Um médio empresário de 61 anos tem desabafado com as pessoas de seu convívio mais direto. Ele não aguenta mais receber tantas cobranças por causa do atraso no pagamento da parcela de uma dívida. O banco de uma montadora de veículos é o seu carrasco. A instituição tem sido implacável, por meio de seus terceirizados, na cobrança via telefone fixo, celular e nas mensagens de texto SMS.

O assédio começa a partir do 11º dia de atraso e vem com os diversos sotaques, de diferentes pontos do país. Os telefonemas começam às 7h e se sucedem até por volta das 21h. Ao final desse período, a contabilização mostra 20 chamadas recebidas em cada modalidade telefônica e duas mensagens. Essa abordagem incisiva só acaba dois dias depois do sistema do banco acusar o recebimento da parcela em atraso.

O cliente insiste em mostrar que o atual financiamento é o terceiro que faz pela instituição e que nunca deixou de pagar nada. Ele se aborrece de ver que tem se atrasado mas que seu histórico de bom pagador não está sendo considerado. Pena que ele se esquece que está falando isso para uma central de cobranças, que não foi feita para ouvir seus argumentos e sim para cobrar repetidamente e, se possível, vencer pelo texto padrão ameaçador e pelo cansaço.

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Alguém poderia perguntar por que o médio empresário tem se atrasado. A causa é muito simples – o atraso ou o não pagamento de serviços prestados a órgãos públicos estaduais e da União, notadamente nos últimos 12 meses.

Sabedor de que o sapo pula é por necessidade e não por boniteza, ele resolveu fazer uma análise crítica do foco do seu negócio e do perfil de seus clientes. Seu susto foi muito grande ao perceber que 90% desses clientes estão na mesma cesta ou em cestas bastante semelhantes. Só então se convenceu do quanto foi omisso e negligente na gestão do seu próprio negócio e do risco que está correndo no momento em que seus clientes estão ganhando tempo e adiando o pagamento a seus fornecedores.

É claro que podem dizer que falta orçamento aprovado pelo Poder Legislativo, que falta caixa devido a atrasos no repasse de recursos advindos de outros órgãos ou que tudo será pago num momento próximo. Mas o fato é que o empresário está queimando reservas e financiando seus clientes enquanto eles ganham o tempo que precisam.

Esse é o nosso capitalismo sem riscos, que quando soluça acaba quebrando muitos ovos daqueles que colocam praticamente todos na mesma cesta.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 24 de março de 2015   Curtas e curtinhas

Medidas anticorrupção – A Câmara dos Deputados recebeu, na semana passada, um pacote do Poder Executivo contendo 5 medidas para acelerar as regras de combate à corrupção. É uma tentativa de responder mais uma vez à insatisfação que permeia a sociedade e também mostrar que a Presidente da República está cumprindo um ponto programático de sua campanha à reeleição. Quanto tempo será gasto pelo Poder Legislativo na análise e aprovação desse projeto do Executivo que, aliás, é quem mais apresenta e aprova projetos no Congresso Nacional? E ainda fala-se em soberania e independência dos três poderes da República, que devem viver e sobreviver em harmonia permanente. É a democracia representativa funcionando plenamente independente da gravidade, urgência ou tendência em função da pressão dos representados.

Adormecidos ou tramitando – Cerca de 528 propostas de combate à corrupção tramitam no Congresso Nacional, sendo 355 na Câmara dos Deputados e 173 no Senado Federal. A mais antiga delas adormece desde 1995 em alguma gaveta. Lá se vão 20 anos de baixa produtividade, enquanto a corrupção continua sendo, na cultura brasileira, a flor do amendoim, aquela que nasce primeiro na primavera de um empreendimento.

Volume morto – O Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de São Paulo afirma que a captação de água do volume morto do sistema Cantareira traz riscos à saúde da população. A afirmação foi feita com base em estudos realizados pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do estado de São Paulo) mostrando que o volume de cianobactérias cresceu muito em algumas das represas do sistema. Se lá está assim e diante da ainda pouca transparência na governança do país, podemos perguntar também se outros volumes mortos estão sendo ou foram usados em reservatórios da região Sudeste e em quais condições. Fica o benefício da dúvida.

