O filme da minha vida
* por Sérgio Marchetti
Outro dia assisti ao filme mais recente de Selton Melo, “O Filme da Minha Vida”, baseado no romance “Um Pai de Cinema”, do chileno Antonio Skármeta. O enredo me atraiu muito e, mesmo não entendendo nada de cinema, gostei das interpretações desde os protagonistas Johnny Massaro (Tony), Ondina Clais (Sofia) do francês Vincent Cassel (Nicolas), Selton Mello (Paco), Bia Arantes (Petra) e Bruna Linzmeyer (Luna), além dos meninos e, principalmente, de Rolando Boldrin, que infelizmente aparece pouco na tela, mas com carisma e essência que valorizam o filme. É um condutor de trem e de sonhos.
Tony adorava o filme “Rio Vermelho”, com John Wayne e Montgomery Clift nos papéis principais. Chega a ser emocionante seu olhar para a tela. Não. Não se preocupem. Fiquem tranquilos. Não vou narrar o filme para não tirar a graça de quem deseja assisti-lo. Mas como diz Rolando Boldrin: uma conversa leva a outra. Então, o filme e esta conversa me levaram a pensar também no filme da minha vida.
Antes, devo dizer que nada era mais belo do que os filmes de Tarzan nas matinês de domingo, em minha Barbacena, quando o Concerto Nº 1 de Tchaikovsky enriquecia nossos ouvidos e nos preparava para a sessão e o apagar das luzes. Para mim, a descoberta do cinema foi um dos eventos mais fascinantes que já vivi. Também me apaixonei por “Sansão e Dalila” e me revoltei com a morte dele. E, embora fosse uma criança, convenhamos, as duas atrizes, Angela Lansbury e Hedy Lamarr eram maravilhosas. Talvez, na minha visão, Hedy Lamarr tenha sido a mais bela atriz da história.
Não vou citar todos os filmes que preencheram minha vida, pois adoro uma película e muitas delas estão passando em minhas lembranças neste momento. Destaco o grandioso (e longo) “E o vento levou”. Um filme de Victor Fleming e George Cukor com Vivien Leigh, Clark Gable, Leslie Howard, Olivia de Havilland. Construído em 1939 e lançado em 1940, com duração de 3horas e 58 minutos; literalmente um filmão. Um só filme com três gêneros: guerra, romance e drama. Foi peculiar, pois revolucionou a essência dos filmes da época. O herói era um aventureiro, a heroína uma moça que flertava com vários rapazes, mas que desejava mesmo era Ashley (Leslie Howard), um homem comprometido. Bem, no final não há o happy end, o casal de protagonistas não fica junto, conforme era de praxe na maioria das produções daquele tempo.
Mas o filme da minha vida foi “Romeu e Julieta”. Um filme dirigido por Franco Zeffirrelli e estrelado por Leonard Whiting (Romeu Montecchio) e Olivia Hussey (Julieta Capuleto). Os diálogos rimados, o vocabulário rico, a elegância da produção e a maravilhosa música “A Time for us” que penetrava o fundo de minha alma e fazia meus olhos verterem lágrimas, enquanto seguia o cortejo fúnebre de Romeu e Julieta. Eu, menino sonhador que era, me identifiquei com o casal e com a intensidade daquele amor, sem saber que, até no filme, tanta pureza e tanto amor seriam impossíveis de uma realização.
Que saudades do Cine Acaiaca, de Romeu, de Julieta, da minha infância, dos amigos, dos meus sonhos de menino…
De repente, me dou conta de que acaba de passar um filme em minha memória – talvez o verdadeiro filme da minha vida.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.