Aposentou e surtou

por Luis Borges 16 de outubro de 2018   Pensata

A aposentadoria do trabalho é um tema que mexe de muitas maneiras com as pessoas em seu curso de vida. E acaba gerando preocupações enquanto o tempo de labor vai maturando até se cumprir os requisitos necessários conforme as regras definidas pelas leis. A premissa é que tudo caminhe na mais santa paz. Mas como a vida é um risco, inclusive no trabalho, muitas são as causas que podem adiar ou mesmo limitar as condições que regerão uma determinada aposentadoria. Dá para imaginar as apreensões geradas por propostas de reforma da previdência social privada e dos regimes próprios dos servidores públicos em busca de um equilíbrio das contas públicas que impacta nos direitos adquiridos, inclusive de castas.

Digamos que, ainda assim, chega o momento em que é possível se aposentar e muitos são os casos daqueles que quase nem aguentavam continuar trabalhando até completarem as condições necessárias. O que fazer para prosseguir no curso da vida após o dia seguinte à aposentadoria ou depois do quadragésimo dia?

Esse tipo de planejamento não foi feito pelo assistente administrativo Rominho Talarico, que se aposentou aos 57 anos no final de 2017. Desde então ele passou a ficar em casa praticamente o tempo todo, sem muita definição clara do que fazer e, ao mesmo tempo, tentando se mexer aleatoriamente em busca de atividades para encontrar coisas para preencher o dia. Ler jornais, ouvir emissoras de rádio, assistir à programação da televisão e atuar nas redes sociais digitais foi um bom começo, mas não demorou muito a ficar um pouco enfadonho, ainda mais diante de confrontos regidos pela intolerância, raiva e ódio.

Fazer compras em padarias, sacolões e supermercados para suprir necessidades da semana ou do dia, sempre pesquisando melhores preços, acabou gerando fadiga na relação com a esposa, aposentada alguns anos antes, por divergências em relação às quantidades, marcas, preços e formas de pagamento. Isso levou a seu afastamento da atividade para preservar a duradoura relação de todo o tempo de seu trabalho profissional, quando não participava desse tipo de atividade. O jeito foi focar mais no futebol e acompanhar tudo de seu time do coração em todas as competições disputadas. Logo veio uma restrição por parte da esposa ele não poderia gritar ou berrar o nome do seu time em caso de um gol assinalado, apenas manifestar discretamente a sua satisfação.

Nesse contexto do cotidiano acabou surgindo mais uma atividade para Rominho. Seu neto mais novo, de quase um ano, passou a ficar em sua casa durante o dia para que sua mãe voltasse ao trabalho na sala de aula de uma escola municipal. Avô e avó passaram a se dedicar prioritariamente ao neto, com muito amor e crescente admiração por todos os seus feitos no processo de crescimento. Acontece que no final de setembro, após três meses cumprindo a missão, o avô já demonstrava grande ansiedade para que o neto dormisse nos horários planejados, principalmente no meio da tarde. Todos os barulhos gerados pelo edifício de 4 andares e também 4 apartamentos por andar passaram a incomodar cada vez mais ao avô que, aliás, mora no primeiro andar. Manobras de carros e motocicletas na garagem, música alta nos dois apartamentos de cada lado do seu, crianças brincando no corredor fazendo algazarra e outros acontecimentos mais típicos de um condomínio residencial acabaram “tucicando”, incomodando cada vez mais o dia-a-dia de Rominho.

Foi assim que ele acabou surtando na tarde da sexta-feira 28 de setembro, quando totalmente descontrolado partiu para o ataque a seus vizinhos, falando muitas asneiras e exigindo que naquele horário prevalecesse a lei do silêncio. Logo alguém acionou a polícia, que não apareceu de imediato, enquanto uma moradora do segundo andar tentava localizar o síndico. Instalado o caos, só algum tempo depois as coisas foram voltando à serenidade.

