Vale a leitura

por Luis Borges 23 de julho de 2018   Vale a leitura

Seus amigos são os mesmos desde quando?

Frequentemente ouço pessoas dizendo que tem poucos amigos, que já faz muito tempo que sua última amizade nova surgiu ainda nos tempos da universidade ou que perdeu recentemente um amigo por questões político-partidárias. Quais as causas que nos levam ao aumento da incapacidade de fazer novos amigos à medida que nossa idade cronológica aumenta? O que e como fazer para encontrar novos amigos mesmo com a idade avançando? Neste artigo da Folha há uma abordagem interessante para o tema

Uma saída é, justamente, diminuir as expectativas. Um novo amigo não precisa ser sua alma gêmea, e você pode ter diferentes amigos para diferentes ocasiões e necessidades – um para correr junto, outro com quem dividir questões sobre filhos. Concentre-se no que vocês têm em comum. Novas atividades, como aulas, podem ajudar os encontros, aliás.

Gestão é o que todos precisam, inclusive na saúde

A saúde é uma preocupação permanente de muita gente e essa preocupação se acentua diante da necessidade de um atendimento médico eletivo ou emergencial. Quem procurar e onde encontrar uma solução para o problema enfrentado diante de tanta demora e longas filas de espera tanto no SUS quanto nos planos privados das operadoras de saúde com seus altos preços e limites técnicos? Será que a causa de tantos problemas é só falta de recursos financeiros ou também pesa muito a falta de um sistema de gestão estruturado? Leia o que escreveu Cláudia Collucci no artigo Inspirado na indústria de carros, SUS quer reduzir lotação em emergências.

O método, criado na fábrica de carros Toyota, na década de 1940, para aumentar a produtividade e a eficiência, evitando desperdícios, busca organizar fluxos internos.

No SUS, pode ser empregado, por exemplo, na organização de fluxos de pacientes, separando os de maior dos de menor gravidade ainda na sala de espera. Os de baixo risco, após o atendimento inicial são encaminhados para a atenção básica —que pode atender até 80% dos casos.

Já os mais graves, após a assistência inicial, seguem para internação ou realização de exames e procedimentos. Isso agiliza o atendimento e faz com que a pessoa se sinta cuidada e não apenas sentada na sala de espera.

Amigos, parentes e sócios. Será?

Muitos são os momentos em que surgem causas que levam as pessoas a sonhar com um negócio próprio. Do sonho ao propósito pode até ser um passo rápido, mas além de ser obrigatório elaborar o plano de negócios é também importante saber de onde virá o capital para iniciar e girar o negócio, bem como verificar se sócios serão necessários. Muitas vezes os sócios acabam sendo encontrados entre parentes e amigos, inclusive de universidade, que nem sempre prestam atenção nos requisitos do plano e deixam muitas lacunas nos critérios que regerão a relação entre os sócios. Alguns cuidados importantes fazem parte dos alertas feitos por Anna Rangel em seu artigo Como manter uma sociedade com amigos ou parentes publicado pela Folha de São Paulo.

Tudo precisa ser acertado no início, incluindo provisões para os piores cenários de conflito possíveis, em um contrato social detalhado (a formalização societária). Se não, o investimento pode acabar em confusão ou processo.

A falta de um acordo formal entre sócios diminui a chance de sucesso da empresa a longo prazo.

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Em outubro próximo será eleito o futuro Presidente da República. Em seu primeiro ano de mandato ele governará o país com o orçamento guiado pela LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias – aprovada na última quarta-feira.

Essa aprovação é um requisito constitucional a ser cumprido para que os parlamentares do Congresso Nacional possam dar início ao recesso da segunda quinzena do mês de julho. Isso aconteceu num momento caracterizado pelos sintomas da fase terminal do rejeitadíssimo governo Temer, que não conseguirá eleger um sucessor ao mesmo tempo em que a maioria dos parlamentares, inclusive os poucos que sobraram de sua base aliada, estão em busca da reeleição. Afinal de contas permanecer no poder e garantir o foro privilegiado no exercício do mandato não é nada desprezível. Entretanto conseguir votos com a imagem altamente desgastada dos políticos e de seus partidos exige que se mostre muito compromisso e resultados aos eleitores.

