Em meados de maio publiquei no Observação e Análise a pensata Atendimento que desencanta, na qual abordei o calvário pelo qual passei para mudar um plano de telefonia celular. Ao final da narrativa, contei que o atendente da loja física da operadora admitiu que houve problemas na migração do plano.

Tudo aparentava alegria e tranquilidade até o recebimento da conta contendo a medição dos serviços de 21 de maio a 20 de junho. Era relativa ao plano que foi cancelado, com uma cobrança de R$192,00 pela utilização de 12 linhas do plano virtual. Ficou visível que a cobrança era indevida.

Preparei-me para perder um tempo inimaginável e entrei em contato com a operadora visando a resolver a situação.

A ligação estava só começando...

A ligação estava só começando…

Durante o atendimento fiquei tentando descobrir as causas do problema. Ao final do processo, que durou 55 minutos, ficou claro que a perda desse tempo foi causada pela falta de treinamento do operador no procedimento padrão e também pela sua desatenção ao praticá-lo. O operador admitiu que, no mês anterior, o atendente se esqueceu de cancelar as linhas virtuais e que, por isso, o sistema continuou gerando a conta em relação àquele quesito. Aproveitei para perguntar se esse tipo de falha acontece muito. O operador disse que não é raro ocorrer e que o problema só é sanado quando as pessoas reclamam.

Em um segundo procedimento padrão foi feita a contestação da fatura e a solicitação do cancelamento das tais linhas virtuais. Entretanto fui alertado que um novo período de medição se iniciara dia 21 de junho e que ele só seria encerrado naquele dia em que efetivamente estava sendo feito o cancelamento. Mais ainda: nova fatura será enviada com a cobrança desse período, ocasião em que deverei entrar em contato novamente com a Central de Atendimento e fazer nova contestação da fatura. Inocentemente solicitei ao atendente que me poupasse desse novo desgaste, já cancelando também esse resíduo de fatura no sistema. Ele foi curto e grosso para dizer que “o sistema  não aceita esse tipo de procedimento”. Ah! Sempre o sistema para explicar o inexplicável e encobrir as, digamos, bem intencionadas irracionalidades do processo.

Agora enquanto aguardo a chegada da nova conta, reflito e compreendo por qual(is) razão(ões) as operadoras de telefonia fixa e móvel ocupam o primeiro lugar no ranking de reclamações dos usuários nos Procons, sob o desatento olhar da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Aliás, se a Anatel não existisse, quem sentiria falta? Bom, pelo menos a sua diretoria.

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Abusos financeiros contra idosos

por Luis Borges 15 de junho de 2015   Pensata

 

O 15 de junho é o dia mundial para se chamar a atenção sobre a importância do combate aos abusos dos quais são vítimas as pessoas idosas, segundo proposição da ONU (Organização das Nações Unidas). O assunto é extremamente relevante na medida em que aumenta a longevidade da população. No Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a expectativa média de vida já se aproxima dos 76 anos de idade, enquanto 23 milhões de pessoas possuem idade igual ou superior a 60 anos – idosos, conforme a Lei. Desse contingente, 3 milhões têm idade igual ou superior a 80 anos e, entre eles, 450 mil possuem 90 anos ou mais.

O envelhecimento ativo e saudável é desafiante e exige preparação ao longo do curso da vida, o que nem sempre se verifica para muitas pessoas de diversas camadas sociais. As surpresas vão se sucedendo mediante os abusos físicos, emocionais e financeiros. A negligência e a omissão de parentes, familiares, amigos e de todo o aparato de assistência social do estado e da sociedade civil organizada muitas vezes nos chocam diante de tanta penúria, dificuldades e graus de exploração da desgraça alheia. E quanto pior, pior mesmo, quase que beirando-se ao clássico popular quando afirma que “o que não tem remédio, remediado está”. Só não sabemos ainda até quando.

