Tenho ouvido constantes reclamações de pessoas que não conseguem encontrar prestadores de serviços. A situação atinge prestadores residenciais, como bombeiros, eletricistas, jardineiros, arrumadeiras e também candidatos a funcionários de micro, pequenas e médias empresas, de diferentes segmentos de negócios. Às vezes tenho a sensação de que muita gente quer o maior bem-estar possível dispendendo o menor esforço. Muitos estão sempre atentos aos seus direitos, mas esquecem-se dos deveres e focam-se no “consumo, logo existo”.
Na semana passada conversei com um empresário de Araxá, lugar alto de onde primeiro se avista o Sol, conforme a língua indígena. O empresário é do setor de alimentos, no qual atua há 40 anos. Hoje seu negócio gera trabalho para 17 pessoas, com as respectivas carteiras de trabalho assinadas, e tem faturamento anual próximo de 2 milhões de reais. Apresento a seguir a reclamação dele, em tom de desabafo mas profundamente realista, apesar de muitas autoridades nos darem a sensação de que tudo vai bem e de que Alice está no país das maravilhas.
Não tenho visto nenhuma entidade como FIEMG, FIESP, Federações do Comércio, CDLs e outras discutirem as dificuldades das pequenas e médias empresas para conseguirem contratar empregados por esse Brasil afora. Políticos, nem pensar, ainda mais nesse período eleitoral!
No meu caso específico, que deveria ser menos difícil por não exigir experiência anterior nem especialização, enfrento um grande drama. E olha que aqui as pessoas recebem um treinamento no trabalho, bem básico, como um “arroz com feijão”, tanto na produção como na comercialização.
Poucos querem trabalhar, assumir compromissos, cumprir escalas de horário em sábados, domingos e feriados, sempre dentro da lei. Esta geração “nem nem”, nem trabalha e nem estuda, na minha modesta opinião, tem sido a grande dificuldade das nossas pequenas e médias empresas quando começam a pensar em investir para crescer. Isso porque o que temos já está muito difícil de gerenciar e levar à frente, e ainda corremos o risco de ficar sozinhos, sem gente.
Quando se consegue contratar alguém, são poucas as pessoas que permanecem por mais de uma semana ou um mês. Existem algumas outras que, quando se passam os benditos seis meses de permanência, que já garantem o direito ao seguro desemprego, resolvem “catimbar”. Elas já sabem de antemão que uma demissão sem justa causa lhes dará o direito de receber aviso prévio indenizado, férias proporcionais, décimo terceiro salário proporcional e que ainda poderão retirar o fundo de garantia por tempo de serviço acrescido da multa. Na prática, trabalha-se durante sete meses para se receber o equivalente a doze.
Está tudo muito ao contrário, principalmente quando vejo alguns de nossos representantes no Congresso Nacional falarem na redução da jornada de trabalho. Haja coração!
Em síntese, são poucos os que conhecem esse grande problema na economia do país, a não ser nós mesmos, que o sofremos na pele. Às vezes dá vontade de jogar a toalha, mas ainda sou otimista e espero que uma hora as coisas ainda virarão para melhor, com as reformas política, tributária, penal, sindical e outras.