Desgastado e deprimido com os acontecimentos Rominho Talarico chamou a família, inclusive o genro, para uma reunião onde expôs os seus transtornos de ansiedade. Segundo ele a causa principal era não ter se preparado para viver fora dos aposentos após ter se aposentado há apenas nove meses. Pediu ajuda para começar a fazer o que não foi feito por ele e nem pela sua esposa. Também pediu à filha e ao genro que buscassem rapidamente uma solução para o neto, que poderia ser uma creche, por exemplo. Finalmente disse que procuraria ajuda médica até superar a fase mais difícil da qual espera sair brevemente. De lá para cá já se passaram 18 dias.

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Contador de histórias

por Convidado 12 de outubro de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Quando era criança, enquanto meus amigos e irmãos vislumbravam um futuro como médicos, engenheiros, advogados, eu dizia que seria contador de histórias. Tal aptidão deixava meu pai desesperançoso, pois o pragmatismo era, como ainda é, sua doutrina.

Um tio emprestado, também não satisfeito com minha opção, disse-me que contador de histórias não era profissão. Era coisa de professora primária. Eu deveria pensar melhor e ser um doutor “adevogado”. De fato, lembro-me – e com saudade – que nos antigos grupos escolares, obrigatoriamente, as professoras (ainda não eram tias) nos contavam histórias. Eu adorava ouvi-las.

Mas as histórias não se resumiam às aulas. Meus avós contavam histórias melhores ainda. Nunca vou me esquecer de que minha bisavó italiana perdeu um filho durante sua viagem de navio para o Brasil. Segundo narrava meu avô, filho dela, em apenas 15 dias minha bisavó branqueou todos os fios de cabelo. A perda fora grande demais. De histórias tristes às mais amenas todas sempre me agradaram e ainda agradam. Os amigos de meu irmão atribuíam a ele uma história muita curiosa: quando ele era muito pequeno ganhou um relógio Lanco de nosso pai. Posteriormente, esse irmão foi passar férias na fazenda de nosso avô e, por lá, para sua tristeza, acabou perdendo o relógio. O tempo passou. Quinze anos depois meu irmão caminhava pela mata quando decidiu parar para descansar sobre o tronco de uma frondosa árvore. O silêncio era total. E foi justamente naquele momento que, de olhos fechados, ouvindo o som do silêncio, meu irmão captou um ruído que lembrava o batimento cardíaco. Pasmem, meus perseverantes leitores. Era o batido do relógio perdido. Sim, ele era automático e com o crescimento da árvore o milagroso relógio nunca deixou de funcionar. “É verdade Terta?”

Mudando de contexto e de ambiente, as empresas estão redescobrindo a importância de criar histórias para que seus stakeholders e clientes possam sentir a essência que vem sendo perdida num mundo tecnológico, frio, calculista e sem tempo para entender ou exercitar a visão sistêmica.  A empresa fabricante do relógio Lanco poderia explorar a história para proclamar sua qualidade e durabilidade.

Segundo a revista Exame, uma pesquisa recente feita pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) com 159 executivos, indicou que 45% conhecem aplicações de storytelling no mundo corporativo; 27% afirmaram que sua empresa a utiliza em alguma área e 22%  afirmaram que a praticam na organização.

O crescimento do fator storytelling é iminente, a exemplo de empresas como Ritz-Carlton Hotel, Sodexo Health Care, Hospital Albert Einstein entre tantas outras que desenvolveram histórias e obtiveram resultados excelentes.

Não me tornei engenheiro, nem médico e muito menos advogado. Tampouco  consegui ser um bom contador de histórias. Mas continuo adorando ouvi-las e acreditando que são formas infalíveis de envolvimento e aprendizado, seja nas empresas ou nas escolas. E conforme Cícero, a história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida e anunciadora dos tempos antigos.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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A tia vai bem. Será?

por Luis Borges 9 de outubro de 2018   Pensata

Nesses tempos de elevado consumo de bens e serviços advindos dos diversos níveis do aceleradíssimo avanço tecnológico o mais frequente é cada um cuidar de si, preferencialmente dentro de algumas bolhas específicas, o que não é novidade para quase ninguém. Acaba sendo uma mera constatação. Mas e daí? Pode até sobrar para muitos de nós uma boa oportunidade para combater a solidão numa rede social digital ou mesmo numa relação bilateral e de maneira muito rápida pelo WhatsApp, por exemplo.

