O desmonte

por Luis Borges 4 de março de 2015   Pensata

Era o dia seguinte à missa de sétimo dia. Por volta das 11 da manhã um pequeno caminhão baú parou em frente a uma casa no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. Estava lá para retirar e transportar o mobiliário da casa onde uma psicopedagoga, morta aos 68 anos, continuou morando após cuidar dos pais enquanto eles estiveram no plano terrestre.

A autorização foi dada pela filha mais velha, após convencer suas duas irmãs de que não dava mais para resistir às pressões. Três dos cinco irmãos da psicopedagoga queriam receber sua fração da única herança deixada por seus pais. Eles, inclusive, já tinham entrado na justiça para resolver a situação, enquanto a irmã agonizava na UTI de um hospital, enfrentando uma doença pulmonar obstrutiva crônica.

A morte relativamente rápida da psicopedagoga surpreendeu a muitos, mas principalmente aos três interessados na partilha, que nos últimos tempos não se relacionavam mais com a irmã.

O velório, a cerimônia de sepultamento e as palavras do sacerdote na homilia da missa de sétimo dia, falando na dor da perda e no luto a ser vivido, não conseguiram esconder o desconforto dos envolvidos na disputa. Nem esse desconforto impediu que o desmonte da casa se iniciasse no dia seguinte.

Agora as três herdeiras da falecida procuraram a orientação de um operador do direito, para também garantir as suas partes no imóvel. Querem guardar na memória as boas lembranças de tudo o que viveram naquela casa junto com a mãe, na crença de que não se apequenarão numa disputa patrimonial. A preferência foi pela paz interior, ainda que nem todos os envolvidos pensem assim.

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Dia 8 de março, domingo, o Move completa um ano de operações. Move é o nome dado ao sistema de BRT (Bus Rapid Transit, ou sistema de transporte rápido por ônibus) de Belo Horizonte, no qual a Prefeitura de BH já investiu mais de 1 bilhão de reais.

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Foto: Sérgio Verteiro

No Observação e Análise temos abordado diversos temas ligados à mobilidade urbana em Belo Horizonte e RMBH, muitas envolvendo o BRT ou Move. Você pode relembrar os textos aqui.

Apesar de todos termos o direito de ir e vir, assegurado pela Constituição Federal, é necessário avaliar como estava a mobilidade urbana antes do início da operação do Move e como ela está hoje. Valeu a pena o investimento? O sistema adotado “despiorou”, ainda continua ruim ou apresenta algum grau de melhoria visível?

Espero que a BHTrans, empresa gerenciadora do sistema viário, já tenha uma avaliação crítica estruturada, mostrando claramente o que foi planejado, o que foi executado, o nível de resultados alcançados, os principais problemas pendentes e o planejamento dos próximos passos, com o respectivo horizonte de tempo. Espero também que essa análise tenha sido feita ouvindo todas as partes interessadas, contemplando os usuários dos serviços de ônibus, os usuários de outros veículos automotores ou não, os pedestres, as empresas concessionárias do serviço de transporte por ônibus e as associações de moradores.

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Foto: Sérgio Verteiro

Os problemas que envolvem a operação e o uso do Move não podem ser negados, ignorados ou justificados com desculpas. Problema deve ser admitido e resolvido, conforme nos ensina um dos fundamentos da gestão. Quem acompanha a vida da cidade deve estar vendo pelo rádio, televisão, internet e jornais impressos muitos fatos e dados nas pautas sobre o Move. É o caso da avaliação feita pelo jornal Estado de Minas, publicada na edição da segunda feira 02 de março. Nas fotografias deste post estão um retrato do Move Cristiano Machado no mesmo dia.

Fica a pergunta: se você fosse consultado em uma pesquisa de opinião para avaliar o desempenho do BRT/Move ao longo desse 1 ano, que nota você daria na escala de 0 a 10? 

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Foto: Sérgio Verteiro

Nada é tão bom que não possa ser melhorado, ainda que alguns insistam em dizer que vai tudo bem, obrigado.

