Uma atitude perante a manutenção

por Luis Borges 29 de outubro de 2019   Pensata

São cada vez mais frequentes nos meios de comunicação as notícias que relatam desabamentos e incêndios em casas, edifícios, museus, hospitais, estádios, casas de diversão… Também são frequentes os relatos sobre veículos automotores parados com algum tipo de defeito em ruas, avenidas, praças, muitas das quais fazem parte de grandes corredores de sistemas viários urbanos, bem como nas rodovias de pistas simples, duplas e até triplas, algumas com acostamentos e pistas marginais enquanto outras nem acostamento possuem. De qualquer maneira o veículo parado devido a algum defeito ou até mesmo pegando fogo é sempre um transtorno para todo mundo que busca e precisa de mobilidade.

Obviamente que essas notícias tem seu prazo de validade na mídia e vão rapidamente sendo substituídas por novos acontecimentos que passam a ser prioritários para a divulgação em função do grau de novidade que trazem.

Quando alguém para tudo para tentar compreender quais são as causas desse tipo de problema cada vez mais repetitivo perceberá através de fatos e dados que uma delas é a falta de manutenção desses ativos. Podemos imaginar também a quantidade de problemas causados pela falta de manutenção nas residências, escolas e pequenas empresas, em vilas e bairros que não aparecem com destaque na mídia, e quando muito apenas viram registros nas estatísticas do Corpo de Bombeiros, SAMU, ou pronto-socorro de algum hospital.

Mas o que e como fazer para ajudar a resolver esse problema crônico no médio e longo prazos? Inicialmente é preciso educar e treinar as pessoas para mostrar a essencialidade da manutenção em todos os sistemas, processos e atividades que envolvem e comprometem a vida humana e dos demais componentes do ecossistema. Torna-se extremamente necessário que todos tenham uma atitude perante a manutenção, cada qual no âmbito da autoridade e responsabilidade que tem em relação ao que precisa estar sempre disponível para o uso e, portanto, cumprir plenamente a sua função. Aqui podemos dizer que se tudo começa com a gente, um bom exemplo pode ser dado pela manutenção da nossa própria saúde, expressa pela manutenção do corpo humano que visa mantê-lo na plenitude de suas condições funcionais. Podemos inclusive lembrar que a manutenção em geral pode ser corretiva, preventiva ou preditiva, mas na nossa cultura ainda há um predomínio da manutenção corretiva, que entra em ação só após a manifestação de falhas, defeitos ou quebras. Isso contrasta com o sempre repetido dito popular que prevenir é melhor que remediar, mas há distância entre o que se diz e o que se pratica.

O que nos resta, caro leitor, é avaliar qual tem sido a nossa atitude perante a manutenção em todos os aspectos em que estamos envolvidos no nosso cotidiano. Será que estamos encarando de frente as soluções que o problema exige ou simplesmente ficamos negando, ignorando ou dando desculpas para fugir dele? Quando o edifício cair, a igreja pegar fogo ou o automóvel quebrar no meio da estrada só será possível constatar as consequências da omissão e da falta de comprometimento com a vida nossa e a dos outros.

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Comportamento geral

por Luis Borges 26 de outubro de 2019   Música na conjuntura

Em 1972 o economista, cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, fez a música e letra da canção Comportamento Geral. Foi mais uma contribuição da música popular brasileira para combater a ditadura militar advinda do golpe de 1964. A ditadura estava na plenitude de sua força após oito anos de ocupação do poder.

Agora que já se passaram 47 anos de nossa história recente, que tal revisitar essa música à luz da conjuntura e dos cenários que se desenham? Diante dos avanços e retrocessos que caracterizam a sociedade polarizada e uma grande parte da população na anomia por não se sentir representada por nenhum dos polos, fica evidente que não dá para se omitir diante da realidade.

Como será que Gonzaguinha faria a letra dessa musica nesse momento que estamos vivendo? Dá para imaginar?

