Curtas e Curtinhas

por Luis Borges 19 de outubro de 2024   Curtas e curtinhas

A previdência social dos municípios

Um dos temas não abordados na campanha eleitoral dos municípios foi a previdência social dos servidores públicos, principalmente nas médias e grandes cidades.

Ilustra bem a importância do tema o caso da cidade de São Paulo, que teve um déficit previdenciário de R$7,5 bilhões em 2023. Na prática, a prefeitura municipal teve que cobrir essa diferença e, para isso, deixou de investir em outras necessidades municipais.
Fala-se muito em reforma da previdência dos municípios em seus regimes próprios de previdência visando equilibrar as contas diante do aumento da longevidade dos servidores.

As propostas imediatas geralmente são o aumento da idade mínima para aposentadoria e a elevação do valor da contribuição dos servidores, o que sempre causa muita polêmica e contrariedade.

Você conhece a situação atual do Instituto de Previdência Municipal de Araxá – IPREMA?

A pesquisa do Datafolha sobre o horário de verão

O Governo Federal decidiu não aplicar o horário de verão nesse ano e fará estudos em 2025 para decidir sobre a sua necessidade naquele ano. Enquanto isso, o Datafolha divulgou pesquisa mostrando que 47% dos entrevistados são contra o horário de verão, 47% são a favor e 6% indefinidos. A pesquisa feita em 2021 mostrou que 55% eram favoráveis, 38% contra e 7% indefinidos. Já a pesquisa de 2017 mostrou 58% de favoráveis, 35% contra e 7% indefinidos.

Vamos aguardar a pesquisa de 2025. Será que o percentual dos que são contra continuará crescendo?

O dia do servidor público e a abstenção no segundo turno da eleição municipal

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral – TSE, teremos eleições em segundo turno para Prefeitos de 51 cidades brasileiras, entre elas municípios bem povoados como Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo.

Como o Dia do Servidor Público será comemorado em 28 de outubro, uma segunda-feira, e a eleição será em 27 de outubro, domingo, provavelmente muitos servidores emendarão o feriado a partir da sexta ou sábado, para tudo se acabar no final da segunda ou mesmo na manhã da terça.

Qual será o impacto disso no índice de abstenção do segundo turno?

Vale lembrar que no primeiro turno o índice de abstenção em Belo Horizonte foi de 29,54%, em Goiânia 28,23% e em São Paulo 27,34%, todos bem superiores ao percentual de votos do candidato mais bem votado.

Em tempo: O Governador de Goiás suspendeu o feriado para os servidores públicos do Estado, marcado para o dia 28, e o transferiu para o dia 1º de novembro.

Promessa é dívida no caso da tabela do Imposto de Renda?

Na campanha eleitoral de 2022, o então candidato Lula prometeu isentar do Imposto de Renda os ganhos mensais até R$ 5.000. Isso ocorreria ao longo do mandato que está caminhando para o fim do segundo ano.

Nesse momento existem propostas para amenizar os efeitos do congelamento da tabela ao longo das duas últimas décadas. Como o Tesouro Nacional não pode abrir mão de receitas, uma medida compensatória para essa perda poderia ser a criação de um imposto de 12% a 15% sobre a renda de 250.000 brasileiros na parte que passar de R$ 1 milhão anuais.

Será que essa proposta de aumento da progressividade na taxação da renda vai passar facilmente?

A conferir!

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Tudo começou com um olhar

por Convidado 15 de outubro de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Um dia que já vai longe, registrado numa página do passado, estávamos reunidos, eu e outros jovens, quando alguém me perguntou qual era a parte do corpo de uma mulher de que eu mais gostava. As meninas, naquele instante, atentas, voltaram toda a sua atenção para mim, enquanto os homens mantinham meio sorriso em seus lábios e muita besteira em suas cabeças. Para surpresa de todos, disse que era dos olhos que eu mais gostava. Obviamente que a zombaria foi grande e as risadas vieram como um furacão, mas não me atingiram.

Eu sabia o que todos estavam pensando. Entretanto, confirmei minha escolha dizendo que a linguagem do olhar é a forma mais real e sincera para a comunicação de uma pessoa. Os olhos se comunicam mais do que as palavras, porque nos indicam emoções, ódio, tristeza, beleza e desprezo que vêm do fundo da alma.

