Um sonho

por Convidado 22 de dezembro de 2014   Convidado

por Benício Rocha

O contraste da blusa alva sobre a calça preta só era menos lindo do que a harmonia composta do lado de cima pelos abundantes e levemente anelados cabelos negros, adornos de uma pele morena, boca grande, olhos verdes e sorriso leve, suave, quase enigmático.

E a moça subia a Rua da Bahia sem precisar conhecer a previsão da meteorologia, pois a chuva de olhares e os ventos fortes dos gracejos e sussurros eram intensos sobre ela. E faziam dançar seus cabelos.

Era possível ver relâmpagos nos olhares masculinos e femininos e ouvir trovões dos corações. E ela seguia soberana, régia, Regina…

Seu cérebro rápido, quase alheio ao mundo ao seu redor, pensava em como agir para conquistar aquele menino da faculdade cujos olhos eram tão ausentes dela. Por isso, então, sentia-se numa passarela ensaiando para o quando o visse.

Em seu querer de menina, em seu desejo de mulher, o universo masculino resumia-se a ele, único, separado. Perfume sedutor para ela, mulher. Doce veneno. Romeu.

Olhos que se buscam, vidas que se cruzam. O amor que renasce. Que nunca morre. Que sempre vence.

Uma vida a dois, Regina, Romeu…

Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

  Comentários
 

Obras sem projetos – As revelações advindas do caso Petrobras mostram cada vez mais como práticas não recomendáveis estão disseminadas em diversos segmentos envolvidos na aquisição de bens e serviços pelo setor público nacional. Os fatos e dados trazem cada vez mais detalhes de como esse sistema funciona na República. Licitar uma obra sem sequer fazer o projeto básico de engenharia, mesmo sendo essencial também o projeto executivo, tem se tornado frequente. É o caso do complexo petroquímico da Petrobras no Rio de Janeiro conforme mostra esse artigo do jornalista Flávio Ferreira publicado na Folha de São Paulo.

Discos de vinil – As “bolotas” nunca deixaram de existir, mesmo que em mãos de colecionadores ou nas lojas especializadas e feiras. Agora também vão surgindo lançamentos, sempre com aquele som característico que só elas têm. Para quem pensava que o CD e seus derivados significariam a morte das bolotas ou bolachas de vinil, cuja matéria prima é derivada do petróleo, se enganou plenamente. Leia neste artigo de Paulo Terron, publicado no portal UOL, mais sobre os sentimentos e as sensações de quem considera que o vinil nunca morreu.

Previdência privada – As pessoas mais preocupadas em assegurar um futuro de vida sossegado buscam se garantir com proventos que vão além da aposentadoria pelo INSS ou do salário integral no serviço público. Além de uma aplicação financeira com liquidez imediata ou a renda de aluguel de imóveis, também tem sido muito comum o incentivo para se aplicar nos fundos de Previdência Privada, inclusive com a permissão para dedução de parte do investimento no imposto de renda da pessoa física. Acontece que as taxas de administração cobradas por esses fundos chegam a até 2% de seus rendimentos anuais. Somadas ao imposto de renda, essas taxas tornam a aplicação pouco rentável ao se descontar a inflação do período. É o que mostra este artigo do professor Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas. A leitura é mais do que válida, é obrigatória para quem quer otimizar os ganhos de seus investimentos em prol do futuro tão falado e às vezes ameaçador.

Corrupção, cultura e malefícios – Em todas as mídias estão estampadas as estarrecedoras informações mostrando como agem corruptos e corruptores. A exposição e a falação são tamanhas que às vezes a matéria “corrupção” chega a ser cansativa, mesmo trazendo muitas novidades. O teólogo Leonardo Boff publicou este interessante artigo em seu blog, no qual mostra a natureza da corrupção brasileira, sua inserção na nossa cultura, os malefícios que ela traz para a nação e propõe algumas medidas para combatê-la. Confira e complemente sua fundamentação para compreender o fenômeno e o processo que o gera.

  Comentários
 

Os 149 anos de Araxá

por Luis Borges 18 de dezembro de 2014   A vida em fotografias

Fonte Dona Beja, em Araxá / Foto: Paola Pedrosa

Fonte Dona Beja, em Araxá / Foto: Paola Pedrosa

Esse 19 de dezembro marca os 149 anos da emancipação política de Araxá, minha cidade natal. Registro e celebro esse dia por considerar que é uma cidade eterna, como Roma, e também por ser a capital secreta do mundo, presença marcante em minha vida nas últimas seis décadas. Na sua história marcam presença os índios araxás, os quilombos, Dona Beija, o cassino, o Grande Hotel do Barreiro, as águas termais, os doces, a mineração e o turismo.