Comportamento Geral
Fonte: Letras.mus.br

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal

E um Fuscão no juízo final
Você merece, você merece

E diploma de bem comportado
Você merece, você merece

Esqueça que está desempregado
Você merece, você merece

Tudo vai bem, tudo legal.
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De volta a Campinas

por Luis Borges 21 de outubro de 2019   Pensata

Estive na cidade de Campinas (SP) durante o feriado nacional de 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Nesse dia aconteceu mais um encontro de membros da família Magela, cuja base fica na cidade de Araxá (MG). Dessa vez o encontro ocorreu na residência de meu sobrinho Fernando Henrique, o “Difê”, e de sua esposa Dayane. Foi simplesmente memorável para todos que se fizeram presentes.

Por outro lado esse encontro me fez lembrar inevitavelmente alguns detalhes que marcaram a minha primeira ida à cidade no já longínquo janeiro de 1973, portanto há quase 47 anos. A população da cidade era estimada em 400 mil habitantes e de lá para cá simplesmente triplicou. Cheguei a Campinas pela dor, em busca de alguma solução para os problemas que já vinha enfrentando em Uberaba (MG) decorrentes de um glaucoma cortisônico em ambos os olhos, diagnosticado seis meses antes. A pressão intraocular estava muito elevada, totalmente descontrolada em decorrência da ação nada cuidadosa de um médico oftalmologista que nunca se preocupou com os efeitos colaterais do uso de medicamentos contendo corticoides durante um ano e meio. Minha participação no vestibular de medicina em Uberaba, no início de janeiro, ficou bastante comprometida e a ficha de número 15.005 contendo meu prontuário médico simplesmente desapareceu do consultório do profissional que acompanhava meu caso, que se iniciou com uma alergia persistente. Eu era um paciente, que é diferente de cliente, e como tal seguia sem questionamentos todas as prescrições do médico especialista e catedrático da oftalmologia.

Em Campinas, fui atendido no Instituto Penido Burnier, referência no tratamento de doenças nos olhos, onde compareci mensalmente até o mês de julho. No início de agosto passei a residir em Belo Horizonte, com a indicação para que meu caso fosse acompanhado pela equipe do Hospital São Geraldo, especializado no tratamento dos olhos, anexo ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFMG.

Ao longo desses quase 47 anos que já se passaram em meu curso de vida voltei a Campinas diversas vezes. Foram atividades profissionais de consultoria em gestão estratégica de negócios, aulas no curso de pós-graduação em gestão de negócios da academia do grupo Accor e em seminários na Universidade de Campinas. Também passei diversas vezes pelo Aeroporto Internacional de Viracopos, dentro da logística, por exemplo, para chegar à cidade de Paulínia (SP) ou voltando em voos diretos de Fortaleza (CE) para fazer conexões rumo a Belo Horizonte.

Desta vez aproveitei a ida à cidade para visitar Castor e Raquel, visando polir uma amizade que nasceu na militância política de esquerda no movimento estudantil universitário na segunda metade da década de 70 do século passado. Como de outras vezes voltei a encontrá-los, o que foi muito bom por ter sido mais uma vez ao vivo e, como sempre, não faltaram reminiscências de tempos que já se passaram. Vale a pena registrar que atualmente o amigo Castor continua firme em seu ativismo político-partidário e é conhecido em seu bairro como “o comunista de chapéu”.

Como dizia meu finado sogro Geraldo (Lalado) Magela de vez em quando é importante dar uma olhada para trás e verificar o quanto já andamos e como fizemos correções no rumo de nossas vidas devido aos desafios que foram surgindo. Assim, segundo ele, renovamos nossas energias e nos fortalecemos para melhor prosseguir rumo ao futuro que chega a cada instante.

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Vale a leitura

por Luis Borges 18 de outubro de 2019   Vale a leitura

Estás muito cansado?

Uma frase que ouvimos ou mesmo falamos com muita frequência é “estou muito cansado e já não aguento mais”. Uma pergunta simples pode nos ajudar a começar a entender o fenômeno que gera esse cansaço se tentarmos responder quais são as causas que estão na sua gênese. Com certeza uma delas estará ligada ao nosso modo de vida positivista, que desafia sempre a nossa capacidade de atingir metas cada vez mais desafiadoras. É interessante a abordagem feita sobre o tema por Cesar Gaglione em seu artigo Por que vivemos na sociedade do cansaço, segundo este filósofo.

