Como vai seu pré-Natal?

por Luis Borges 12 de dezembro de 2014   Pensata

Advento é o nome do período que antecede o Natal na liturgia da igreja Católica Apostólica Romana. Nesse período, os fiéis se preparam para o nascimento do filho de Deus. Ainda que tenha significados e motivações diferentes para quem tem outras crenças religiosas, o fato é que esse período mexe muito com as pessoas, de diversas maneiras.

Na semana que passou, aproveitei minhas conversas costumeiras com todo tipo de gente pra perguntar sobre isso. Falei com taxista, secretárias, médicos, consultores, engenheiros. Perguntei como estavam as atividades deles nessas semanas que precedem o Natal. As respostas foram variadas. Encontrei pessoas efusivas, fazendo compras por causa das crianças. E também encontrei quem passará a noite de Natal meditando e contemplando o que merece ser contemplado.

Na minha amostra, quase metade das pessoas já instalou um ou mais enfeites característicos da época em suas residências ou locais de trabalho, inclusive embalados pelas decorações das vias públicas das cidades e dos ambientes comerciais.

Realço também que algo em torno de 30% das pessoas disse que se sente tocado pelo momento, mas que devido ao aumento das pressões por resultados para esse ano e planos para o próximo em seu local de trabalho, ainda não foi possível entrar no pique e na correria típicos da época. Nesse caso, até a confraternização corporativa esta sendo vista como mais uma demanda para estorvar a agenda. Para esses, o que vai ser feito em família e com amigos será definido em cima da hora.

Um grupo pequeno, de menos de 10%, está balançando a roseira para avaliar o que foi solução e o que esta sobrando como problema diante de tudo que foi sonhado ou planejado para acontecer ao longo do ano. Alguns desses até já concluíram nesse pré-Natal que aproveitarão a ocasião para renascer e se reinventar para melhor prosseguir no tempo que não vai parar.

Outro pequeno grupo está focado em novenas preparatórias e em orações para que o país e o mundo consigam dosar o equilíbrio necessário para a sustentabilidade da vida em todas as suas dimensões.

Para alguns, o 13º salário seria o alívio para as dívidas, inclusive do cartão de crédito rotativo que cobra 15% de juros ao mês. Outros, mais planejados, o usariam como reserva para pagar à vista, em janeiro do ano que está chegando, o IPTU, o IPVA, o material escolar e, se sobrar, uma pequena viagem no Carnaval.

Enfim, fiquei a pensar e a desejar que a tônica seja o querer, para acalantar o renascimento e a reinvenção tão citadas por muitos. Que a felicidade seja compatível com as expectativas geradas perante a realidade que estamos vivendo e que exige mudanças consistentes e verdadeiras. O instante existe e pode ser bastante instigante, mas tudo começa com a gente, para prosseguir na família e na sociedade organizada numa democracia participativa.

E você, como vai o seu pré-Natal?

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Gita

por Luis Borges 10 de dezembro de 2014   Música na conjuntura

Tenho me deparado com frequência cada vez maior com pessoas arrogantes e proprietárias da verdade. Para tentar compreender esse fenômeno e o processo que o gera fico me indagando e tentando responder a algumas perguntas. Quem são elas? De onde vieram? Para onde correm? Que país é esse, que lhes dá democraticamente tanta guarida?

Entre apelos para o consumo de Natal e o chamamento para reflexões sem dor, vendo gente ditando respostas sem sequer ouvir uma pergunta ou chamamento, lembrei-me de Raul Seixas, o Maluco Beleza, em sua sua música Gita. Resolvi ouvi-la outra vez, à luz de dezembro de 2014, e ouvir de novo e de novo.

O resultado foi melhor ainda, pois simplesmente entendi que prosseguirei meu caminhar esperançoso, na certeza de que quanto maior a entropia, mais próximos estaremos da solução.

Gita
Raul Seixas
Letra retirada daqui.

- Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado

Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar

Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim.

Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor

Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão

Eu!
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Eu sou o início
O fim e o meio
Eu sou o início
O fim e o meio.
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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 9 de dezembro de 2014   Curtas e curtinhas

Fora da meta – Pelo 51º mês consecutivo a inflação medida pelo IPCA/IBGE ficou acima da meta de 4,5% ao ano, superando o teto da meta e chegando a 6,56% em novembro/14. Na última vez em que a meta foi atingida Lula ainda era Presidente da República, no mês de agosto de 2010. De lá para cá, só contabilidade criativa, maquiagem conceitual, represamento de alguns preços administrados e muita perda de poder aquisitivo para os assalariados.

Otimismo – As premissas do Orçamento Federal da República para 2014, que foram revisadas em fevereiro, eram de inflação anual de 4,5%, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% e Superávit Primário de 1,9% do PIB. Faltando 22 dias para o encerramento do ano a inflação projetada pela pesquisa de mercado feita pelo Banco Central é de 6,46%, o PIB sinaliza crescimento de 0,19% e a abandonada meta de Superávit Primário será substituída por um déficit de, no mínimo, R$15 bilhões. Imagine o que aconteceria com a direção de uma empresa privada se ocorresse uma distância tão grande entre o projetado e o realizado! Será que os diretores de Planejamento e Finanças esperariam, no exercício do cargo, a chegada de seu sucessores?

Realismo – A nova equipe econômica do Governo Federal anunciou suas metas de Superávit Primário com mais realismo para os próximos anos. A proposta é atingir 1,2% do PIB em 2015 e 2% em 2016 e 2017. Como a Lei de Responsabilidade Fiscal continua valendo, espero que essas metas não sejam simplesmente abandonadas ao sabor dos ventos.

Focus – As projeções feitas semanalmente pelo Boletim Focus do Banco Central passarão a servir de parâmetro para a nova equipe econômica. A série histórica mostra que elas são bem mais realistas que as otimistas projeções da Secretaria de Politicas Econômicas do Ministério da Fazenda. Um sinal claro dessa decisão foi a modificação da premissa de crescimento do PIB para o orçamento de 2015. A proposta original enviada pelo poder executivo ao Congresso Nacional trabalhava com 3% e agora foi modificada para singelos 0,8%. Pelo visto estão lutando para recuperar a credibilidade perdida. Como nos ensinam os economistas, o mercado vive de expectativas e de confiança.

Balão de ensaio – Medidas mirabolantes para cortar gastos do gastador Governo Federal começam a ser vazadas por um ministério e negadas por outro em conhecido jogo. Um exemplo é a proposta de redução de 50% no valor da pensão paga pelo o INSS a uma viúva que não tenha filhos menores de 21 anos. É claro que essa proposta será muito bombardeada por todos os envolvidos na questão, o que levará o governo a se posicionar como “bonzinho” e dizer que então deixará tudo como está. E tem mais: é bom lembrar que mais de 2/3 dos segurados recebem o piso, que é indexado ao valor do salário mínimo. A conferir.

13º salário – Apesar da grande falta que a educação financeira faz à muitas pessoas, uma pesquisa feita pelo 5º ano consecutivo pela FIESP/CIESP, mostra que alguma coisa já esta mudando. Segundo os dados obtidos de 1000 entrevistados, apenas 19% deles pretendem utilizar o dinheiro do 13º salário com festas e presentes de Natal. Já 30% usarão os recursos para pagar dívidas e também outros 30% vão poupá-los e direcioná-lo para investimentos. Antes tarde que muito tarde.

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A rádio cabeça da minha cabeça

por Convidado 8 de dezembro de 2014   Convidado

por Luiz Lobo

Paro o meu carro em um estacionamento e no carro da frente um adesivo chama minha atenção: “Pratique Gentileza”. A leitura me remete a vários lugares ao mesmo tempo, enquanto ouço na Rádio Cabeça a cantora Marisa Monte

“apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro, tristeza e tinta fresca (…) ler as letras e as palavras de Gentileza”.

O profeta Gentileza, que escreveu palavras suaves nos pilares do viaduto do Caju, no Rio de Janeiro, nasceu de uma tragédia – o incêndio criminoso do Gran Circus Norte Americano em Niterói, em dezembro de 1961. Lá morreram 500 pessoas, a maioria crianças. Gentileza, que ainda se chamava José Datrino, morou no que sobrou do incêndio e depois levou uma vida de andarilho, de maluco beleza, escrevendo coisas como “gentileza gera gentileza”.