É nesse desespero final que a LDO e outros projetos de leis em tramitação formam uma verdadeira “pauta bomba” ao criar novos gastos, renunciar a receitas e prever aumentos salariais para o funcionalismo público federal. Mas de onde virá o dinheiro para bancar tudo isso num orçamento que começará com um déficit de R$139 bilhões? A equipe econômica do governo federal já disse que a LDO aprovada exigirá mais R$100 bilhões além do previsto e que esse montante será obtido por aumento na arrecadação (novos tributos?) e corte de gastos (serviços a prestar ou mordomias?), ao mesmo tempo em que a economia se recupera muito lentamente da recessão econômica enquanto avança a guerra comercial global. Seria possível sonhar com algum nível de compromisso dos políticos partidários com a população brasileira de janeiro em diante ou prevalecerá cada um cuidando apenas de si no melhor estilo do “farinha pouca, meu pirão primeiro”?

A título de ilustração quero citar aqui alguns efeitos de um projeto da “pauta bomba” desse fim de festa caso o Congresso Nacional aprove a flexibilização da lei que rege a criação de novos municípios a partir de localidades que tenham população de 5 a 8 mil habitantes. Nessas condições existem 300 localidades com o potencial de gerar 300 novos prefeitos e vices, 2700 vereadores, no mínimo 1500 novos secretários de educação, saúde, obras, finanças, planejamento e um tremendo dimensionamento do quadro permanente de servidores municipais além dos de recrutamento amplo. É claro que todos contarão com a transferência obrigatória de recursos financeiros da União e estados para que possam garantir sua sustentação.

Até quando vai dar para segurar essas ondas ainda que as pessoas fiquem oscilando da indignação à apatia?

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De vez em quando é importante olhar para o passado num determinado ponto do tempo e verificarmos como as coisas da vida foram se desenvolvendo até os dias presentes. Quem sabe venham daí um pouco de conhecimento e inspiração para nos impulsionar rumo ao futuro que virá, mas que chega a cada novo instante.

Nesse vai da valsa, diante de mais uma eliminação da seleção brasileira de futebol numa Copa do Mundo – no caso a da Rússia – voltei ao ano de 1982 na Copa da Espanha, quando o Brasil também foi eliminado em seu quinto jogo, apesar de todo o seu futebol arte.

Aconteceu que 4 dias após essa eliminação os formandos de todos os cursos de Engenharia da UFMG participaram da cerimônia de colação de grau no antigo ginásio do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. Era o dia 9 de julho, portanto há pouco mais de 36 anos. A ditadura militar já tinha completado 18 anos, a população brasileira era estimada em 126,5 milhões de habitantes, a inflação anual estava em 101% e o PIB do ano anterior foi negativo em 4,39%. Fui escolhido para ser o primeiro orador da cerimônia e, em 3 minutos, proferir o discurso a seguir. Será que alguns dos temas abordados continuam sendo válidos na atual conjuntura?

Professor José Martins de Godoy, D.D. Diretor da Escola de Engenharia e nosso estimado Paraninfo.

Senhores membros da congregação

Senhores professores homenageados

Queridos pais

Colega presidente do DCE

Caros colegas

Senhoras e Senhores

Estamos aqui para receber os nossos diplomas de engenheiros. Para trás fica um longo caminho que nem todos os brasileiros de nossa idade puderam percorrer, excluídos que foram dos bancos escolares pelo nosso modelo econômico.

O ensino que recebemos geralmente se mostrou acrítico e desvinculado das nossas realidades imediatas, mas suficiente para trabalharmos como repetidores nesse país de tecnologia importada.

Ser um engenheiro que engenha, um engenheiro criador, continuará sendo um sonho, que talvez só se realize quando o nosso país for autônomo, independente, senhor do seu destino e possuidor de ouvidos para ouvir a voz de sua população.

A Universidade que vivenciamos se mostrou muito mais formadora de mão de obra, relegando a um segundo plano a sua função de pensar, de fazer a ciência, de ver a sociedade criticamente.

A Universidade que vivenciamos primou pelo amadorismo e pelos bons propósitos da maioria dos seus dirigentes, mas como já dizia o poeta, houve muita distancia entre intenção e gesto.

E o que esperar do mercado de trabalho? Talvez ser mais um número na estatística dos desempregados, ou muita luta junto ao Sindicato da nossa categoria profissional e de outras categorias profissionais, pois bons padrinhos não resolverão os problemas de todos nós…

Enquanto continuarmos apáticos, sonhando de olhos abertos, a recessão econômica e o desemprego continuarão a caminhar lado a lado, os lucros do capital prosseguirão intocáveis, a riqueza concentrada em poucas mãos e a miséria fartamente distribuída.

