Curtas e curtinhas

por Luis Borges 1 de julho de 2018   Curtas e curtinhas

STF de férias outra vez

Julho chegou e com ele mais um mês de férias para os ministros do Supremo Tribunal Federal. Passaram-se 5 meses do término das férias de janeiro, que sucederam o recesso forense de 20 a 31 de dezembro como prevê a Lei. Enquanto isso, quase 100 mil processos se arrastam nos gabinetes de suas excelências, sendo que alguns deles já se aproximam dos 20 anos de tramitação na casa que zela pelo cumprimento da Constituição Brasileira. Rapidez nas decisões e produtividade parecem estar cada vez mais longe das prioridades.

Meta de inflação para 2021

Depois da greve dos caminhoneiros o Boletim Focus, do Banco Central, está projetando em 4% o índice de inflação de 2018 medido pelo IPCA do IBGE, embora a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional seja de 4,5%. Também pudera. A recessão econômica foi muito forte e a recuperação está extremamente lenta, bem aquém do sonhado crescimento de 3% do PIB anunciado no início do ano.

Agora o CMN fixou a meta de inflação para 2021 em 3,75% ao ano, ante 4% em 2020 e 4,25% em 2019. Vamos ver o que o próximo Presidente da República conseguirá fazer para equilibrar as contas públicas diante das heranças que receberá advindas dos gastos sempre crescentes, do aumento do déficit público e do pequeno crescimento econômico. Para o setor público só está sobrando tomar a decisão de cortar na própria carne, pois afinal de contas não dá para aumentar os impostos ainda mais, mesmo em início de mandato.

Obras paralisadas

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção encomendou à consultoria InterB um estudo sobre o Impacto Econômico e Social das Obras Públicas no Brasil. O levantamento mostra que existem cerca de 7 mil obras paralisadas no âmbito do Governo Federal e que seriam necessários R$76 bilhões para serem concluídas. Diante da crise econômica e da falta de investimentos o trabalho mostra que a saída mais provável será o puro e simples abandono de boa parte das obras que estão inacabadas.

Quando se olha para obras de responsabilidade dos estados e municípios verifica-se que as informações são escassas e incompletas, mas estima-se que as obras paralisadas necessitariam de R$68 bilhões para serem concluídas. Nesse sentido a União, estados e municípios precisam de R$144 bilhões para retomar suas obras paralisadas. Quais são as causas de mais esse provável desperdício dos recursos financeiros públicos? É sempre mais do mesmo.

Planos de saúde empresariais

Os planos de saúde da modalidade empresarial representam 67% do mercado brasileiro e devem ter um aumento médio de preços de 19% em 2018, ante 17% no ano passado. Segundo as operadoras entre as causas para tamanho aumento estão introdução de novas tecnologias, envelhecimento da população e uso excessivo do convênio médico. Além disso, ainda existe a sempre ciosa atuação da Agência Nacional de Saúde Suplementar, medindo a inflação da saúde com um método de cálculo que tem recebido questionamentos nessa temporada de aumentos de preços. Basta verificar as idas e vindas para se estabelecer o aumento de preços dos planos individuais, que acabou ficando em 10%. Pelo visto os planos continuarão a perder clientes, pois haja renda para que as pessoas consigam acompanhar esses grandes saltos nos preços enquanto o desemprego campeia.

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Uma pedagoga aposentada, 61 anos de idade, que se considera uma pessoa bastante atenta aos sinais começou a sentir uma leve dor na coxa de sua perna esquerda no início do mês de dezembro do ano passado. As dores persistiram e foram aumentando aos poucos, até mesmo durante pequenas caminhadas. Enquanto isso transcorreram-se o Natal, o Ano Novo e o Carnaval. Na Quarta-Feira de Cinzas, já bastante incomodada com o desconforto da dor, a pedagoga resolveu consultar um médico de clínica geral, que a encaminhou para uma consulta imediata com um especialista em artérias.

Por coincidência, sorte ou capacidade de processo de seu plano de saúde da modalidade empresarial – de cobertura ampla e enfermaria para casos de internação – a consulta com o especialista foi marcada para a semana seguinte. O profissional solicitou a realização de diversos exames laboratoriais e de imagem para apoia-lo em seu diagnóstico, todos cobertos pelo plano de saúde. Na consulta seguinte, que foi a segunda, o médico analisou todos os exames e seu diagnóstico foi de que a dor se devia a uma importante obstrução arterial na região investigada. O seu prognóstico foi de cirurgia, com o uso de tecnologia específica para corrigir o problema. A pedagoga acatou o diagnóstico e prognóstico e perguntou ao especialista quais seriam os próximos passos. Foi aí que ele fez as guias solicitando ao plano de saúde as autorizações para os exames de risco cirúrgico e dos custos de todas as etapas do processo. Também receitou o uso de um medicamento para atenuar dores, mas que não devia ser usado indefinidamente, pois não substitui a cirurgia.