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Pra que mentir?

por Luis Borges 2 de março de 2015   Música na conjuntura

Quando falar a verdade ou mentir significa a mesma coisa, estamos diante de um traço de personalidade difícil de lidar. Pessoas que acreditam nisso querem se safar de todas as situações, principalmente incômodas. É difícil saber se devemos ou não acreditar naquilo que está sendo falado. Quando for o caso, pode-se dar o benefício da dúvida. Durante a vida você se verá frente a uma pessoa assim na vida familiar, nas relações amorosas, entre amigos ou no mundo do trabalho.

O gasto de energia é sempre muito grande para quem se vê obrigado a conviver com situações como essas, principalmente quando as pessoas sequer admitem que o problema existe. Melhor seria que a verdade prevalecesse sempre e que a honestidade fosse uma obrigação, não uma virtude.

Nesse sentido basta um ligeiro olhar pelo noticiário político, econômico ou ambiental, onde uma amarga verdade pode ser escondida, adiada em função de um calendário eleitoral ou até mesmo ser apresentada de maneira doce e natural, mostrando que tudo vai muito bem, obrigado. Exemplos não faltam. Os direitos trabalhistas não seriam mudados, “nem que a vaca tussa”. Não havia escassez da água, mas hoje o racionamento de água e energia bate à porta. A situação financeira do estado de Minas estava ótima, hoje apresenta-se quebrado. Aqui também é imperioso lembrar a ficção dos orçamentos da União, dos estados e dos municípios, que projetam receitas crescentes num momento de economia ruim. É o inviável vendido como viável.

Enquanto a verdade não chega plenamente às ruas, devemos prosseguir realistas e esperançosos, acumulando forças conscientizadoras e cantando com Paulinho da Viola a música Pra que mentir, composta pelo grande Noel Rosa em parceria com Vadico.

Pra que mentir?
Noel Rosa
Fonte: Letras.mus.br

Pra que mentir se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir
se eu sei que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir
Tanto assim
Se tu sabes que eu sei
Que tu não gostas de mim?!
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?!
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Marcha pela água – Se uma coisa é a mudança do clima, outra é o planejamento que deveria ser feito para evitar a escassez de água para consumo humano. Enquanto os governos de estados como São Paulo e Minas Gerais, ou mesmo o Ministério das Cidades, fazem infindáveis discussões sobre rodízio ou racionamento de água, as populações começam a se organizar para exigir o seu direito ao abastecimento doméstico. É o caso do Movimento Marcha pela Água, de São Paulo. Guilherme Boulos, coordenador do movimento, concedeu entrevista ao jornalista Mauro Donato, do Diário do Centro do Mundo, após manifestação que reuniu 20 mil pessoas na quinta, 26/02. Boulos ressalta que:

“o racionamento, que eles dizem que pode ocorrer ou não, na prática ele já existe mas contra os mais pobres. Mas nós não vamos admitir que só a periferia sofra e carregue nas costas o preço da irresponsabilidade desse governo”.

Leia a íntegra aqui.

Aborto sempre na pautaUm médico de São Bernardo do Campo (SP) atendeu uma jovem de 19 anos que chegou ao hospital com hemorragia pós-aborto e logo em seguida chamou a polícia. Em outro caso semelhante, ocorrido na semana passada em Araxá(MG), o médico atendeu uma jovem de 16 anos com 20 semanas de gravidez e, suspeitando de aborto, também chamou a polícia. Criminalizar o aborto ou legalizá-lo em função das variáveis envolvidas continua sendo um desafio para a sociedade brasileira, que continua longe de um consenso sobre o tema. Entre tantos posicionamentos, há até aqueles que são contra para os outros mas favoráveis em caso de necessidade específica dentro da família. Neste artigo a jornalista Cláudia Collucci, especialista em saúde, mostra que, em família, médicos e juízes optam pelo aborto. Uma das pesquisas citadas na reportagem é da Unicamp em parceria com a Associação dos Magistrados Brasileiros e mostra que “20% de 1.148 juízes entrevistados já tiveram parceiras que engravidaram sem querer. Nessa situação, 79,2% abortaram”. É um artigo que, certamente, vale a leitura.

