Que olhar é esse? Que atravessa a escuridão sem ver a claridade, ainda que bem longe no fim do túnel? Os limites não se mostram definidos nos contornos da visão tubular, determinados de maneira glaucomatosa, que não mais enseja contar estrelas. Mas trazem a nítida sensação de que a lua cheia minguou. A vida prossegue em constante reinvenção. E atenta à dor não doída de trabalhar com o imaginário, para formar a imagem que os ouvidos só amplificam. O inconsciente fala no claro escuro da complexa arte de viver, que nos desafia em caráter permanente rumo à aprendizagem, que faz triunfar a sabedoria para a temperança do essencial.
Autópsia
Nossa vida se passa regida por uma legislação que nem sempre tem clareza suficiente ou aborda todos os aspectos envolvidos, além de também não ser plenamente conhecida por todos. A morte, que é parte da vida, é abordada pela legislação como sendo decorrência de causa natural ou causa externa. Se natural, bastará a emissão do atestado médico declarando o óbito e, se for externa, exigirá a realização de uma autópsia feita pelo Instituto de Medicina Legal. No texto do blog Morte sem tabu a autora explica os pormenores da lei. Vale a pena entender um pouco mais sobre o assunto, pois poderemos ser surpreendidos pela necessidade de enfrentar uma situação onde esse tipo de conhecimento poderá facilitar a solução de um problema.
Viciados em compras
O impulso caminha na contramão da estratégia e seu estrago costuma ser nada agradável. É o caso que afeta as pessoas que consomem sem planejamento, de maneira incontrolável e que demonstram inconsciência em relação aos tempos bicudos que estamos vivendo. Muitos casos chegam a ser patológicos nas pessoas que buscam no consumo desmedido as soluções para seus problemas crônicos ou momentâneos. Como você avalia as suas atitudes perante o consumo? Alguma vez você já chegou ao fundo do poço? Leia a abordagem de Márcia Dessen, colunista da Folha de São Paulo, no artigo Viciados em compras.
Quando o ato de comprar passa a ser exagerado, incontrolável e irresistível, o sinal vermelho acende! Você pode ser vítima de um transtorno conhecido como oniomania, quando o consumo diante de um apelo, um evento negativo, resulta em prejuízos significativos no funcionamento social, familiar e financeiro.
Brasileiro simpático
O sociólogo espanhol Manuel Castells, professor da Universidade da Califórnia, concedeu uma entrevista ao Jornal Folha de São Paulo. Entre suas falas, abordou o que chama de “mito do brasileiro simpático”. Segue um trecho:
Agora, a internet permite às pessoas comunicar-se diretamente sem passar por esses controles, e sem passar por qualquer censura. Ainda que se queira controlar a internet, não se pode.
Eu não creio que no Brasil, com a internet, exista mais agressividade no debate. O Brasil sempre foi agressivo. Nos tempos da ditadura, no final dos anos 60, anos 70, o debate não só era agressivo como se torturavam pessoas diariamente com impunidade.
A imagem mítica do brasileiro simpático existe só no samba. Na relação entre as pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata. Esse é o Brasil que vemos hoje na internet. Essa agressividade sempre existiu.
Na mesma entrevista, Castells fala sobre a crise de representação que vivemos hoje e sobre os movimentos sociais, como a Primavera Árabe e Occupy.
A política e o violino
A corrupção está em pauta no Brasil e no Chile. Nos dois países, as presidentes vieram de organizações políticas de esquerda, cumprem seu segundo mandato e enfrentam crises econômicas e políticas. Os programas que defenderam para se eleger e o que tem sido praticado em seus governos são temas abordados pela economista Mônica Baumgarten de Bolle neste artigo, que começa citando uma frase de Esperidião Amin – “o poder é como o violino. Toma-se com a esquerda e toca-se com a direita”.
O MOVE, nome dado ao sistema de BRT de Belo Horizonte e região metropolitana, completou um ano de funcionamento há pouco tempo. E há estações que clamam por manutenção, como a que mostramos abaixo.
Na última terça-feira, dia 19 de maio, uma delas estava assim – bastante deteriorada, com buracos no teto do abrigo.
A falta de teto está acima dos bancos onde os passageiros esperam pelos ônibus. Em alguns horários do dia, falta proteção para o sol e também para a chuva.
A situação se repete em outro ponto de ônibus na mesma rua Aarão Reis, no Centro e Belo Horizonte.
É possível ler numa placa afixada na estação maior o texto “terminal provisório”. Mas a sensação é de que ele se tornou “provinitivo”, um provisório definitivo.
Duro lembrar que conforto, rapidez, integração, frequência e pontualidade são as principais premissas do Transporte Rápido por Ônibus, cujo sistema foi inicialmente chamado de BRT e, posteriormente, batizado com a marca MOVE, para explicitando o foco na mobilidade.
Pelo menos nessas estações, o conforto está em falta.
