A Constituição Brasileira assegura a todos nós o direito de ir e vir. Mas como ir e vir à pé, no patinete ou no veículo automotor diante da cada vez maior quantidade de pedras distribuídas de todas as maneiras pelos caminhos que trilhamos?

Moramos na cidade, num bairro, numa determinada rua e, mais especificamente, num lote em que foi construído um barracão, uma casa ou um edifício de apartamentos, por exemplo. Sair de lá e retornar para lá faz parte do processo cotidiano em busca das melhores condições de vida, trabalho e lazer. Acontece que esse ir e vir está ficando cada vez mais complicado, principalmente nos horários de maior demanda para o trânsito.

É o caso do bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, e também de diversos outros, onde é alto o índice de reclamações por parte dos moradores bem como daqueles que frequentam o bairro a lazer ou a trabalho. Quais seriam as principais causas desse problema cada vez mais crônico? Tomando como exemplo o bairro de Santa Tereza e as três ruas que dão acesso à entrada e à saída do bairro a partir da Avenida do Contorno, no bairro Floresta, para quem está num veículo, veremos que o caminho quase obrigatório – e mais usado – é a Rua Hermílio Alves, com mão direcional nos dois sentidos. Ela dá acesso ao interior do bairro pela Rua Mármore, a mais importante do ponto de vista comercial, enquanto a principal saída se dá pela Rua Salinas, que tem mão única até se encontrar com o final da Rua Hermílio Alves para daí prosseguir até o início dessa rua na esquina com a Avenida do Contorno.

Mapa de parte do bairro de Santa Tereza. | Fonte: Google Maps

É claro que uma coisa é chegar de automóvel com uma ou duas pessoas, motocicleta, bicicleta, ônibus, táxi, cada um com as suas especificidades e atitudes perante as regras do trânsito. Outra coisa é andar em qualquer das calçadas pouco amigáveis e muitas vezes ocupadas em desacordo com o código de posturas municipais. Como acredito que tudo começa com a gente vou citar inicialmente algumas causas do problema que são devidas às atitudes das pessoas.

A observação e análise dos acontecimentos mostra que o não cumprimento dos padrões definidos pela legislação de trânsito por parte de uma parcela dos condutores de veículos atrapalha muita gente de diversas maneiras. Isso vai desde a velocidade acima do limite, passa pela falta de sinalização de intenção dos condutores de veículos através de seta, farol e vai até estacionar um carro sem observar se é preciso ficar afastado pelo menos 5 metros da esquina. Também são notórios dispositivos colocados ao longo das calçadas, notadamente nas esquinas, que tiram a visão de quem vai fazer conversões à esquerda ou à direita, como acontece na Rua Mármore nas esquinas com as ruas Gabro e Ângelo Rabelo. Existem também aqueles que param seus veículos em fila dupla, com ou sem pisca-alerta ligado, os que estacionam de qualquer jeito, longe do meio-fio e abrem a porta no sentido da pista de rolamento sem olhar o fluxo do trânsito bem como aqueles que buzinam para quem está à frente ou fazem uma irritante pressão silenciosa tentando abrir passagem. Tem também os motoqueiros ultrapassando os automóveis de qualquer maneira, pela esquerda ou direita, em atos imprudentes que geram insegurança, quase acidentes e também acidentes.

Olhando pelo lado do poder público, que também é exercido por pessoas em suas diversas instâncias, é importante observar como são feitos o planejamento e a gestão do trânsito no bairro de Santa Tereza e em outros bairros da cidade. Percebo que a empresa municipal BHTRANS, gerenciadora do sistema viário, prioriza a região centro-sul da cidade e os grandes corredores, mas dá pouca atenção ao interior dos bairros. No caso do bairro de Santa Tereza várias perguntas poderiam ser feitas e melhor estudadas a partir dos fatos e dados do trânsito. Será que a atual configuração das vias do bairro, com mão única, mão dupla, estacionamento de veículos nos dois lados das pistas… ainda é a mais adequada diante da quantidade de veículos em circulação? Como estão as sinalizações nas pistas por meio de placas ou de semáforos orientadores para a circulação de pessoas que andam a pé ou nos veículos? É possível uma fiscalização presencial aleatória, ainda que por amostragem, que vá além da blitz da Lei Seca ou por meio eletrônico?

