Nos últimos três anos acompanhei de longe uma “mocica” que sonhou quase que diariamente com o dia em que completaria 18 anos de idade e passaria a ter diversos direitos previstos em lei. Sua mãe sempre ouviu suas palavras, sem se esquecer de lhe dizer que, a partir daí, os anos de vida passariam muito mais rapidamente e que dias viriam em que ela diria sentir saudades desses tempos em que sonhou tanto.
Contrastando com esse fato, passei a refletir sobre as pessoas que, como eu, estão chegando aos 60 anos de idade ou já passaram desse número limite. Isso reverberou mais em minha cabeça e em diversas mídias em primeiro de outubro, Dia Internacional do Idoso, data que tenta chamar a atenção para esse ciclo da vida.
Aqui é bom lembrar que a legislação brasileira estabelece, no Estatuto do Idoso, uma série de conceitos, definições e direitos que deveriam existir plenamente a partir do 60º aniversário de nascimento das pessoas. Nesse aspecto, relembro que um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada propõe que a idade limite para início da vida idosa passe a ser 65 anos. Em sentido semelhante, tramita há alguns anos no Congresso Nacional um Projeto de Emenda à Constituição que propõe passar de 70 para 75 anos a idade limite para a aposentadoria compulsória no serviço público. A razão mais segura para tudo isso é o expressivo aumento da expectativa de vida dos brasileiros, que já chega à média dos 75 anos, sendo que para as mulheres já passa de 78. Nesse sentido, vale lembrar também que 10,4 milhões de eleitores têm idade superior a 70 anos e que, para eles, o voto é um direito e não uma obrigação.
Se planejar é pensar antes, alguns aspectos quase que formam uma pauta a nos cobrar um posicionamento para esses tempos, que a cada dia se tornam mais próximos. É claro que os cenários que se desenham são projeções difíceis de se acertar, mas devemos tentar pelo menos nos aproximar ou errar menos. É por isso que podemos pensar em cenários otimistas, pessimistas ou mais prováveis, mesmo sabendo que tudo depende de muitas variáveis. Algumas delas só dependem de nós, e outras, uma grande parte, nós não controlamos. Essas ficam nas mãos dos governos, dos mercados e até da inércia dos políticos que emanam da democracia representativa.
Na minha pauta, veio a preocupação com a queda do poder aquisitivo do aposentado, principalmente com inflação cada vez mais longe da meta de 4,5% ao ano e sabedor de que o custo de vida do idoso é muito impactado pelo preço de planos de saúde, medicamentos e consultas particulares. Pautei também o desejo de ter uma boa qualidade de vida nesses tempos de ócio criativo, com dignidade, mesmo consciente dos limites físicos que vão surgindo para o corpo humano. Aqui registro a preocupação com a mobilidade de pernas e braços, o metabolismo, a pressão arterial, os órgãos do sentido e os estragos causados por uma bala, perdida ou não.
Avançando na pauta pensei no convívio familiar – esposa, filhos, parentes, amigos, enfim, pessoas que, em diferentes graus, fazem parte do cotidiano. Com quantos e com quais prosseguiremos, por exemplo, nos próximos 15 anos? Aí o tempo fechou e minha pauta foi interrompida, na certeza de que ela é muito longa mas terá de ser enfrentada com sabedoria, conservação de energia e gestão da ansiedade no exercício da paciência e da persistência.
E você, caro leitor, tem pensado também nesses temas e em outros conexos? Aguardo suas reflexões nos comentários.