Vale a leitura

por Luis Borges 21 de setembro de 2015   Vale a leitura

Equipando a casa

O joão-de-barro constrói sua casinha e, para isso, se vira à procura do material que será usado. Não é situação muito diferente daquelas pessoas que, mesmo não tendo um terreno adequado, se viram para encontrar um espaço e nele construir uma moradia, muito mais na raça do que na técnica.

Mesmo diante das precariedades inerentes aos locais onde essas construções se erguem, chamam a atenção de muitos observadores os equipamentos e dispositivos que ali são instalados. Entre eles, encontra-se itens caros e de última geração. Ruy Castro faz suas observações no artigo Minha TV, minha vida.

46% da população brasileira moram em casas construídas por eles próprios. Não porque sejam pedreiros diletantes, dados a empilhar tijolos e aplicar-lhes massa nos fins de semana, como quem constrói um forno de pizza ou sauna no quintal. Mas porque, da pobreza ao relaxamento oficial, tudo no Brasil favorece a que se levante um barraco no primeiro terreno baldio que se encontre, e não necessariamente na favela.

Casa de joão-de-barro./ Foto: Marina Borges

Casa de joão-de-barro./ Foto: Marina Borges

O caso da construtora Tenda

Esta entrevista com Rodrigo Osmo, diretor-presidente da Tenda Construtora, mostra o caminho percorrido para recolocar a empresa nos eixos, superando problemas e reencontrando a lucratividade. Adquirida pela construtora e incorporadora Gafisa, a Tenda se mostrou uma mina de perder dinheiro. Na frase sincera de Rodrigo:

A história da Tenda é menos uma história de excelência na execução desde o início e muito mais uma história de ser uma empresa grande demais para quebrar.

Vale a leitura para entender como foram encontradas soluções para os problemas. A Tenda foi transformada radicalmente, com uso de novos métodos construtivos e tipos de imóveis.

Corrupção na Ditadura

A corrupção no Brasil ganhou grande visibilidade com as investigações e resultados em função das investigações dos casos mais recentes. A discussão sobre o assunto cresceu bastante e trouxe também mais cobrança de punição para os envolvidos, inclusive com a devolução dos valores surrupiados.

No entanto, existem pessoas pensando que no tempo da Ditadura Militar (1964-1985) não havia corrupção. O advogado José Paulo Cavalcanti, integrante da Comissão Nacional da Verdade, mostra neste artigo que as maracutaias sempre existiram, inclusive naquele período.

No fundo, a corrupção é um desvio da natureza humana praticado indistintamente por civis e militares. Só que, durante a ditadura militar, não se sabia dos submundos do poder porque havia censura. Hoje, felizmente, a liberdade nos permite saber. Essa é a diferença.

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A cultura brasileira está fortemente impregnada pela afirmação de que errar é humano. Ela acaba sendo um lenitivo para as pessoas que admitem ter cometido um erro e que se auto-absolvem quando tocam no assunto. A expressão está se ampliando, e muitos já dizem que errar é humano e permanecer no erro é burrice.

No entanto, persistem muitos casos em que as pessoas não admitem que erram e reafirmam, com muita convicção e arrogância, que estão no caminho certo. Elas não dão o braço a torcer, consciente ou inconscientemente, mas primam pela teimosia aliada a uma boa dose de autismo. Só depois de muito apanhar com o próprio erro é que, às vezes, passam a ensaiar uma forma de admitir que, de repente, algo não saiu conforme o imaginado ou que algum detalhe importante não foi percebido como deveria ter sido. Seja lá como for, o fato é que os erros sempre têm consequências e, em muitos casos, é necessário conviver com os seus resultados ruins.

Você já imaginou outra lógica para abordar o assunto? Podemos partir da premissa de que acertar é humano e que, por isso, é possível e preciso fazer o certo desde a primeira vez. Poderíamos também pensar numa salvaguarda, reforçando que acertar é humano, mas às vezes os humanos erram e até reconhecem isso. Um pouco de humildade ajuda na percepção de limitações e imperfeições.

Tomando como referência o dicionário inFormal, a palavra certo indica exatidão. Entre seus sinônimos são citadas as palavras correto, exato, preciso, verdadeiro e apropriado.

