A Constituição Brasileira assegura a todos nós o direito de ir e vir. Mas como ir e vir à pé, no patinete ou no veículo automotor diante da cada vez maior quantidade de pedras distribuídas de todas as maneiras pelos caminhos que trilhamos?
Moramos na cidade, num bairro, numa determinada rua e, mais especificamente, num lote em que foi construído um barracão, uma casa ou um edifício de apartamentos, por exemplo. Sair de lá e retornar para lá faz parte do processo cotidiano em busca das melhores condições de vida, trabalho e lazer. Acontece que esse ir e vir está ficando cada vez mais complicado, principalmente nos horários de maior demanda para o trânsito.
É o caso do bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, e também de diversos outros, onde é alto o índice de reclamações por parte dos moradores bem como daqueles que frequentam o bairro a lazer ou a trabalho. Quais seriam as principais causas desse problema cada vez mais crônico? Tomando como exemplo o bairro de Santa Tereza e as três ruas que dão acesso à entrada e à saída do bairro a partir da Avenida do Contorno, no bairro Floresta, para quem está num veículo, veremos que o caminho quase obrigatório – e mais usado – é a Rua Hermílio Alves, com mão direcional nos dois sentidos. Ela dá acesso ao interior do bairro pela Rua Mármore, a mais importante do ponto de vista comercial, enquanto a principal saída se dá pela Rua Salinas, que tem mão única até se encontrar com o final da Rua Hermílio Alves para daí prosseguir até o início dessa rua na esquina com a Avenida do Contorno.
É claro que uma coisa é chegar de automóvel com uma ou duas pessoas, motocicleta, bicicleta, ônibus, táxi, cada um com as suas especificidades e atitudes perante as regras do trânsito. Outra coisa é andar em qualquer das calçadas pouco amigáveis e muitas vezes ocupadas em desacordo com o código de posturas municipais. Como acredito que tudo começa com a gente vou citar inicialmente algumas causas do problema que são devidas às atitudes das pessoas.
A observação e análise dos acontecimentos mostra que o não cumprimento dos padrões definidos pela legislação de trânsito por parte de uma parcela dos condutores de veículos atrapalha muita gente de diversas maneiras. Isso vai desde a velocidade acima do limite, passa pela falta de sinalização de intenção dos condutores de veículos através de seta, farol e vai até estacionar um carro sem observar se é preciso ficar afastado pelo menos 5 metros da esquina. Também são notórios dispositivos colocados ao longo das calçadas, notadamente nas esquinas, que tiram a visão de quem vai fazer conversões à esquerda ou à direita, como acontece na Rua Mármore nas esquinas com as ruas Gabro e Ângelo Rabelo. Existem também aqueles que param seus veículos em fila dupla, com ou sem pisca-alerta ligado, os que estacionam de qualquer jeito, longe do meio-fio e abrem a porta no sentido da pista de rolamento sem olhar o fluxo do trânsito bem como aqueles que buzinam para quem está à frente ou fazem uma irritante pressão silenciosa tentando abrir passagem. Tem também os motoqueiros ultrapassando os automóveis de qualquer maneira, pela esquerda ou direita, em atos imprudentes que geram insegurança, quase acidentes e também acidentes.
Olhando pelo lado do poder público, que também é exercido por pessoas em suas diversas instâncias, é importante observar como são feitos o planejamento e a gestão do trânsito no bairro de Santa Tereza e em outros bairros da cidade. Percebo que a empresa municipal BHTRANS, gerenciadora do sistema viário, prioriza a região centro-sul da cidade e os grandes corredores, mas dá pouca atenção ao interior dos bairros. No caso do bairro de Santa Tereza várias perguntas poderiam ser feitas e melhor estudadas a partir dos fatos e dados do trânsito. Será que a atual configuração das vias do bairro, com mão única, mão dupla, estacionamento de veículos nos dois lados das pistas… ainda é a mais adequada diante da quantidade de veículos em circulação? Como estão as sinalizações nas pistas por meio de placas ou de semáforos orientadores para a circulação de pessoas que andam a pé ou nos veículos? É possível uma fiscalização presencial aleatória, ainda que por amostragem, que vá além da blitz da Lei Seca ou por meio eletrônico?
Enquanto cada um cuida de si só nos resta considerar que isso é o que temos para hoje.