Charles Chaplin confirma minha tese. Foi um gênio que conseguiu fazer, no cinema mudo, a melhor e mais expressiva forma de comunicação através do olhar. Emocionou o mundo, sem precisar dizer uma só palavra. Sua habilidade de comunicar com o olhar foi algo que transcendeu os limites culturais e linguísticos.

O corpo fala mais do que a boca, e olhos são seus porta-vozes que, com uma fidelidade irrefutável, exteriorizam a verdade. Um olhar demorado, quando correspondido, diz mais do que um beijo. O primeiro fala a linguagem do amor e o segundo a do prazer. Mas o amor é bem mais duradouro. Fernando Pessoa com “O olhar velado” indica visões diferentes ao olhar o mundo. Filósofos, seresteiros, poetas, pintores, religiosos, néscios e namorados falaram do olhar com tantas roupagens e de forma tão magnificamente metafórica que os olhos se tornaram uma referência. Olhar de esguelha, triste, iluminado, colorido, de ternura, avermelhado, olhos que sorriem, olhos que iluminam, olhar de choro, da cor do mar, de paixão (quase estrábico), olhar de repreensão (antigamente os pais olhavam e a criança já sabia que estava errada). Era o olhar chamado de efeito Mona Lisa porque aonde a criança fosse, a mãe estaria de olho.

Mas é triste constatar a diferença entre o brilho dos olhos de um jovem e o olhar desbotado de um idoso. Efetivamente são indicadores aferidos com precisão. Renato Teixeira, num momento mágico e bençoado, diz: “- (…)como eu não sei rezar/, só queria mostrar/ meu olhar, meu olhar, meu olhar(…)”

Quando a luz da juventude brilhava em meu olhar, tendo sido agraciado por Deus, tive a oportunidade de conhecer olhares apaixonados e sedutores que me causavam taquicardia. Foi assim que aconteceu com tantas pessoas. Tudo começou com um olhar…

Sérgio Marchetti

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Em pronunciamento na noite do domingo, 6 de outubro, a Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, enalteceu a normalidade durante a votação para a escolha de Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores nos 5569 municípios brasileiros com pouco mais de 156 milhões de pessoas aptas a votar.

Entretanto, ela lamentou que a média das abstenções foi de 21,7% e conclamou a todos para participar das eleições nos municípios que terão votação para prefeito no segundo turno, em 27 de outubro. Mas é importante lembrar que a média citada pela Ministra máscara a variabilidade do processo.

No município de Belo Horizonte a abstenção foi de 29,54%, em Porto Alegre 31,5%, Rio de janeiro 30,5% e Araxá 25,8%, por exemplo.

Ao constatar a enorme abstenção, fico pensando nas pesquisas de intenção de votos feitas por institutos de diversos portes, cuja grande maioria não mede a abstenção, apesar do voto ser obrigatório.

Considero as pesquisas como um retrato de cada momento do processo eleitoral e suas informações, nos cortes e recortes, podem contribuir para a tomada de decisão do eleitor sobre sua votação.

Aliás, desde 2021 tenho abordado a abstenção nas eleições e voltei ao assunto no final de agosto desse ano, sugerindo que primeira pergunta da pesquisa deveria ser sobre a intenção do eleitor de comparecer às urnas, principalmente nas quatro semanas que antecedem o pleito.

O instituto Datafolha e a Quaest divulgaram no dia 5 de outubro, no final da tarde e início da noite, respectivamente, os dados de suas últimas pesquisas de intenção de votos antes da eleição. Na modalidade de Pesquisa Estimulada o Datafolha mostrou votos Branco/Nulo/Nenhum: 5% e Não Sabe: 4%. A Quaest mostrou em Banco/Nulo/Não vai votar: 8% e Indecisos: 3%.

Observando os resultados finais divulgados pelo TSE verifica-se uma abstenção de 29,54% (588.699 eleitores), votos nulos 5% (70.263) e brancos 4,72% (66.228). Cerca de 1,992 milhão de eleitores estavam aptos a votar.

Meu ponto aqui é mostrar a importância do aprimoramento da metodologia das pesquisas para melhor captar a intenção dos eleitores que pretendem se abster da votação. Os números finais da eleição mostraram a expressividade da abstenção para serem deixados de lado ou serem incluídos numa categoria juntos com votos nulos e brancos. Caro leitor, na sua opinião, quais são as causas dessa enorme abstenção no primeiro turno da eleição em Belo Horizonte?

Seria pelo desencanto com os políticos e seus partidos ou por não perceber diferenças significativas entre os principais candidatos e suas propostas para solucionar os piores problemas enfrentados pela população?