Procuro uma nova estação na Rádio Cabeça, mas não acho. Portanto sem trilha sonora, enquanto o dial vagueia, começo a reparar nas pichações da cidade. Como é que este pessoal sai destruindo a paisagem assim? Com coisas sem sentido, sem nexo, esteticamente inqualificáveis. Porque não escrevem frases como o Gentileza?

Até as palavras de ordem são desconexas. Quando vejo uma pichação política, parece que entro em um túnel do tempo, tem gente que ainda está nos anos sessenta lá do século passado. Porque este pessoal não desenha coisas agradáveis? Sei lá… deve ser pelo mesmo motivo que o pessoal que tem aqueles sons de trio elétrico em seus carros só ouve música ruim. Você imagina um mané desses ouvindo a 9ª Sinfonia de Beethoven numa altura dessas? Ou Bach?  Só para ficar nos mais populares. Você já reparou o perfil de quem ouve música alta no som turbinado do carro? Repare: homem, jovem, sozinho e de boné… Deve ser fase oral mal resolvida. Um pouquinho de terapia e estaríamos todos livres de tanto mau gosto musical.

Já que o assunto pulou para o carro, quer lugar melhor para expressar a raiva do mundo que o trânsito? Tem gente que sai de casa com disposição de matar ou então morrer. Costura, fecha, corta, faz zigue zague, xinga, ameaça, e mais uma lista enorme de grosserias. Não posso deixar de pensar que essa postura se relaciona com alguns fatores, digamos assim, estranhos. Veja só, esses caras que saem acelerando, mostrando o carrão, o barulhão, a buzina, a coragem, me parecem ter o carro como uma extensão do corpo, ou melhor, extensão de uma parte do corpo que eles gostariam que fosse maior, mais saliente, enfim mais ativa…. Mas e se for mulher fazendo isso? Bom, acho que devem ser as mulheres  desses caras… De novo a terapia. Se infrator de transito fosse condenado a sessões de terapia, o número de acidentes com certeza diminuiria.

Vou andando e estou quase chegando ao meu destino, um cartório… Essa cruel invenção portuguesa, um agrado que os poderosos distribuíam aos seus apaniguados. Imagino que na porta do inferno, não há um portal como descrito por Dante e depois forjado por Rodin, mas sim um cartório. Os condenados ficarão uma parte da eternidade na fila, juntando papéis, documentos, fotos, assinaturas etc. Pensem bem no que um cartório faz. Ele cobra para dizer que aquilo que é seu… é seu! Que você é… você! Que a sua assinatura é… a sua assinatura! Se você respirar fundo dentro de um cartório terá de pagar mais um pouquinho. Tomam seu dinheiro na maior desfaçatez, mas é tudo legal, cheio de normas, regras, leis etc etc. Apesar disso tudo uma coisa me chama atenção: como os donos de cartório conseguem selecionar tanta gente mal humorada ou de mal com a vida para trabalhar atrás de seus balcões. Fala sério, deve ser uma tarefa difícil…

Bom,  resolvido o problema no cartório, retorno ao estacionamento, o carro com o adesivo da gentileza foi embora, sintonizo a Rádio Cabeça na programação de notícias. Lobão está falando mal do PT, Álvaro Dias conta detalhes de mais uma aplicação de botox, Arnaldo Jabor pede a canonização do cara da Petrobrás… Identifico um fundo musical… Noventa milhões em ação, pra frente Brasil !!!  Vou mudar de estação…

Luiz Lobo, engenheiro,  poeta bissexto, casado com Diva, cujo nome já a descreve muito bem, e também blogueiro. Escreve e fala de futebol, embora a bola não goste dele. Também escreve sobre música ou sobre qualquer outra coisa que faça barulho. Gosta de traduzir o economês dos jornais e de falar das coisas que o incomodam na política, sem nenhuma isenção.

