Os caminhoneiros e a reforma tributária
Podemos observar e analisar a paralisação, greve ou locaute dos caminhoneiros das empresas de grande, médio e pequeno porte – bem como dos motoristas autônomos – sob diversos ângulos. Escrevendo este texto na tarde do dia 24/5, quero destacar apenas dois deles.
O primeiro se refere à política de preços dos combustíveis, praticada pela alta direção da Petrobras nos últimos 2 anos. A orientação para equiparar os seus preços aos praticados no mercado internacional superestimou a capacidade do mercado interno para assimilar rapidamente uma dose tão forte – e em pouco espaço de tempo – de reajustes semanais e às vezes até diários. No afã de recuperar logo o valor de mercado da empresa e distribuir dividendos para os acionistas, depois de virem à tona as tenebrosas transações que abalaram a empresa e o mercado, foi mudada a política de reajustes. Mas melhor seria ter agido de maneira gradual e num horizonte mais longo.
Agindo de forma obsessiva e reiterando sempre a autonomia da empresa, o presidente Pedro Parente e sua diretoria deixaram de lado a compreensão dos impactos gerados no longo período em que os subsídios aos combustíveis faziam parte do combate à inflação. Ainda que discordem da política anterior, faltou avaliar melhor os efeitos da valorização do Dólar em relação ao Real e a recuperação dos preços do barril de petróleo, que partiu dos U$30 e já chegou aos U$80, enquanto a meta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo é chegar aos U$95. A realidade mostrou que não existe capacidade de processo para aguentar essa verdadeira “overdose” de aumentos de preços. A frágil retomada da economia brasileira nos faz relembrar o dito popular que recomenda “cuidado com o andor, porque o santo é de barro”.
O segundo ponto coloca em cena a sempre falada e adiada reforma tributária. Ao explicitar que o preço da gasolina tem 71% de tributos em sua composição e o óleo diesel 50%, a Petrobras coloca em debate a imensa carga tributária que incide sobre seus produtos. Mostra, também, que cabe aos estados da federação reavaliar o ICMS, com alíquotas que vão de 29% a 31%, e também à União Federal, que recolhe 14% para o PIS/Cofins.
Tudo isso acontece enquanto o lento e desfocado Presidente da República está totalmente fragilizado, rejeitado pela população e abandonado pelos que o ajudaram a chegar ao posto. Também pudera, ele se tornou um ativo tóxico para qualquer pré-candidato à sua sucessão. Mas será que ele aguentará chegar até outubro, pois quanto pior, pior mesmo e o Brasil optou pelo rodoviarismo em sua estratégia de desenvolvimento.