Praça da Av. Antônio Carlos, em Araxá. Ao fundo, é possível ver a Pensão Tormin. / Foto: Paola Pedrosa

Praça da Av. Antônio Carlos, em Araxá. Ao fundo, é possível ver a Pensão Tormin. / Foto: Paola Pedrosa

Hoje sua população é estimada pelo IBGE em 101.136 habitantes e prossegue construindo a sua trajetória com o jeito araxaense de por a mesa.

Registro nas fotografias postadas a seguir algumas imagens da cidade nesses tempos de pré-Natal colhidas pela fotógrafa Paola Pedrosa, um encanto de mocica araxaense, com 18 anos de idade.

Iluminação natalina no calçadão / Foto: Paola Pedrosa

Iluminação natalina no calçadão / Foto: Paola Pedrosa

Árvore de Natal em frente à Matriz de São Domingos / Foto: Paola Pedrosa

  2 Comentários
 

Tia Terezinha foi encontrar Marialva

por Luis Borges 17 de dezembro de 2014   Pensata

Não viemos por teu pranto
Nem viemos pra chorar
Viemos ao teu encontro
E estamos no teu altar
Por seguir nosso caminho
Que é também teu caminhar

Trecho de “Na terra como no céu”, de Geraldo Vandré

Comecei a saber sobre tia Terezinha a partir de conversas com o seu sobrinho. Aquele que andava de patins e passava direto pelos quebra-molas das alamedas do bairro São Luiz, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Ele falava também de sua prima Ana Paula, única filha de sua tia, que era irmã e amiga de sua mãe Marialva, que já estava em outro plano naquele momento. Algum tempo depois, foi tia Terezinha que o conduziu ao altar na cerimônia religiosa de seu casamento.

Há menos de três meses tive uma feliz oportunidade de conversar com ela durante as comemorações do aniversário de nascimento de seu neto Dedé. Entre uma conversa e outra, ela também brincava com o aniversariante e com seu irmão Vini, enquanto seu genro Marcos liderava a churrasqueira. Percebi e confirmei naquele domingo muito do que eu já ficara sabendo.

Tia Terezinha demonstrava ser uma mulher de muita vitalidade, parecendo um foguete em ação, preocupada com a família e com muita disponibilidade para colaborar no que fosse necessário. Ela também mostrou o quanto estava bem informada sobre o que acontecia no Brasil e no mundo, ao mesmo tempo em que deixava clara a certeza de que seu time seria o campeão brasileiro de futebol. A tarde foi muito agradável e, ao nos despedirmos, ficou a combinação de um novo encontro antes do Natal.

Tia Terezinha / Foto: Thiago Costoli

Foto: Thiago Costoli

O encontro será no próximo domingo, 21/12, mas uma dor abdominal que já se manifestava da outra vez acabou apressando a partida de Tia Terezinha para o outro plano. No dia 04 de dezembro seu espírito deixou o corpo e com certeza foi encontrar Marialva. A dor de sua partida com apenas 69 anos de idade nos deixa de luto, tristes, mas motivados para que tudo vá se transformando em saudades enquanto caminhamos para o dia em que também faremos a travessia para o outro plano.

Sei que tia Terezinha nunca estará só, como sinalizou ao entrar para a UTI do hospital, e que continuaremos cultivando a roseira e as rosas de sua obra, cujo símbolo maior é a sua querida Ana Paula.

Tia Terezinha, se nosso convívio foi pequeno mas de qualidade, a admiração pelo seu modo de ser é maior que o mundo. Prosseguiremos e caminharemos com a sua família, “que é também teu caminhar”.

  Comentário
 

Curtas e curtinhas

por Luis Borges 16 de dezembro de 2014   Curtas e curtinhas

Juízo Final – O Governador do Distrito Federal, que não conseguiu se reeleger, deve estar contando nos dedos os 15 dias que faltam para o término de seu mandato. Ele está colhendo os resultados de sua pífia gestão embalados pelos protestos de fornecedores e funcionários públicos como professores, enfermeiros, médicos, garis e motoristas, ao atrasar seu pagamentos em pleno mês de dezembro. Será que ele enfrentará outras consequências em função da ruindade do seu governo?

Pelo celular – Segundo dados da Anatel os usuários da telefonia celular móvel gastam, em média, R$104,00 por mês em suas contas. Enquanto nas classes A e B a média chega a R$ 115,00 nas classes C,D e E fica em torno de R$ 98,40. Pelo visto todo mundo esta podendo muito ou simplesmente priorizando seus gastos e dívidas para ficar bastante ligado.