Após tudo pronto e em conformidade com as regras contratuais do plano de saúde a pedagoga voltou ao especialista em meados do mês de maio para agendar a data de realização da cirurgia. Nos encaminhamentos finais da consulta o especialista ensaiou fazer uma verificação em sua agenda para fazer a marcação no início de junho, mas parou subitamente dizendo que precisava esclarecer um detalhe ainda não abordado. Então ele disse à paciente – ou seria cliente? – que o plano de saúde não remunera seus serviços pelo valor que eles realmente tem e, por isso, ele precisa cobrar por fora um complemento de 7 mil reais. Prosseguiu dizendo que a cirurgia poderia ser feita também por outros colegas e que a decisão não precisava ser tomada de imediato, já que era possível esperar 60 dias pelo menos.

Recuperando-se do susto trazido pela surpresa dos últimos minutos a pedagoga perguntou ao especialista se o plano de saúde sabia da remuneração adicional. Ele disse que não, mas que essa é uma luta dos profissionais que anseiam por uma remuneração melhor. Terminou dizendo que poderia dividir o adicional em 5 parcelas fixas de R$1.400,00 sem a emissão de recibos e que a primeira parcela deveria ser paga no dia da alta hospitalar. Mais fragilizada do que estava ficou a pedagoga, que acabou por pedir ao profissional um tempo para pensar, pois 7 mil não brotam do asfalto, principalmente para uma aposentada do serviço público estadual.

Após muitas conversas em família a decisão acabou sendo a de sucumbir às condições do especialista, mas ficou claro que ele se utiliza do plano para captar clientes, aproveitar seus serviços de apoio ao diagnóstico, bloco cirúrgico, serviços de hotelaria e honorários próprios – ainda que em valores bem abaixo de suas expectativas. Feita a cirurgia, ficou a evidência de como essa cadeia produtiva funciona e também de como não funciona a Agência Nacional de Saúde Suplementar, cuja missão é regular e fiscalizar os serviços de quem opera planos de saúde.

Quais são os valores éticos que regulam as relações das partes envolvidas nessas cadeias produtivas? Ou ética é só para os outros, a começar pelos agentes públicos?

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Vale a leitura

por Luis Borges 25 de junho de 2018   Vale a leitura

Reclamando na encruzilhada

No ano 501 a.C o filósofo Heráclito de Éfeso (534 a.C – 475 a.C) já dizia que nada existe em caráter permanente a não ser a mudança. Mas que mudanças estamos esperando para que a sociedade brasileira consiga sair da encruzilhada em que se encontra diante da crise política, econômica e social? É interessante observar e analisar as posturas das pessoas, que podem ir desde a omissão até a reclamação sobre tudo e sobre todos. Nesse sentido confira o que diz o jornalista Ricardo Kotscho em seu artigo Por que só damos valor para o que perdemos, e não para o que temos?, publicado no blog Balaio do Kotscho.

“Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas e precisamos fazer alguma coisa para não entregar os pontos. Ficar só reclamando da vida e de tudo, culpando os outros pelas nossas desgraças, é que não leva a nada. Botar a culpa no juiz não vai mudar o resultado do jogo. Bola pra frente que atrás vem gente”.

A fase terminal do governo Temer

Cada dia com sua agonia. É assim que prossegue a fase terminal do governo Temer marcada pela “bateção” de cabeças e tentativas desesperadas de mostrar algum resultado em meio à sua altíssima rejeição nas pesquisas. Após a desastrada atuação na greve dos caminhoneiros agora foi a vez de transferir recursos da educação para a segurança pública. Mas, como sempre, sem atuar nas causas principais da crise fiscal da União Federal.

O professor e jornalista Leonardo Sakamoto aborda esta questão no artigo Temer tira recursos da Educação em nome da Segurança. Ache o erro da frase, publicado em seu blog.

“O bom de ser um governo com 3% de aprovação e 82% de desaprovação (novamente, Datafolha) em reta final de mandato é que você não precisa se preocupar em tentar explicar sua lógica para a sociedade. Principalmente quando sua lógica fere a lógica”.

