Vale a leitura

por Luis Borges 25 de junho de 2018   Vale a leitura

Reclamando na encruzilhada

No ano 501 a.C o filósofo Heráclito de Éfeso (534 a.C – 475 a.C) já dizia que nada existe em caráter permanente a não ser a mudança. Mas que mudanças estamos esperando para que a sociedade brasileira consiga sair da encruzilhada em que se encontra diante da crise política, econômica e social? É interessante observar e analisar as posturas das pessoas, que podem ir desde a omissão até a reclamação sobre tudo e sobre todos. Nesse sentido confira o que diz o jornalista Ricardo Kotscho em seu artigo Por que só damos valor para o que perdemos, e não para o que temos?, publicado no blog Balaio do Kotscho.

“Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas e precisamos fazer alguma coisa para não entregar os pontos. Ficar só reclamando da vida e de tudo, culpando os outros pelas nossas desgraças, é que não leva a nada. Botar a culpa no juiz não vai mudar o resultado do jogo. Bola pra frente que atrás vem gente”.

A fase terminal do governo Temer

Cada dia com sua agonia. É assim que prossegue a fase terminal do governo Temer marcada pela “bateção” de cabeças e tentativas desesperadas de mostrar algum resultado em meio à sua altíssima rejeição nas pesquisas. Após a desastrada atuação na greve dos caminhoneiros agora foi a vez de transferir recursos da educação para a segurança pública. Mas, como sempre, sem atuar nas causas principais da crise fiscal da União Federal.

O professor e jornalista Leonardo Sakamoto aborda esta questão no artigo Temer tira recursos da Educação em nome da Segurança. Ache o erro da frase, publicado em seu blog.

“O bom de ser um governo com 3% de aprovação e 82% de desaprovação (novamente, Datafolha) em reta final de mandato é que você não precisa se preocupar em tentar explicar sua lógica para a sociedade. Principalmente quando sua lógica fere a lógica”.

O aniversário de Ouro de Tolo

No primeiro semestre de 1973 a ditadura militar brasileira completou 9 anos, o milagre econômico brasileiro chegava ao seu quarto e último ano enquanto, do ponto de vista político, predominava o chumbo grosso contra os opositores do regime vigente. No mês de maio aconteceu o lançamento da música Ouro de Tolo, de autoria do cantor e compositor Raul Seixas (1945 – 1989), que é considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Passados 45 anos a ousada mensagem de Ouro de Tolo continua válida e passível de várias percepções para quem a revisita. Uma interessante abordagem sobre esse primeiro grande sucesso do “Maluco beleza” está no artigo ‘Ouro de Tolo’, de Raul Seixas: a obra-prima do pop brasileiro faz 45 anos, de autoria de André Barcinski publicado em seu Blog do Barcinski.

O que Raul quis dizer com “cercas embandeiradas”? Seriam as bandeiras metáforas para a posse de riquezas, no sentido de “o MEU terreno; o MEU carro, etc”, ou seriam bandeiras reais, ideológicas, que separariam os quintais de pessoas com posições antagônicas? O verso era pertinente no Brasil de 1973, e continua pertinente no brasil de hoje.

Talvez seja o segredo da longevidade de “Ouro de Tolo”; é uma canção política, mas que despreza a ideologia. O que interessava Raul era a liberdade individual, o despertar de cada um, e não a simples crítica a governos ou situações. Raul enxergava à frente de conjunturas e propunha novos caminhos. Por isso “Ouro de Tolo” não envelhece.

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Os engenheiros eletricistas Pedrinho Augusto e Marinho Teles se conheceram no ano em que ingressaram na universidade. A condição de colegas acabou substituída ao longo do curso pela de amigos, que coincidentemente foram trabalhar numa mesma empresa do setor energético logo após a formatura. A vida pessoal e profissional dos dois amigos teve seu curso dentro das expectativas de ascensão social e sucesso dignas dos sonhos e propósitos da classe média. Tudo seguiu muito bem e tranquilamente num feliz convívio entre as famílias dos dois engenheiros.

O tempo passou e chegou a hora dos dois terem direito à aposentadoria pelo INSS acompanhada pelo plano de previdência complementar. Era dezembro de 2013 e ambos completavam 35 anos de trabalho ininterrupto na mesma empresa. A decisão de se aposentar foi imediata, em função da missão cumprida e de um certo cansaço acumulado na jornada. Mas, aos 60 anos, os dois amigos concluíram que era chegada a hora de realizar um sonho acalentado nos últimos anos de trabalho formal – a aquisição de uma pequena propriedade rural em que pudessem ser vizinhos.