Entretanto fico pensando se além do texto, do áudio, do vídeo encaminhado, do pescoço dolorido, das ressecadas córneas dos olhos e de alguns dedos das mãos doendo se ainda é possível resgatar outras formas de contato com as pessoas, bem mais utilizadas nos tempos de outrora, com calor humano, afetividade e respeito mútuo.

Mas como fazer isso acontecer no tempo que urge sem gestão e na sobrevivência cotidiana que cobra permanentemente uma resposta em tempo real? E o pior é que ainda sobra tempo para a solidão, que os dispositivos tecnológicos não dissipam. Surge aí um espaço para reflorescer o propósito do reequilíbrio como na aurora de uma primavera que surge após longo e frio inverno. Melhor seria visitar a idosa tia solteira, irmã da finada mamãe, do que perguntar pelo WhatsApp ao irmão, ao primo ou à prima como vai a tia, se ela está bem sem necessariamente se preocupar em visitá-la ou saber se precisa de uma ajuda material ou de um pouco da presença do sobrinho que há tempos não comparece à sua casa. Até fico com a sensação de que a prevalência é da curiosidade mórbida alinhada com a necessidade de aparecer bem na fita, principalmente se da tia sobrar uma parte da herança a ser distribuída assim que seus olhos se fecharem definitivamente.

Essa menção à tia tão mais querida quanto abandonada que faço aqui pode ser considerada um exemplo genérico, mas verdadeiro, sobre nossas posturas em relação a outros parentes próximos, aos poucos amigos feitos nos tempos da universidade, inclusive na militância política estudantil, aos dois ou três colegas de trabalho que se tornaram nossos amigos ao longo de uma trajetória no serviço público, numa empresa estatal ou privada e até mesmo um vizinho de um bairro da cidade em que moramos noutros tempos. A tecnologia que pode facilitar a aproximação cada vez mais veloz entre as pessoas é a mesma que também pode facilitar o afastamento pelo excesso de acessos sem nenhuma presença física. Até o bom dia ou boa noite cotidiano no WhatsApp torna-se cansativo, frio e cada vez mais visualizado sem se prestar nenhuma atenção. É como se fosse apenas dar vazão a uma imensa ansiedade de estar ligado a qualquer coisa.

Você também tem refletido sobre o distanciamento ou mero afastamento cada vez mais frequente entre os humanos ou isso não está no foco das suas preocupações?

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 6 de outubro de 2018   Curtas e curtinhas

Tarifas públicas e inflação

Como sempre tem acontecido nos últimos anos, também para 2019 projeta-se aumentos superiores à inflação medida pelo IBGE para os preços dos serviços administrados pelo Governo Federal. Para um índice oficial de 4,2% ao ano estima-se que as tarifas públicas tenham aumento médio de 6%. É bom lembrar que a média mascara os extremos, como os que tem ocorrido com os aumentos de preços da energia elétrica, gasolina, óleo diesel, gás de cozinha e passagens de ônibus, por exemplo. Pelo visto quem mais continuará perdendo será o poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores que, quando muito, conseguem repor as perdas salariais pelo índice oficial da inflação.

Suicídios e assassinatos de índios brasileiros

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e criado em 1972, divulgou o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados de 2017. Ele registra o suicídio de 128 índios no ano, 22 a mais do que em 2016, sendo a maior incidência no estado do Amazonas com 54 e no Mato Grosso do Sul com 31 casos. Já os assassinatos foram 110, com maior prevalência nos estados de Roraima (33 casos), Amazonas (28 casos) e Mato Grosso do Sul (17 casos). Em relação à mortalidade de crianças de 0 a 5 anos, dos 702 casos registrados, 236 ocorreram no Amazonas, 107 no Mato Grosso e 103 em Roraima.