Se nessa hora a realidade nos mostra que muitos dos nossos sonhos continuarão a ser sonhados, ela não nos impede de reconhecer e de agradecer aos nossos pais pelo acalanto, pela força que nos deram em todos os momentos.

Finalmente, um até de repente aos nossos colegas, professores, à Escola de Engenharia e seu corpo de funcionários, com a certeza de que nunca se apagarão de nossas memórias os diferenciados momentos que vivemos juntos.

Daqui a pouco iremos para as nossas festas, mas na segunda-feira já estaremos na luta. Fizemos um gol, mas ainda não somos campeões.

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O filme da minha vida

por Convidado 9 de julho de 2018   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Outro dia assisti ao filme mais recente de Selton Melo, “O Filme da Minha Vida”, baseado no romance “Um Pai de Cinema”, do chileno Antonio Skármeta. O enredo me atraiu muito e, mesmo não entendendo nada de cinema, gostei das interpretações desde os protagonistas Johnny Massaro (Tony), Ondina Clais (Sofia) do francês Vincent Cassel (Nicolas), Selton Mello (Paco), Bia Arantes (Petra) e Bruna Linzmeyer (Luna), além dos meninos e, principalmente, de Rolando Boldrin, que infelizmente aparece pouco na tela, mas com carisma e essência que valorizam o filme. É um condutor de trem e de sonhos.

Tony adorava o filme “Rio Vermelho”, com John Wayne e Montgomery Clift nos papéis principais. Chega a ser emocionante seu olhar para a tela. Não. Não se preocupem. Fiquem tranquilos. Não vou narrar o filme para não tirar a graça de quem deseja assisti-lo. Mas como diz Rolando Boldrin: uma conversa leva a outra. Então, o filme e esta conversa me levaram a pensar também no filme da minha vida.

Antes, devo dizer que nada era mais belo do que os filmes de Tarzan nas matinês de domingo, em minha Barbacena, quando o Concerto Nº 1 de Tchaikovsky enriquecia nossos ouvidos e nos preparava para a sessão e o apagar das luzes. Para mim, a descoberta do cinema foi um dos eventos mais fascinantes que já vivi. Também me apaixonei por “Sansão e Dalila” e me revoltei com a morte dele. E, embora fosse uma criança, convenhamos, as duas atrizes, Angela Lansbury e Hedy Lamarr eram maravilhosas. Talvez, na minha visão, Hedy Lamarr tenha sido a mais bela atriz da história.

Não vou citar todos os filmes que preencheram minha vida, pois adoro uma película e muitas delas estão passando em minhas lembranças neste momento. Destaco o grandioso (e longo) “E o vento levou”. Um filme de Victor Fleming e George Cukor com Vivien Leigh, Clark Gable, Leslie Howard, Olivia de Havilland. Construído em 1939 e lançado em 1940, com duração de 3horas e 58 minutos; literalmente um filmão. Um só filme com três gêneros: guerra, romance e drama. Foi peculiar, pois revolucionou a essência dos filmes da época. O herói era um aventureiro, a heroína uma moça que flertava com vários rapazes, mas que desejava mesmo era Ashley (Leslie Howard), um homem comprometido. Bem, no final não há o happy end, o casal de protagonistas não fica junto, conforme era de praxe na maioria das produções daquele tempo.

Mas o filme da minha vida foi “Romeu e Julieta”. Um filme dirigido por Franco Zeffirrelli e estrelado por Leonard Whiting (Romeu Montecchio) e Olivia Hussey (Julieta Capuleto). Os diálogos rimados, o vocabulário rico, a elegância da produção e a maravilhosa música “A Time for us” que penetrava o fundo de minha alma e fazia meus olhos verterem lágrimas, enquanto seguia o cortejo fúnebre de Romeu e Julieta. Eu, menino sonhador que era, me identifiquei com o casal e com a intensidade daquele amor, sem saber que, até no filme, tanta pureza e tanto amor seriam impossíveis de uma realização.

“Romeu e Julieta”, de Franco Zeffirelli.

Que saudades do Cine Acaiaca, de Romeu, de Julieta, da minha infância, dos amigos, dos meus sonhos de menino…

De repente, me dou conta de que acaba de passar um filme em minha memória – talvez o verdadeiro filme da minha vida.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Nesses tempos mais recentes, que estão sendo regidos pelo princípio da incerteza, tenho conversado com algumas pessoas próximas e mais presentes no meu cotidiano sobre o significado da amizade. De um lado surgem as expectativas em relação a quem consideramos amigos e, de outro, contabilizamos as percepções que temos das práticas em relação ao que consideramos amizade. A constatação inexorável é de que existe uma enorme distância entre a intenção e o gesto, embora haja a esperança de que, em algum momento, um sinal ainda vá ser dado. Mas se isso acaba não acontecendo fica mais fácil e realista constatar e exclamar como está difícil ter e manter amigos.