Nesse espaço quero falar especificamente sobre uma modalidade de abuso contra o idoso que está crescendo geometricamente nesses últimos anos – o abuso financeiro. Saímos dos tempos do desenvolvimento econômico baseado no incentivo ao consumo amparado pelo crédito fácil, notadamente o consignável para os idosos aposentados. Agora o modelo anterior foi dado como esgotado. Juros e inflação estão em alta, poder aquisitivo e emprego estão em baixa e a Presidente da República ainda diz que todos devem continuar consumindo. Como o idoso vulnerável vai se defender dos ataques especulativos de todos que lhe torpedeiam? Se a conta não fecha, a primeira dimensão que faz tudo balançar é a financeira, que simplesmente puxa as demais, a começar pela emocional.

abuso financeiro contra idosos

Quase todo dia alguém tem um caso para contar sobre um idoso que levou um golpe financeiro. Nos últimos dias fiquei sabendo de uma senhora idosa que recebeu empréstimo consignável sem ter solicitado, mas foi usada pelo gerente do banco que queria bater a meta de empréstimos. O mesmo gerente já havia lhe empurrado a aquisição de títulos de capitalização cujo processo documental foi feito no próprio lar da idosa.

Um outro caso e após vários anos, descobriu-se que o próprio cuidador do idoso estava se apropriando do seu dinheiro para fazer viagens turísticas pelas praias brasileiras e realizar compras em centros comerciais.

Soube, também, de uma mocica que casou-se com um senhor que tem idade seis décadas superior à sua, e ele se diz muito bem cuidado por ela. Já seus filhos nunca se preocuparam com ele e, após a viuvez, um novo casamento foi um passo, já que surgiu alguém de alma boa.

Outro caso super interessante é o de um empresário que está em dificuldades financeiras e passou a fazer operações em nome da mãe e a usar seus bens imóveis como garantia. Para não alongar muito e dar uma oportunidade para que você também se lembre de outros casos, vou terminar lembrando da filha de um casal que voltou para casa dos pais separada do marido, desempregada e trazendo dois filhos, um de 20 e outro de 22 anos. Outro detalhe é que um deles é dependente químico e toda hora quer dinheiro com a avó.

O que e como devem fazer para não serem pegos de surpresa todos aqueles que hoje tem 30, 40, 50 ou 60 anos de idade? O curso da vida continua desafiando a todos. Só xingar e reclamar dos governantes não será suficiente.

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Convívio difícil

por Luis Borges 4 de junho de 2015   Pensata

 

No fim da tarde desta quarta-feira, 3 de junho, véspera de feriado, quem passava pela rua Mármore presenciou uma cena que se torna cada vez mais comum.

Por volta das 17h30, no segundo quarteirão da referida rua no bairro de Santa Tereza, Belo Horizonte, uma senhora de presumíveis 50 anos buscava um local para estacionar seu carro. Não havia mais espaço. Ignorando a legislação de trânsito, a mulher simplesmente “jogou” seu automóvel na esquina das ruas Mármore e Ângelo Rabelo.

O Código de Trânsito Brasileiro estabelece, em seu artigo 181, que é infração média estacionar o veículo na esquina ou a menos de 5 metros do alinhamento com a via transversal, sob pena de remoção do veículo. Mas a referida senhora ignorou esse dispositivo da lei. Com a insuficiência de espaço, ela estacionou o veículo na esquina e ainda ocupou cerca de um metro da pista de rolamento da rua seguinte. Com isso, atrapalhou quem estava na rua Ângelo Rabelo e queria atravessar a Mármore e também quem estava na rua Mármore e queria virar à direita na Ângelo Rabelo.

Cruzamento entre as ruas Mármore e Ângelo Rabelo, onde se passou a história. / Fonte: Google Street View

Cruzamento entre as ruas Mármore e Ângelo Rabelo, onde se passou a história. / Fonte: Google Street View

Estava instalado o caos. Quem passava à pé ou conduzindo seu veículo “fuzilava” a senhora com os olhos. Ela, no entanto, demonstrava não estar nem aí e seguiu no seu “pulinho” à padaria. Tudo aconteceu como ela queria, à revelia das leis de trânsito, da segurança coletiva ou do direito dos outros.

Depois de quase 10 minutos de trânsito embatumado, a mulher voltou empertigada, atravessou de um lado para outro entre os veículos que desciam a rua Mármore até chegar a seu carro. Partiu sem dar seta, deixando o local onde estacionou de forma irregular realizando uma manobra arrogante e insegura.

Esta senhora demonstrou pensar apenas em si mesma e em seu pãozinho quentinho, sem se preocupar com os outros usuários da via ou com os raríssimos fiscais de trânsito que passam pelo local. Aos poucos tudo voltou ao normal, compatível com o volume do trânsito para o horário.

