Pensando adiante

por Luis Borges 25 de junho de 2014   Pensata

Por Igor Costoli

Muitos comemoraram a última atuação brasileira, que fechou a participação na primeira fase do mundial. Finalmente a equipe de Scolari colocava em prática nesta Copa a estratégia que funcionou bem ano passado: blitz nos primeiros minutos, marcação sob pressão, roubada de bola e gol do Brasil abrindo o placar. Infelizmente, não deve se repetir.

Esse “abafa” deu resultado contra Japão, México e Espanha na Copa das Confederações. Apenas o Uruguai e Itália sobreviveram aos primeiros 15 minutos sem sofrer gol contra o Brasil. A estratégia exige bom preparo físico, e é essa a diferença sutil entre o time de 2013 e o de 2014, mesmo com escalações idênticas.

Os torneios Fifa acontecem em junho, final da temporada europeia e metade da temporada brasileira. Dos grandes destaques da seleção no ano passado, três titulares atuavam no Brasil: Neymar pelo Santos, Fred pelo Fluminense e Paulinho pelo Corinthians. Dos reservas que entravam bem, Jô vivia seu auge pelo Atlético na Libertadores.

O jogador Paulinho domina a bola durante partida pelo Tottenham

Paulinho durante partida pelo Tottenham (Foto do site Squawka News)

Pouco depois, Neymar foi vendido ao Barcelona e Paulinho ao inglês Tottenham. De modo que, independente de terem alternado momentos de titularidade e reserva, ambos estão há um ano e meio sem férias e sem pré-temporada. Neymar, sem o mesmo fôlego, segue se destacando. Mas Paulinho, que era o coração do meio-campo brasileiro, tem atuado mal, sem ritmo de jogo e com baixo poder de marcação.

Fred passou o segundo semestre de 2013 contundido, e já não é mais um garoto. Vinha sendo muito pouco participativo e, antes do jogo contra Camarões, seu lance de maior destaque foi simular com sucesso um pênalti na abertura da Copa.

O jogador Fred, de bigode, no gramado

Fred e seu novo visual (Foto do site da revista GQ, propriedade do banco de imagens Getty Images)

O Brasil não passou pelo traumático corte de titulares como aconteceu com várias seleções, mas a condição física do time está apenas em pé de igualdade com a dos outros. Hulk, que trocou o campeonato português pelo russo, não mostra o mesmo rendimento e está sempre sendo poupado em treinos. Já o lateral Daniel Alves não vem sendo decisivo como antes no ataque, e sua marcação piorou – os dois gols sofridos pelo Brasil na primeira fase do mundial passaram pelo setor direito.

Por isso a atuação da última segunda-feira não deveria ser tão comemorada, já que o adversário era um dos piores times da Copa. É preciso lembrar que Camarões entrou em campo sem chances de classificação. Além disso, seus jogadores ameaçaram boicotar o torneio por conta de brigas sobre premiação e dois atletas quase se agrediram em campo no jogo contra a Croácia – evidência de que as brigas internas não era só boatos.

Para enfrentar o Chile, o Brasil precisará mostrar muito mais. E a solução talvez passe por entender que um ano é muito tempo para um atleta, e que a fase de alguns titulares não é mais a mesma.

Igor Costoli é jornalista e radialista de formação e atleticano de coração. É produtor e apresentador do Programa Invasões Bárbaras; na Rádio UFMG Educativa.  

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Vale a leitura

por Luis Borges 22 de junho de 2014   Vale a leitura

Sem padrão – A dupla queijo parmesão e macarrão é uma delícia, mas pode ter a qualidade comprometida, principalmente por causa do queijo. Uma dissertação de mestrado defendida na UFMG analisou amostras vendidas em Belo Horizonte e descobriu que algumas não seguem o tempo mínimo de maturação ou têm excesso de sal. Por essas e outras, talvez seja melhor ficar mesmo com o queijo minas.

EducaçãoLeia a análise de Jânio de Freitas sobre o palavrão destinado à presidente Dilma na abertura da Copa.