“A sociedade do século 21 não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade do desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais ‘sujeitos da obediência’. São empresários de si mesmos. (…) No lugar de proibição, mandamento ou lei, entram projeto, iniciativa e motivação. A sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados”.

É preciso aumentar a confiabilidade dos dados

As pessoas que deixaram o achismo de lado hoje conduzem seus negócios usando um sistema de gestão, estruturado a partir fatos e dados para gerar informações, que podem se transformar em conhecimento para ser utilizado na tomada de decisões. Uma grande questão que permeia tudo isso é a qualidade dos dados desde o início do processo de captação e apuração até a sistematização final dos conteúdos formulados para o pleno uso. Mas qual é a confiabilidade que se pode ter num sistema dessa natureza em função das várias variáveis a que está submetido?  Observe a abordagem de Cristina De Luca em seu artigo O maior fator de risco das empresas na era digital? A qualidade dos dados, postado em seu Blog Porta 23.

A falta de confiança nos dados paralisa as organizações, impedindo-as de tomar decisões e embarcar em projetos estratégicos. A única maneira de quebrar essa inércia é construir confiança. As organizações precisam ter um melhor entendimento de seus dados e sistemas, desenvolver uma estratégia de dados abrangente e identificar ganhos rápidos para criar confiança em dados e novos processos.

 

Gastos nos serviços públicos exigem mais qualidade

O Congresso Nacional prevê um déficit público de R$124 bilhões para 2020 conforme consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias. A recuperação da economia prosseguirá de maneira bem tímida, o que manterá em destaque o desemprego e o subemprego no país, enquanto os gastos vegetativos dos serviços públicos continuarão crescendo muito além da capacidade de arrecadação, principalmente devido à não aceitação pela população de aumento explícito da carga tributária vigente. Observar e analisar as causas fundamentais de tantos déficits e quebradeiras envolvendo a União, estados e municípios pode ajudar a colocar em evidência que muitos gastos são excessivos e outros desnecessários no que tange à mordomias, privilégios e penduricalhos, principalmente nos poderes Judiciário e Legislativo. O discurso mais fácil é propor reformas que são faladas há décadas, como a da previdência social, a tributária e a política. Nesse reformismo todo vai ficando visível que o serviço público também precisa de uma reforma. Alguns aspectos dessa questão são mostrados por José Paulo Kupfer em seu artigo Com ou sem teto de gastos, chegou a hora de reformar o serviço público, publicado pelo Portal Uol.

São 12 milhões de funcionários públicos nas três esferas federativas, o equivalente a 20% da força de trabalho formal, mas a maior pressão não vem do número de servidores, que tem se estabilizado, quando não diminuído em algumas áreas. Vem dos volumes crescentes de salários e benefícios. Da massa salarial total da economia, a fatia dos servidores públicos corresponde a nada menos de 30%.

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Cuidar dos cuidadores de idosos

por Luis Borges 14 de outubro de 2019   Pensata

O Presidente da República vetou integralmente a lei que regulamentava a profissão de cuidador de idosos, que tramitou desde 2007 em Brasília. O veto foi mantido pelo Congresso Nacional na sessão de 2 de outubro, em plena Semana Nacional do Idoso. O argumento básico do Presidente para justificar o veto foi que os idosos não precisam de profissionais qualificados para cuidar deles. Outro Projeto de Lei sobre a regulamentação da profissão está tramitando na Câmara dos Deputados após já ter sido aprovado pelo Senado. Será que dessa vez a Lei passará pela sanção presidencial sem vetos?

