por Sérgio Marchetti*
Acordei saudosista de um tempo que não volta mais. Aliás, sou um apaixonado pelo passado, pelas edificações coloniais, móveis e automóveis antigos, pelas casas que conservaram varandas onde se pode ler um jornal, sentado à sombra de um telhado rústico. Porém, não me esqueço de que o mundo é aqui e agora. Hoje é domingo, e decidi procurar meus discos (ainda tenho LPs) e ouvi-los ao som da vitrola. Sim, a vitrola dá a esse conjunto um ar de retrô que me mantém na moda.
Ao som da música, abro meu baú de memórias e me encontro comigo mesmo. Caminho sobre a névoa das canções e de suas letras que dizem muito. Assim, pego carona na garupa do pensamento que voa rápido e descortina um mundo encantador, onde me encontro com Luiz Vieira em algum lugar do passado. Nesta viagem revejo antigos amigos, ressuscito pessoas e recordo meus ídolos que, iguais a mim, eram mais românticos e acreditavam em um mundo melhor. Aí, naquele momento, eu me perco em meus versos e me encontro na canção de Sérgio Bittencourt, e se eu pudesse ser menino eu roubava uma rosa e ofertava todo prosa à primeira namorada… Sigo escutando minhas músicas num dia calmo, quente e com muito sol. E neste dia branco se branco ele for. Esse tanto esse canto de amor. Já vem Geraldo Azevedo nos encorajando ao amor mais instigante: se você vier pro que der e vier comigo…
Mas outro disco me chama para a realidade e me diz: um homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e vida é trabalho. E sem o seu trabalho um homem não tem honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz… De Gonzaguinha para cá o Brasil não mudou nada, caríssimos leitores mais jovens.
Meu baú é grande, mas meu dia é pequeno para ouvir a todos os artistas que selecionei. Então, começo a organizar e guardar meus discos e me deparo com Taiguara. Pensei ouvi-lo. Pus para rodar: eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia. Um lugar que me dê trégua ou me sorria. Uma gente que não viva só pra si…
Parei por ali. Afinal era domingo, haveria o sofrimento do futebol e eu ainda teria que torcer para um tal de “Burro com sorte”.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.