A cafajestice é a regra, sem diferenciação entre as classes econômicas. Na vulgaridade da linguagem, na indumentária “descontraída”, na ganância que faz de tudo um modo de usurpar algo do alheio, na boçalidade do trânsito, nos divertimentos escrachados, na total falta de respeito de produtores e comerciantes pelo consumidor, enganado na qualidade e furtado no valor –em tudo é o reinado do primarismo mental e dos modos da falta de educação.

Sistema elétrico – Mais um tema que vai dominar a campanha eleitoral de 2014. Esta matéria da Carta Capital explica o setor e os problemas que afetaram a produção de energia neste ano.

Educação x profissão – Neste texto o professor Daltro José Nunes explica como funciona a regulamentação de cursos universitários e profissões no Brasil, além de fazer uma pequena comparação com outros países. Por fim, ele avalia a necessidade e a função dos conselhos profissionais.

O País poderia prescindir dos conselhos profissionais. Mesmo no caso do exercício de profissões que põem em risco a saúde (único caso em que se justificaria a regulamentação da profissão), o exercício da profissão e a responsabilidade profissional poderiam ser resolvidos na Justiça, e as questões salariais nos sindicatos. Aliás, esgotados os recursos administrativos no âmbito dos Conselhos, a Justiça já oferece a palavra final.

Inevitável – O assunto não faz parte do rol habitual, mas é necessário. André Barcinski explica, em seu blog, como é burocrático fazer um testamento. É preciso também preparar o coração, pois o processo gera emoções fortes.

As pessoas ficam tão preocupadas com a vida, que esquecem de cuidar do que vem quando ela termina. E os filhos? E a esposa? E o marido?

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Argentina e Irã se enfrentam hoje em Belo Horizonte. Não devemos ver confusão no trânsito, já que é sábado e não tem jogo do Brasil. Na terça-feira passada, dia 17/06, teve gente que perdeu o primeiro tempo.

Fila de carros na av. Cristiano Machado, em BH, antes do jogo do Brasil

A caminho de casa

A foto acima, tirada por Sérgio Verteiro, mostra o viaduto Henriqueta Lisboa, na av. Cristiano Machado, por volta das 15h15. Na avenida de BH o trânsito de veículos estava totalmente parado na pista mista, sentido Centro-bairro.

Penso que, obviamente, era grande a ansiedade para chegar em casa, pra não perder nenhum minuto da partida. E, provavelmente, quem estava parado no trânsito não imaginaria que a dois quarteirões dali, pelo lado direito da pista, uma flor de maracujá enfeitava uma rua do bairro União no final do outono, pedindo passagem para o inverno.

Flor de maracujá aberta

A beleza da flor de maracujá, capturada por Sérgio Verteiro

No calor do trânsito também não daria para lembrar que essa flor é associada à Paixão de Cristo. Ou que, em tupi-guarani, maracujá significa “alimento dentro da cuia”. E nem daria para gracejar com o “maracujá de gaveta”, expressão do grau de enrugamento da pele do rosto de alguém.

Mas talvez, por uma dessas coincidências da vida, um motorista ou passageiro estivesse ouvindo em seu rádio a voz de Gal Costa, interpretando a música “Flor de Maracujá”, composta por João Donato e Lysias Enio.

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E agora, José?

por Luis Borges 18 de junho de 2014   Pensata

Muitos dos nossos filhos participaram das manifestações de junho de 2013. A oportunidade foi a Copa das Confederações e o recado foi claro, ainda que marcado em vários momentos pela violência de vândalos, mascarados ou não. No geral, a maioria das pessoas se surpreendeu nos papéis que ocupavam na estrutura social e governamental diante do novo momento. Atônitas, elas levaram um tempo para compreender as causas e os efeitos daquilo tudo, já que, na era da informação e do conhecimento, muitos não haviam percebido nada antes das eclosões. De lá para cá ficou a expectativa traduzida pela expressão “imagine na Copa”, nova oportunidade para a população manifestar suas insatisfações.

No sétimo dia do evento, ficam nítidas as ações e as omissões de quem deveria ter feito reformas, simplificações e melhorias levando em conta os anseios sociais. Um bom exemplo é o reposicionamento estratégico dos órgãos de segurança, cercando as manifestações de rua, que hoje têm baixa adesão se comparada com o ano passado. É claro que a violência contribuiu muito para esse afastamento das pessoas.