Sendo assim quais seriam as condições necessárias para se fazer algo certo desde a primeira vez? Eu digo que é preciso ter método e conhecê-lo bem para poder aplicá-lo na solução de um problema em função do seu tamanho e natureza. Portanto é preciso conhecer e reconhecer que o problema existe e que pode ser demonstrado através de fatos e dados. Aqui não pode existir espaço para o achismo e nem para os desejos de que a realidade seja moldada em função de meras necessidades de um projeto de poder, seja ele individual ou de grupos. É preciso ter foco, disciplina e muita transpiração, com alguma inspiração. Assim, da observação dos fenômenos e da análise dos processos virão as informações que se transformarão em conhecimentos, necessários para se encontrar o que é certo desde a primeira vez. E assim a credibilidade e a confiança contribuirão para um ambiente melhor e mais sustentável.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 16 de setembro de 2015   Curtas e curtinhas

Realismo tarifário

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O tarifaço da energia elétrica gerou um aumento médio em torno de 50% nas contas dos consumidores. Um dos reflexos imediatos apareceu nos índices mensais crescentes de inflação. De uma forma ou de outra, para mais ou para menos, todo mundo foi atingido. Os estados aumentaram o faturamento com o ICMS e a União cresceu a sua parte com PIS e COFINS, mesmo com a redução do consumo residencial e empresarial.

No entanto é interessante notar como a União foi atingida pelo lado do consumo dos órgãos públicos. De janeiro a agosto deste ano a administração pública federal já gastou R$1,3 bilhão com energia elétrica, valor bem superior aos R$869,8 milhões gastos em igual período do ano passado. É importante lembrar que no final de 2012 o Governo Federal anunciou solenemente uma redução média de 20% no valor das contas de energia elétrica.

Materiais de construção

As vendas de materiais de construção caíram 6% em agosto deste ano em relação ao mesmo mês de 2014 de acordo com pesquisa da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção). De positivo, a pesquisa mostrou que as vendas de cimento cresceram 7% e as de tintas 3% em agosto, o que, para o presidente da associação, aponta que o brasileiro está voltando a reformar e investir em pequenas obras. Ainda bem pois, do ponto de vista técnico, o Brasil já está em recessão econômica.

Contribuições para os sindicatos

Os trabalhadores e empregadores brasileiros são representados por sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais. O número de entidades ultrapassa 10 mil e elas já receberam R$3,1 bilhões neste ano, oriundos da contribuição sindical obrigatória. Na prática, esse tipo de representação tornou-se uma verdadeira indústria, na qual muitos dirigentes tentam se eternizar por meio de sucessivos mandatos e apego ao poder. O que nunca se fala é sobre a avaliação do desempenho desses dirigentes.

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por Luis Borges 14 de setembro de 2015   Vale a leitura

Medicina vingativa

Muitas pessoas devem se lembrar de consultas médicas que fizeram lá pelos anos 60 ou 70 do século passado. Após a anamnese, muitos médicos apalpavam regiões do corpo que poderiam estar ligadas aos incômodos reclamados pelo paciente. Era para ajudar na elaboração do diagnóstico da situação e, é claro, possibilitar um prognóstico mais assertivo. Meio século depois é inegável o grande avanço tecnológico da medicina em função dos serviços de apoio ao diagnóstico disponíveis. Só que, agora, os médicos em geral só se pronunciam após a realização de inúmeros exames.

No artigo Médicos mal remunerados praticam “medicina vingativa”, a jornalista Cláudia Collucci aborda alguns ângulos da questão, inclusive o papel do paciente nessa engrenagem.

Tudo conspira a favor dessa medicina perversa, a começar pelo atual modelo de remuneração, que premia a doença e não a saúde da pessoa. Que paga mais o especialista do que o generalista, o médico que deveria estar na porta de entrada do sistema de saúde.

Cabeça ou coração

O desemprego está crescendo velozmente, e é óbvio, acaba deixando as pessoas e famílias diante de uma pergunta desafiadora. O que, e como fazer, para prosseguir na vida cheia de gastos e contas a pagar enquanto os recursos financeiros vão se tornando cada vez mais escassos? Neste artigo a autora parte do caso de um casal, que se vê obrigado a vender o patrimônio acumulado para socorrer as despesas diárias, para mostrar a dificuldade de avaliar as opções nessas situações. A autora destaca que não há verdade absoluta, e sim uma escolha levando-se em conta cabeça e coração.