Mas ficou a constatação de que está cada vez mais difícil conviver com essas pessoas de posturas individualistas, pensando apenas em si mesmas e querendo levar vantagem sempre. E, claro, dispostas a ignorar, burlar ou fingir desconhecer as leis. Geralmente essas pessoas gostam muito é de reclamar dos outros e patrulhar os atos alheios.

Não sei até onde irá o limite e a tolerância de quem é atingido por este tipo de postura mas, como diz Chico Buarque na música Gota d’água:

“Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa, e qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água”.

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Atendimento que desencanta

por Luis Borges 15 de maio de 2015   Pensata

Comecei a usar um telefone celular 20 anos atrás, não sem uma resistência inicial. Foi inevitável começar pelo hoje saudoso “tijolão”, cuja bateria logo se descarregava. Os anos passaram, os aparelhos telefônicos receberam sucessivas inovações multifuncionais e o setor de telecomunicações foi privatizado. O que nunca mudou, e sinto que só piora, é o atendimento aos usuários que, na maioria das vezes, não são tratados como clientes das operadoras.

O saudoso "tijorola". / Foto do site "O Antiquário"

O saudoso “tijorola”. / Foto do site “O Antiquário”

É claro que o cliente tem a expectativa de receber um serviço de qualidade, com preço justo e atendimento adequado. Justamente por discordar dos preços abusivos cobrados pela operadora à qual estou vinculado nessas duas décadas, é que fiz uma mudança de plano de prestação de serviços para reduzir o gasto à metade. Aí começou o meu calvário, que é semelhante ao sofrido pela maioria dos usuários, como pude constatar ao longo de oito dias consecutivos.

Meu relato é apenas para registrar mais uma ocorrência de serviços não prestados, enorme perda de tempo e permanente exercício da paciência para não desistir de lutar pela solução do problema. O objetivo era só ter a linha telefônica fazendo e recebendo ligações conforme as condições negociadas, já que o faturamento mensal começou a valer desde o primeiro minuto apesar da indisponibilidade.

Nesses oito dias pude perceber mais uma vez como a empresa é mal operada no seu dia-a-dia, como os padrões padecem de consistência e, principalmente, como os terceirizados operadores são mal treinados, se é que eu posso imaginar que eles realmente estão sendo treinados. Mais de 80 horas foram quase totalmente perdidas, tanto no atendimento telefônico feito a partir de uma base instalada em Teresina, capital do Piauí, como em duas idas a uma loja de multi-problemas na região central de Belo Horizonte.

Num determinado dia, um atendente disse que minha linha estava livre. Mas ao fazer um teste com um técnico de suporte, o sistema simplesmente caiu. Fiz nova ligação e surgiu outro atendente dizendo que havia um bloqueio na minha linha. Enquanto eu tentava conversar, o operador pedia “um instante por favor” e, de repente, nesse vai e vem sem nada resolver, entrou aquela dolorosa gravação mandando discar 1 se a solicitação foi atendida e dar uma nota de 0 a 10 ao serviço do atendente. E assim foram se sucedendo os casos, que não são diferentes dos que provavelmente você já enfrentou em algum momento em que se viu obrigado a usar os serviços de sua operadora de telefonia.

Ao final dos oito dias eu já estava me adaptando à vida de não-usuário do celular, mas confesso que estava sentindo alguma falta dele. Essa falta era atenuada pela expectativa de que, diante da baixa previsibilidade operacional da empresa operadora, a qualquer momento tudo poderia voltar a funcionar.

Por fim, depois de inúmeros protocolos de atendimento e diversas explicações para o problema, o atendente da loja física resolveu o problema, constatado como “uma falha na migração de planos”.

atendimento protocolo celular

Um dos muitos protocolos de atendimento que recebi 

Apesar do Código de Defesa do Consumidor e da capacidade de alguns para lutar pelos seus direitos, fica nítida a nossa incapacidade de boicotar ou abrir mão de bens e serviços desrespeitosos no cumprimento do que foi combinado. A condição de usuário fica nítida, também, por sermos obrigados a usar o que está aí e ponto final.

A Agencia Nacional de Telecomunicações até registra as nossas reclamações, mas até o seu numero 1331 apresenta, por vezes, uma mensagem dizendo que “no momento todos os operadores estão ocupados” e pede que se retorne a ligação mais tarde. Além disso, pra reclamar na Anatel só ligando em dias úteis, das 8h às 20h. Só que os problemas não obedecem esse horário.