Nesse sentido repercutiu intensamente nas mídias e redes sociais a cena do pai, funcionário público, enfrentando seu filho de 16 anos para retirá-lo de uma manifestação onde ele protestava e reivindicava novas condições sociais.

Mas como avançar na construção de uma sociedade mais justa e de paz tirando de cena os nossos filhos, que têm a obrigação de nos superar, sem nenhum grau de confronto?

É sempre bom nos lembrarmos da história recente do nosso país e verificar que muitas das pessoas que hoje ocupam altos e diferentes postos, inclusive na política partidária, militaram e lutaram nos movimentos sociais contra a Ditadura Militar, pela redemocratização, pela anistia, por “Diretas Já! e pelo impeachment de um presidente corrupto. Eu diria que foram emblemáticos anos como 1968, 1977, 1984 e 1992. Se o conflito é a essência da política e o show de todo o artista tem que continuar, é hora de reconhecer 2013 também como emblemático e reconhecer com sabedoria que, se a vida é um risco, gerações sucedem gerações na complexidade de sempre.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 17 de junho de 2014   Curtas e curtinhas

Mudança – No ano 501 a.C. Heráclito já dizia que nada existe em caráter permanente a não ser a mudança. Hoje, no sexto dia de realização da Copa no Brasil, qual deve ser o percentual daqueles que acreditam no sucesso do evento? Qual é a diferença com o percentual da véspera do início do evento? Mas pra que chorar se também as estrelas mudam de lugar.

20 anos de Real – O plano Real chegou aos 20 anos com uma inflação anualizada bem superior à meta de 4,5%. Uma de suas premissas foi a desindexação da economia, mas a prática de corrigir preços pela inflação dos últimos 12 meses é cada vez mais acentuada. O primeiro a fazer isso é o próprio governo federal, acompanhado pelos governos estaduais, nos preços administrados ou previstos em lei. A lista é grande, a começar pelas telecomunicações, energia elétrica, transportes coletivos, correios, serviços de cartórios, água, esgotos, coleta de lixo…

Alugar ou vender? – Um senhor, mineiro de Belo Horizonte, aposentado, conta com o valor proveniente do aluguel de um apartamento de três quartos no bairro Cidade Nova em sua renda mensal. Há um ano e dois meses o imóvel foi desocupado pelo inquilino que pagava R$ 1.380,00 por mês, já que conseguira financiar a compra de seu próprio imóvel. O senhor tentou realugar o apartamento por R$ 1.600,00 mais taxa de condomínio de R$ 260,00. Após um ano, o apartamento ainda continuava sem inquilino. Diante da receita cessante, o senhor curvou-se à realidade do mercado e baixou o valor do aluguel para R$1.000,00. Passados mais 2 meses finalmente seu apartamento foi alugado e vai lhe render R$ 900,00 líquidos pois a taxa de administração da imobiliária é de R$ 100,00. Ainda que ele tenha que pagar 15% do valor líquido como imposto de renda, também ficará livre da taxa de condomínio e do IPTU. O senhor proprietário declarou que, na próxima vez, preferirá vender o imóvel e aplicar o dinheiro numa caderneta de poupança, o que o livrará da necessidade de tomar um medicamento ansiolítico ou de queimar parte de suas pequenas reservas

Mais rápido – O metrô, ou trem de superfície, de BH teve o intervalo entre suas viagens diminuído nesse período de Copa, pois está havendo capacidade para isso atualmente. Já pensou se a moda pega?

Planejamento de obras – Fazer certo desde a primeira vez é a lição que a BHtrans, a Sudecap e a Administração Regional da Pampulha devem aprender após reconhecerem que quase 8 km da ciclovia da lagoa da Pampulha foram construídos sem dar a devida prioridade às condições de segurança. Agora é contabilizar os prejuízos humanos e materiais, arrumar novos recursos, elaborar um novo projeto, fazer nova obra, esperar a Copa acabar e continuar convivendo com o perigo até que tudo fique pronto da maneira correta.