Passados 11 meses lá estavam eles na zona rural de um município da região metropolitana de Belo Horizonte, cada um com os seus 5.000 m² de terra separados por uma cerca de arame farpado. Para que as famílias se visitassem sem ter que ir até a estrada de terra que dá acesso às entradas de cada propriedade, decidiram construir o “passa um” na cerca bem em frente às casas que ficam na parte central de cada minifúndio. Vale lembrar que “passa um” é um dispositivo de madeira colocado para interromper a cerca e permitir a passagem de uma pessoa de cada vez de um lado para o outro. Passaram-se pouco mais de 2 anos de muita harmonia e cooperação na convivência das duas famílias, sempre encurtando o caminho através do “passa um”.

Entretanto lá num belo sábado de março de 2017 aconteceu um confronto inesperado, mas típico da intolerância de quem não sabe conviver com pensamentos diferentes e cada um ainda quer impor ao outro a prevalência de sua fala. Protagonizaram a cena a filha mais nova de Pedrinho Augusto e a esposa de Marinho Teles. A causa do confronto ficou por conta de posições polarizadas a partir das eleições para a Presidência da República em 2014 e o impeachment da vencedora do pleito em 2016. A discussão ficou tão acirrada que tudo acabou em raiva e ódio. Como tudo aconteceu na casa de Marinho Teles, assim que o acirrado bate boca terminou a filha de Pedrinho Augusto deixou o local inconformada. Por outro lado, a esposa de Marinho Teles não se fez de rogada e de maneira intempestiva exigiu que seu marido fechasse unilateralmente o “passa um” e que se rompesse a amizade que sempre existiu entre os dois amigos e também entre suas famílias. A exigência foi imediatamente cumprida e a longa amizade chegou ao fim com um desfecho jamais imaginado. Agora as pessoas das duas famílias se evitam ao máximo ou viram a cara para outro lado quando se cruzam inadvertidamente.

Passados um ano e 3 meses do impensável desfecho, e sem nenhum sinal de qualquer possibilidade de retomada da antiga amizade em novas bases, Pedrinho Augusto prossegue procurando um comprador para a sua propriedade, pois sente que o seu coração já não está mais ali e nem o de sua família. Ele espera concretizar algum negócio antes das eleições presidenciais de outubro próximo.

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Em pouco menos de um mês comemoram-se os dois anos do reconhecimento do Conjunto Arquitetônico da Pampulha como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Acontece que esse reconhecimento é válido por 3 anos e se expirará em julho de 2019. Ele só será mantido se forem atendidas diversas exigências de adequação feitas pela Unesco diante de alguns problemas detectados à época do título. Estão entre as alterações solicitadas a remoção das estruturas não originais do projeto do Iate Tênis Clube, a reforma da Igrejinha de São Francisco, a melhoria da qualidade da água da lagoa, a restauração do Museu de Arte da Pampulha e a revitalização de praças.

Enquanto o tempo passa os prazos para a solução dos problemas vão ficando mais curtos. Finalmente a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou para os próximos dias o início da reforma da Igrejinha de São Francisco, com previsão para durar um ano.

Também vale lembrar o crônico problema do manejo das capivaras, que não é tarefa fácil. Na fotografia a seguir, feita no último dia 31, vemos uma pequena família nas proximidades do Parque Guanabara e da Igrejinha de São Francisco. Longe do Parque Ecológico, onde era pretendido que elas ficassem.

Foto: Sérgio Verteiro

Também prossegue desafiante a limpeza da lagoa e sua posterior manutenção, pois ela ainda recebe muito lixo e esgotos sanitários. A fotografia postada a seguir, também feita no último 31 de maio é um bom exemplo de como a fauna insiste em prosseguir na vida apesar do meio tão pouco amigável.

Foto: Sérgio Verteiro

Tenho dúvidas se todas as exigências feitas pela Unesco serão atendidas em apenas um ano. Vamos acompanhar para ver.