O aniversário de Ouro de Tolo

No primeiro semestre de 1973 a ditadura militar brasileira completou 9 anos, o milagre econômico brasileiro chegava ao seu quarto e último ano enquanto, do ponto de vista político, predominava o chumbo grosso contra os opositores do regime vigente. No mês de maio aconteceu o lançamento da música Ouro de Tolo, de autoria do cantor e compositor Raul Seixas (1945 – 1989), que é considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Passados 45 anos a ousada mensagem de Ouro de Tolo continua válida e passível de várias percepções para quem a revisita. Uma interessante abordagem sobre esse primeiro grande sucesso do “Maluco beleza” está no artigo ‘Ouro de Tolo’, de Raul Seixas: a obra-prima do pop brasileiro faz 45 anos, de autoria de André Barcinski publicado em seu Blog do Barcinski.

O que Raul quis dizer com “cercas embandeiradas”? Seriam as bandeiras metáforas para a posse de riquezas, no sentido de “o MEU terreno; o MEU carro, etc”, ou seriam bandeiras reais, ideológicas, que separariam os quintais de pessoas com posições antagônicas? O verso era pertinente no Brasil de 1973, e continua pertinente no brasil de hoje.

Talvez seja o segredo da longevidade de “Ouro de Tolo”; é uma canção política, mas que despreza a ideologia. O que interessava Raul era a liberdade individual, o despertar de cada um, e não a simples crítica a governos ou situações. Raul enxergava à frente de conjunturas e propunha novos caminhos. Por isso “Ouro de Tolo” não envelhece.

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Os engenheiros eletricistas Pedrinho Augusto e Marinho Teles se conheceram no ano em que ingressaram na universidade. A condição de colegas acabou substituída ao longo do curso pela de amigos, que coincidentemente foram trabalhar numa mesma empresa do setor energético logo após a formatura. A vida pessoal e profissional dos dois amigos teve seu curso dentro das expectativas de ascensão social e sucesso dignas dos sonhos e propósitos da classe média. Tudo seguiu muito bem e tranquilamente num feliz convívio entre as famílias dos dois engenheiros.

O tempo passou e chegou a hora dos dois terem direito à aposentadoria pelo INSS acompanhada pelo plano de previdência complementar. Era dezembro de 2013 e ambos completavam 35 anos de trabalho ininterrupto na mesma empresa. A decisão de se aposentar foi imediata, em função da missão cumprida e de um certo cansaço acumulado na jornada. Mas, aos 60 anos, os dois amigos concluíram que era chegada a hora de realizar um sonho acalentado nos últimos anos de trabalho formal – a aquisição de uma pequena propriedade rural em que pudessem ser vizinhos.

Passados 11 meses lá estavam eles na zona rural de um município da região metropolitana de Belo Horizonte, cada um com os seus 5.000 m² de terra separados por uma cerca de arame farpado. Para que as famílias se visitassem sem ter que ir até a estrada de terra que dá acesso às entradas de cada propriedade, decidiram construir o “passa um” na cerca bem em frente às casas que ficam na parte central de cada minifúndio. Vale lembrar que “passa um” é um dispositivo de madeira colocado para interromper a cerca e permitir a passagem de uma pessoa de cada vez de um lado para o outro. Passaram-se pouco mais de 2 anos de muita harmonia e cooperação na convivência das duas famílias, sempre encurtando o caminho através do “passa um”.

Entretanto lá num belo sábado de março de 2017 aconteceu um confronto inesperado, mas típico da intolerância de quem não sabe conviver com pensamentos diferentes e cada um ainda quer impor ao outro a prevalência de sua fala. Protagonizaram a cena a filha mais nova de Pedrinho Augusto e a esposa de Marinho Teles. A causa do confronto ficou por conta de posições polarizadas a partir das eleições para a Presidência da República em 2014 e o impeachment da vencedora do pleito em 2016. A discussão ficou tão acirrada que tudo acabou em raiva e ódio. Como tudo aconteceu na casa de Marinho Teles, assim que o acirrado bate boca terminou a filha de Pedrinho Augusto deixou o local inconformada. Por outro lado, a esposa de Marinho Teles não se fez de rogada e de maneira intempestiva exigiu que seu marido fechasse unilateralmente o “passa um” e que se rompesse a amizade que sempre existiu entre os dois amigos e também entre suas famílias. A exigência foi imediatamente cumprida e a longa amizade chegou ao fim com um desfecho jamais imaginado. Agora as pessoas das duas famílias se evitam ao máximo ou viram a cara para outro lado quando se cruzam inadvertidamente.