Enquanto cada um cuida de si só nos resta considerar que isso é o que temos para hoje.

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Discutir a relação

por Convidado 10 de julho de 2019   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Numa feia manhã de um domingo chuvoso, a Alma e o Corpo resolveram discutir a relação, e a primeira divergência estava na disputa para ver quem era mais importante.

O Corpo disse que não tinha dúvidas, pois sem ele a Alma não existiria. E disse mais:

– Eu tenho nome, endereço, profissão. E você? Ninguém nem sabe se existe!

– Existo sim – retrucou a Alma. – Sou eu quem lhe dá vida, seu ingrato. Sou sua essência, seu guia e toda sua existência está em mim.

– Ora, não me amoles com essas baboseiras. Você acaba de ter uma descarga de arrogância. A essência está no cérebro, no DNA, em meus aprendizados, minha inteligência e meu psicológico. Sabia que psique, em grego, é alma? – questionou o Corpo.

– Então você acabou de comprovar que existo.

– Sim, existe como papai Noel. Alma é uma invenção das religiões. Criaram-na para que as pessoas temam o castigo no juízo final. Foi uma ideia dos religiosos para gerar limites nas atitudes dos seres humanos e ter domínio da sociedade.

– Então não adiantou – replicou a Alma. –  As pessoas estão sem medo e sem fé. Ouça esta frase: “não sois seres humanos passando por uma experiência espiritual. Sois seres espirituais passando por uma experiência humana”. – Escreveu Teilhard de Chardin. – disse a Alma e continuou: leia o diálogo de Símias, Sócrates e Cebes, em Fedon (no livro de Platão). Lá, o genial Sócrates compara a lira com o corpo, e a alma com a harmonia. Ou seja, quando a lira apodrecer e estiver com as cordas estragadas não significa que a música tenha morrido também. Ela, por certo, será tocada em outro instrumento. Assim sou eu. Sairei de você e habitarei um outro ser. De forma que sou imortal e você não. Sinto muito!

– Tamanha pretensão a sua, minha cara Alma. Você por acaso está aderindo à onda de empoderamento feminino? Tome cuidado. Minha avó dizia que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.

– Não devemos discutir, meu amado Corpo, apenas devo lembra-lhe de que é mortal e, assim sendo, sua morte será iminente. Lamento por isso, porém não há como mudar essa lei. Você retornará ao pó. Enquanto que eu irei prestar contas do que fizemos.

–  Deixe de ser idiota. – contestou o Corpo. – Você tem inveja da minha beleza. Ou vai dizer que é sua também? Um corpo humano é um milagre de Deus. Poder ser visto, tocado e amado, é uma graça. Não me leve a mal e desculpe-me dizer, mas se você existe, então sua vida é uma prisão; é um castigo cuja sentença foi a de nunca ser vista por ninguém. Nem mesmo por aquele corpo que carrega. Que trágico!

– Não existe nenhum invento perfeito – retrucou a Alma. –  Posso sofrer por não ser vista, no entanto sinto emoção, tristeza e alegria por suas vitórias. Tudo que lhe acontece reflete em mim. Por outro lado, veja a sua fragilidade. Está sempre com uma dor física, uma preocupação com o envelhecimento que o transforma vinte e quatro horas por dia. Minha missão é vir com você e, juntos, vivermos sem cometer grandes falhas para acertar os erros do passado.

– Você é uma enviada especial do Allan Kardec? Faz-me rir.

– Não. Eu vim muito antes dele. Mas não vamos discutir sobre assuntos em que não temos como estabelecer pontos comuns. Ao invés de discordâncias, por que não tratamos de nossas afinidades? Estamos unidos e só a sua morte poderá nos separar.

– A nossa morte. – corrigiu o Corpo, já impaciente, e acrescentou: – deixe de ser superior… sua… imortal.