Aumento salarial – O Ministro do Planejamento e Gestão afirmou que não há espaço para conceder um reajuste salarial de 27,3% para os servidores públicos federais. As várias categorias estão se mobilizando e tentando negociações que, se a história se repetir, poderão desembocar em paralisações e greves como forma de luta. O Ministro alega que não há espaço para reajustes porque a sociedade demanda uma redução do gasto público com o funcionalismo. Mas é bom lembrar que o ano de 2015 se iniciou com o aumento salarial para Ministros do STF, Presidente da República e seus Ministros, Senadores e Deputados Federais, além das repercussões em cascata dos Poderes Legislativo e Judiciário. Segundo os versos da obra do compositor e cantor Geraldo Vandré “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Vamos ver como ficará a história, e em que mãos.

Tributação nos Estados Unidos – Uma pesquisa feita pelo Pew Research Center mostrou que 53% dos norte-americanos entrevistados acreditam pagar a quantidade certa de impostos em função dos serviços públicos recebidos. Que resultado você imagina que uma pesquisa semelhante no Brasil daria em função da nossa carga tributária, que chega a 40% daquilo que produzimos, e dos serviços públicos recebidos?

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Os olhos falam pelo coração

por Convidado 23 de março de 2015   Convidado

por Benício Rocha

É certo que as pessoas não trazem placa de identificação na testa, mas seus olhos falam muito. Há intensidade de brilho para denunciar felicidade. Há um jeito opaco na tristeza.

Uma aliança de noivado dada num contexto de surpresa fez uma amiga explodir em brilho e cores e seus olhos falavam comigo claramente

O amor nunca esteve

Tão na moda!

Com tanta gente

Independente,

Ninguém é indiferente

A essa onda invisível

Que basta passar perto

Pra encher o corpo de arrepios…

E com jeito cúmplice, mas comedido, eu concordava, alertando para a necessidade de viver o amor com todos os seus riscos, sabendo que ele não pode acabar. Talvez mudar de forma, mas nunca, nunca acabar.

Lembrei a eles o ritmo da vida moderna e a necessidade de cultivar o amor no dia a dia, com a paciência de um monge, ou ele poderia não florescer em sua intensidade maior, e ouvi:

Apesar de não ter

Tempo pra nada

Paro o mundo

Mato ou morro,

Por meu namorado!

Tá certo, mas a vida terá que sofrer atalhos para que esse brilho seja constante e renovado pelos anos vindouros. Renúncias, perdões, construções, reconstruções, restaurações, carícias, atenção, beijos, abraços. Não dá pra esticar mágoa, remorso, dores de cabeça. Mas com inteligência, determinação e amor, constrói-se um amor que vai muito além desse brilho, e que desconhece a palavra retrocesso. Esse chega ao Criador. Vocês estão dispostos, olhos?

Para isso, giro o mundo

Faço meu caminho,

Encurto distâncias,

Dou e ganho carinhos,

Agarro esse amor!

Não tive dúvida. Aqueles olhos falavam pelo coração, que estava mudo de tanto amor…

Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

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Pessoas amolativas

por Luis Borges 22 de março de 2015   Pensata

Está cada vez mais difícil conviver e aguentar pessoas que se acham proprietárias da verdade e agem assim o tempo todo. O pior é que elas estão por toda parte, em todos os tipos de organizações humanas. Começam nas famílias, nas escolas, nas empresas. E se alastram por sindicatos, partidos políticos, Poder Legislativo, Executivo, Judiciário, Ministério Público, ONGs e outras instituições que você poderá se lembrar.

Tudo fica mais “osso duro de roer” porque essas pessoas só sabem falar, mas nunca conseguem ouvir. Elas se sentem tão donas da verdade que quando alguém consegue interromper as falações, elas mudam de assunto ou saem de perto de quem as contesta. Outro problema é a altura da voz e o tom bravo que adotam, muitas vezes para intimidar e acentuar a prevalência do que elas querem impor. Democracia participativa para elas tem mão única – só elas falam, sempre.

Outro aspecto importante é que essas pessoas tornam tudo mais difícil, pois acreditam piamente no que falam. A nós cabe tolerar tudo isso, em função do convívio geopolítico que nós mesmos nos impomos.