Erros de quem abre uma franquia

Uma pessoa foi demitida do seu trabalho e exerceu o seu direito de sacar o FGTS acumulado em 25 anos de trabalho, acrescido da multa de 40%. Uma outra pessoa gostou da qualidade atrativa de um programa de demissão da empresa estatal onde trabalhou durante 32 anos, que lhe rendeu o equivalente a 16 remunerações, além da liberação do FGTS acrescido da multa. O que fazer com esse dinheiro para garantir um bom retorno no curto, médio ou longo prazos?

É claro que, no mínimo, será preciso estudar e, se a decisão for pelo empreendedorismo, fazer um plano de negócio. São muitas as possibilidades e os caminhos a percorrer. Se não houver uma boa gestão tudo já nascerá complicado.

Em seu artigo Principais erros de quem abre uma franquia de alimentos, Samy Dana faz um alerta para quem pensa que a comida necessariamente é o caminho mais curto para o sucesso. Entre os erros mais comuns, estão abrir o negócio sem uma pesquisa aprofundada sobre o franqueador e não calcular bem o retorno do investimento. Boa leitura e bom aprendizado com o erro dos outros.

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Desatenção no trânsito

por Luis Borges 9 de setembro de 2015   Pensata

Era uma sexta-feira do início de agosto, por volta das 20h30, na Av. Antônio Carlos, em Belo Horizonte. O trânsito estava assim:

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Eram muitos problemas – trânsito pesado, motoristas forçando passagem e furando fila, o cansaço, a visão da longa fila de carros na avenida… o que indicava ainda mais necessidade de atenção.

A motorista que estava no meio desse engarrafamento contou que, ao passar pelo viaduto São Francisco, viu um ônibus e um táxi que estavam na pista que daria acesso ao Anel Rodoviário forçando a entrada na faixa da av. Antônio Carlos. O carro da frente soltou o freio, na ânsia de não ser batido. Mas, aparentemente, não prestou atenção na distância do carro que vinha atrás. Resultado – bateu no pára-choque dianteiro da motorista citada. Nem buzinar adiantou.

Num caso desses, como parar, no meio da avenida engarrafada, para ver se houve algum estrago? Como se comunicar com o motorista da frente? O jeito foi seguir até seu destino, esperando que nada tivesse acontecido com o carro.

Essa mesma motorista teve outro dissabor alguns dias depois. Entrando no seu bairro, dirigindo pela rua principal, foi atingida na lateral direita por um motorista que abria a porta, mas se esqueceu de olhar pelo retrovisor antes. Na porta que foi aberta, o estrago foi pequeno, apenas um friso se soltou. No carro atingido, a roda foi amassada, o pára-choque danificado e foi preciso trocar parte da lataria. O carro ficou 8 dias corridos no conserto, coberto pelo seguro.

Centenas de acidentes diários

Essas pequenas desatenções são expressas na estatística da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. Em 2015, de janeiro a julho, foram registrados 34.977 acidentes de trânsito sem vítimas em Belo Horizonte – 165 por dia. Se incluirmos a Região Metropolitana, o número sobe para 57.923. Isso sem contar os casos que não foram registrados, já que algumas seguradoras não estão pedindo mais o B.O., que passou a ser feito na delegacia online. O que comprova que o trânsito de Belo Horizonte continua cheio de pessoas dirigindo seus veículos desatentamente.

É bom lembrar que “acidente sem vítima” não quer dizer acidente sem transtornos ou consequências. Os envolvidos ficam dias sem o veículo, precisam modificar a rotina e, em muitas vezes, tirar dinheiro do bolso.

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Liderança ou chefia?

por Convidado 7 de setembro de 2015   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Desde que o mundo é mundo, buscamos estabelecer comparações entre liderança e chefia. Teoricamente, a liderança é adotada por todos. Os discursos são brilhantes e recheados de características da liderança na pós-modernidade, mas na prática não é bem assim. Como diria o poeta, liderança é carnaval e chefia é quaresma. Liderança é comédia e chefia é tragédia.

liderança

Uma amiga me confidenciou que não vai mais fazer palestras sobre liderança. Segundo Sofia, minha amiga palestrante, o sentimento que a invadia era o de estar enganando pessoas ou falando de utopias, quando sugeria a adoção da Liderança Servidora. Hunter, em seu modelo, conceitua diferentemente poder e autoridade e propõe autoridade em vez de poder como atitude dos líderes que servem (do verbo servir). Aliás, autoridade do latim “auctoritas” que vem de “auctor”, que vem de “augere” significa “fazer crescer”. Assim, o líder é aquele que faz seus liderados crescerem.