Luis Borges

Luis Borges

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Faltam apenas 2 dias para as eleições municipais de 6 de outubro. Como sempre, a minha expectativa é pelo voto consciente de todos os eleitores, mas ainda existe uma distância entre o ideal e o real. Digamos ser isso o que temos para o momento.

Muitos foram os temas abordados de diferentes maneiras pelos partidos, coligações e federações nas campanhas de seus candidatos a prefeito e vereadores.

Por aqui ainda não houve cadeiradas nem assessor de candidato levando murro no rosto que resultou em descolamento da retina de um dos olhos. Chamou a atenção a cobrança pela frequência de deputados às reuniões plenárias e de comissões temáticas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais que valeu para candidatos e não-candidatos neste pleito.

É atraente a gestão de um orçamento municipal em torno de R$ 22,6 bilhões para o próximo ano. Assim, estão na disputa 1 senador, 2 deputados federais, 2 deputados estaduais, 1 vereador e 1 prefeito que começou o mandato como vice.

Como as pessoas moram é nos municípios, prevaleceu a discussão e a falação sobre os muitos problemas locais e de algumas propostas de soluções. Claro que é mais fácil falar sobre “o que fazer”, do que “como fazer” diante dos recursos existentes.

Assim mobilidade urbana, a trilogia educação, saúde e segurança pública, moradores em situação de rua (em torno de 13.000) estiveram e precisam continuar na pauta da cidade, mas acompanhados por outros temas como o mapa acústico (nível de barulhos), a qualidade do ar e a adaptação da cidade ao novo clima prevalente. Nesse momento, estamos passando pela 8ª onda de calor desse ano.

Quanto aos debates dos candidatos a prefeito, nos diversos veículos de comunicação, quero destacar o debate da Rádio Itatiaia, ocorrido em primeiro de outubro, quando num dos blocos os candidatos tiveram que responder perguntas gravadas, feitas diretamente pelo povo, sem terem o conhecimento prévio do tema perguntado. Cada candidato teve que mostrar o seu Índice de Viração Própria-IVP diante do inesperado.

Vale refletir também sobre a poluição visual e a sujeira deixada pelos baldes de concreto com as bandeiras de candidatos tremulando nas principais esquinas de ruas e avenidas.

Também merecem a atenção a quantidade de reclamações sobre propagandas eleitorais irregulares, as substantivas doações financeiras de algumas pessoas físicas e algumas vozes que ainda se levantam contra a Ficha Limpa.

Como diversos setores da sociedade tentam se fazer representados, inclusive com bancadas temáticas, é importante observar a crescente movimentação do crime organizado para se infiltrar no aparato do Estado.

Enfim, vamos às urnas eletrônicas e a ansiosa expectativa pelos resultados que elas nos entregarão, sabedores de que as mídias digitais não param de abordar temas de todas as naturezas, inclusive o voto útil. Não nos esqueçamos do inaceitável Fundo Eleitoral de R$ 4,9 bilhões, que a propaganda eleitoral “gratuita” no rádio e na Tv é paga pelos contribuintes ao ser deduzida dos impostos devidos pelas emissoras e que a abstenção no dia da votação (em torno de 20% nos últimos pleitos) raramente é medida pelos institutos que fazem pesquisas eleitorais.

Essas são as minhas considerações finais. Que venha o segundo turno para definição sobre quem será o prefeito do Município de Belo Horizonte.

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Curtas e Curtinhas

por Luis Borges 3 de outubro de 2024   Curtas e curtinhas

Dinheiro esquecido nos bancos

Segundo o Banco Central do Brasil, cerca de R$ 8,5 bilhões estão esquecidos em contas de pessoas físicas e jurídicas nos bancos brasileiros com os mais variados saldos, a começar por centavos. Isso faz parte da busca de aumento de arrecadação para zerar os gastos, sempre crescentes, previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias-LDO, para o orçamento de 2025.

Agora só falta a sanção do Presidente da República para que a Lei que aprovou a medida entre em vigor, o que deve ocorrer até o final desse mês de setembro.

Isenção do Imposto de Renda para ganhos até R$ 5.000/mensais

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, solicitou estudos ao Ministério da Fazenda visando encontrar uma forma de isentar do imposto de renda na fonte, a partir de 2026, os ganhos mensais até R$ 5.000,00.

Como se sabe, essa era uma promessa feita em sua campanha eleitoral de 2022 e que não será cumprida pelo menos até o próximo ano, conforme consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias-LDO.