Esse texto foi inspirado por dias sem celular, dias de telefone “pai de santo” e dias de telefone que só fazia chamadas. Agora meu serviço já voltou ao normal.

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Sem ação

por Luis Borges 6 de maio de 2015   Pensata

Na última quinta-feira, véspera do Dia do Trabalhador, uma operadora do Direito de 53 anos se viu sem ação por duas vezes num curto intervalo de tempo.

Com algumas demandas a resolver, ela se dirigiu a um hipermercado que também conta com lojas de conveniência. Entrou em uma delas para comprar um perfume. Era a única cliente da loja, foi atendida por uma vendedora e notou que outra moça aguardava no caixa pelo momento do pagamento.

De repente, um rapaz alto e forte invadiu a loja, como um felino, e determinou agressivamente que as três mulheres ficassem quietas. Diante do susto o medo tomou conta delas, que ficaram paralisadas como estátuas, sem ação. Ainda assim, deu tempo de pensar em Deus e torcer por um desfecho de sorte. O rapaz falava enfaticamente, levaria os perfumes que queria de qualquer maneira, ao mesmo tempo em que sugeria estar armado. Demonstrando muito foco e rapidez, ele agiu em poucos minutos e deixou o local em desabalada carreira rua abaixo, enquanto a vendedora balbuciava os primeiros gritos de socorro.

Antes sem ação, as mulheres foram se refazendo da paralisia e retomando os movimentos. A cliente concluiu sua compra com a bolsa intacta e a vendedora afirmou ser aquele o segundo roubo feito pelo rapaz na loja. Acionado pela funcionária do caixa, o gerente da loja mandou computar o prejuízo e dispensou o registro do caso em Boletim de Ocorrência, demonstrando desalento com o tipo de situação.

Acreditando-se refeita do susto, a operadora do Direito entrou no espaço do supermercado para fazer algumas compras. Reuniu rapidamente os itens e caminhou para a área dos caixas. Eram poucos os que funcionavam, então apostou num daqueles para pessoas que compraram um número determinado de volumes. A fila não andava. Contou e viu que era a sexta pessoa na espera. O problema que empacava a fila era uma divergência nos preços de uma cerveja em promoção.

Atrás da advogada, chegou uma senhora de uns 60 anos, com poucos volumes numa cestinha, que começou a pressioná-la, de graça. Foi quando, de novo, a advogada se viu sem ação. Primeiro a senhora se insinuou para passar à frente na fila que estava parada. Quando finalmente as pessoas começaram a andar, a senhorinha resolveu ficar no seu lugar, mas começou questionar as compras feitas pela advogada. Questionou a escolha das marcas. Não satisfeita, quis saber da vizinha de fila se poderia ganhar uma carona até o bairro Planalto. Informada, com poucas palavras, que a advogada morava em outro bairro, a insistente senhorinha continuou tentando invadir a privacidade da compradora, questionando por qual razão ela não fazia suas compras no próprio bairro.

A advogada resolveu parar de responder. Mesmo sem receber mais explicações e já impaciente, a senhorinha ainda questionou o valor das compras registrado no visor do caixa ao mesmo tempo em que tentava ver a senha do cartão sendo digitada.

E assim a operadora do Direito deixou o ambiente, tão aliviada por ter se livrado de pessoa extremamente amolativa que até se esqueceu do roubo na loja de perfumes. Depois de se ver sem ação por duas vezes no mesmo dia, a advogada concluiu que está muito difícil viver e que são muitos os perigos dessa vida, também nos supermercados.

Por fim, decidiu que vai comprar mesmo é no supermercado em que já se abastece. Lá quem fica atrás na fila do caixa às vezes olha a senha, às vezes dá um jeito de ir enfiando as compras na esteira mesmo antes da pessoa da frente passar. Mas, pelo menos, ninguém questiona o que está sendo comprado, o valor ou a forma de pagamento.

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Já não aguentava mais tanta falação sobre o Imposto de Renda e o prazo final para a entrega da declaração de 2015. Ainda bem que o dia 30 de abril chegou. Em quase toda roda de conversa alguém surgia com a pergunta clássica, mas que sempre cutuca e pressiona – “você já fez sua declaração?”. Daí, emendava-se a discussão: já enviou? Vai pagar? Vai ter restituição?