Segundo o Censo do IBGE, em 2010 o Brasil tinha uma população estimada em 817 mil índios. Mesmo vivendo sob a tutela do Estado através da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) o que não falta para eles são problemas que passam pela propriedade de suas terras, segurança, saúde, educação…

Clínicas populares já fazem cirurgias

A saúde é um direito de todos e um dever do Estado segundo a Constituição Brasileira de 1988, mas o SUS não conseguiu, ao longo desses 30 anos, suprir todas as necessidades em termos de quantidade e prazos para atender a todas as demandas num tempo adequado.

Sobrou um espaço para os serviços particulares prioritariamente voltados para as pessoas de alta renda e os planos de saúde regulamentados e fiscalizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Após a recessão econômica iniciada em 2015, que gerou grande desemprego e maior procura pelo SUS, os planos de saúde também perderam muitos clientes por incapacidade de pagamento de seus altos preços, mesmo com os limites técnicos de suas modalidades.

Nesse vácuo surgiram as clínicas populares, que proliferam a cada dia em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte bem como em muitas localidades de médio porte. Elas começaram com os serviços de apoio ao diagnóstico, os chamados exames laboratoriais e de imagens, a preços bem mais acessíveis. Em seguida se somaram as consultas de diversas especialidades, variando na faixa de R$50,00 a R$140,00. Diante do sucesso da iniciativa agora chegou a vez das cirurgias de pequeno porte feitas nas próprias clinicas ou em hospitais privados conveniados, que vendem seus horários ociosos, principalmente de sexta a domingo. No entanto é obrigatório que a clínica popular seja registrada no Conselho Regional de Medicina, bem como seu diretor técnico e os profissionais que nela trabalham. É o mercado da saúde se reinventando para continuar garantindo os seus ganhos.

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Sabe daquele momento em que as instalações hidráulico-sanitárias da sua residência ficam entupidas ou com vazamentos ocultos? E quando a máquina de lavar roupas ou louças, a televisão ou o computador se estragam um após o outro e em pouco tempo? Se cair um raio já imaginou o possível estrago coletivo na queimada geral? Com ou sem seguro só nos resta providenciar o conserto, mas também pensando no benefício e custo de tudo isso bem como se cabe no bolso e de qual forma.

Digamos que a opção foi por consertar o que se estragou. Mas quem fará o conserto? Uma empresa de assistência técnica instalada no mercado ou um profissional que trabalha por conta e risco próprio, com preços mais acessíveis? Aliás, também estão à disposição o trabalhador informal e os que fazem um “bico” para complementar a renda. Essas modalidades estão crescendo continuamente como mostra a PNAD Contínua do IBGE, divulgada em 28 de setembro, que registra 12,7 milhões de desempregados, 23,3 milhões de trabalhadores por conta própria e 11,2 milhões de trabalhadores informais.

Mesmo reconhecendo que essas pessoas, com diferentes níveis de capacidade técnica, estão buscando a sua própria sobrevivência em função do nicho de mercado que é a prestação de serviços residenciais diversificados é importante lembrar que quem as contrata tem expectativas. O que se espera é a solução do problema com um adequado nível técnico de qualidade, preço justo compatível com a capacidade de pagamento e atendimento conforme o que foi combinado em termos de duração dos serviços, dias e horários para sua realização.