Acaba sendo consenso que temos poucos amigos participativos, aqueles sempre presentes em momentos essenciais em nossas vidas. A quantidade deles é menor que a dos dedos de nossas mãos, embora sejam de muita qualidade. Eles conseguem, inclusive, saber falar e também ouvir de maneira respeitosa e construtivista, sem obsessão pela propriedade da verdade.

Por outro lado também é consenso que os amigos representativos são a maior parte. São aqueles que não tem tempo nem foco para um convívio mais frequente. Os contatos com esses amigos acontecem principalmente em reencontros mais amplos, onde prevalecem cumprimentos efusivos seguidos de conversas eufóricas e rápidas, com a proposição de um novo encontro brevemente. As ocasiões podem se dar num encontro de colegas de uma escola na qual se formaram no mesmo ano, no casamento de um filho, na posse de alguém num cargo de relevância e poder, nos velórios de amigos ou familiares…

Talvez valha a pena até fazer uma analogia da amizade com a democracia, pois esta também possui a modalidade participativa – mais rara – e a representativa, a predominante. Nesse caso basta-nos a lembrança daqueles candidatos de partidos políticos que só nos procuram ou nos acessam em tempos de eleições…

Não raro, as conversas sobre amizade terminam em tentativas de entender as causas para que os amigos participativos estejam cada vez mais escassos. Com esses amigos com quem converso, tento encontrar formas e medidas pra ajudar cada um a polir suas amizades. Só que, é claro, não é fácil chegar a um generoso consenso nem colocar em prática as medidas sugeridas. Mesmo que em nome da amizade.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 1 de julho de 2018   Curtas e curtinhas

STF de férias outra vez

Julho chegou e com ele mais um mês de férias para os ministros do Supremo Tribunal Federal. Passaram-se 5 meses do término das férias de janeiro, que sucederam o recesso forense de 20 a 31 de dezembro como prevê a Lei. Enquanto isso, quase 100 mil processos se arrastam nos gabinetes de suas excelências, sendo que alguns deles já se aproximam dos 20 anos de tramitação na casa que zela pelo cumprimento da Constituição Brasileira. Rapidez nas decisões e produtividade parecem estar cada vez mais longe das prioridades.

Meta de inflação para 2021

Depois da greve dos caminhoneiros o Boletim Focus, do Banco Central, está projetando em 4% o índice de inflação de 2018 medido pelo IPCA do IBGE, embora a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional seja de 4,5%. Também pudera. A recessão econômica foi muito forte e a recuperação está extremamente lenta, bem aquém do sonhado crescimento de 3% do PIB anunciado no início do ano.

Agora o CMN fixou a meta de inflação para 2021 em 3,75% ao ano, ante 4% em 2020 e 4,25% em 2019. Vamos ver o que o próximo Presidente da República conseguirá fazer para equilibrar as contas públicas diante das heranças que receberá advindas dos gastos sempre crescentes, do aumento do déficit público e do pequeno crescimento econômico. Para o setor público só está sobrando tomar a decisão de cortar na própria carne, pois afinal de contas não dá para aumentar os impostos ainda mais, mesmo em início de mandato.

Obras paralisadas

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção encomendou à consultoria InterB um estudo sobre o Impacto Econômico e Social das Obras Públicas no Brasil. O levantamento mostra que existem cerca de 7 mil obras paralisadas no âmbito do Governo Federal e que seriam necessários R$76 bilhões para serem concluídas. Diante da crise econômica e da falta de investimentos o trabalho mostra que a saída mais provável será o puro e simples abandono de boa parte das obras que estão inacabadas.

Quando se olha para obras de responsabilidade dos estados e municípios verifica-se que as informações são escassas e incompletas, mas estima-se que as obras paralisadas necessitariam de R$68 bilhões para serem concluídas. Nesse sentido a União, estados e municípios precisam de R$144 bilhões para retomar suas obras paralisadas. Quais são as causas de mais esse provável desperdício dos recursos financeiros públicos? É sempre mais do mesmo.