Sei que tudo isso já faz parte da nossa cultura, inclusive a aceitação de que salário é renda e, por isso, vale o tributo que lhe é imputado. Também não podemos nos esquecer que essa carga tem aumentado ano a ano em termos reais, devido à não correção plena da tabela do Imposto de Renda pelos índices inflacionários. A defasagem nos últimos 20 anos já chega a quase 70%.

Muitos de nós devem ser do tempo em que a data limite da declaração era adiada várias vezes e muitos contavam com essa possibilidade para dar um jeitinho até a última hora possível.

Mas se me sinto aliviado porque o prazo acabou. Sei que o assunto ainda permanecerá mais alguns dias na mídia, com os tradicionais balanços dando conta de que tantos milhões de pessoas entregaram a declaração do Imposto de Renda 2015 no prazo. Também serão passadas as informações de que, a partir de 04 de maio, a Receita Federal reabrirá o sistema para o recebimento das declarações dos que perderam o prazo, só que acrescidas de multas, juros e correções, sempre nos termos da Lei.

Outra possibilidade que também será muito citada é a de retificação da declaração, ou seja,  ainda será possível modificar informações, tanto acrescentando quanto retirando. Também prosseguirão falações sobre erros de preenchimento, despesas inventadas, rendimentos omitidos ou falta de lastro para bens e direitos. O medo de cair na malha fina também ficará, pairando como uma espada sobre a cabeça das pessoas. E, finalmente, virá um destaque para a prioridade que idosos e portadores de doenças classificadas como graves terão na fila das restituições.

Lembrando de tudo isso sou obrigado a concluir que apenas um prazo acabou mas que todo dia continuará com a sua agonia, inclusive com a obrigação de guardar os documentos deste Imposto de Renda 2015, relativos ao ano-base 2014, durante 5 anos.

Não dá para esquecer, também, da próxima data. Amanhã, 1 de maio, é dia do trabalhador, que faz a travessia da crise econômica com estratégia de sobrevivência enquanto sua macia central sindical sorteia brindes e atenua a luta política na sociedade de massas.

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Tenho conversado com diferentes pessoas nesses primeiros meses do ano e, coincidentemente, muitas delas estão reclamando da mesma coisa. O problema está nos outros que, a título de lhes dar atenção, estão errando na dosagem, só que pra mais. Como sabemos é a dosagem equilibrada que faz a diferença entre o remédio e o veneno, ainda que cada caso seja um caso.

As situações que ouvi vão de menos infinito a mais infinito, da expectativa do nascimento de uma criança até o luto após a morte de um ente querido.

Um casal anunciou a gravidez de seu primogênito para o círculo mais próximo de parentes e amigos. Receberam os votos de excelente pré-natal e desejos de uma boa hora para o momento da luz. O passar do tempo fez aumentar a ansiedade dos outros e começaram as perguntas sobre o dia exato do parto, se seria normal, as possibilidades de adiantamento e as expectativas e emoções vividas pelos futuros pais. Até que o pai informou a todos que o casal não entraria na ansiedade coletiva e que, quando viesse o primeiro choro, todos seriam devidamente informados pelas mídias disponíveis. Senti que eu também cresci no processo pois minha ansiedade, que já era baixa, ficou baixíssima e tendendo a zero. Imagine quantas pessoas importunariam o casal se nada fosse falado!

Uma situação médica foi o gatilho para o segundo caso. Uma profissional de saúde que se submeteu a um transplante de coração. A ansiedade e a expectativa pelo momento em que surgiria um doador que a tiraria da fila foram grandes e cansativas. Mas ela se cansou mais com a pergunta “cumé que cê tá?” logo depois da cirurgia. Já recuperada e circulando nos ambientes de outrora, muitos que a encontram perguntam toscamente “mas cê tá boa mesmo?” e disparam a falação, ávidos por detalhes da cirurgia e da recuperação.