Passados um ano e 3 meses do impensável desfecho, e sem nenhum sinal de qualquer possibilidade de retomada da antiga amizade em novas bases, Pedrinho Augusto prossegue procurando um comprador para a sua propriedade, pois sente que o seu coração já não está mais ali e nem o de sua família. Ele espera concretizar algum negócio antes das eleições presidenciais de outubro próximo.

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Em pouco menos de um mês comemoram-se os dois anos do reconhecimento do Conjunto Arquitetônico da Pampulha como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Acontece que esse reconhecimento é válido por 3 anos e se expirará em julho de 2019. Ele só será mantido se forem atendidas diversas exigências de adequação feitas pela Unesco diante de alguns problemas detectados à época do título. Estão entre as alterações solicitadas a remoção das estruturas não originais do projeto do Iate Tênis Clube, a reforma da Igrejinha de São Francisco, a melhoria da qualidade da água da lagoa, a restauração do Museu de Arte da Pampulha e a revitalização de praças.

Enquanto o tempo passa os prazos para a solução dos problemas vão ficando mais curtos. Finalmente a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou para os próximos dias o início da reforma da Igrejinha de São Francisco, com previsão para durar um ano.

Também vale lembrar o crônico problema do manejo das capivaras, que não é tarefa fácil. Na fotografia a seguir, feita no último dia 31, vemos uma pequena família nas proximidades do Parque Guanabara e da Igrejinha de São Francisco. Longe do Parque Ecológico, onde era pretendido que elas ficassem.

Foto: Sérgio Verteiro

Também prossegue desafiante a limpeza da lagoa e sua posterior manutenção, pois ela ainda recebe muito lixo e esgotos sanitários. A fotografia postada a seguir, também feita no último 31 de maio é um bom exemplo de como a fauna insiste em prosseguir na vida apesar do meio tão pouco amigável.

Foto: Sérgio Verteiro

Tenho dúvidas se todas as exigências feitas pela Unesco serão atendidas em apenas um ano. Vamos acompanhar para ver.

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Já estou sentindo um certo cansaço de tanta falação envolvendo a greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos que impactaram fortemente a logística do cotidiano de nossas vidas, indo desde a escassez de bens e serviços até aos aumentos de preços inerentes à lei da oferta e da procura que rege o mercado. Talvez este certo cansaço possa ser decorrente da exaustiva abordagem dos fatos e dados que vão se sucedendo dinamicamente na conjuntura e aos quais ficamos expostos nas diversas mídias que frequentamos e nas conversas que surgem no ambiente familiar, no trabalho, nas confraternizações…

É claro que não podemos negar a realidade que nos assombrou durante a greve. Havia a expectativa do desabastecimento e a perspectiva de dias mais sombrios caso crescesse a impossibilidade de se atender às necessidades humanas básicas de sobrevivência e segurança. Afinal de contas, um colapso do sistema de vida de uma sociedade que se diz civilizada tem o dom de trazer medo e pânico para muitos de seus membros. Nesse sentido vale até lembrar a clássica e amarga constatação de uma pessoa dizendo que tinha dinheiro, mas não tinha nem o quê e nem como comprar. Essa pessoa se lembrou de 1986, no Plano Cruzado, quando havia escassez e preços congelados.

Mas se isso é o que temos para o momento e sabedores de que “quanto pior, pior mesmo”, só nos resta encarar a situação com muita resiliência e sem perder a capacidade de manifestar toda a insatisfação com o desgoverno que reina no país. Ainda assim, e esperando as próximas eleições com muito realismo diante de tantas incertezas, que aprendizado as pessoas podem ter após sobreviver ao desabastecimento? É interessante e importante avaliar a falta que nos fizeram vários bens e serviços que tiveram a disponibilidade reduzida ou até mesmo ficaram indisponíveis.

A reflexão que proponho deve ser acompanhada da implementação de ações que demonstrem mudanças de atitudes em função das oportunidades identificadas. Apesar do “consumo, logo existo” e da ostentação inerentes ao capitalismo, é possível identificar e viver dignamente só com aquilo de que necessitamos? Se faltar batata, tomate, cebola, frutas, produtos derivados do leite, serviços públicos ou tanque do automóvel cheio de gasolina dá para prosseguir sem entrar em pânico?