Planos de saúde empresariais

Os planos de saúde da modalidade empresarial representam 67% do mercado brasileiro e devem ter um aumento médio de preços de 19% em 2018, ante 17% no ano passado. Segundo as operadoras entre as causas para tamanho aumento estão introdução de novas tecnologias, envelhecimento da população e uso excessivo do convênio médico. Além disso, ainda existe a sempre ciosa atuação da Agência Nacional de Saúde Suplementar, medindo a inflação da saúde com um método de cálculo que tem recebido questionamentos nessa temporada de aumentos de preços. Basta verificar as idas e vindas para se estabelecer o aumento de preços dos planos individuais, que acabou ficando em 10%. Pelo visto os planos continuarão a perder clientes, pois haja renda para que as pessoas consigam acompanhar esses grandes saltos nos preços enquanto o desemprego campeia.

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Uma pedagoga aposentada, 61 anos de idade, que se considera uma pessoa bastante atenta aos sinais começou a sentir uma leve dor na coxa de sua perna esquerda no início do mês de dezembro do ano passado. As dores persistiram e foram aumentando aos poucos, até mesmo durante pequenas caminhadas. Enquanto isso transcorreram-se o Natal, o Ano Novo e o Carnaval. Na Quarta-Feira de Cinzas, já bastante incomodada com o desconforto da dor, a pedagoga resolveu consultar um médico de clínica geral, que a encaminhou para uma consulta imediata com um especialista em artérias.

Por coincidência, sorte ou capacidade de processo de seu plano de saúde da modalidade empresarial – de cobertura ampla e enfermaria para casos de internação – a consulta com o especialista foi marcada para a semana seguinte. O profissional solicitou a realização de diversos exames laboratoriais e de imagem para apoia-lo em seu diagnóstico, todos cobertos pelo plano de saúde. Na consulta seguinte, que foi a segunda, o médico analisou todos os exames e seu diagnóstico foi de que a dor se devia a uma importante obstrução arterial na região investigada. O seu prognóstico foi de cirurgia, com o uso de tecnologia específica para corrigir o problema. A pedagoga acatou o diagnóstico e prognóstico e perguntou ao especialista quais seriam os próximos passos. Foi aí que ele fez as guias solicitando ao plano de saúde as autorizações para os exames de risco cirúrgico e dos custos de todas as etapas do processo. Também receitou o uso de um medicamento para atenuar dores, mas que não devia ser usado indefinidamente, pois não substitui a cirurgia.

Após tudo pronto e em conformidade com as regras contratuais do plano de saúde a pedagoga voltou ao especialista em meados do mês de maio para agendar a data de realização da cirurgia. Nos encaminhamentos finais da consulta o especialista ensaiou fazer uma verificação em sua agenda para fazer a marcação no início de junho, mas parou subitamente dizendo que precisava esclarecer um detalhe ainda não abordado. Então ele disse à paciente – ou seria cliente? – que o plano de saúde não remunera seus serviços pelo valor que eles realmente tem e, por isso, ele precisa cobrar por fora um complemento de 7 mil reais. Prosseguiu dizendo que a cirurgia poderia ser feita também por outros colegas e que a decisão não precisava ser tomada de imediato, já que era possível esperar 60 dias pelo menos.

Recuperando-se do susto trazido pela surpresa dos últimos minutos a pedagoga perguntou ao especialista se o plano de saúde sabia da remuneração adicional. Ele disse que não, mas que essa é uma luta dos profissionais que anseiam por uma remuneração melhor. Terminou dizendo que poderia dividir o adicional em 5 parcelas fixas de R$1.400,00 sem a emissão de recibos e que a primeira parcela deveria ser paga no dia da alta hospitalar. Mais fragilizada do que estava ficou a pedagoga, que acabou por pedir ao profissional um tempo para pensar, pois 7 mil não brotam do asfalto, principalmente para uma aposentada do serviço público estadual.

Após muitas conversas em família a decisão acabou sendo a de sucumbir às condições do especialista, mas ficou claro que ele se utiliza do plano para captar clientes, aproveitar seus serviços de apoio ao diagnóstico, bloco cirúrgico, serviços de hotelaria e honorários próprios – ainda que em valores bem abaixo de suas expectativas. Feita a cirurgia, ficou a evidência de como essa cadeia produtiva funciona e também de como não funciona a Agência Nacional de Saúde Suplementar, cuja missão é regular e fiscalizar os serviços de quem opera planos de saúde.

Quais são os valores éticos que regulam as relações das partes envolvidas nessas cadeias produtivas? Ou ética é só para os outros, a começar pelos agentes públicos?

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