Apesar de cada caso exigir uma estratégia, não é incomum ver essas pessoas não aguentarem contrapontos. Elas se posicionam como frágeis vítimas e chegam a ir às lágrimas. No fundo, se não houver um determinado nível de enfrentamento, essas pessoas continuarão a nos chatear, a nos importunar e nos incomodar insistentemente, durante muito tempo.

Se por acaso você se considerar uma pessoa amolativa, fineza não vestir a carapuça. Isso é, no máximo, uma mera coincidência e não necessariamente uma intenção do autor. Quando nada já valerá uma reflexão sem dor, inclusive com o benefício da dúvida.

Gostaria de ouvir sua experiência sobre esse assunto. Em quais ambientes você encontra as pessoas amolativas com maior frequência? Como você lida com elas? Deixe seu relato nos comentários.

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O recado das ruas – As manifestações nas ruas, as feitas em casa e as das redes sociais estão trazendo diversas mensagens para aqueles que estão no poder, ao o qual chegaram pelas vias da democracia representativa. A insatisfação é grande e as reivindicações são muitas. Mas o que é necessário fazer, o que é possível e o que é impensável nesse momento? Neste artigo o filósofo Hélio Schwartsman manifesta seu receio em relação ao impeachment da presidente, apesar dos gritos de muitos grupos e pessoas.

Eu próprio estaria apoiando o “impeachment” ou implorando pela renúncia da mandatária, caso ela tivesse insistido em trilhar a rota que nos levou ao desastre econômico. Entretanto, como já apontei aqui, Dilma tem uma virtude: ela vai até a beira do abismo, mas não salta. A presidente viu o estrago nas contas públicas e optou pelo ajuste fiscal, tendo recrutado um técnico competente para efetuá-lo. Agora é preciso dar tempo para as medidas recessivas realizarem sua mágica. Teremos pelo menos um par de anos difíceis.

Dólar em alta – A desvalorização do real em relação ao dólar veio para ficar e deve ser uma solução para a crise econômica. Essa é a percepção do economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, em artigo publicado pela Folha de São Paulo esta semana. Segundo o economista, a cotação da moeda norte americana cresceu em torno de 35% quando comparamos seus níveis de hoje com os de janeiro de 2014. Nesse mesmo período a valorização do Euro em relação ao mesmo Real ficou em torno de 5%. O cenário econômico aponta para um aumento das exportações e uma redução no incentivo ao consumo interno que demonstra sinais de esgotamento.

Diversos modos da corrupção – A Operação Lava Jato da Polícia Federal completou 1 ano de investigações sobre a corrupção na Petrobrás. A ponta do iceberg que está sendo mostrada revela que essa tecnologia permeia pessoas e organizações humanas no mundo público e privado. Ela está tão arraigada na nossa cultura que se faz presente em diversas atitudes do nosso micromundo cotidiano. Esse é o aspecto abordado pelo jornalista Eduardo Costa neste artigo, no qual afirma que a crise é de caráter e a corrupção está no DNA.

esqueçamos as fraquezas humanas para lembrar que um país novo a gente cria ao economizar água, energia elétrica, não pegar um “jabá” por fora, não furtar TV a cabo, não explorar a empregada doméstica, não sonegar impostos, não majorar preços indecentemente, não dar dinheiro ao vereador para construir onde não pode, não parar na fila dupla, não arranjar emprego para a nora e os genros no fórum, não pedir mais auxilio moradia, livro, mudança e outros que só aumentam salários já incompatíveis com a fome de muitos.

Suco detox – O que para comer e o que para beber, senhor e senhora? O discurso e a catequese para instigar as pessoas que estão em busca de uma alimentação saudável e equilibrada permeiam o cotidiano de muita gente. O mercado usa as mais diversas mídias para apresentar soluções aos que querem manter a saúde para ter longevidade com qualidade. Agora está em evidência o suco detox que, segundo artigo da Folha de São Paulo, não serve nem para desintoxicar nem para substituir a comida. Como tudo é relativo e cada caso é um caso, tire suas conclusões lendo o artigo. 