Nascentes – O alarido causado pela surpresa que foi o sumiço da nascente do Rio São Francisco na Serra da Canastra foi maior do que a notícia de seu renascimento após o início do período chuvoso. Acontece que as chuvas ainda estão bem abaixo das médias históricas para o período e os institutos meteorológicos já falam apenas em rápidas chuvas de verão em Minas no final desse ano e início do próximo. Por qual razão as nascentes secaram e como fazer para recuperá-las, já que os períodos de seca também fazem parte do regime das águas? Por enquanto as discussões ganham algum fôlego, mas os efeitos da seca continuam firmes.

Dinheiro na mão – A Eletrobras comprou comprou combustíveis da Petrobras para gerar energia elétrica em suas usinas na região Norte. Elas trabalharam e ainda trabalham a plena carga, o que nunca foi enxergado pelo planejamento da empresa. Como faltou dinheiro em caixa, o jeito foi empurrar para a frente o pagamento à Petrobras. Esta por sua vez, cada vez mais precisando de fazer caixa para se manter de pé, foi ao mercado fazer dinheiro e obteve R$ 9 bilhões com o aval do Tesouro Nacional. Se a Eletrobras não pagar, o Tesouro garantirá. O que poucos se lembram é que o Tesouro somos nós, pagadores de impostos diretamente na fonte para a Receita Federal e através de bens e serviços demandados.

Submissão – A Presidência da República já avisou ao Congresso Nacional que não aceitará lei de renegociação das dívidas tributárias dos clubes de futebol se não houver contrapartida fiscal por parte deles. Como o Poder Legislativo Federal possui baixíssima produtividade e é majoritariamente dominado pela base aliada que dá sustentação ao executivo, já sabemos de antemão qual será o resultado.

Lixão – Uma Subcomissão Temporária de Resíduos Sólidos do Senado recomendou prorrogar o prazo para o fim dos lixões nas cidades brasileiras até 2016. O prazo atual, que expirou em agosto de 2014, está previsto na lei que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Apesar do Governo Federal ser contrario à medida, alegando interesse público, o fato é que muitos municípios não conseguiram acabar com os seus lixões. A comissão sugere, também, que se acabe com alguns mecanismos regulatórios que previam suspensão de recursos para os municípios que não cumprissem metas da PNRS. E quer mais incentivo à realização de convênios entre municípios e órgãos federais. Enquanto tudo isso tramita, o Congresso vai entrar de férias e o lixo continuará sendo mais um problema para o saneamento ambiental no Brasil. Assim fica até difícil de falar em sustentabilidade.

  Comentários
 

Olhe bem as montanhas

por Convidado 15 de dezembro de 2014   Convidado

por Sergio Marchetti

Eu cresci entre as serras da Mantiqueira e do Ibitipoca.  Naqueles belos tempos, nós sabíamos quando era a época de chuva, de sol e de frio.  A natureza estava equilibrada e nos indicava com precisão cada estação do ano. Eu escalava montanhas e, junto de irmãos e primos, buscávamos gado de um pasto para outro. Depois crescemos e descobrimos que em Minas Gerais não havia montanhas. O Brasil não tem montanhas. Tem serras. As montanhas, teoricamente, seriam mais altas.

mar de morros em MG

Montanhas de Minas em Glaura, distrito de Ouro Preto (MG) / Foto: Gustavo Borges

Houve de lá para cá um desequilíbrio humano. Sem saber que andava errada, a humanidade se embrenhou por caminhos tortuosos. Fomos tomados por uma neurose coletiva, uma compulsão por prazer, por compra, pelo dinheiro a qualquer custo. A cultura cedeu, mesmo com má vontade, espaço para a futilidade. O “saber” deixou de ser valor. O intangível foi desconsiderado, num mundo visual. Para muitos, vale mais um par de peitos de silicone do que ter a consciência do mundo em que vivemos. Vale o que é visível, ainda que seja falso. O hedonismo de Aristipo encontrou muitos adeptos. Também nunca a falsidade teve tanto valor. Já não importa mais “como” a pessoa fez sua escalada na vida, mas sim “onde” ela está. Oh! Maquiavel, que mau exemplo tu nos deste: “os fins justificam os meios”. O mais curioso de tudo isso é que os alpinistas sociais nunca leram Maquiavel…

Porém, sei que nesse ganho desumano e amoral, num surto coletivo, as montanhas ou as serras foram incluídas no pacote “do dinheiro a qualquer custo”.

Cabe lembrar que alguns brasileiros bem intencionados e ajustados emocionalmente, há mais de quarenta anos, estavam preocupados com o que poderia ocorrer com nossas serras. Mas a visão de futuro e a precaução de muitas pessoas de bem não foram suficientes para evitar a catástrofe. O grande Martinho da Vila já cantava.