Carmen* começou a semana de trabalho, na última segunda-feira, pedindo liberação do serviço durante a tarde. O motivo? Participar do velório e do sepultamento de um sobrinho, um jovem rapaz de 23 anos, que se enforcou no dia anterior.
A tia conta que o moço namorava uma “mocica” de 20 anos, com a qual brigava muito. Principalmente por ciúmes, que de vez em quando levavam ao término do namoro, que posteriormente acabava sendo retomado. Pouco mais de uma semana atrás o casal tinha terminado novamente, mas a moça disse que não tinha volta.
Inconformado, o rapaz continuou insistindo. Acabou levando uma grande surra de alguns amigos da moça, com o aviso de que não deveria mais procurá-la, senão a situação ficaria ainda pior. O rapaz prosseguiu triste e revoltado nos dias seguintes, até chegar ao último ato de sua vida.
Embora esse caso não tenha virado notícia de jornal, existem dados mostrando que o suicídio é a décima causa de mortes no mundo e vitima 1 milhão de pessoas por ano. Já as tentativas de suicídio chegam a 20 milhões no mesmo período. O assunto já foi abordado no blog, quando sugerimos a leitura do artigo Mitos sobre suicídio e como preveni-lo de autoria de Camila Appel.
Apesar do tema continuar merecendo mais difusão, discussão e conhecimento para a compreensão de suas causas ele foi abordado pelo compositor Haroldo Barbosa em sua musica Notícia de jornal, cuja letra você pode ler a seguir. Ouça na interpretação de Chico Buarque.
* Carmen é um nome fictício, para preservar a participante de uma história verídica.
Noticia de Jornal Composição de Haroldo Barbosa Fonte: Letras.mus.br Tentou contra a existência Num humilde barracão Joana de tal, por causa de um tal João Depois de medicada Retirou-se pro seu lar Aí a notícia carece de exatidão O lar não mais existe Ninguém volta ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose Errou no amor Joana errou de João Ninguém notou Ninguém morou na dor que era o seu mal A dor da gente não sai no jornal
Mais greves de professores
Enquanto se prolongam as greves dos professores das redes estaduais de São Paulo e Paraná, outra greve começa a tomar forma. É a dos professores das Instituições Federais de Ensino Superior filiados à Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), convocada a partir do dia 28. Entre as reivindicações estão a autonomia universitária, a reestruturação da carreira docente e o reajuste da tabela salarial. Essa é mais uma variável para complicar um pouco mais o Governo Federal no momento em que tenta aprovar o ajuste fiscal no Congresso. É bom lembrar que no dia marcado para o início da greve estarão faltando algo em torno de 35 dias para o final do semestre letivo. Vamos acompanhar para verificar como esse jogo será jogado diante da atual correlação de forças.
Petrobras
A Petrobras anunciou lucro líquido de R$5,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, total R$1,2 bilhões menor do que o de igual período do ano passado. Apesar da euforia inicial de alguns setores do mercado, o que está prevalecendo mesmo é a cautela diante do curto período analisado. Vale lembrar que o lucro sucedeu o prejuízo do trimestre anterior, que foi de R$26,6 bilhões. O que está em alta é a expectativa gerada pelo novo plano estratégico de negócios, que deverá ser divulgado no próximo mês. Especula-se que esse plano terá mais foco na melhoria da operação e gestão da manutenção, embora sejam preocupantes as despesas financeiras decorrentes do autoendividamento, hoje em torno de R$322 bilhões. De qualquer maneira, a empresa vem tendo seu aprendizado após as revelações da Operação Lava Jato, inclusive compondo seu Conselho de Administração sem a participação de Ministros do Poder Executivo Federal. Finalmente!
Crédito online
As empresas de crédito online já são uma realidade no Brasil e prometem facilidades para emprestar dinheiro sem exigir muitas garantias. Ainda que não assumam explicitamente, o fato é que elas têm seus mecanismos próprios para analisar o cadastro em função do CPF apresentado, e o máximo que pode acontecer é o crédito ser negado. Nesse caso, o constrangimento do solicitante também será online. Já para quem for aprovado, existe a exigência de conta corrente em algum dos grandes bancos brasileiros bem como a assinatura eletrônica do contrato. Entretanto uma grande atenção deve ser dada ao prazo do empréstimo e às taxas de juros cobradas, que costumam ser maiores que as dos bancos. Quem não tem foco na educação financeira torna-se presa fácil, principalmente nesses tempos de inflação e desemprego em alta.
Menos cerveja
A Associação Brasileira da Indústria da Cerveja informou que as empresas do setor produziram 923,1 milhões de litros da bebida em abril. O número mostra queda de 8,8% em relação à produção de março e de 12,6% em relação à de abril do ano passado, período que antecedia à Copa do Mundo. Mas, de qualquer maneira, os números não mentem e mostram produção menor em função do encolhimento da economia brasileira.