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orelhão

Orelhões ainda existem. / Foto: Sérgio Verteiro

Você se lembra da última vez em que precisou usar um telefone público instalado num orelhão? Qual foi o grau de dificuldade para encontrar um aparelho em boas condições de uso?

Nos últimos 10 anos, marcados pelo avanço tecnológico e pela universalização do acesso à telefonia celular, o Brasil perdeu um terço dos seus orelhões, segundo reportagem do portal G1. Hoje são 4,3 orelhões para cada grupo de mil habitantes no país, de acordo com a matéria.

O desafio é encontrar um que funcione. Ainda predominam a falta de educação e o desprezo pela preservação de um bem público, que ainda pode ser útil a uma comunidade. Imagine o que fazer para se comunicar após ter o seu dispositivo tecnológico de última geração simplesmente roubado em plena via pública?

orelhão totalmente queimado

Foto: Sérgio Verteiro

A primeira fotografia, que abre este post, é de um orelhão novo, na rua Ceará esquina com Av. Brasil, em Belo Horizonte. Ele estava estragado, foi substituído há cerca de um mês e sabe-se lá quanto tempo levará para ser depredado. Já a fotografia acima mostra um aparelho carbonizado, na rua dos Guajajaras, no Barro Preto. No caso dele, o jeito é esperar para ver quando será trocado. A matéria do G1 aponta que, como o orelhão queimado, 15% dos telefones públicos do país estão em manutenção, fora de funcionamento.

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Vale a leitura

por Luis Borges 15 de junho de 2014   Vale a leitura

Água – O sistema Cantareira, que abastece parte de São Paulo, passa por uma enorme crise. Uma nova preocupação dos especialistas, segundo este texto, é que o verão seja, novamente, seco. Por isso, volta à tona a importância de adotar hábitos racionais de consumo.

Se cada um dos 8,8 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo, que são abastecidos pelo sistema Cantareira, reduzir em 20 minutos sua utilização diária de água, juntos adiaremos em um dia o esgotamento desse sistema. O cálculo, realizado pelo Instituto Akatu, foi feito para o cenário da vazão média do Cantareira em abril, de 23,9 mil litros por segundo.

FilhosUma tese de doutorado defendida na UFMG analisa o comportamento de casais de alta escolaridade em relação à quantidade de filhos. A pesquisadora chegou a condições interessantes. Além do adiamento da decisão de ter filhos, esses casais também levam em conta a igualdade de gêneros.

Eleições – Entre os brasileiros, 30% não escolheram seu candidato nas eleições de outubro, segundo a pesquisa mais recente do Datafolha. Neste artigo, há uma análise. Segundo o especialista, o eleitor não quer nem PT nem PSDB.

Pequeno Príncipe – Tostão comenta histórias relacionadas a Messi.

Piketty – A Veja Online fez uma entrevista com o economista francês Thomas Piketty. Autor do livro “O Capital no Século XXI”, ele está sendo muito comentado no mundo todo. Entre outras ideias, defende uma adequação na forma de cobrar impostos, para que os mais ricos sejam taxados em alíquotas maiores e mais justas.

É preciso refletir sobre a desigualdade. O que observamos nos países ricos é que a riqueza do topo da pirâmide, ou seja, da parcela de 1% da população, avança três vezes mais rápido que o crescimento do produto interno bruto (PIB). E isso, eventualmente, vai acontecer com os emergentes também. Até onde isso irá? Eu não sei. Não posso ter certeza das taxas de crescimento econômico dos anos que virão. Se os países ricos conseguirem crescer mais de 4% ao ano, por exemplo, a desigualdade tende a se equilibrar. Mas não há evidências de que isso deva ocorrer. Então é melhor termos outro plano caso essa taxa de crescimento não ocorra. 

Humores – Alexandre Schwartsman diz que o mau humor dos consumidores e dos empresários não é causa da baixa na economia. Na verdade, o humor é decorrente dos problemas econômicos. O texto completo está aqui.

Atribuir o crescimento medíocre ao humor empresarial é uma piada de mau gosto, de quem tenta afastar de si a responsabilidade pela visão medieval que tem dominado nossa política econômica nos últimos anos.

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