– Meu querido Corpo, se estamos dizendo verdades, então, não sei se o que vou dizer lhe consola. Contudo, saiba que quando a matéria estiver morta, ou seja, no dia em que você, o Corpo, não responder aos estímulos da vida, eu estarei viva e em possível sofrimento. Pois, a separação é mais dolorida para mim do que para você. E naquele momento, esse “nós” será apenas o “eu” e, como escreveu João (8:32) “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

–  Então será assim? – perguntou o Corpo melancolicamente.

–  Sim, meu companheiro… Naquele momento a resposta veio de uma outra voz. Era a Consciência que após escutar toda a discussão resolveu intervir para chamá-los à razão: –  nada no mundo está aqui por acaso. Tudo tem um valor. O Corpo precisa da Alma e a Alma precisa do Corpo, assim como o homem precisa da mulher e a mulher precisa do homem –  em qualquer dos casos a união é imprescindível para que haja a vida. A guerra, o ataque, o desejo de querer ser maior e mais poderoso do que o outro, por si só já demonstra sua pequenez.  A Alma tem a função de sustentar a vida espiritual e você, Corpo, tem a missão de constituir uma vida física. Mas quanto mais valor lhe atribuírem sobre a Alma, menos essência terá.  A humanidade se perdeu na busca desvairada do poder, do hedonismo e se esqueceu de trabalhar a espiritualidade –  que é o que vai contar no final.

Desculpem-me por ter invadido a conversa de vocês, mas me competia ajudá-los nessa disputa de “cabo de guerra”. Lembrem-se de que a palavra mágica para ser feliz e manter a saúde do Corpo e da Alma é equilíbrio.

– Consciência, me permita dizer algo para o Corpo? –  pediu a Alma com a voz terna.

– Sim, diga.

– Meu amado Corpo, para que saibas do meu amor, deixo-lhe um poema de Ernesto Cardenal Martínez:

“Ao perder a ti, tu e eu perdemos/ Eu, porque tu eras o que mais amava/ E tu, porque eu era o que te amava mais/ Contudo, de nós dois, tu perdeste mais do que eu/ Porque eu poderei amar a outras como amava a ti/ Mas a ti não te amarão como te amei.”

E os três se abraçaram.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Essa pergunta pode ser respondida com um “depende”. O pode ser classificada como inoportuna ou de difícil resposta nesses tempos de muita polarização em torno da visão de mundo que cada um tem.  Quem quer conservar energia deve estar atento ao que se fala ou se posta, pois qualquer interpretação enviesada pode levar à intolerância, à raiva e ao ódio, deixando de lado o respeito às pessoas de uma sociedade que se quer civilizada em seu convívio. Se as coisas estão assim no plano macro da vida ao longo do país, fico tentando observar e analisar como estão as relações entre as pessoas no nível micro do cotidiano nas ruas em que moram cercadas por vizinhos.

Para ilustrar a situação sugiro que imaginemos uma rua de apenas um quarteirão, que tem comprimento de 100 metros e é perpendicular à duas outras ruas que lhe dão acesso numa cidade como Belo Horizonte. Suponhamos também que nela existam mais casas e barracões no fundo da horta do que edifícios de pequeno porte contendo de 4 a 8 apartamentos e apenas um lote vago. É possível também imaginar que nessa rua existem moradores bem antigos, outros mais recentes que são proprietários de seus próprios imóveis bem como pessoas que moram de aluguel e que geram uma maior rotatividade em função da transitoriedade da maior parte deles. Isso faz com que frequentemente apareçam caras novas pela rua enquanto algumas outras saem de cena.

Então podemos nos colocar na condição de moradores dessa rua imaginária para avaliar alguns aspectos que podem chamar a atenção sobre o convívio cotidiano das pessoas do local. Quantos se cumprimentam com um “bom dia” ou apenas trocam um olhar com o rabo do olho ou ainda até balbuciam algumas palavras? E quantos baixam a cabeça ou fingem que não estão vendo ninguém e se tornam invisíveis? Existem também aqueles que só andam em algum veículo automotor e já saem da garagem com os vidros fechados e bastante atentos ao pequeno trânsito, o que não lhes permite ficar olhando para alguém que esteja na calçada. Dá até para pensar se existem vizinhos que se frequentam ou se aqueles que conversam preferem fazer isso nas calçadas ou mesmo falar com voz um pouco mais alta com quem está na janela da casa do outro lado da rua.