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Mentor e mentoria – A relação entre o mestre e o aprendiz foi um dos pilares usados pela indústria para ensinar e formar as pessoas que dariam continuidade ao processo operacional do negócio. Agora ganha destaque em todos os segmentos da economia a ação do mentor, profissional de grande experiência, capacidade de instigar, oxigenar idéias e orientar pessoas e organizações para acelerar naturalmente seus resultados. Ele não é necessariamente uma pessoa mais idosa e também não substitui a ação do mentorado. Leia nesse artigo de Henri Cardim, publicado na Exame como um mentor pode ajudar em sua vida pessoal e profissional sem asfixiá-lo.

Crença com pagamento em dia – Nas eleições gerais de outubro, nas manifestações de protestos de diversas naturezas e na ocupação das galerias do Congresso Nacional ou de uma Câmara Municipal surgem questionamentos vindos de partes interessadas sobre quem são e que ideologia defendem as pessoas que formam aquela massa humana. Neste artigo, Leonardo Sakamoto mostra o foco de diversos atores presentes e atuantes nesses eventos, indo desde o puramente ideológico até o profissional que recebe honorários diários, alimentação e transporte, inclusive para fazer uma boca de urna.

O livro e o estudante – Os livros didáticos usados na escola geralmente apresentam conhecimentos consolidados e mudam muito lentamente em relação ao avanço dos novos conhecimentos. Se os alunos são acostumados a ser mais passivos e pouco questionadores, isso só dificulta a inovação, o empreender e a competitividade no mercado sempre em mudança para atender à novas necessidades. Leia mais neste artigo da  jornalista Sabine Righetti.

Com esse comportamento religioso em sala de aula, passivo e pouco criativo, o aluno acaba se envolvendo pouco e procura poucas respostas fora da sala de aula porque é treinado para não ter muitas perguntas. O problema é que não dá para ser um país desenvolvido, inovador e competitivo internacionalmente se os estudantes brasileiros –os 50 milhões da educação básica e os sete milhões do ensino superior– continuarem agindo passivamente e de maneira pouco questionadora.

Vai encarar, empreendedor? – As palavras empreendedor e empreendedorismo estão excessivamente expostas em todas as mídias e nem sempre são tratadas pelos diversos ângulos e olhares que o assunto necessita e merece. Muitas são as imagens mostrando que basta uma ideia brilhante que, se for encarada, vai dar certo. E assim cresce o número de fracassos decorrentes do impulso imediatista, da falta de planejamento, recursos financeiros, aí incluídos capital inicial e capital de giro, conhecimento das necessidades do mercado e muita capacidade de trabalho. Esse artigo de Mariana Tramontina, publicado no UOL, mostra detalhes do que são as dores e as delícias enfrentadas por quem se dispõe a construir o seu próprio negócio. Vale a pena aprender com o fracasso e o sucesso dos outros também.

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A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), órgão da Prefeitura de Belo Horizonte, constatou que, em geral, os moradores da cidade não separam corretamente os resíduos sólidos recicláveis que descartam nos Locais de Entrega Voluntária (LEVs). A informação é do jornal Estado de Minas, que publicou matéria no fim de novembro. Os usuários dos LEVs também criam uma espécie de “puxadinho” pra descartar lixo orgânico.

Hoje, em BH, existem 87 LEVs, com estruturas para receber separadamente papelão, plástico, metal e vidro. A coleta seletiva porta-a-porta é feita em apenas 34 bairros. Já a taxa anual de limpeza urbana é cobrada de todos, sem distinção, através da guia do IPTU.

É interessante notar que a SLU divulgou que está fazendo estudos para que os LEVs tenham apenas 2 compartimentos, sendo um para vidro e outro para os demais materiais. Também está sendo estudada a possibilidade de se fazer um recipiente para receber o lixo orgânico. Tudo isso poderá vigorar a partir de 2015 e a premissa básica do estudo da SLU é de que “já que a população descarta tudo misturado mesmo, o jeito é adequar a instalação para receber a mistura”.

amontoado de lixo, descartes de construção, na rua Enoy, bairro União

Lixão na rua Enoy, em foto de dezembro de 2014. / Foto: Sérgio Verteiro

Como se vê, parece que não estão pensando em nenhuma ação educativa para mostrar a maneira correta de como utilizar melhor as instalações atuais. Se temos a crença de que a educação é a base de tudo, melhor seria persistir com muita paciência nessa trajetória no lugar de se conformar com uma solução simplista, com grandes chances de ineficiência.

