Sempre alerta
São demais os perigos dessa vida. Muitas vezes eles se tornam invisíveis, mesmo estando muito próximos de nós. É preciso estar sempre alerta. O risco é permanente e deveria ser atenuado pela sua gestão. No entanto, muitas das ações que deveriam ser feitas são deixadas de lado, tanto por nós quanto pelos outros, que deveriam agir no processo de fazer as coisas acontecerem.
Se nem a sorte nem o “quase” ajudarem, o resultado da omissão e da negligência pode resultar em tragédias. Cito três casos para ilustrar.
1) O incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (Rio Grande do Sul), deixou 242 mortos e 680 feridos em 27 de janeiro de 2013.
Faltou, por exemplo, um sistema de segurança consistente e efetivo. Além disso, muitas das partes envolvidas – entidades públicas e privadas – não cumpriram suas atribuições legais e obrigatórias.
2) O desabamento do viaduto Batalha dos Guararapes, na região de Venda Nova (Belo Horizonte), em plena Copa do Mundo de Futebol, no dia 3 de julho de 2014.
Foram duas pessoas mortas, 23 feridas, moradores retirados de suas residências em 2 conjuntos habitacionais bem próximos. Houve também diversos culpados tentando “tirar o corpo fora” diante dos erros e nada de ressarcimento dos prejuízos, inclusive financeiros.
Quase um ano e meio depois a movimentação de veículos e pessoas no local tendem a demonstrar que o viaduto nem era necessário. O caso continua tramitando nas esferas administrativas e judiciais, a atribuição de culpa e o pagamento pelos danos ainda engatinham.
3) A ruptura de barragem de rejeitos da Samarco Mineração em Mariana (MG) em 5 de novembro último, que deixou 13 pessoas mortas e 8 desaparecidas.
A lama que desceu da barragem de terra varreu a vida ao longo da calha do Rio Doce até o Oceano Atlântico. Como já se sabe até o plano de contingenciamento para enfrentar situações desse tipo existia apenas no papel e não pôde ser aplicado, porque ninguém o conhecia. Quem deveria fiscalizar todo o sistema minerário local também não o fez.
Prevenir é melhor que remediar
Estou citando tudo isso para convidá-lo a pensar sobre outros casos de perigo, alguns com mais chances de se tornar reais do que outros, que nos rondam apenas em Belo Horizonte e região metropolitana. Prevenir sempre será melhor que remediar. Mas esse ato exige ação e combate à omissão e ao descaso.
Pensei rapidamente sobre o assunto e me lembrei de alguns casos:
Adutora – Imaginemos uma adutora de ferro fundido, com diâmetro de 500mm, transportando água em alta pressão. Essa água é buscada cada vez mais longe. A adutora percorre longos caminhos e, por onde ela passa, nenhuma outra atividade pode acontecer. Não se pode, por exemplo, construir um condomínio habitacional sobre essa adutora. Os tubos, no entanto, nem sempre estão aparentes, podem ser subterrâneos.
Havendo uma ocupação indevida de trechos ao longo do caminho da adutora, se pessoas circulam pelas proximidades, o que pode acontecer se a adutora se romper? Nem sei se haverá tempo para correr ou para ser levado pela água…
Gasoduto – Existe um gasoduto subterrâneo no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, passa bem na região do viaduto São Francisco, por exemplo. Mas quem se lembra dele? E se houver um descuido qualquer e, em decorrência dele, um grande vazamento?
Outros riscos – O que pensar da ruptura de uma linha de transmissão de energia elétrica em alta tensão, da queda de um elevador de um edifício ou obra, de uma enchente com alagamento em conhecidas vias da cidade cortadas por córregos canalizados? Riscos existem, devem ser avaliados e, quando for possível, controlados. Se não der pra prevenir, devemos ter planos que orientem a ação para o caso de o pior acontecer. Isso vale para os casos citados nesse texto, em grande parte de responsabilidade do poder público e de entidades privadas. Mas também vale para os riscos presentes em nossas casas.
A memória é curta e tudo cai rapidamente no esquecimento. Por isso, é importante nos lembrarmos dos versos de Geraldo Vandré.
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.