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Já estou sentindo um certo cansaço de tanta falação envolvendo a greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos que impactaram fortemente a logística do cotidiano de nossas vidas, indo desde a escassez de bens e serviços até aos aumentos de preços inerentes à lei da oferta e da procura que rege o mercado. Talvez este certo cansaço possa ser decorrente da exaustiva abordagem dos fatos e dados que vão se sucedendo dinamicamente na conjuntura e aos quais ficamos expostos nas diversas mídias que frequentamos e nas conversas que surgem no ambiente familiar, no trabalho, nas confraternizações…

É claro que não podemos negar a realidade que nos assombrou durante a greve. Havia a expectativa do desabastecimento e a perspectiva de dias mais sombrios caso crescesse a impossibilidade de se atender às necessidades humanas básicas de sobrevivência e segurança. Afinal de contas, um colapso do sistema de vida de uma sociedade que se diz civilizada tem o dom de trazer medo e pânico para muitos de seus membros. Nesse sentido vale até lembrar a clássica e amarga constatação de uma pessoa dizendo que tinha dinheiro, mas não tinha nem o quê e nem como comprar. Essa pessoa se lembrou de 1986, no Plano Cruzado, quando havia escassez e preços congelados.

Mas se isso é o que temos para o momento e sabedores de que “quanto pior, pior mesmo”, só nos resta encarar a situação com muita resiliência e sem perder a capacidade de manifestar toda a insatisfação com o desgoverno que reina no país. Ainda assim, e esperando as próximas eleições com muito realismo diante de tantas incertezas, que aprendizado as pessoas podem ter após sobreviver ao desabastecimento? É interessante e importante avaliar a falta que nos fizeram vários bens e serviços que tiveram a disponibilidade reduzida ou até mesmo ficaram indisponíveis.

A reflexão que proponho deve ser acompanhada da implementação de ações que demonstrem mudanças de atitudes em função das oportunidades identificadas. Apesar do “consumo, logo existo” e da ostentação inerentes ao capitalismo, é possível identificar e viver dignamente só com aquilo de que necessitamos? Se faltar batata, tomate, cebola, frutas, produtos derivados do leite, serviços públicos ou tanque do automóvel cheio de gasolina dá para prosseguir sem entrar em pânico?

É relevante também avaliar o nosso comportamento ao longo dos 11 dias da greve e o desenrolar das negociações com o fragilizadíssimo governo federal. Imagine o seu plano estratégico ou o de sua família caso a greve durasse 20 ou 30 dias, aprofundando o desabastecimento. Seria uma oportunidade para exercitar e definir o que é necessário, essencial e deixar de lado o que é supérfluo ou que pode ter seu uso postergado. De repente poderá ser possível perceber o tamanho dos desperdícios ou da gula perante o consumo exacerbado…

Como foi a sua experiência vivenciando o processo de desabastecimento? Você conseguiu enxergar possibilidades positivas para mudar algumas atitudes que poderão melhorar o seu modo de vida?

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* por Sérgio Marchetti

Já tive a oportunidade de escrever que estamos vivendo o momento das maiores mudanças de que se tem registro em toda a história do universo. Sei que já mencionei minhas dúvidas e inquietações sobre o caminhar da humanidade. Mas me dou o direito de repetir algum ponto de vista, pois os jornais televisivos repetem as mesmas falcatruas diariamente e têm audiência.

Estamos no meio de uma grande tempestade. Quando vier a bonança (se vier) muita coisa estará definitiva e irremediavelmente transformada. Mas a tempestade intitulada de mudança não cessará. Viveremos uma metamorfose perene que ninguém sabe aonde irá nos levar, nem como seremos depois do dia “D”. Desculpem-me, dia “D“ é coisa de humano e não de humanoide.

O que sabemos é que, desde o advento da revolução tecnológica, as ondas se multiplicaram de tamanho e, além de assumirem proporções gigantescas, – verdadeiros Tsunamis – possuem também uma rapidez jamais vista pelos habitantes do planeta. Os valores, as condutas, os credos, os dogmas – tudo mudou. Há apenas 20 anos uma pequenina parcela da população brasileira usava telefone celular. Hoje, só para exemplificar, numa faculdade o uso é de 100% de alunos. E nos próximos dez anos? E daqui a vinte anos? Eu não tenho a resposta. Mas sei que enquanto evoluímos com a tecnologia, o relacionamento entre seres humanos piora bastante.

Com alegria, um aluno me disse que cada um de nós – que nos encontrávamos numa sala de aula em Porto Alegre – estava sendo monitorado 24 horas por dia. E, mesmo sabendo que é verdade, fiquei pensativo quanto à questão da privacidade das pessoas.