Outro aspecto que mexe com muitos moradores é a coleta do lixo domiciliar. Nem todos observam o horário de coleta nem os dias. Acabam por colocá-lo na calçada a qualquer momento, inclusive nos finais de semana em que não há coleta e, algumas vezes, o lixo doméstico é acompanhado por bens que o caminhão de lixo não recolhe. Se alguém tentar educar o vizinho indisciplinado fica difícil prever a sua reação e até mesmo a animosidade que poderá ser gerada.

E qual é a sua reação quando o visitante do seu vizinho para o carro na porta de sua garagem? Como fica sua paciência quando o alarme do carro ou da casa/prédio de vizinhos começa a disparar? E quando o cachorro de alguém começa a latir insistentemente ou o gato de algum vizinho pula o muro de sua casa para miar no seu jardim? Tem também o galo de outro vizinho que canta a partir das 4h da madrugada ou os pombos batendo asas em busca do alimento colocado na calçada por um outro vizinho. Também é inesquecível o vizinho que começa a lavar o carro todo sábado às 7 horas ouvindo música com o som nas alturas.

A segurança de pessoas e bens é sempre uma preocupação, mas formar uma rede de vizinhos protegidos é muito desafiante e mantê-la funcionando é um desafio ainda maior. Não sei se você ou algum vizinho já pensou em fazer algo semelhante em sua rua. Ao mesmo tempo fico me perguntando que vizinhos tem o número do telefone, e-mail ou WhatsApp daqueles que estão mais próximos e quantos ficam sabendo em tempo quase real se algo mais preocupante aconteceu com algum morador.  Pode ser um ato de violência, um roubo, um problema grave de saúde ou até mesmo um caso de morte que vai se descobrindo aos poucos, por exemplo.

Não tenho a pretensão de citar aqui tudo o que pode acontecer num quarteirão de uma rua e nem seria possível. Mas você teria outras situações para narrar que podem impactar o convívio entre vizinhos?

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A moradia é uma das necessidades básicas do ser humano segundo Abraham Maslow (1908-1970) e não é para menos. Se é grande a luta de quem busca conseguir ter a sua própria moradia e ficar livre do imóvel alugado dá para imaginar o que é a dor e a delícia de residir num espaço próprio, mesmo financiado, num edifício com 6, 12, 24, 50 ou 100 apartamentos de tamanho médio, variando na faixa de 40 a 80 m².

Ainda que exista toda uma legislação e um regimento próprio de cada condomínio é muito comum ouvirmos narrativas de acontecimentos de todos os tipos envolvendo pessoas que moram ou circulam nesses espaços. Na maior parte das vezes as causas dos problemas gerados, inclusive os mais bizarros, estão no desconhecimento e descumprimento dos padrões que regem os edifícios e na falta de disciplina de boa parte dos moradores para respeitar as regras do jogo. Tudo pode começar na Assembleia geral do condomínio, com baixo comparecimento dos interessados na maioria das vezes, ocasião em que são tratados os assuntos de interesse dos moradores, entre eles a eleição do síndico e subsíndico. É comum quase ninguém querer assumir o papel de síndico e é também comum que muitos moradores se posicionem contra a contratação de um síndico profissional para não aumentar ainda mais a taxa de condomínio.

Recentemente tomei conhecimento do caso de uma assembleia geral de um edifício à qual compareceram representantes de 7 dos 12 apartamentos existentes, fato que foi considerado uma grande vitória e um alento para os que acreditam na possibilidade de uma vida civilizada e respeitosa no espaço comum. Como também já passei pela experiência de ser síndico de um edifício residencial em outros tempos percebo hoje que as dificuldades ainda são muitas principalmente nesses tempos de intensa polarização da sociedade. Nesse sentido não é raro constatar que existem moradores dos edifícios, seja em apartamentos próprios, alugados de acordo com a lei do inquilinato ou mesmo para curtas temporadas, que se comportam de maneira desrespeitosa e deixando a sensação que podem fazer o que quiserem no espaço em que estão morando e nas áreas comuns. Cabe aos vizinhos se acostumarem com a balbúrdia gerada.