No último relato que ouvi, uma senhora de 99 anos perdeu o filho mais velho, num processo rápido e doloroso, que durou menos de uma semana. Já no dia seguinte ao sepultamento, passou a receber longas visitas de condolências. Recebeu-as pacientemente, enfrentando os limites físicos da audição. Mas não foi só isso. Quase todos os seus visitantes, tanto da terra natal quanto de Belo Horizonte, queriam saber detalhes do passamento. A senhora começou a se cansar com as repetidas narrativas, que só aguçavam sua dor em pleno luto. Sua única filha, percebendo o processo, resolveu fazer uma gestão mais racional das visitas. Começou a explicar aos visitantes que havia limites, inclusive de duração e horário. Afinal, a mãe se aproxima do centenário de nascimento e haja coração para elaborar a perda!

Se o excesso incomoda e se forma e conteúdo caminham lado a lado, como se comportar diante de situações como as descritas aqui? Você tem enfrentado casos semelhantes ou sou só eu que estou na contramão?

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Bolsonaro de Tróia

por Convidado 31 de março de 2015   Convidado

por Igor Costoli

Nunca me preocupei muito com Jair Bolsonaro porque, para mim, sempre esteve muito clara sua semelhança com a Mulher Melancia. Não se engane, o deputado e a subcelebridade têm muito em comum.

Para começar a fazer sentido, falemos de Andressa Soares, que se apresenta como dançarina, cantora e modelo. Despontou em 2008 na esteira do funk “Dança do Créu” (felizes os que não sabem do que estou falando), ano em que estampou pelo menos três capas da Playboy. O nome artístico Melancia tem relação com suas medidas avantajadas (à época, 121 cm de quadril).

Andressa Soares. / Foto: Extraída do Facebook oficial

Andressa Soares. / Foto: Extraída do Facebook oficial.

Agora, leitor, acompanhe este raciocínio. Você certamente já abriu o jornal ou acessou portais de notícia e encontrou notícias irrelevantes sobre gente que mal sabe quem é. Mais do que isso, você provavelmente já se perguntou: que fazem essas pessoas? Por que são famosas?

Esse é o ponto interessante – a subcelebridade é uma pessoa famosa que vive do fato de ser famosa. Isso mesmo. Sua notoriedade não é uma consequência, é um fim em si mesmo.

Andressa Soares é modelo, canta e dança uma música que não interessa a você, nem à maioria das pessoas. Aliás, muitas das notícias sobre ela são deboches. Coisas banais como ir à academia e fazer compras, e manchetes risíveis como “Depois de Mulher Maçã, Melancia é a nova fã de ‘Esteve Jobs’”. Contudo, o personagem Mulher Melancia faz rodar uma engrenagem que vive do clique dado no link da matéria.

Não importa se as pessoas acessaram porque são fãs ou para ridicularizar Andressa. O ponto é que o clique do leitor interessa tanto a ela quanto ao portal. Não importa que milhões sejam indiferentes ou detestem o trabalho da Mulher Melancia. O ponto é que essa rejeição expõe Andressa, atraindo convites comerciais e ajudando a encontrar as pessoas que pagam pelos seus shows.

A alma do negócio

“Falem mal, mas falem de mim” é um mantra que sustenta essa mídia de forma direta, e que amplia público e valoriza cachês da Mulher Melancia indiretamente. Se funciona? De agosto de 2011 para cá, apenas o Ego (um dos maiores sites nacionais de celebridades) registra 302 conteúdos diferentes citando Mulher Melancia. Parece que todos saem ganhando, exceto a qualidade de conteúdo.

O que nos leva de volta a Bolsonaro. Sem recorrer à pesquisa na internet, creio ser improvável alguém dizer um projeto de sua autoria ou mesmo reconhecê-lo pela relevância de sua atuação legislativa.

Contudo, ele é bom em confusões e no uso inadequado da imunidade parlamentar. O princípio, criado para proteger deputados de perseguição por suas convicções políticas, é frequentemente usado pelo ex-militar para ofender outros deputados e defender ideias que já foram legalmente abandonadas em quase todas as democracias evoluídas.

Apesar de se apresentar como um representante dos militares, o capitão da reserva não conta com a simpatia do alto escalão do Exército. Foi preso nos anos 80 por liderar reivindicações por melhores salários, e terminou aposentado às pressas enquanto era investigado por ter elaborado um plano para explodir quartéis em protesto. Como deputado, quase perdeu seu mandato por discursar na Câmara pedindo o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Isso faz dele ainda mais eficiente que a Mulher Melancia na estratégia de atenção negativa. Matérias com suas polêmicas atraem cliques de pessoas horrorizadas com a postura do deputado, e são compartilhadas na casa das dezenas de milhares com declarações de repúdio.