Mas é um caminho sem volta. Não sou louco de dizer que a tecnologia é algo ruim. Não é. Pelo contrário, trouxe e continuará trazendo soluções em todas as áreas e segmentos, e será fundamental ao aumento da nossa longevidade. A história do mundo será dividida em antes e depois da tecnologia. Contudo, há um movimento insano de deslumbramento de uma multidão que marcha sem rumo certo em busca do novo – sabendo que “o novo” pode ser a desumanização. Falta-lhes a temperança.

A ficção tornou-se realidade. Filmes como “Blade Runner”, “Inteligência artificial”, “Ex-machina” e outros mais antigos, como “Perdidos no Espaço”, tornaram-se reais. Teremos que aprender a conviver com os robôs.

Robô babá; robô para terapia de autistas; cachorro robô (Golden Pup); robô doméstico; robô sexual (Rodofilia – tomara que não deem choque). Este último já está gerando muitas discussões éticas e do “politicamente correto” (acho este termo tão estranho, parece que as palavras não cabem na mesma expressão). Sob meu ponto de vista é uma concorrência desleal conosco, pois esses humanoides não terão alterações de humor e de hormônios que tanto trazem mal-estar ao ambiente de trabalho. Os robôs não envelhecem, não implicam, falam pouco…

A C&S (C&S Wholesale Grocers Inc.) é a maior distribuidora por atacado para supermercado nos Estados Unidos. No seu centro de distribuição em Newburgh, New York, mais de 100 robôs transitam livremente pelos corredores. Alcançam velocidades de 40 km/h no escuro e utilizam braços mecânicos portáteis para colocar ou retirar caixas de prateleiras a um ritmo de uma caixa por minuto – quase cinco vezes mais rápido do que os humanos costumam fazer. Dois ou mais hospitais na Bélgica já utilizam o robô humanoide Pepper para auxiliar seus pacientes.

Enfim, o novo mundo. Dos livros de ficção para as telas, e das telas para a vida real.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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A realização de pesquisas sobre as intenções de votos dos eleitores nas eleições de outubro próximo tende a aumentar na medida em que avança o calendário eleitoral. Isso vale tanto para as que são registradas na Justiça Eleitoral para serem amplamente divulgadas quanto as que são feitas para uso particular. O fato é que elas vão tirando as fotografias de cada momento. Se devidamente observadas e analisadas podem ajudar a inferir tendências que superam o mero achismo. Entretanto é preciso ressaltar o dinamismo do momento, que exige acompanhamento e novas medições para fotografar as mutações que acontecem no desenrolar do processo. Nada é estático.

Nas pesquisas das diversas organizações que fazem o levantamento das intenções de votos sinto falta de uma pergunta inicial básica, simples e direta ao ponto – você votará nas próximas eleições? Obviamente que se a resposta for sim, a pesquisa poderá seguir o roteiro previsto. Se for não, poderia se encerrar por ali ou então buscar algumas causas daquela decisão. A razão da minha proposição dessa pergunta é também muito simples. Apesar do voto nas eleições ser obrigatório no Brasil, diferente de diversos outros países em que é facultativo, considero que o voto é um direito e não um dever.

Montagem feita sobre foto do TSE.

Se olharmos atentamente para os dados das últimas eleições verificaremos que tem aumentado muito o índice de abstenção e o não comparecimento às urnas está ficando tão alto que, na prática, fica até parecendo que o voto é facultativo, apesar das sanções impostas a quem não comparece. Outro fator importante a ser considerado é que a obrigatoriedade do voto é para quem tem idade na faixa de 18 a 70 anos. Portanto o voto é opcional para quem tem idade de 16 a 18 anos ou acima de 70. A nossa população está cada vez mais longeva, vale lembrar que o país tem hoje cerca de 12 milhões de eleitores com idade superior a 70 anos segundo o IBGE. Assim sendo, torna-se necessário um olhar mais atento para o fenômeno da abstenção e as causas do seu crescimento já nos períodos que antecedem as eleições, pois nem todos os aptos a votar são obrigados a comparecer às urnas.

Ao observar e analisar os números das eleições presidenciais em 2014, veremos que 142,8 milhões de eleitores estavam aptos a votar. No primeiro turno a abstenção foi de 19,4%, o que significou a ausência de 27,7 milhões de eleitores. Esse número cresceu no segundo turno, quando a abstenção chegou a 21,1%, ou seja, 30,137 milhões de eleitores.