Podemos até fazer uma lista contendo diversos outros acontecimentos que surpreendem e incomodam ao longo do dia, da semana ou do mês. A lista poderia começar pelos moradores de um apartamento que ouvem música de qualquer gênero num alto volume. Continua no desrespeito aos limites demarcatórios das vagas para veículos nas garagens, nos animais soltos que deixam suas “marcas” nas áreas comuns desacompanhados dos donos, nos visitantes barulhentos, nas festas igualmente barulhentas até altas horas, nos prolongados churrascos espalhando cheiro e fumaça para os vizinhos, no portão da garagem e da entrada social destrancados ou simplesmente abertos demonstrando desatenção e despreocupação com a segurança… Você pode se lembrar de outras coisas que incomodam e surpreendem.

Alguns destaques especiais merecem ser citados com mais ênfase. Podemos começar pelos moradores reclamões, que se queixam de tudo, a começar pelo mau cheiro da garagem causado pelo lixo que eles mesmos deixaram lá por não observarem os dias em que a coleta é feita no local. Também não dá para esquecer os condôminos que não pagam a taxa de condomínio no dia marcado e aqueles que prolongam esse atraso por meses e ainda fazem cara feia quando são cobrados, mas provavelmente reclamarão com o síndico se faltar água, se o portão eletrônico estragado não for consertado, se houver lâmpada queimada, se o prédio estiver sujo… O último destaque pode ser dado ao grupo de WhatsApp que existe em muitos condomínios onde são feitos os comunicados do síndico sobre os assuntos de interesse comum a todos os moradores que, aliás, também postam perguntas, reclamações e temas diversos que nem sempre interessam a todos.

Diante de tudo que foi falado pode até surgir a clássica dúvida sobre se é melhor morar num apartamento ou numa casa e até mesmo se existem condições que nos permitem fazer tal escolha. Mas de qualquer maneira cada caso é um caso.

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Só resta a outra metade do ano

por Luis Borges 30 de junho de 2019   Pensata

Os primeiros seis meses do ano já se foram, deixando no rastro um legado de incertezas e desconfianças que não nos ajuda a saber com alguma clareza para onde vamos. Mas ainda assim é preciso parar ligeiramente, mesmo que no ar, para avaliarmos nossas percepções em relação às expectativas até então existentes para o semestre que está se findando.

Isso deve ser feito para os mandatos do Presidente da República e dos Governadores dos estados, eleitos em outubro do ano passado, com a certeza de que quanto mais o tempo avança fica mais difícil de encontrar culpados para justificar o não encaminhamento de soluções sustentáveis para resolver os problemas crônicos existentes. Tenho a sensação de que o tempo continua passando indelevelmente, como é da sua natureza, enquanto os eleitos ainda não conseguiram mostrar a que vieram e que planejamento estratégico formularam para nortear seus mandatos. Não basta dizer que foram eleitos pelas urnas, como se isso fosse um passaporte automático para ficarem sentados na cadeira até o último dia do mandato fazendo o que dá na cabeça.

Podemos e devemos estabelecer parâmetros para avaliar e medir o desempenho dos governantes, que devem gerenciar pela liderança e não pelo comando. É claro que todos precisam ter uma capacitada equipe de assessores para trabalhar na formulação consistente de suas propostas, sem revogar a lei da gravidade e com o devido respeito à Constituição do país e dos estados.