Enquanto isso a função de cuidador de idoso continua sendo apenas uma ocupação prevista no Código Brasileiro de Ocupações, podendo ser exercida por quem estiver disposto ou necessitando de trabalho independente de qualquer formação. A diferença entre uma ocupação e uma profissão regulamentada é que a profissão exige o cumprimento de determinados requisitos para ser exercida. No caso dos cuidadores de idosos a regulamentação da profissão pode passar a exigir, entre outras coisas, ensino fundamental completo, aprovação em curso de qualificação para formação profissional específica com carga mínima de 180 horas e definição de atribuições profissionais inerentes. Também é importante lembrar que a ocupação de cuidador de idoso é uma função exercida em 90% dos casos por mulheres. Segundo dados do IBGE esta é a atividade que mais cresceu no Brasil nos últimos 10 anos ao dar um salto de 550% no número de vagas abertas.

É muito comum ouvir pessoas falando que para ser cuidador de idoso o pré-requisito é ter amor e paciência ao lidar com as pessoas, mas sabemos que não é só isso, pois a formação profissional devidamente qualificada é fundamental. Também é necessário fazer um contrato de trabalho entre o cuidador e seu cliente ou responsável legal por meio da carteira de trabalho, microempreendedor individual (MEI) ou pessoa jurídica que atua no segmento para a segurança de todos os envolvidos. A pior condição ainda predominante é o trabalho informal não documentado, que traz a precarização da relação de trabalho e insegurança jurídica, além da falta de cobertura previdenciária para o cuidador agora e no futuro.

Mas por que é estratégico cuidar da cuidadora e do cuidador de idosos? Basta verificar no nosso cotidiano quem está disposto, quer e pode cuidar de um familiar como pai, mãe, avô, avó, tio ou tia, por exemplo. É por isso mesmo que o cuidador torna-se essencial em seu trabalho profissional, porém precisa ter as condições necessárias e suficientes para conseguir vencer o desafio que é cuidar de pessoas com diferentes graus de restrições em suas condições funcionais. Em síntese, precisamos lembrar sempre que o cuidador precisa ser cuidado para que ele possa, profissional ou voluntariamente, cuidar dos outros.

E você, caro leitor, o que tem para contar sobre os cuidados que dedica às pessoas idosas que fazem parte do seu cotidiano na vida familiar e no universo de suas amizades? Vale também pensar no trabalho voluntário que algumas pessoas prestam a organizações da sociedade civil de natureza filantrópica que atuam em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Será que você se engajaria nessa modalidade de atuação social?

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Liderança até quando?

por Convidado 12 de outubro de 2019   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Há mais tempo, uma colega tomou a decisão de não fazer palestras sobre liderança. O motivo alegado foi que a teoria estava muito distante da prática e que os estilos sugeridos pareciam ser contos de fadas no país das maravilhas.

Quando soube de sua decisão, confesso que fiquei preocupado e “balançado”. Afinal, o tema era o meu preferido e sobre o qual mais fazia palestras. Reconheci que aquela atitude estava respaldada na coerência, na nobreza e na honestidade, pois sua alegação era a de que não poderia enganar as pessoas Muitos empresários brasileiros têm um perfil que está muito mais próximo do senhor de escravos do que do líder sugerido pelos estudos dos últimos vinte anos”, afirmou.

Hoje, após mais de uma década de nossa conversa, reflito sobre tal decisão e continuo admirando a firmeza de caráter daquela senhora. Porém, como tudo tem duas faces, penso que se desistirmos de realizar, pregar, persuadir as pessoas para mudarem, teremos que fazer como os macaquinhos que tapam os ouvidos, a boca e os olhos – nos tornamos omissos e corremos o risco de extinção.

É fato que durante milênios a liderança foi exercida pela força. Os maiores reinos invadiam os menores e os conquistavam, escravizando ou exterminando sua população.

No fim do século XIX, Taylor com sua “Administração Científica”, fez nascer as primeiras luzes de uma gestão que primava pela Organização Racional do Trabalho. De lá para os dias atuais, as pessoas e os sistemas foram se aprimorando. O ranço da escravidão foi, aos poucos e muito gradativamente, ficando para trás, e surgiram novas concepções sobre gerenciar e liderar. Assim, nasceu o líder coach – que contemplava em seu perfil o treinamento e o desenvolvimento da equipe que liderava. Surge, nesse cenário, a Liderança Servidora (quase espiritual) que trouxe em sua essência a ideia de servir à equipe, com autenticidade, empatia e ter a habilidade de compartilhar e criar um ambiente colaborativo que estimula o aprimoramento e o desempenho.

