caldo”, faz rir e também chorar quando as crianças bebem aquela água de cloro? E um avô que vai para o parque com um carro cheio de netos de cinco a doze anos e participa de todos os brinquedos; indo da roda gigante ao trem fantasma? E que leva na sorveteria e dá gargalhadas pelo exagero que alguns “anjinhos” cometem ao servirem seus sorvetes? Um avô que conserta brinquedos, mochilas, tênis? E além disso, faz sorvetes em casa junto com os netos numa algazarra generalizada. Vocês conhecem? Também com as pipocas não é diferente. Pipocas estourando e enchendo os saquinhos para dar aparência bem profissional. Mas não é de agora, com os filhos também sempre foi assim, participativo. Jogavam, juntos, futebol e peteca. Nas férias, era o companheiro principal nas viagens para a praia e, no mar, era quem mais avançava para mergulhar e furar as ondas.

Depois, vinha o almoço com camarões; sua comida predileta.

Meu tio o apelidou de avoroço, tamanho o estardalhaço que fazia ao jogar balas de todas as cores para cima, e ver a confusão que a criançada fazia, se divertindo com as disputas para pegarem as balas. Os menores ficavam aos prantos por não conseguirem apanhar as guloseimas. Mas havia algumas surpresas guardadas para os menos favorecidos. Bombons, pirulitos e outros doces.

Diariamente, lia jornais, e durante sua longa vida de 94 anos, esteve sempre atualizado. E, falante como era, transmitia todas as notícias para a família. Gostava de serestas e, tendo espírito alegre, cantarolava as marchinhas e as canções do carnaval.

Eu disse “era”, “gostava”, “cantarolava”, no pretérito perfeito. Pois, num pretérito mais que perfeito para nós, vivera, esse avoroço, para nos alegrar. Mas “um dia tudo mudou, a vida se transformou e nossa canção também…”. O verbo mudou de tempo. Virou passado e os risos se converteram em lágrimas. Sim, ele nos deixou há um mês. Ficamos mais fracos, mais tristes e mais pobres com a sua partida. Um vazio e um silêncio mortais tomaram conta de nós. Os dias perderam a cor. Concluímos que quando uma pessoa de presença tão forte nos deixa, a dor da ausência é mais sentida. De personalidade marcante, foi um homem inteligente, exigente, destemido, protetor, pragmático e, simultaneamente, uma pessoa de extremo carinho.

Viveu com toda sua energia até o último dia. Partiu como viveu, lúcido e sem reclamar da vida. Aos poucos, nas últimas horas — assim como a lagarta se transforma em borboleta — o sono se transformou… e ele transcendeu numa paz magnifica.

Eu sabia que iria doer. E que iria fazer muita falta. Sabia sim ”…que doía tanto, uma mesa num canto, uma casa e um jardim… Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”.

Meu querido pai, Altair Marchetti, deixou um legado de integridade, honestidade, força e de valorização da família. Seus exemplos e virtudes nos servirão de guia para que nunca nos desanimemos, nem nos desviemos do caminho da honestidade, da lisura e da retidão, mesmo que para muitos isso não pareça ser valor.

Que meu pai esteja em paz e que a dor e a saudade se transformem em energia positiva para que nossos espíritos possam abraçá-lo e iluminar a sua caminhada na atual dimensão.

Obrigado por tudo!

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por Sérgio Marchetti

Hoje, resolvi dedicar algumas horas da minha vida revendo livros, papéis e pastas com as lições de uma pessoa que me foi muita querida. Mas, antes de dar detalhes, quero compartilhar com vocês um pouco de minha história — que não é somente minha — porque ninguém realiza uma história sem ajuda de outros atores. Aqueles que pensam que fizeram tudo em carreira solo, certamente estarão sendo injustos com muitos personagens e figurantes de suas vidas.

Muitos de vocês talvez não saibam, meus sábios leitores que, paralelamente à área de Recursos Humanos, antes da Qualidade, Gestão e outras áreas, fui iniciado na oratória. A História começa quando eu, ainda jovem, ocupava a gerência de Recursos Humanos de uma empresa. Num daqueles dias, o Presidente da Empresa mandou me chamar para que eu programasse um curso intensivo de oratória para todos os gerentes de departamentos e divisões. Naquele momento, fui apresentado ao Professor que mudaria a minha vida. Com um sorriso largo e uma simpatia cativante, me agradeceu pela atenção com que o tratei.

O curso foi programado e, embora tenha me confidenciado com o Professor sobre minha timidez, ele disse que me sairia muito bem. Não nego que passei meus apertos, tive acanhamento, nervosismo, sudorese e outras manifestações de meus neurotransmissores inibitórios. Mas fui dedicado, disciplinado e, mesmo não me autoavaliando bem, ganhei a admiração do Mestre que, para minha sorte, veio trabalhar na área de comunicação da Companhia.

Como acredito que oportunidades são raras, não as desperdicei. Fui me aprimorando na oratória, criando meus métodos e cheguei a escrever Falar em Público e Comunicar… é só começar, livro autografado pelo saudoso Mestre da oratória.

O tempo passou, o acaso nos fez reencontrar em eventos comuns para colocarmos nossa conversa em dia. Depois, veio novamente a distância e, somente há cerca de uns quatro anos, recebi seu telefonema me convidando para tomar um café em sua casa. Fiquei extremamente honrado e feliz pelo convite. Foi uma prosa demorada e, na oportunidade, o Professor me falou com tristeza e pesar sobre sua viuvez. Mas ainda tinha planos e me deixou admirado pela vontade de continuar realizando seus cursos e projetos, apesar de estar com a idade avançada.

Ao sair de sua casa, nos prometemos não ficar tanto tempo sem nos falarmos. Porém, no mês passado, já há algum tempo sem notícias, antes de ligar para ele, resolvi fazer uma pesquisa sobre oratória. Aí, caros leitores, tive uma surpresa, ao me deparar com um texto, escrito há cerca de dois anos, por Reinaldo Polito, um dos mais conhecidos professores de comunicação oral do Brasil, lamentando o falecimento de seu amigo Olto Mariano dos Reis.

Não sei como não fiquei sabendo antes, mas, por isso, hoje me dediquei a rever seus trabalhos e homenageá-lo com um agradecimento eterno por ter sido um orientador, um mestre e um amigo que me proporcionou o aprendizado da arte de comunicar. E, graças a ele, como professor, sinto um enorme orgulho de ter treinado, em cursos de graduação, pós-graduação, treinamentos e orientações individuais, inclusive fora do Brasil, mais de 25 mil pessoas em oratória.

Retransmito em parte, abaixo, algumas de suas palavras no prefácio que me ofertou. E, por não saber absolutamente nada dos mistérios da transcendência, só posso enviar o meu abraço saudoso, pleno de energias para que meu amigo, aonde estiver, descanse em paz e receba todas as manifestações da minha gratidão:

“(…)O Professor Sérgio Marchetti, com larga experiência em treinamento em várias empresas e entidades é como esses bandeirantes que abrem picadas, descobrem novos caminhos, e depois voltam inúmeras vezes para rever, sentir que o mato não cresceu, não tomou conta do espaço. Assim, através de suas dificuldades, de suas experiências, ele vai nos passando conhecimentos como em um filme; prende o nosso interesse e vai estimulando a nossa imaginação(…)”

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