Só para ilustrar a importância da avaliação de desempenho para impulsionar a busca da melhoria contínua vou citar aqui uma pesquisa de opinião sobre a atuação Governo Federal feita pelo Ibope para atender uma encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) cujos resultados foram divulgados no dia 27 de junho. Por mais que se fale e se questione resultados de pesquisas dessa natureza é forçoso reconhecer que eles trazem parâmetros que podem ajudar a melhor compreender a distância entre o sucesso e o fracasso na visão dos participantes da amostragem feita. Nessa pesquisa, realizada entre os dias 20 e 23 de junho com 2.000 pessoas em 126 municípios, o governo do Presidente da República foi considerado Bom/Ótimo por 32% dos entrevistados, Regular também por 32% e Ruim/Péssimo por outros 32%. A margem de erro é de 2%. A comparação com a pesquisa anterior realizada pelo Ibope em abril mostra uma piora na avaliação, já que o índice de Bom/Ótimo era de 35%, Regular 31% e o de Ruim/Péssimo era de 27%.

A pesquisa também mediu a reação dos entrevistados à maneira de governar do Presidente e mostrou que o percentual de desaprovação cresceu de 40% para 48%, enquanto a aprovação recuou de 51% para 46%. A confiança no Presidente também diminuiu. O percentual dos que confiam nele passou de 51% para 46% e os que não confiam aumentou de 45% para 51%.

Como se vê, a observação e análise desses dados e de outros recortes da pesquisa podem trazer mais informações para quem quer melhor compreender o que está acontecendo no plano federal. O mesmo pode ser feito para os governos estaduais.

Pessoalmente percebo que entre erros, acertos, “bateção” de cabeças, polarização da sociedade, fake news no varejo e no atacado, 13 milhões de desempregados e 4,9 milhões de desalentados, projeção de crescimento do PIB de apenas 0,8% até o momento, reforma da previdência deixando de fora os militares, anúncio de uma barulhenta novidade a cada dia… se a economia não retomar um crescimento sustentável as incerteza e desconfianças prosseguirão cada vez maiores. Até quando será possível aliviar as tensões crescentes do barril de pólvora do país, que é tão desigual e injusto? Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados, negados ou justificados por causa de culpados.

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O professor é aquele que ensina ao doutor num processo que começa na mais tenra idade e vai até onde as pessoas conseguem ir na educação continuada. O que todos esperam é que os professores estejam sempre preparados para cumprir a nobre missão de ensinar e aprender na interação com seus alunos. Tudo deve partir das premissas de que não existe substituto para o conhecimento e de que a educação é a base de tudo. A crença é de que devemos partir dos fundamentos para os conceitos, suas aplicações e o atingimento dos resultados esperados. Mas como todos estamos cansados de saber e denunciar, nem tudo são flores para o professor em todos os níveis educacionais. É só parar um pouco e começar a fazer a lista de dificuldades de todos os modos que existem ao longo do caminho.

O que quero contar aqui se refere a pedras não imaginadas que surgiram no caminho de um professor de um curso de pós-graduação, nível de especialização – sentido amplo, em Gestão Estratégica de Negócios ofertado ao mercado por uma fundação sem fins lucrativos, mas não filantrópica, cuja sede fica na cidade de São Paulo. O fato é que a crise econômica atingiu em cheio o curso, que respondia por 70% do faturamento da fundação, e o número de turmas vendidas por semestre em todo o país, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, caiu em torno de 50% nos últimos 2 anos.

O reposicionamento estratégico indicou a necessidade de uma inovação na estrutura curricular para aumentar a qualidade atrativa do produto, que era o mesmo desde o seu lançamento há 9 anos. De cara, foi admitido um novo coordenador para o curso, que exigiu a contratação de um assistente operacional de sua confiança. A primeira medida tomada foi redesenhar o curso em nome da inovação, sem pesquisar o mercado para verificar qual era a necessidade que seria atendida pelo curso “inovado” e de quem era essa necessidade. Ao começar a agir direto pelo “como fazer”, na ansiedade de alcançar resultados rápidos, a primeira medida foi cancelar algumas disciplinas e criar outras denominações que estão na moda, numa mudança muito mais cosmética do que consistente. O assistente do novo coordenador implementou as mudanças como um trator e sem coragem para conversar com os professores que tiveram suas disciplinas extintas, todos lecionando na fundação como pessoas jurídicas. Só afirmou que eles continuariam na lista de fornecedores da fundação caso surgisse alguma necessidade num momento futuro.

