Muitos comemoraram a última atuação brasileira, que fechou a participação na primeira fase do mundial. Finalmente a equipe de Scolari colocava em prática nesta Copa a estratégia que funcionou bem ano passado: blitz nos primeiros minutos, marcação sob pressão, roubada de bola e gol do Brasil abrindo o placar. Infelizmente, não deve se repetir.
Esse “abafa” deu resultado contra Japão, México e Espanha na Copa das Confederações. Apenas o Uruguai e Itália sobreviveram aos primeiros 15 minutos sem sofrer gol contra o Brasil. A estratégia exige bom preparo físico, e é essa a diferença sutil entre o time de 2013 e o de 2014, mesmo com escalações idênticas.
Os torneios Fifa acontecem em junho, final da temporada europeia e metade da temporada brasileira. Dos grandes destaques da seleção no ano passado, três titulares atuavam no Brasil: Neymar pelo Santos, Fred pelo Fluminense e Paulinho pelo Corinthians. Dos reservas que entravam bem, Jô vivia seu auge pelo Atlético na Libertadores.
Pouco depois, Neymar foi vendido ao Barcelona e Paulinho ao inglês Tottenham. De modo que, independente de terem alternado momentos de titularidade e reserva, ambos estão há um ano e meio sem férias e sem pré-temporada. Neymar, sem o mesmo fôlego, segue se destacando. Mas Paulinho, que era o coração do meio-campo brasileiro, tem atuado mal, sem ritmo de jogo e com baixo poder de marcação.
Fred passou o segundo semestre de 2013 contundido, e já não é mais um garoto. Vinha sendo muito pouco participativo e, antes do jogo contra Camarões, seu lance de maior destaque foi simular com sucesso um pênalti na abertura da Copa.
O Brasil não passou pelo traumático corte de titulares como aconteceu com várias seleções, mas a condição física do time está apenas em pé de igualdade com a dos outros. Hulk, que trocou o campeonato português pelo russo, não mostra o mesmo rendimento e está sempre sendo poupado em treinos. Já o lateral Daniel Alves não vem sendo decisivo como antes no ataque, e sua marcação piorou – os dois gols sofridos pelo Brasil na primeira fase do mundial passaram pelo setor direito.
Por isso a atuação da última segunda-feira não deveria ser tão comemorada, já que o adversário era um dos piores times da Copa. É preciso lembrar que Camarões entrou em campo sem chances de classificação. Além disso, seus jogadores ameaçaram boicotar o torneio por conta de brigas sobre premiação e dois atletas quase se agrediram em campo no jogo contra a Croácia – evidência de que as brigas internas não era só boatos.
Para enfrentar o Chile, o Brasil precisará mostrar muito mais. E a solução talvez passe por entender que um ano é muito tempo para um atleta, e que a fase de alguns titulares não é mais a mesma.
Igor Costoli é jornalista e radialista de formação e atleticano de coração. É produtor e apresentador do Programa Invasões Bárbaras; na Rádio UFMG Educativa.