O ponto é que suas ideias encontram eco com ajuda dessa divulgação. Se a Mulher Melancia precisa dos cliques para receber convites para shows, Bolsonaro precisa dos cliques para receber eleitores. Ambos são semelhantes porque são notórios apenas pela própria notoriedade.

A música que Andressa Soares faz não tem alcance nacional, nem tende a representar algo para a história do país. Do mesmo modo, as conexões de Bolsonaro com o primeiro escalão político são fracas. Sua popularidade não vale o risco da rejeição que atrai. O motivo pelo qual não é punido por suas declarações provavelmente é o mesmo porque muitas pessoas sequer sabem que ele já apresentou na Câmara um pedido de impeachment da presidente Dilma: porque ele não é levado a sério.

Jair Bolsonaro / Foto: Retirada do Facebook oficial

Jair Bolsonaro / Foto: Retirada do Facebook oficial

Cavalo de Tróia

E assim eu segui, por muito tempo, sem dar atenção ao que o deputado diz ou faz, também para não aumentar sua força acidentalmente. Minha opinião mudou com a divulgação da lista de Janot.

O “destaque” no rol de investigados na Operação Lava Jato é o Partido Progressista. Descendente direto da Arena, que dava sustentação política ao governo militar no país após 1964, o PP encabeça mais da metade da lista. Na delação premiada, o doleiro Alberto Youssef chegou a dizer que havia uma “tabela de preços” de propina e que os membros do partido brigavam por ela.

Mas a grande curiosidade foi levantada pelo portal Vice: dos 18 deputados federais do PP investigados na Lava Jato, apenas Eduardo da Fonte se elegeu sozinho, ou seja, com os próprios votos. Os outros 17 integrantes se beneficiaram de votos excedentes da legenda, que tem seu maior expoente em … Jair Bolsonaro.

Deputado federal mais votado no Rio, Bolsonaro recebeu 464 mil votos, quatro vezes mais que o necessário para garantir uma vaga. O sistema político atual faz com que os votos sejam contados também de forma coletiva, o tal coeficiente eleitoral, distribuindo votos excedentes dentro das coligações. É por isso que todo partido abraça sem qualquer vergonha os chamados “candidatos bizarros”, pelo seu potencial imprevisível para atrair multidões.

Por isso, pela primeira vez percebi a postura de Bolsonaro não apenas como uma estratégia de sobrevivência pessoal. Bolsonaro é uma peça fundamental para que 17 investigados por corrupção na Petrobras tenham hoje uma cadeira na Câmara e foro privilegiado.

Estamos falando de políticos com cada vez menos eleitores a quem deveriam prestar contas diretamente, a quem deveriam respeitar. Será que a população está sendo bem representada quando os vitoriosos são candidatos sem maioria simples de votos?

Pois assim eles seguem, conquistando mandatos em Brasília e em todo o país na carona de homens como Tiririca e Bolsonaro. Dois candidatos que, enfim, passo a considerar problemáticos: porque possuem a capacidade de eleger não sabemos quem.

Igor Costoli é jornalista e radialista de formação e atleticano de coração. É produtor e apresentador do Programa Invasões Bárbaras, na Rádio UFMG Educativa.

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Pessoas amolativas

por Luis Borges 22 de março de 2015   Pensata

Está cada vez mais difícil conviver e aguentar pessoas que se acham proprietárias da verdade e agem assim o tempo todo. O pior é que elas estão por toda parte, em todos os tipos de organizações humanas. Começam nas famílias, nas escolas, nas empresas. E se alastram por sindicatos, partidos políticos, Poder Legislativo, Executivo, Judiciário, Ministério Público, ONGs e outras instituições que você poderá se lembrar.

Tudo fica mais “osso duro de roer” porque essas pessoas só sabem falar, mas nunca conseguem ouvir. Elas se sentem tão donas da verdade que quando alguém consegue interromper as falações, elas mudam de assunto ou saem de perto de quem as contesta. Outro problema é a altura da voz e o tom bravo que adotam, muitas vezes para intimidar e acentuar a prevalência do que elas querem impor. Democracia participativa para elas tem mão única – só elas falam, sempre.