Na realidade, afirmou minha amiga, nós ainda estamos no tempo dos feitores, dos jagunços e dos chefes.

Eu a compreendo, pois em muitas ocasiões senti a mesma frustração que me descreveu. A humanidade caminha a passos largos para o egocentrismo e a deslealdade. É com tristeza que concluo que o espírito de Maquiavel continua vivo nas atitudes dos dirigentes de muitas organizações. O poder continua sendo a alavanca que movimenta as engrenagens do mundo. Para muitos, os fins justificam os meios escusos que utilizam. Ser líder servidor, conforme sugeriu James Hunter, está muito distante de nossa realidade. Afinal, estamos no Brasil, o último país do mundo a libertar os escravos. Estamos no Brasil – país sem lei e sem líderes. País comandado por chefes, no qual prevalece a filosofia “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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por Luis Borges 5 de setembro de 2015   Vale a leitura

Vida tranquila no interior de Minas

Conheço algumas pessoas que vieram do interior do estado para morar em Belo Horizonte e que sonham com o dia em que poderão voltar para a sua terra natal. Lá estão suas raízes, muitas lembranças da vida vivida com familiares e amigos, toda a tranquilidade de antigamente, embora hoje as coisas já tenham se modificado bastante em relação às de outrora.

De qualquer maneira essa vontade é real às vezes existe também nos descendentes dessas pessoas que, quando nada, querem ir ao interior buscar novas energias. Lívia Aguiar conta aqui o que a levou a Santo Antônio do Amparo, berço de sua família paterna.

Casa bem cuidada: o piso no lugar, morcegos devidamente expulsos dos cômodos, fogão, geladeira, tudo funcionando bem. Só alguns móveis insistem em alimentar os cupins… Quintal grande, cheio de árvores frutíferas: mexerica, limão capeta, laranja serra-d’água, lima, jabuticaba, manga, pinha, nêspera. Cheio de passarinhos também. Os meus preferidos são os bem-te-vis, sempre cantando alto no começo da manhã e no fim da tarde. Depois de tanta socialização e intensidade no México, essa tranquilidade era tudo que eu estava procurando.

Dá para imaginar algo semelhante em cidades como Araxá, Bambuí, Caratinga, Barbacena, Caratinga, Caxambu ou Patos de Minas?

Jovem de cabeça velha

O posicionamento de muitos jovens perante diversos temas que estão na pauta da sociedade brasileira chega a nos assustar. Muitas vezes se manifestam cheios de aparência, vazios de conteúdo, mas plenamente conservadores e pouco contributivos para um avanço da sociedade e que respeite a todos em suas necessidades e especificidades. Às vezes impulsivos outras vezes voláteis e geralmente com o individualismo cristalizado, eles denotam baixa percepção dos outros e buscam fazer o mínimo para se manter estagnados no seu jeito de ser.

É sobre o jeito de ser dessa moçada nova, conservadora em seus atos que reforçam o status quo, que escreve Leonardo Sakamoto em seu artigo Nada é pior do que se deparar com um jovem de cabeça velha.

Um jovem de cabeça velha é aquele que acha legal contestar tudo o que veio antes, ignorando a História. Dessa forma, acha que está sendo a última cocada do tabuleiro do vanguardismo quando, em verdade, mergulha de cabeça na piscina sem água do reacionarismo.

Aumento de impostos sobre heranças

Um sonho bom de ser sonhado, e que preferencialmente um dia se torne realidade, movimenta o horizonte de muitos possíveis herdeiros. Independente do tamanho e de onde virá a herança dentro das regras da legislação vigente, um fato relevante do momento é a discussão do aumento da taxação sobre heranças e doações. A fúria arrecadadora dos estados e da União enxerga como ótima oportunidade a elevação dos tributos dessa área, que hoje variam de 4% a 8%, para 20%. De quebra, a União passaria a ter uma parte desse imposto, que hoje só vai para os estados. Aumentar impostos é um caminho mais fácil do que cortar gastos desnecessários, principalmente com as boquinhas.

O artigo Arrecadação sobre doações e heranças dispara em São Paulo mostra que muitas pessoas estão se antecipando à possíveis alterações da Lei e fazendo hoje as transferências de heranças que teoricamente se dariam num futuro mais longínquo. Ainda segundo a reportagem, o imposto brasileiro é um dos menores do mundo. Nos Estados Unidos pode chegar a 40% e, na França, a 60% do valor recebido.

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