Então, sentindo na pele uma espécie de “demissão branca”, o professor que era o melhor avaliado pelos alunos numa série histórica de nove anos quis entender os parâmetros que foram utilizados para justificar as decisões tomadas pela nova coordenação. O assistente operacional tentou justificar dizendo que o professor questionador foi mal avaliado por uma turma, com a nota 8,2 numa escala de 0 a 10. O professor rebateu o assistente perguntando se ele havia lido suas outras 26 avaliações em que suas notas variaram de 9,3 e 9,8 em função da avaliação de quesitos como domínio e conhecimento do assunto, clareza e objetividade na exposição, capacidade de prender a atenção da turma, esclarecimento de dúvidas e cumprimento do programa. Sem argumentos para contestar o melhor professor segundo a avaliação dos alunos só restou ao assistente encerrar a conversa bruscamente, dizendo que as mudanças foram feitas para atender as exigências do mercado e recuperar a fatia perdida pela fundação. Arrematou dizendo que, infelizmente, aconteceu a dança das cadeiras e ele ficou sem espaço na nova configuração e que o passado glorioso não garante nada no presente.

Você já passou por uma situação desrespeitosa como esta em que os que deveriam ser líderes atuam como feitores correndo atrás do atingimento de metas malucas que jamais serão alcançadas?

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Vale a leitura

por Luis Borges 23 de junho de 2019   Vale a leitura

É especialista que não acaba mais!

A todo instante nos deparamos com alguém se dizendo especialista em alguma coisa nos diversos segmentos do mercado. Mas, afinal de contas, que critérios poderiam ser usados para definir o que é um especialista? Uma proposta foi feita por Ronaldo lemos em seu artigo Afinal, o que é ser um especialista?, publicado pela Folha de São Paulo.

“Especialista é todo aquele que investiu ao menos 10 mil horas de prática em um determinado assunto. Por exemplo, essa é a média de tempo a que um violinista de talento reconhecido globalmente se dedica sozinho antes da fama”.

Dinheiro emprestado pode gerar muitas perdas

Tudo está mais difícil nesses cinco anos de pífio crescimento da economia brasileira, e o que é pior, são poucas as perspectivas de melhorias importantes num horizonte de médio prazo. A estratégia continua sendo a de sobrevivência e muitas vezes o que fica mais próximo e visível é pedir a um parente, colega ou amigo um dinheiro emprestado, de preferência sem juros, com prazo de pagamento tão logo aconteça a restituição do Imposto de Renda, por exemplo. Será que esse é o melhor caminho diante de um aperto mais bravo, mesmo colocando em risco as relações pessoais diante de uma inadimplência jamais pensada? Como diz o ditado popular “amigos, amigos, negócios à parte”. Conheça a abordagem sobre o tema feita por Julia Mendonça no artigo Não empreste dinheiro para o melhor amigo, o cunhado e nem mesmo a sua mãepublicado em seu blog.

Você passa um bom tempo estudando, fazendo planejamento financeiro, economizando cada centavo para que, um belo dia, algum conhecido venha com aquela frase já manjada: “Estou precisando de uma graninha urgente! Tem como quebrar esse galho para mim? Juro que te pago de volta”. Pronto! Os problemas começaram! A situação é incômoda, pois você fica num dilema: se emprestar, não terá esse dinheiro novamente e, se não emprestar, será considerada a pior pessoa do mundo.

Fiador, caução ou seguro fiança locatícia?

De vez em quando ficamos sabendo de um caso, que acaba se repetindo, em que uma pessoa física avalizou outra no aluguel de um imóvel, por exemplo, e no fim de tudo acabou pagando o pato para não ficar com o nome sujo e evitar a penhora do imóvel garantidor da transação. O constrangimento acaba sendo grande para todos os envolvidos e sabe-se lá como tudo terminará. Outras alternativas para substituir o fiador são a caução ou o seguro fiança locatícia, que também podem não estar ao alcance de quem poderia lançar mão delas. É o que aborda Márcia Dessem em seu artigo Procura-se um fiador, publicado pela Folha de São Paulo.

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