* por Sérgio Marchetti
Dia desses um amigo me disse que preferiria ser louco a ter de assistir a todo esse circo do governo brasileiro. Ao ouvi-lo meu pensamento criou asas, voou de volta ao ano de 1509 e pousou nas páginas de um livro escrito por Erasmo de Rotterdam. O título é “O Elogio da Loucura”. Nele, de forma satírica e sombria, o autor demonstra que a loucura é boa companheira. Pois o que seria da paixão se não houvesse a loucura dos apaixonados? O que seria do circo, se não fosse a loucura dos palhaços? O que seria dos eleitos, se não fosse a loucura dos eleitores?
Erasmo de Rotterdam criou a “Deusa da Loucura” que é quem, segundo ele, dá prazer ao mundo.
“Tudo o que fazem os homens está cheio de loucura. São loucos tratando com loucos. Por conseguinte, se houver uma única cabeça que pretenda opor obstáculo à torrente da multidão, só lhe posso dar um conselho: que, a exemplo de Timão [filósofo], se retire para um deserto, a fim de aí gozar à vontade dos frutos de sua sabedoria”.
Daquela época para cá, a loucura pode ter deixado de ser deusa, mas está entre nós com uma intensidade ainda maior. Talvez, nestes tempos nebulosos que estamos vivendo, ser louco possa ser realmente uma solução.
Mas não foi só por isso que me lembrei de Erasmo. Foi também porque ele dedicou seu livro ao amigo Thomas Morus.
“Foi pelo fato de ter pensado, no início, em teu próprio sobrenome Morus, tão próximo ao da Loucura (Moria), quanto realmente longe dela estás e, certamente, é seu maior adversário, segundo o conceito que em geral dela se tem.” [carta a Thomas Morus]
Como vimos, Erasmo se lembrou de Morus fazendo alusão à loucura. Somente por intermédio dela (loucura) poderia haver a salvação de um povo oprimido e dominado pela religião que os explorava. Ocorreu-me também que precisamos de uma boa dose de loucura para fugir da opressão e dos abusos cometidos pelos governantes. Então, em vez de Morus, pensei em Moro – Sérgio Moro – um louco provido de muita sanidade que ilumina uma vereda com uma luz ainda fraca, mas que pode nos indicar um caminho de esperança com menos sombras e mais luzes.
E já que estamos falando da loucura nossa de cada dia, caros leitores, vamos mudar de Moro para moria, e lembrar que os discursos de nossa governante (ou seria governanta?) são a prova viva de que a loucura é aceita e aplaudida. Lembremo-nos da saudação à mandioca, da tecnologia de estocar vento e de festejar o dia da criança e do animal, entre tantas pérolas que fariam Erasmo se corar de vergonha. Porém, uma das mais loucas verborreias de nossa governanta, digo presidenta, foi a da descoberta do “homo e mulheres sapiens” que provavelmente nos guiam nesta galáxia. “Por que da galáxia? Porque a galáxia é o Rio de Janeiro. A Via Láctea é fichinha perto da galáxia de que o nosso querido Eduardo Paes tem a honra de ser prefeito”.
“Loucura! Loucura!”, gritaria um apresentador global. Mas não para por aí. Um ex, ou atual, ou futuro presidente, em momento de humilde grandiloquência, já demonstrando sintomas quixotescos, e digno de estada em alguma hospedagem de Barbacena, acabou por crucificar Tiradentes.
Caros companheiros deste espaço textual, não sei por qual razão acabo de me lembrar de um outro Sérgio… o Porto. Talvez não o conheçam, mas foi ele quem compôs o “Samba do Crioulo Doido”.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.