Falta de feedback – A realidade de muitas organizações brasileiras mostra pessoas que não gostam de trabalhar com metas e nem de ter seu desempenho avaliado em função dos resultados alcançados. Some-se a isso a incapacidade que chefes e gerentes têm de conversar com as pessoas no trabalho sobre o que está bom, o que está ruim e o que precisa ser melhorado. Surpresas tornam-se inevitáveis tanto ao demitir alguém que sempre fez seu trabalho do mesmo jeito- e ruim – quanto ao tentar reter alguém que pediu demissão para ir trabalhar num concorrente, que descobriu e reconheceu seu talento. A importância do feedback é o que trata o livro de Eugênio Mussak, Com gente é diferente – inspirações para quem precisa fazer Gestão de Pessoas, conforme mostra este artigo da jornalista Luísa Melo, especialista em gestão, publicado em Exame.com.

Sempre o cansaço – Existem pessoas que sempre reclamam do cansaço, mesmo após uma boa noite de sono, um período de férias ou de feriado prolongado. Na medida em que isso torna-se crônico no dia-a-dia é importante buscar as causas de tal fenômeno, mesmo existindo o receio de que os profissionais da saúde poderão lhe virar do avesso e até mesmo não encontrar quase nada. Leia aqui a abordagem de Chris Bueno, mostrando que “cansaço constante pode ser sinal de problema de saúde”.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 1 de março de 2015   Curtas e curtinhas

Classe C – Pesquisa do Instituto Data Popular, divulgada em 20/02, mostrou que 47% dos integrantes da classe C estão comprando menos nos supermercados do que há seis meses. Já 41%dos entrevistados disseram que estão comprando a mesma quantidade e apenas 12% aumentaram suas compras. Você, em sua categoria de renda, se situa em qual das três situações pesquisadas?

Mais impostos – Após a volta da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) e do aumento da alíquota de PIS e Cofins para os combustíveis, agora o Ministro da Fazenda está propondo a incidência de PIS e Cofins para as operações de crédito financeiro a partir de 2016. Também está propondo o aumento do percentual do ICMS para o local do destino de bens e redução na origem. Após o aumento da carga tributária o ministro fala candidamente que existem condições políticas para se tentar aprovar no Congresso Nacional uma reforma tributária, surrado tema há pelo menos duas décadas na conjuntura brasileira. Quem vai querer abrir mão de qualquer centavo advindo da grande gula arrecadatória?

Renda – Foi de R$1.052,00 a renda mensal per capita do cidadão brasileiro em 2014 conforme a PNAD Contínua do IBGE. Entretanto a média mascara a amplitude existente quando se faz a comparação por estados. O Distrito Federal apresenta a maior renda, R$2.055,00, enquanto Alagoas ficou com a menor, de R$604,00. Minas Gerais ficou em nono lugar, com renda de R$1.049,00, ligeiramente inferior ao Espírito Santo, que registrou renda exatamente igual à média nacional. Haja dinheiro para pagar mais impostos e repor a perda do poder aquisitivo decorrente do crescimento da inflação no período!

Em queda – Indicadores que medem o desempenho brasileiro em diversos aspectos da vida estão sendo divulgados em profusão. É notória a queda livre da maioria deles quando comparados com valores de meses ou anos anteriores. Vamos a alguns exemplos. A exportação brasileira de eletroeletrônicos caiu 22,3% na comparação entre janeiro deste ano com o mesmo mês do ano passado. O índice de confiança do consumidor em São Paulo recuou 17,2% em fevereiro na comparação com o mesmo período de 2014. Segundo a Federação do Comércio de São Paulo, o índice de aferido neste ano só perde para o de fevereiro de 2003, quando ficou em 103,5 pontos. A escala desse índice vai de 0 a 200. Já a quantidade de carteiras de trabalho assinadas caiu 1,9% em janeiro deste ano quando comparado ao de 2014. Mas ainda assim caminhemos com o nosso realismo esperançoso.

Comércio na fronteira – A fúria arrecadadora de impostos e contribuições para viabilizar, de qualquer maneira, o ajuste fiscal da União em 2015 fez a Receita Federal reduzir a cota de gastos isenta de impostos para viagens terrestres. Quem vai ao Paraguai pela Ponte da Amizade, por exemplo, terá a cota reduzida de U$300,00 para U$150,00 a partir de julho. Na imprensa e à “boca miúda” diz-se que os comerciantes de cidades paraguaias que ficam na fronteira com o Brasil estão em pânico e prenunciam uma quebradeira se a medida não for revertida. Desconfio que turistas e “sacoleiros” também. A conferir.