Outro aspecto importante é que essas pessoas tornam tudo mais difícil, pois acreditam piamente no que falam. A nós cabe tolerar tudo isso, em função do convívio geopolítico que nós mesmos nos impomos.

Apesar de cada caso exigir uma estratégia, não é incomum ver essas pessoas não aguentarem contrapontos. Elas se posicionam como frágeis vítimas e chegam a ir às lágrimas. No fundo, se não houver um determinado nível de enfrentamento, essas pessoas continuarão a nos chatear, a nos importunar e nos incomodar insistentemente, durante muito tempo.

Se por acaso você se considerar uma pessoa amolativa, fineza não vestir a carapuça. Isso é, no máximo, uma mera coincidência e não necessariamente uma intenção do autor. Quando nada já valerá uma reflexão sem dor, inclusive com o benefício da dúvida.

Gostaria de ouvir sua experiência sobre esse assunto. Em quais ambientes você encontra as pessoas amolativas com maior frequência? Como você lida com elas? Deixe seu relato nos comentários.

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A queda de braço que vem sendo travada, no plano federal, entre o Poder Executivo e o Legislativo sobre o índice de correção da tabela do imposto de renda nos leva a refletir sobre alguns conceitos.

Tudo se passa a partir de uma falsa premissa que considera o salário sendo uma renda. Se olharmos o significado da origem e do conceito de salário, veremos que a palavra deriva do mundo árabe onde trocava-se o trabalho diário por sal, daí salário. E mais, quem trabalha e recebe em troca um determinado valor por sua força de trabalho só recebe enquanto dura o contrato. Se cessa o trabalho, também cessa o salário recebido.

Já o conceito de renda implica em valorização dos investimentos feitos em ativos como, por exemplo, caderneta de poupança, fundos de renda fixa, imóveis e ações de empresas. É sobre essa diferença que o Estado deveria cobrar um percentual, a título de imposto, para ajudar na prestação de serviços de qualidade à sociedade.

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Como a profundidade das discussões muitas vezes se assemelha à de um pires, vamos aqui comentar apenas alguns fatos e dados que abusam de nossa inteligência.

O Poder Executivo insiste em usar a meta de 4,5% de inflação anual para corrigir a tabela do imposto de renda, apesar desse percentual não ser atingido pelo Banco Central desde agosto de 2010, quando o mandato do ex-presidente Lula caminhava para o fim.

Nesse sentido, podemos observar que, em fevereiro/15, a inflação anualizada chegou a 7,70% e que pelas projeções do Boletim Focus do Banco Central ela caminha para ultrapassar os 8% no ano em curso. A proposta negociada entre o Ministro da Fazenda e alguns líderes do Senado para a correção escalonada da tabela “despiora” um pouco as perdas, mas ainda teremos uma situação em que algumas faixas perdem mais que outras.

Melhor seria que o Poder Executivo e seus Ministérios da Fazenda e do Planejamento assumissem que o que está sendo feito, na prática, é mais um aumento de carga tributária, como vem ocorrendo ao longo dos últimos anos. Aliás, os números mostram – e eles sabem – que é de quase 70% a defasagem na correção da tabela.

Prosseguindo no abuso da nossa inteligência, houve declarações de que 16 milhões de pessoas sairão ganhando em função das novas regras, publicadas em medida provisória. Bastava deixar-se de lado a contabilidade criativa e o uso equivocado de conceitos para reconhecermos que apenas se perderá menos diante da fúria arrecadadora do Estado.

Duro também é perceber a arrogância e a burrice estratégica do Poder Executivo, que contava com a subserviente aprovação automática pelo Poder Legislativo do veto presidencial à correção da tabela. Como sempre, o obsessivo desejo de arrumar mais R$ 7 bilhões para o ajuste fiscal. Se tudo correr bem para o presidencialismo de cooperação e não de coalizão, como dizem muitos, ainda sobrará R$ 1 bilhão para ser arrecadado com essa tentativa.

Como também espero que um dia “essa terra ainda vai cumprir seu ideal” embalo essa esperança me lembrando de que os participantes da Inconfidência Mineira lutavam pela revogação do quinto do ouro, ou seja, 20% de impostos sobre o que foi produzido, e que a sociedade brasileira de hoje já é obrigada a destinar quase 40% do que ganha em salário e renda para o pagamento de impostos. E as perdas vão apenas se consolidando.

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