Avaliando realisticamente todo esse processo de contratação de serviços é possível verificar que existem muitas oportunidades para melhorias, principalmente para os fornecedores dos serviços e também para quem contrata. Tudo deveria começar com a especificação detalhada do serviço a ser prestado, o que raramente acontece, o resultado esperado e todas as condições definidas num contrato assinado pelas partes envolvidas, embora a prática atual mais usual seja a de combinar tudo verbalmente. Dá até para imaginar o que acontece quando surge uma dúvida ou mesmo um impasse relativo às condições para a execução do trabalho, fornecimento de insumos/materiais, acompanhamento dos serviços, mesmo de pequena duração e o tempo de garantia da qualidade do serviço prestado.

Tenho percebido, por experiência própria e de outras pessoas que contratam essa modalidade de serviços, que o índice de satisfação com os resultados tem deixado a desejar em muitos casos. Frequentemente os relatos qualitativos mostram que nem sempre os serviços começam e terminam nos dias combinados, que às vezes faltou comprar algum material por esquecimento, que o profissional contratado conversava muito ao telefone e também recebia muitas mensagens, que deixava o local sujo e que no primeiro teste o serviço feito não funcionou plenamente. É só retrabalho e mais tempo gasto.

Por outro lado é importante lembrar falhas do contratante que às vezes diminui unilateralmente a quantidade de serviços contratados e exige automaticamente uma redução no preço combinado, outras vezes acrescenta mais serviços sem falar em acréscimo de preços e não raro se desentende com o prestador de serviços por causa de pequenos detalhes não explicitados ou mesmo formas mais toscas de se expressar.

Como não tenho a pretensão de esgotar o assunto aqui, sugiro a você caro leitor uma pequena reflexão sobre as experiências que você já viveu ao contratar a prestação de serviços para a sua casa, principalmente enxergando o que pode ser melhorado na parte que cabe a cada um dos envolvidos neste processo.

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Vale a leitura

por Luis Borges 28 de setembro de 2018   Vale a leitura

A regra do jogo sempre em mudança

Se nada existe em caráter permanente a não ser a mudança precisamos sempre buscar conhecer, compreender e nos posicionar perante os paradigmas que vão caindo. É preciso também atenção aos patrulheiros e seus níveis de patrulhamento, que tentam impor seus posicionamentos e comportamentos como se fossem a única e obrigatória maneira de ser. Qual é a dosagem adequada e necessária para que as pessoas possam melhor se posicionar diante do turbilhão de coisas que vão acontecendo, ainda que algumas sejam ondas passageiras? Mas isso também precisa ser percebido e avaliado criticamente por quem está no jogo. É interessante a abordagem feita no artigo Será que a cobrança por “boas maneiras” está indo longe demais?, publicado no portal UOL.

Por exemplo, embora muitas pessoas defendam que os telefones devam ser desligados completamente, outras afirmam que deixar no modo silencioso é suficiente. O “mau” comportamento no teatro é frequentemente interpretado como egoísmo e falta de consideração com os outros. No entanto, é evidente que as pessoas têm expectativas diferentes – algumas preferem um evento “distinto”, enquanto outras almejam uma experiência mais “sociável”.

Violência na política brasileira

Quem olhar para a História Política do Brasil a partir do Império e chegar até a recente facada desferida num candidato à Presidência da República verá que atos de violência praticados de diferentes maneiras sempre estiveram presentes nestes 196 anos. É o que aborda a professora Angela Alonso em seu artigo Eliminação de inimigos políticos é constante no país desde Independência, publicado pela Folha de São Paulo.

Neste país, a violência tem sido meio recorrente de resolução de conflitos políticos. A eliminação física de desafetos nas disputas por poder é constante desde a instauração da nação independente. Em 1830, Líbero Badaró pereceu por disparo de pistola. Tiros, facadas e linchamentos, como o de abolicionistas, pontuam o falsamente pacato reinado de Pedro 2º. O próprio imperador escapou de bala republicana, em 15 de junho de 1889. Cinco meses depois, veio o golpe civil-militar, sem massacre, mas com chumbo no ministro da Marinha.