E ontem deu no jornal / Que a cachaça aumentou / Tiraram o bosque de lá / Um prédio se levantou / Agora o sonho acabou / O som ficou devagar / A voz do Ciro calou / E a banda não vai tocar…

Na mesma época da música, fuscões e opalas carregavam nos vidros traseiros ou laterais, plásticos adesivos que diziam: “Olhe bem as montanhas”. Depois, uma segunda mensagem foi acrescentada: “Elas vão desaparecer”.

O tempo passou e pudemos constatar que, de fato, as montanhas – sejam lá com os nomes que quiserem dar a elas – estão desaparecendo. Agora, não existem nem serras, nem montanhas. Elas se transformaram em minério.

Não pretendo abrir discussão sobre a falta de atitude do governo, sobre a agressão às serras e ao descaso por outras questões vitais. Quero, por assim dizer, abrir os olhos das pessoas para que possam se conscientizar de que estamos destruindo a nossa própria vida quando deixamos que derrubem nossas montanhas e as nossas matas. As taxas anuais de desmatamento na Amazônia brasileira aumentaram 28% entre agosto de 2012 e julho de 2013.

A cada ano, a Amazônia Legal perde, em média, uma área de quase 5 mil quilômetros quadrados. Os cálculos foram feitos pela ONG Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Olhem bem os rios…

Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br 

  Comentários
 

Pessoas mais ricas, vidas mais pobres – Querer tudo e bem rápido embala muitas pessoas na corrida pelo sucesso pessoal e profissional. A obsessão por bater metas na exacerbada competição do mercado, onde geralmente os fins justificam os meios, acaba trazendo algumas consequências danosas. Uma delas é a constatação de que se a remuneração tem aumentado, o tempo para se viver a vida tem escasseado, até mesmo por falta de condições físicas e mentais. O filósofo canadense Barry Stroud aborda essa relação com um diagnóstico claro, em entrevista à Folha.

“A vida virou uma carreira. As pessoas estão focadas o tempo todo no seu sucesso profissional. É preciso ganhar o máximo de dinheiro, ter uma família, casa grande – tudo junto. Consumismo, individualismo, carreirismo. A vida contemporânea, apesar dos avanços materiais, é mais pobre”.

Corrida pela água – A prolongada estiagem no sudeste brasileiro, pelo quarto ano consecutivo, deixou mais evidente que a escassez da água para o consumo humano é uma realidade. O dito popular “farinha pouca, meu pirão primeiro” já se manifesta no aumento da perfuração de poços artesianos em casas, condomínios e até órgãos públicos. Como ficarão as águas subterrâneas diante desse ataque especulativo? Houve planejamento do órgãos de gestão das águas para isso? Alguns ângulos dessa questão estão neste texto publicado no Diário do Centro do Mundo.

Câncer e desemprego – Se a vida é um risco e viver é muito perigoso, imagine as consequências que uma doença grave como o câncer pode trazer para as pessoas que sobrevivem aos tratamentos! Além de todo o impacto que as incertezas trazem para o equilíbrio emocional, ainda tem o sofrimento de todos os que são próximos e graves consequências na vida profissional, como a demissão do trabalho, auxílio doença da Previdência Social ou o estigma de ser portador de um câncer, além de outras portas que se fecham diante de oportunidades surgidas. Neste artigo publicado pela Folha de São Paulo, a jornalista Cláudia Colucci faz um relato contundente sobre as dificuldades incorporadas ao cotidiano das pessoas portadoras de câncer.

Mentor na Universidade – Por definição, as Universidades trabalham com ensino, pesquisa e extensão. Os professores ministram seus conteúdos nas aulas da graduação e pós-graduação, fazem pesquisa pura e aplicada e também se dedicam à extensão, atendendo às necessidades de comunidades, empresas e órgãos de governo em projetos patrocinados especificamente. Os professores são valorizados pelos títulos, orientações de dissertações e teses, participações em congressos e por artigos publicados em revistas especializadas, reconhecidas ou não. Uma relação mais direta com os alunos ocorre em atividades de iniciação científica, estágios supervisionados e trabalhos de conclusão de curso. Essa relação poderia gerar um resultado positivo muito maior se os alunos fossem orientados diretamente por um mentor ao longo de seus cursos, tendo um professor que pudesse aconselhá-los na escolha de disciplinas e caminhos a seguir. É o que mostra a jornalista Sabine Righetti neste artigo publicado no blog Abecedário. Boa leitura!

  Comentários