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 20 de março de 2015   Curtas e curtinhas

Aumento de impostos – O Ministro do Planejamento e Gestão disse, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que desde 2002 não houve aumento de impostos e contribuições. No afã de defender a aprovação do ajuste fiscal sem modificações no Congresso ele se esqueceu da volta da Cide (Contribuição Sobre a Intervenção no Domínio Econômico) cobrada nos combustíveis, do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e da correção da tabela do Imposto de Renda nos últimos anos por índices abaixo da inflação oficial, pra ficar em três exemplos. Mesmo com o crescimento da economia chegando a zero, a arrecadação federal segue em torno de 15% do PIB, que mesmo muito significativa não consegue acompanhar o exponencial aumento de gastos.

Demissões – A Sabesp, empresa de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, demitiu 335 empregados desde 1 de fevereiro deste ano. Agora o Tribunal Regional do Trabalho determinou a suspensão das demissões que ainda não foram homologadas pelo sindicato dos trabalhadores, que chegam a 100. Existe uma divergência entre as partes sobre a cláusula do acordo coletivo do trabalho em vigor, que permite a demissão de até 2% dos empregados no período de maio de 2014 a abril de 2015. Segundo o Tribunal e os trabalhadores, o número máximo de demitidos poderia ser de 297, aí incluídos os aposentados. Já a Sabesp alega que os aposentados não fazem parte desse número e, por isso, chegou a 335 demissões. Escassez de água, perda do posto de trabalho e redução no faturamento da empresa em função da queda do consumo são fortes ingredientes na conjuntura e nos cenários que se desenham.

Dólar e Euro – Em 31 de janeiro de 2014 o dólar comercial estava cotado a R$2,42. Em 17 de março de 2015 fechou a R$3,23. A variação em torno de 33,5% mostra a recuperação da moeda e sinaliza mais possibilidades para as exportações brasileiras em detrimento do grande foco no consumo interno, que vigorou até a virada do ano. Se olharmos para a cotação do Euro, a segunda moeda mais forte no planeta, nessas mesmas datas veremos uma variação em torno de 6%, pois ela passou de R$ 3,27 no inicio do ano passado para R$ 3,46 anteontem.

Minha casa, minha vida – O Ministério das Cidades anunciou meta de construir 3,2 milhões de unidades até 2018 na terceira etapa do programa “Minha casa, minha vida”. Se a meta for atingida o programa chegará 6,7 milhões de imóveis que atenderão 25 milhões de pessoas. Enquanto isso, a cidade está cheia de placas de “vende-se” e “aluga-se” em imóveis.

Compra direta – O Governo Federal quer economizar R$132 milhões em 2015 com a compra de passagens aéreas diretamente das empresas do setor. A experiência feita no final do ano passado apresentou redução de custo de 30% em relação ao valor que seria gasto com agências de viagens licitadas. Nada existe em caráter permanente a não ser a mudança, como disse Heráclito no ano 501 a.c.

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O primeiro

por Luis Borges 18 de março de 2015   A história registrou

Há um ano a história registrou a primeira postagem do Observação & Análise. Era um sonho tornando-se realidade após igual tempo de planejamento e delineamento do experimento.

Os leitores que nos acompanharam ao longo dessa trajetória devem estar percebendo que a melhoria contínua existe e merece ser buscada. Esse espaço prossegue fiel à sua crença de não ser proprietário da verdade, mas sim de expor percepções, reflexões e formulações diante das questões que se colocam no dia-a-dia de pessoas e sociedades, em permanente transformação. E peço uma licença poética a Milton Nascimento e Fernando Brant para reafirmar que “se muito vale o já feito, mais vale o que será”.

Deixo aqui agradecimentos aos leitores que tanto nos honram e nos difundem, bem como aos patrocinadores, ambos muito contribuindo para a sustentabilidade desse blog.

Como não poderia deixar de ser, também registro um agradecimento especial a Sérgio Verteiro e Marina Borges, que fazem as coisas acontecer no dia-a-dia, aos colaboradores convidados e ao conselho consultivo formado por Cristina Borges, Gustavo Borges e Igor Costoli.

Para relembrar o primeiro dos nossos 220 posts, clique aqui. 

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