Vale lembrar que 2026 é ano de eleição para a presidência e Lula poderá tentar a reeleição.

Na política tudo pode acontecer, inclusive nada.

A conferir!

Horário de verão outra vez?

A história registra que em primeiro de outubro de 1931 o Horário de Verão foi instituído pela primeira vez no Brasil para vigorar em todo o território Nacional. Ao longo do tempo, intercalou períodos de vigência e não vigência; vigorou pela última vez em 2018 nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Deixou de existir a partir de 2019, após um decreto da presidência sob o argumento de que não gerava ganhos que justificassem a medida.

Agora, diante da severa seca, ondas de calor, queimadas no país inteiro, mudanças climáticas trazidas pelo aquecimento quase irreversível do planeta, acionamento das caras e poluentes usinas termelétricas e probabilidades de um apagão da energia elétrica, o horário de verão está ressurgindo como uma medida quase inevitável proposta pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS.

Amado por uns e odiado por outros, vamos ver o que vai dar o planejamento e a gestão de tudo isso no Brasil em chamas, composto pela União Federal, Estados e Municípios.

Caberá ao Presidente da Republica a decisão sobre o uso e o período de vigência do Horário de Verão.

Mais uma notícia falsa

Está circulando em grupos de WhatsApp e mídias digitais uma notícia falsa (Fake News) dizendo que os aposentados pelo INSS que votarem nas eleições municipais de 6 de outubro poderão considerar o ato como prova de vida para continuar recebendo seus proventos.

A notícia é falsa, pois a prova de vida perante o INSS está suspensa até 31 de dezembro.

Acontece que no ano eleitoral de 2022, o Governo Federal publicou uma Portaria através do INSS, isentando os aposentados, independente de suas condições funcionais, de apresentar sua prova de vida. A responsabilidade de fazer essa comprovação passou a ser do próprio INSS, através de meios como votação em eleições, declaração do Imposto de Renda e informações de cartórios sobre registros de atestados de óbitos, por exemplo.

No caso das eleições. ainda não foi desenvolvido pelo INSS um sistema digital para que o tribunal superior eleitoral – TSE possa lhe repassar as informações sobre o comparecimento dos segurados às urnas.

Vamos aguardar o que será feito pelo Governo Federal e o INSS para vigorar a partir de 1º de janeiro de 2025.

Precisamos ficar atentos às informações de qualidade diante de tantas notícias falsas.

Luis Borges

Luis Borges

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Conversando no empório

por Luis Borges 28 de setembro de 2024   Pensata

Era uma sexta-feira por volta das 16 horas, muito calor de final de inverno, num empório de um bairro da zona leste de Belo Horizonte. Uma pequena fila estava formada à espera do atendimento no balcão. De repente, a fila cresceu um pouco mais com a chegada de dois novos clientes que logo começaram a conversar em voz alta, o que possibilitou às pessoas presentes no ambiente ouvir atentamente os detalhes da conversa. As compras do cotidiano no bairro sempre trazem alguma novidade para quebrar a rotina e nos mostrar que nenhum dia é como o outro, por mais rotineiro que seja.

Mas, vamos aos fatos e dados. Logo de cara, ao se encontrarem, foi possível saber que um é médico ortopedista e o outro médico anestesista, ambos com mais de 70 anos de idade. Um disse ao outro que ele estava muito sumido, o foi prontamente retrucado com a afirmação de que “nós estamos sumidos um do outro”, o que invalida qualquer cobrança.

O anestesista perguntou ao colega o que ele anda fazendo atualmente e como está a sua família. Ele disse que se aposentou no trabalho que tinha no hospital e que continua atendendo clientes em seu consultório, tanto os particulares quanto os de planos de saúde, esses apenas dois dias na semana.

O ortopedista também falou que faz caminhadas de 40 a 45 minutos três dias na semana, frequenta academia outros dois dias e faz um pouco de natação nos finais de semana, sempre que possível.

Quanto aos filhos disse que são três, todos bem encaminhados na vida, sendo que 1 é médico cardiologista, outro advogado e o mais novo é engenheiro mecânico que trabalha no Canadá. Ele virá ao Brasil para as festas de natal e ano novo.

Por sua vez, o anestesista disse que está pensando em se aposentar do hospital, onde trabalha há décadas, no final desse ano ou início do próximo. Ele afirmou que está sentindo um certo cansaço do dia a dia do bloco cirúrgico.

