* por Sérgio Marchetti
Uma senhora fazia, calmamente, seu croché, sentada em sua poltrona numa sala simples quando, com muita naturalidade, pegou seu telefone e chamou a polícia.
Minutos depois, seu filho foi preso por assalto à mão armada.
Muitos vizinhos ficaram revoltados. Vieram críticas e rótulos de mulher fria, desumana, malvada. Mas a atitude daquela mulher deveria ser mais bem analisada antes de acusarem-na de perversa. Que pensamentos e sentimentos passavam por sua cabeça? Que razão teria para mandar prender seu próprio filho (a palavra “próprio” não precisava, mas serve para dar mais emoção ao texto).
Vamos tentar entendê-la. Ao ligar para a polícia estava no auge de seu desespero. O que ninguém sabia – nem queria saber – é que por trás de qualquer atitude há sempre um contexto. Não estou justificando erros, pelo contrário, estou reforçando a necessidade de avaliar contextos, de lançar um olhar sistêmico sobre acontecimentos e, assim, percebendo os detalhes e o enredo, compreender o desenlace dos fatos.
Aquela mãe já havia tentado de tudo. Por causa do filho perdeu saúde, terreno, carro e outros bens. O rapaz foi sempre um bandido. Teve emprego bom, todo o incentivo para estudar e ser uma pessoa de bem. Nada valeu. Era um ladrão, estelionatário e com suspeitas de homicídio.
Ouvi a história daquela mulher e, depois de conhecer toda a trama, lhe dei toda razão, embora outros tantos a crucificassem.
Bem, meus pacientes leitores, há neste episódio duas correntes de interpretação. Resumindo: temos os que são contra e os que são a favor da decisão da sofrida mãe. Mas o que desejo gerar são reflexões sobre nossas atitudes perante o mundo. Isso implica em usar o cérebro e ativar a função cognitiva que anda com ferrugem desde a descoberta do smartphone.
Há um bom tempo não decido nada sem antes entender o todo. Sugiro que façam o mesmo. Não julguem, não demitam, não passem a “fofoca” para frente antes de analisarem o contexto. Cuidado com as justificativas – muitas delas passam pela filosofia, falsamente atribuída a Maquiavel, de que os “fins justificam os meios”. Nem sempre!
Em minhas aulas sobre relação humana e comunicação demonstro que tudo é circunstancial. A natureza se incumbiu de fazer tudo conectado. Uma folha não cai de uma árvore por acaso. Por essa razão é que é preciso ter visão global. Aconselho, se aceitarem, que não sejam imediatistas. A pressa tem gerado prejuízos incalculáveis. Também não devem agir por impulso. Reflitam, entendam e esclareçam os fatos. Em princípio, eu também atiraria pedras sobre a mãe desalmada. Mas tem um momento em que nos cansamos de aceitar o erro. Além da preocupação com a sociedade, ela quis proteger o filho de um confronto fatal. Estou com ela. Quando uma parte não tem limites, a outra deve tomar atitudes drásticas. “Chega de tentar\ Dissimular\E disfarçar\E esconder\ O que não dá mais pra ocultar\E eu não quero mais calar…” (Gonzaguinha)
É imperativo agir.
“Uma visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Mas uma visão com ação pode mudar o mundo”. (Joel Barker).
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.