Chatice no WhatsApp

Se todo mundo tivesse um dosador de equilíbrio cujo nome genérico poderia ser “simancol”, por exemplo, talvez o convívio nos grupos de WhatsApp poderia durar um pouco mais. O duro é quando alguém cria um grupo e tenta impor compulsoriamente a participação de muitas pessoas. Para quem usa intensamente essa modalidade tecnológica para interagir no meio social torna-se importante cada vez mais fazer uma observação e análise dos resultados alcançados e, de preferência, sem muita chatice. É o que aborda Antônio Prata em seu artigo Mais um grupo de WhatsApp?!, publicado pela Folha de São Paulo.

De todos os males que o chato munido de um telefone móvel é capaz, o que tem feito mais vítimas ao redor do globo é o grupo de WhatsApp. O grupo de WhatsApp, meus amigos, é uma arma de chateação em massa. O chato que abre um grupo de WhatsApp cria um evento compulsório. É como se ele pusesse a mesa na casa dele e três, catorze, vinte e nove pessoas que não têm nada a ver com isso, que talvez nunca tenham se visto fora do escritório, pessoas que quiçá não se cruzam desde o “1° A Humanas!!!!” (esse é o nome do grupo) são obrigadas a largar tudo o que estão fazendo e aparecer pra jantar na casa do chato. Sei do que estou falando porque eu sou esse chato.

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Pelo quarto ano consecutivo está acontecendo o “Setembro Amarelo”, uma campanha que se iniciou em 2015 lançada pelo Centro de Valorização da Vida, Conselho Federal de Medicina e Associação Brasileira de Psiquiatria. O objetivo principal da campanha é conscientizar as pessoas sobre a prevenção do suicídio por meio de alertas à população sobre esta prática no Brasil e no mundo. Essas organizações defendem que a melhor forma de prevenir o suicídio é o diálogo e a discussão sobre as causas que geram o problema, o que pode contribuir para a definição adequada das principais medidas a serem tomadas em busca de uma solução para cada caso.

Melhor seria que o tema tivesse a mesma visibilidade que tem durante o “Setembro Amarelo” nos meses seguintes. Mas como toda campanha tem um tempo finito, o jeito é seguir pelejando com os meios disponíveis até se chegar novamente à maior visibilidade na campanha do próximo ano. Infelizmente até lá nos restará persistir no propósito de mostrar em todas as mídias que a não divulgação da ocorrência dos casos de suicídios pouco contribui para a solução desse problema de saúde pública. Mesmo diante do sofrimento, da dor e do luto das pessoas vale lembrar que os fatos não deixam de existir só porque são ignorados e que admitir que um problema existe já é 50% de sua solução.

Uma face triste da invisibilidade do tema “suicídio” é que temos dificuldades de perceber os sinais de alerta dados por quem pensa em tirar a própria vida. Em muitos casos, só identificamos os sinais depois que a morte acontece. O Ministério da Saúde divulgou novos dados sobre o suicídio e também um guia com sinais de alerta para amigos e familiares. Vale a leitura do material.

Outro aspecto que chama atenção é quando se levanta o número de pessoas que são afetadas pelo suicídio de alguém. Existem pesquisas mostrando que esse número em geral varia de 9 a 140 ao se considerar família, parentes, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e irmãos de fé. Muitas terão que lidar com a culpa por não terem percebido os alertas…

Se observarmos as várias possibilidades de causas e maneiras que podem levar alguém à morte – e geralmente todas com algum potencial de publicação em determinadas mídias, inclusive nas redes sociais digitais – não dá mais para esconder o suicídio. Ainda mais quando, de repente, somos confrontados por ele, quando às vezes acontece nas grandes cidades, ou ficamos sabendo de um suicídio de um amigo ou familiar.

Aproveite o “Setembro Amarelo” para se informar mais sobre o tema. E, não custa lembrar, estar disponível para amigos, familiares e nutrir boas conversas e amizades pode dar confiança e abrir caminhos para que os outros nos peçam ajuda. Ou para nos ajudarem, se for o caso.

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