Tem duas filhas, uma engenheira química e outra administradora de empresas, cada uma com dois filhos.

Ele está pensando que, após a aposentadoria, continuará trabalhando em seu consultório nas tardes das terças , quartas e quintas prioritariamente para atender clientes particulares, já os clientes de planos de saúde poderão ser encaixados na agenda de quinta-feira. O anestesista ainda disse que seu sonho era ter mais tempo para se dedicar às atividades físicas, principalmente fazendo caminhadas e natação em alguns estilos.

Quando a conversa ia tomar o rumo das eleições para prefeito e vereadores em Belo Horizonte chegou a vez dos dois colegas da faculdade de medicina serem atendidos no balcão do empório.

Caro leitor, será que o anestesista vai conseguir se aposentar no tempo que ele está pensando? Dá para imaginar quando os dois colegas se encontrarão outra vez num empório?

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Setembro

por Convidado 16 de setembro de 2024   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Quando era criança (não vou dizer onde) com cinco anos de idade, eu tive um tio, ainda muito jovem, que nos levava, a mim e a meu irmão de seis anos, para passear, comer doces e sempre, mesmo com frio, nos presenteava com os picolés de groselha. Era filho carinhoso, irmão dedicado, tio zeloso e amigo presente. Goleiro do América de Barbacena, habilidade que eu e meus irmãos herdamos dele.  Considerado alto para a época, com seus 1,88m, fez sucesso com suas atuações em partidas do campeonato local. Era poeta e adorava La vie en rose, cantada por Edith Piaf. De tanto ouvir, aprendi a gostar.

Morávamos em frente à Escola Agrícola Federal. Meu tio, sabendo que gostávamos de novidade, nos levou para um piquenique naquela escola. E, como dizem que o melhor da festa é esperar por ela, na noite anterior nem dormimos direito. E as merendas… doce de goiabada, bolachas, doce de leite, Nescau, sanduíche e guaraná. E nada disso fazia mal.

Na saída, tio José perguntou se passaríamos a semana no passeio, pois a “matula” estava grande. Não me lembro de ter sobrado nada. Vimos búfalos, gansos, vacas, cavalos, muitas hortas, flores e salas de aula bem equipadas. Afinal, tratava-se de uma escola de ensino agrícola para internos. À tarde, quando regressamos, nossa mãe nos esperava com um abraço inexplicavelmente carinhoso que só mãe sabe dar.

Tivemos que descrever todo o passeio e ainda dizer se fomos obedientes. Fomos sim, mas meu tio jamais diria o contrário, devido ao amor que sentia por nós. E, ao nos despedirmos, ele nos prometeu passear na estação para ver os trens chegarem. Tínhamos trens de passageiros, sim, leitores mais jovens.

Alguns dias depois, veio a visita à estação. A plataforma era e é imensa, até hoje. Apitos fortes anunciavam que um trem estava chegando, enquanto outro saía. Tio José, apesar de atento a tudo, teve um descuido e eu, curioso que era (não sou mais), como disse o policial da estação, adentrei pela porta do corredor e evadi pela plataforma de saída. Ouvindo aquela declaração, o pobre José pegou meu irmão pela mão e saiu desesperado, com lágrimas nos olhos e um fardo de responsabilidade pesando uma tonelada.

Não morri. Fiquem tranquilos, preocupados leitores. Mas poderia. Atravessei o trilho e quis ver como era o vagão do trem. Um fiscal segurou minha mão e esperou pelo resgate. Disse que o que fiz era muito perigoso e que aquele fato jamais deveria se repetir. Voltamos para casa silenciosamente, enquanto meu tio procurava encontrar palavras que narrassem o acontecido, sem que fosse repreendido por meu pai; porque carregava a certeza de que meu irmão iria tagarelar sobre o fato. Ao chegarmos, meu irmão tagarelou e meu pai quase arrancou a minha orelha.

Desde que nascemos, nosso tio esteve conosco, inclusive ajudando a nos dar mamadeira. Mas novos dias vieram e ele não voltou. Sentimos sua falta, perguntamos à nossa mãe por que ele não veio nos ver. Mamãe, com olhar perdido, nos disse que ele inventou uma brincadeira de se esconder, e que talvez não viesse mais. E não veio. Chorei, fiz pirraça… e ele não veio.

Foi num setembro, que ainda não era amarelo, que meu amado tio, aos 24 anos, tirou sua própria vida.

 

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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