Poucos amigos participativos e muitos representativos

por Luis Borges 5 de julho de 2018   Pensata

Nesses tempos mais recentes, que estão sendo regidos pelo princípio da incerteza, tenho conversado com algumas pessoas próximas e mais presentes no meu cotidiano sobre o significado da amizade. De um lado surgem as expectativas em relação a quem consideramos amigos e, de outro, contabilizamos as percepções que temos das práticas em relação ao que consideramos amizade. A constatação inexorável é de que existe uma enorme distância entre a intenção e o gesto, embora haja a esperança de que, em algum momento, um sinal ainda vá ser dado. Mas se isso acaba não acontecendo fica mais fácil e realista constatar e exclamar como está difícil ter e manter amigos.

Acaba sendo consenso que temos poucos amigos participativos, aqueles sempre presentes em momentos essenciais em nossas vidas. A quantidade deles é menor que a dos dedos de nossas mãos, embora sejam de muita qualidade. Eles conseguem, inclusive, saber falar e também ouvir de maneira respeitosa e construtivista, sem obsessão pela propriedade da verdade.

Por outro lado também é consenso que os amigos representativos são a maior parte. São aqueles que não tem tempo nem foco para um convívio mais frequente. Os contatos com esses amigos acontecem principalmente em reencontros mais amplos, onde prevalecem cumprimentos efusivos seguidos de conversas eufóricas e rápidas, com a proposição de um novo encontro brevemente. As ocasiões podem se dar num encontro de colegas de uma escola na qual se formaram no mesmo ano, no casamento de um filho, na posse de alguém num cargo de relevância e poder, nos velórios de amigos ou familiares…

Talvez valha a pena até fazer uma analogia da amizade com a democracia, pois esta também possui a modalidade participativa – mais rara – e a representativa, a predominante. Nesse caso basta-nos a lembrança daqueles candidatos de partidos políticos que só nos procuram ou nos acessam em tempos de eleições…

Não raro, as conversas sobre amizade terminam em tentativas de entender as causas para que os amigos participativos estejam cada vez mais escassos. Com esses amigos com quem converso, tento encontrar formas e medidas pra ajudar cada um a polir suas amizades. Só que, é claro, não é fácil chegar a um generoso consenso nem colocar em prática as medidas sugeridas. Mesmo que em nome da amizade.

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