James Hunter, autor do livro “O Monge e o Executivo”, um best seller, chegou a mencionar que essa modalidade de liderança fora adotada por Jesus – um Servidor que dava a outra face.

Devemos entender que se trata de uma metáfora, contudo, meus insistentes leitores, vocês hão de convir que a gestão evoluiu e tornou crível o que antes parecia ficção. E não tem volta. Os modelos são outros, a diversidade se acentua e pede passagem. As gerações Y e Z não aceitam gritos, não sabem o que é apanhar dos pais e, portanto, não reconhecem a figura de um chefe com o chicote nas mãos. Os mais cultos vão pensar que se trata de um Dom Quixote alucinado,lutando contra os moinhos de vento.

Pois é isso. Eu consigo persuadir meus alunos. E, interessados, me perguntam: como, então, será a relação das pessoas nas organizações do novo mundo?

Eu respondo que essa pergunta não faz parte do novo mundo. E sabem por quê?

Porque no novo mundo não temos como prever o que virá…

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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O tempo não para e prossegue passando de maneira indelével. Por isso mesmo completou-se mais um ciclo que trouxe à tona o Dia Internacional da Pessoa Idosa, comemorado em primeiro de outubro.

Embora eu continue pensando e tentando agir como se todo dia devesse também ser da pessoa idosa na pauta da sociedade, o fato é que existem vários tipos de posturas em relação ao tema, tanto no que tange à preocupação e ao planejamento para se chegar lá quanto à postura oposta, bastante descompromissada.

Cada postura tem as suas justificativas para as escolhas feitas seguindo uma visão do curso de vida de cada pessoa que poderá se tornar idosa sob determinadas condições de contorno. Mas “a gente vai contra a corrente até não poder resistir/ Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir”, inclusive por não perceber todas as variáveis do jogo de xadrez que se joga. Digo isso em função da cena vista e percebida em detalhes por quem estava na padaria Samarone por volta das 7 horas do domingo, 29 de setembro, num bairro da ainda existente classe média na zona leste de Belo Horizonte.

No balcão da padaria dois idosos tomavam café enquanto outros três faziam seus pedidos em diferentes níveis de detalhes e tons de ansiedade. Todos estavam sozinhos, moram nas redondezas, vão à padaria diariamente e estão na faixa etária de 65 a 75 anos. Ao especificar os pedidos quase simultaneamente um deles pediu um pão francês sem o miolo, mas com manteiga de leite, outro quis do mesmo pão, mas com queijo, enquanto o terceiro realçou que seu pão seria com muita manteiga de leite. O café variou da xícara de cafezinho puro ou pingado de leite até a média de café com leite.

Mas qual é o preço que idosos e não idosos pagam pelo café da manhã na padaria Samarone? A xícara de café puro ou pingado custa R$1,40, o pão com ou sem miolo e manteiga de leite R$1,80, a média de café com leite R$ 2,50, o pão com queijo tipo mozarela R$ 5,45 e o misto-quente também R$ 5,45. Como se vê a modalidade mais simples composta por uma xícara de café e pão com manteiga fica em R$ 3,20 e ao final de 30 dias chega a 96 reais. Por outro lado a modalidade composta por uma xícara de café e pão com queijo tipo mozarela fica em R$6,85 e em 30 dias chega a R$205,50. Se imaginarmos outros gastos que os idosos têm com alimentação, saúde, moradia, lazer… fica evidente que a fase idosa da vida traz para todos um desafio que deveria ser pensado o mais cedo possível, apesar de todas as dificuldades e pedras que existem pelo caminho. Segundo o IBGE a população de idosos do Brasil, aqueles com idade superior a 60 anos, já está em torno dos 30 milhões pessoas.

Caro leitor você já faz parte desse contingente de idosos ou está caminhando firme para ingressar nele? Você já se sente preparado para enfrentar o café da manhã na padaria de seu bairro todos os dias, inclusive com a devida sustentabilidade financeira? É o que temos para hoje com o devido realismo esperançoso.

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