Rodovias federais
O Ministério dos Transportes estuda a possibilidade de devolver 14,5 mil km de rodovias federais aos estados por onde elas passam. A razão é o fim do convênio que transferiu a manutenção delas da responsabilidade dos estados para a União na década passada. Os trechos dessas estradas equivalem a 19% da malha rodoviária federal e alguns estão em estados com situação financeira ruim, como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Será que essas estradas acabarão indo para o pacote dos serviços públicos cujas concessões serão oferecidas à iniciativa privada em julho?
por Benício Rocha*
Meu coração se partiu quado vi uma sacola plástica, dessas de supermercado, voando perto da janela de um apartamento do 5º andar de um prédio, presa por uma linha às mãos de um garotinho. Caixotinho saindo de um caixotão…
Não pude evitar as lembranças de um tempo em que as crianças viviam soltas, descalças, sem alergias e, esbanjando alegria, corriam, pulavam, gritavam e viviam pelas ruas e pastos de capins verdes.
Papagaios linha 24 ou 10, as pipas, cordonet, cuja grafia nunca aprendi.
Faquinhas, taquaras, linhas, papel de seda, tesoura, grude, cores, muitas cores – o roxo era lindo (pano de caixão)!
Carretilha de 8 cruzetas, as feitas pelo “sô” João, lá da Rua Coronel Antônio Salim, já velhinho, eram as melhores da cidade!
Os corações de nossas mães se tranquilizavam e elas sorriam quando, olhando para cima, nos viam em nossas obras coloridas que, alegremente, ocupavam um céu colorido, multifacetado, do qual um sol brilhante queimava nossos rostos.
Buscadas, laçadas, linhas pocadas, correrias, alegrias e tristezas, rápidas como pássaros, e a vida abundante que não coube num futuro de espaços mínimos, violência máxima, inteligências artificiais, um sol, às vezes inimigo, que, como caçador pega, fere, mata e se vai…
Uma parte vermelha, alegre, esvoaçante do meu coração uniu-se ao verde daqueles pastos num lindo papagaio menino e a outra parte, negra, triste anciã esquecida num asilo, prendeu-se àquela sacola de plástico pilotada pelo menino online, opaco, protegido pela tela daquela janela da cela por onde passarão seus netos num repetir futurista piorado a cada dia.
Crianças sedentas de vida. Sedentárias. Pássaros engaiolados.
*Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros e aprendiz de servo do Senhor.
A vida é como a dengue – Um amigo foi diagnosticado com dengue e chegou a apresentar 53 mil plaquetas segundo o laudo de um dos exames de sangue, quando o esperado é algo entre 150 e 400 mil plaquetas. No período de 12 dias em que “ficou de molho” para se recuperar, ele acabou fazendo, também, uma análise crítica do seu ritmo e estilo de vida. Outro que refletiu sobre o assunto foi Renato Essenfelder, no texto A vida é como a dengue.
Não era dengue, era a vida. Aquela doença que me andava deprimindo, exaurindo, que na quinta-feira às sete horas da noite engolfou meu corpo na cama como um oceano de algodão – era a vida
Eu acredito – A corrupção está nas mídias e o caso da Petrobras na Operação Lava Jato da Polícia Federal tornou-se emblemático. Agora aconteceu uma cerimônia para marcar a devolução de R$157 milhões à empresa, que foram recuperados das contas de um ex-gerente. Parece pouco diante dos R$6 bilhões assumidos como perdidos para a corrupção, mas já é um sinal de alguma consequência para esse tipo de crime. É o que comenta o jornalista Eduardo Costa no artigo Eu acredito, publicado em seu blog. Ele parafraseia Ariano Suassuna dizendo que “todo pessimista é um chato, todo otimista é um bobo; eu sou é um realista esperançoso”.
Valores democráticos – Estamos vivendo um momento em que os valores democráticos, tão citados nos discursos de muita gente, não aparecem nas práticas dessa mesma gente. Os pontos de vista geralmente têm sido arduamente defendidos e as posições têm se polarizado quase que na base do 8 ou 80, como se não houvesse outras possibilidades, inclusive mais equilibradas. Frequentemente surgem na imprensa casos envolvendo situações, em escolas particulares ou públicas, quando pais têm questionado diretores e professores sobre textos ou campanhas presentes em seus projetos pedagógicos. Em muitas situações os alunos têm colocado firmemente em prática o que lhes tem sido proposto, o que tem motivado até reações assustadas dos pais e certos recuos das escolas diante dos questionamentos. É o que aborda a educadora Rosely Sayão no seu artigo Valores democráticos, publicado pela Folha de São Paulo. Segue um trecho:
“Precisamos ensinar na escola os valores democráticos. Não é difícil transmitir às crianças os cuidados que devemos ter para a manutenção da democracia. O futuro irá reconhecer nosso empenho nesse sentido”.