Enquanto isso as pesquisas seguem simulando seus cenários e medindo os percentuais de eleitores que estão indecisos e dos que votarão nulo, branco ou em algum candidato, mas sem saber se os entrevistados comparecerão às urnas. É o que temos para hoje.

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Em 20 de julho de 2017 o governo federal anunciou o aumento da alíquota do Pis/Cofins da gasolina de R$0,3816 para R$0,7925 e do óleo diesel de R$0,2480 para R$0,4615 nas refinarias. Já para o litro de etanol a alíquota passou de R$0,12 para R$0,1309 para o produtor. A alíquota para o distribuidor, que era zerada, passou para R$0,1964. Na época, o aumento foi justificado pela necessidade de arrecadar mais R$10,4 bilhões para ajudar a cobrir o déficit das contas públicas diante da não recuperação plena da arrecadação federal.

Vale lembrar que também houve aumento de alíquotas do ICMS dos estados que incidem sobre os combustíveis. Em Minas Gerais entrou em vigor no início do ano o aumento de 2% da alíquota do ICMS sobre a gasolina, que passou de 29% para 31%.

Passaram-se 10 meses dos aumentos federais que se somaram à alta da cotação do dólar e à política de preços da Petrobras, alinhada às cotações do mercado internacional. Com tudo isso, veio a greve dos caminhoneiros.

O tardio reconhecimento do Governo Federal de que a greve era para valer resultou na redução de R$0,46 no preço do óleo diesel na bomba dos postos de combustíveis durante 60 dias, CIDE zerada e não reoneração da folha salarial do segmento de transportes rodoviários dentre outras medidas.

Simultaneamente o Ministro da Fazenda falou em aumento de impostos para compensar a redução de preços que acabara de ser definida, por exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Diante das intensas críticas e manifestações contrárias à proposta, o Ministro acabou desconversando e alegando que a solução seria fazer remanejamentos no orçamento.

É impressionante verificar como é forte a cultura do aumento de impostos para se resolver todas as mazelas de custos crescentes dos gastos públicos, que cada vez mais se distanciam da arrecadação da União, estados e municípios. Quase não se vê uma análise crítica dos gastos, questionamentos sobre o que é essencial e o que é mero desperdício ou mesmo a verificação de conformidade entre o que foi especificado e o realizado. Se for colocada uma lupa sobre os diversos tipos de gastos ficaria mais visível a verificação de que muitos deles sequer seriam necessários e que outros poderiam ser adiados e priorizados em função dos recursos existentes. Não basta só estabelecer teto de gastos e deixar de lado todas as variáveis envolvidas na gestão estratégica e operacional estruturadas.

Observando, a título de exercício, alguns exemplos de gastos que poderiam ser submetidos a uma análise criteriosa muitos poderiam até se surpreender pela demonstração da possibilidade de adequação/redução de custos antes de se pensar em criar novos impostos, taxas e contribuições. Um Projeto de Lei que está parado no Congresso Nacional propõe a redução do número de parlamentares nas duas casas, cujo orçamento de 2018 prevê gastos de R$10,6 bilhões. Pela proposta, já aprovada pelos deputados federais em 2016, a Câmara passaria a ter 385 deputados no lugar dos atuais 513 enquanto o Senado passaria a ter 54 senadores, ou seja, 27 a menos que os 81 atuais. Só falta o próprio Senado Federal votar e aprovar o Projeto de Lei. Será?

Que tal avaliar os custos dos jatinhos da FAB transportando autoridades a qualquer momento para qualquer lugar, até mesmo para descerrar uma placa de intenção de uma obra que nem sempre será concluída? Tudo isso na era digital e das redes sociais cheias de imagens.

Também vale analisar a real necessidade do pagamento de auxílio moradia de R$4.377 mensais a membros dos poderes Judiciário e Legislativo, amparado em liminar do Supremo Tribunal Federal que aguarda votação do Plenário há quase 5 anos, enquanto o dinheiro sai religiosamente dos cofres públicos.

Para não cansar o caro leitor sugiro que cada um lembre-se de pelo menos 3 gastos que poderiam ser revisados e analisados para verificar o nível de agregação de valor econômico que justifique a sua manutenção.

Nos últimos 30 anos a carga tributária do país subiu de 24% para 34% do PIB, embora muitos analistas digam que esse índice já passou dos 40%. Como se vê criar impostos continua sendo o caminho mais curto para os governantes e seus parlamentares.

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