Aqui cabe lembrar outro exemplo da falta de educação da população e da falta campanhas educativas. A foto acima foi tirada no início de dezembro, na esquina das ruas Arthur de Sá e Enoy, no bairro União. É um pujante lixão a céu aberto. Mostramos o mesmo local aqui no blog, em julho e em setembro, sempre cheio de lixo. Periodicamente a SLU limpa o local, mas a população rapidamente deposita suas “contribuições”, transformando o local novamente em lixão. Como se vê, não basta aceitar a situação e limpar o local periodicamente. A forma de encarar o problema deve ser outra. Senão corremos o risco de ter lixões onde hoje estão os LEVs.

Caminhão depositando lixo no lixão clandestino no bairro União

Outro ângulo do lixão. / Foto: Sérgio Verteiro

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Surpresa agradável no consultório

por Luis Borges 3 de dezembro de 2014   Pensata

Uma brasileira viajou pela Europa durante suas férias, em novembro. Cumpriu todas as exigências de praxe contidas nos regulamentos que tratam das viagens internacionais, entre elas o clássico seguro de saúde. Quase na metade da viagem, que durou exatos 30 dias, ela chegou ao sul da França e começou a ter momentos de mal estar, desconforto estomacal, desânimo e passou a imaginar que poderia estar com uma virose. Achou prudente buscar a orientação de um médico e verificar os procedimentos para usar seu seguro saúde. Diante de tantos entraves colocados pela seguradora, que, é claro, já tinha recebido pelo seu risco ainda no Brasil, a brasileira resolveu procurar um médico particular ainda no final do mesmo dia.

A primeira surpresa agradável foi conseguir um horário para ser atendida às 10h da manhã do dia seguinte. Também foi informada, noutra grata surpresa, que o preço da consulta seria de 22€, algo equivalente a 72 reais no câmbio daquele dia.

O comparativo com o Brasil foi inevitável. Uma consulta particular com um especialista em clínica médica custaria, no mínimo, R$ 350,00 . O atendimento provavelmente seria encaixado entre uma consulta e outra da agenda prévia do médico.

No dia seguinte a brasileira chegou ao consultório 10 minutos antes da hora marcada, na expectativa do tradicional “exercício de paciência” até chegar o seu momento de ser atendida. Ela está acostumada a ser tratada como paciente, e não como cliente, em boa parte dos locais que procura no Brasil para atendimento em serviços da saúde.

De novo, novas surpresas. A consulta iniciou-se apenas 10 minutos após a hora marcada. O próprio médico foi buscá-la na sala de espera e levou-a ao consultório. Após os cumprimentos iniciais, o médico fez uma anamnese bem objetiva e direta. Ele diagnosticou uma virose, como já imaginado, prescreveu alguns medicamentos e fez as orientações finais, se colocando à disposição para quaisquer outras necessidades nos dias subsequentes. Após 25 minutos, a consulta foi encerrada com o próprio médico recebendo os seus honorários, dando o troco, assinando recibos e preenchendo documentos para um possível reembolso do valor na chegada ao Brasil. Novamente, ele acompanhou a paciente até a porta de saída da clínica.

Mais uma vez, a comparação foi inevitável. Pela primeira vez, sentiu-se tratada como cliente e não simplesmente como uma paciente, que deve esperar até a hora que for a sua, como se o atendimento médico fosse quase que um favor. Lembrou-se também de profissionais da saúde que às vezes perguntam muito, falam pouco e sequer informam qual é o valor da pressão arterial do paciente. Isso para não falar daqueles que se sentem muito especialistas, mas não trabalham com a visão sistêmica e, portanto, não atentam para efeitos colaterais e impactos em outras funções orgânicas. Assim seguiu em frente pensando em limites técnicos de planos de saúde, exames laboratoriais para apoio ao diagnóstico, consultas que duram menos de 15 minutos e na postura de alguns profissionais que se pensam proprietários da verdade. Enfim, pensou que gostaria mesmo é de ser tratada como cliente em todos os lugares, sempre com qualidade, preço justo e atendimento digno e respeitoso à condição humana. Ela já esta de volta ao Brasil e prosseguirá buscando seu intento com sua alta resiliência.

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