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Quem anda pelo bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, pode encontrar quaresmeiras espalhadas pelas suas ruas e praças. Basta um olhar minimamente atento para descobrir, e melhor, observar o que a natureza ainda nos oferece, apesar da ação daninha de muitos de nós. Uma pequena amostra do que estou dizendo está nas fotografias postadas a seguir, que foram feitas na Rua Almandina, no quarteirão próximo à Avenida do Contorno, e na Rua Quimberlita, entre as ruas Mármore e Eurita, três quarteirões abaixo da Praça Duque de Caxias.

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Rua Almandina. / Foto: Sérgio Verteiro

Provavelmente para quem realmente quiser ver uma quaresmeira com flores de diferentes cores sem ir a Santa Tereza bastará olhar o seu próprio bairro para ver uma cena semelhante e se permitir um pouco de contemplação.

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Rua Quimberlita. / Foto: Sérgio Verteiro

Para quem quiser avançar um pouco mais existirá, também, a possibilidade de refletir sobre o significado do tempo da quaresma, ao qual chegamos após a alegria e a fantasia do Carnaval. É claro que é só para quem quiser, pois daqui a pouco os tempos já serão de Páscoa, declaração do Imposto de Renda, Corpus Christi, dia dos namorados e de trabalhar para pagar impostos para poder viver. Se você olhar o calendário gregoriano verá que faltam praticamente 10 meses para o encerramento do ano e que estamos apenas esperando as águas de março que fecharão o verão.

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Rua Quimberlita. /Foto: Sérgio Verteiro

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 25 de fevereiro de 2015   Curtas e curtinhas

Financiamento estudantil – O Ministério da Educação acabou cedendo e autorizou o reajuste dos atuais contratos do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) em até 6,4% no lugar dos 4,5% impostos anteriormente. Como sempre o Governo Federal insiste em usar, convenientemente, a fictícia meta de 4,5% da inflação anual para liberar menos recursos, como tentou no caso do Fies, ou para arrecadar mais, como ocorre com a correção da tabela do Imposto de Renda. Enquanto isso, a inflação de 2015 galopa com a projeção de 7,33% e o PIB já sinaliza encolhimento de 0,5% mas com potencial para cair até 2% no ano.

Greve de professores – O ano letivo começou com os professores estaduais do Paraná em greve, bem como os do Distrito Federal. O reinício das aulas nas universidades federais e nos institutos de ensino tecnológico deve ser acompanhado pela reivindicação de reajuste salarial. No plano federal só a Presidente da República, Ministros, Deputados, Senadores, Ministros do STF e beneficiários do efeito cascata tiveram aumento até agora. Como os índices foram generosos, ficará difícil simplesmente negar o problema em nome do ajuste fiscal e do equilíbrio das contas públicas.  Segundo os fundamentos da gestão, problema é para ser resolvido. Vamos ver como se comportarão as partes interessadas na sequência dos acontecimentos.

Planos de saúde – A Federação Nacional de Saúde Suplementar informou que o setor cresceu 2,55% em 2014 quando comparado a 2013, chegando a 50,8 milhões de usuários. A projeção de crescimento para 2015 é de aproximadamente 2% em virtude da baixa na economia e do aumento do desemprego. É interessante lembrar que as pequenas e médias empresas respondem por 33,7 milhões de usuários e que os planos de saúde, com ou sem limites técnicos, fazem parte dos últimos cortes feitos nos esforços de redução de gastos de empresas e famílias. Uma última lembrança é a de que a Constituição Brasileira afirma que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado.

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Campanha da Copasa. / Fonte: Sec. Planejamento de MG

Falta d’água – Como você se planejou para a falta d’água em 200 bairros de Belo Horizonte no sábado 21/02? Você considera que foi um treinamento para sobreviver a um possível racionamento de água de um dia por semana, na medida em que o cenário pessimista se confirmar? Quais os  sinais que você aguarda para concluir que o momento  do racionamento da água terá chegado?

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