É relevante também avaliar o nosso comportamento ao longo dos 11 dias da greve e o desenrolar das negociações com o fragilizadíssimo governo federal. Imagine o seu plano estratégico ou o de sua família caso a greve durasse 20 ou 30 dias, aprofundando o desabastecimento. Seria uma oportunidade para exercitar e definir o que é necessário, essencial e deixar de lado o que é supérfluo ou que pode ter seu uso postergado. De repente poderá ser possível perceber o tamanho dos desperdícios ou da gula perante o consumo exacerbado…

Como foi a sua experiência vivenciando o processo de desabastecimento? Você conseguiu enxergar possibilidades positivas para mudar algumas atitudes que poderão melhorar o seu modo de vida?

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* por Sérgio Marchetti

Já tive a oportunidade de escrever que estamos vivendo o momento das maiores mudanças de que se tem registro em toda a história do universo. Sei que já mencionei minhas dúvidas e inquietações sobre o caminhar da humanidade. Mas me dou o direito de repetir algum ponto de vista, pois os jornais televisivos repetem as mesmas falcatruas diariamente e têm audiência.

Estamos no meio de uma grande tempestade. Quando vier a bonança (se vier) muita coisa estará definitiva e irremediavelmente transformada. Mas a tempestade intitulada de mudança não cessará. Viveremos uma metamorfose perene que ninguém sabe aonde irá nos levar, nem como seremos depois do dia “D”. Desculpem-me, dia “D“ é coisa de humano e não de humanoide.

O que sabemos é que, desde o advento da revolução tecnológica, as ondas se multiplicaram de tamanho e, além de assumirem proporções gigantescas, – verdadeiros Tsunamis – possuem também uma rapidez jamais vista pelos habitantes do planeta. Os valores, as condutas, os credos, os dogmas – tudo mudou. Há apenas 20 anos uma pequenina parcela da população brasileira usava telefone celular. Hoje, só para exemplificar, numa faculdade o uso é de 100% de alunos. E nos próximos dez anos? E daqui a vinte anos? Eu não tenho a resposta. Mas sei que enquanto evoluímos com a tecnologia, o relacionamento entre seres humanos piora bastante.

Com alegria, um aluno me disse que cada um de nós – que nos encontrávamos numa sala de aula em Porto Alegre – estava sendo monitorado 24 horas por dia. E, mesmo sabendo que é verdade, fiquei pensativo quanto à questão da privacidade das pessoas.

Mas é um caminho sem volta. Não sou louco de dizer que a tecnologia é algo ruim. Não é. Pelo contrário, trouxe e continuará trazendo soluções em todas as áreas e segmentos, e será fundamental ao aumento da nossa longevidade. A história do mundo será dividida em antes e depois da tecnologia. Contudo, há um movimento insano de deslumbramento de uma multidão que marcha sem rumo certo em busca do novo – sabendo que “o novo” pode ser a desumanização. Falta-lhes a temperança.

A ficção tornou-se realidade. Filmes como “Blade Runner”, “Inteligência artificial”, “Ex-machina” e outros mais antigos, como “Perdidos no Espaço”, tornaram-se reais. Teremos que aprender a conviver com os robôs.

Robô babá; robô para terapia de autistas; cachorro robô (Golden Pup); robô doméstico; robô sexual (Rodofilia – tomara que não deem choque). Este último já está gerando muitas discussões éticas e do “politicamente correto” (acho este termo tão estranho, parece que as palavras não cabem na mesma expressão). Sob meu ponto de vista é uma concorrência desleal conosco, pois esses humanoides não terão alterações de humor e de hormônios que tanto trazem mal-estar ao ambiente de trabalho. Os robôs não envelhecem, não implicam, falam pouco…

A C&S (C&S Wholesale Grocers Inc.) é a maior distribuidora por atacado para supermercado nos Estados Unidos. No seu centro de distribuição em Newburgh, New York, mais de 100 robôs transitam livremente pelos corredores. Alcançam velocidades de 40 km/h no escuro e utilizam braços mecânicos portáteis para colocar ou retirar caixas de prateleiras a um ritmo de uma caixa por minuto – quase cinco vezes mais rápido do que os humanos costumam fazer. Dois ou mais hospitais na Bélgica já utilizam o robô humanoide Pepper para auxiliar seus pacientes.

Enfim, o novo mundo. Dos livros de ficção para as telas, e das telas para a vida real.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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