Uma brasileira viajou pela Europa durante suas férias, em novembro. Cumpriu todas as exigências de praxe contidas nos regulamentos que tratam das viagens internacionais, entre elas o clássico seguro de saúde. Quase na metade da viagem, que durou exatos 30 dias, ela chegou ao sul da França e começou a ter momentos de mal estar, desconforto estomacal, desânimo e passou a imaginar que poderia estar com uma virose. Achou prudente buscar a orientação de um médico e verificar os procedimentos para usar seu seguro saúde. Diante de tantos entraves colocados pela seguradora, que, é claro, já tinha recebido pelo seu risco ainda no Brasil, a brasileira resolveu procurar um médico particular ainda no final do mesmo dia.
A primeira surpresa agradável foi conseguir um horário para ser atendida às 10h da manhã do dia seguinte. Também foi informada, noutra grata surpresa, que o preço da consulta seria de 22€, algo equivalente a 72 reais no câmbio daquele dia.
O comparativo com o Brasil foi inevitável. Uma consulta particular com um especialista em clínica médica custaria, no mínimo, R$ 350,00 . O atendimento provavelmente seria encaixado entre uma consulta e outra da agenda prévia do médico.
No dia seguinte a brasileira chegou ao consultório 10 minutos antes da hora marcada, na expectativa do tradicional “exercício de paciência” até chegar o seu momento de ser atendida. Ela está acostumada a ser tratada como paciente, e não como cliente, em boa parte dos locais que procura no Brasil para atendimento em serviços da saúde.
De novo, novas surpresas. A consulta iniciou-se apenas 10 minutos após a hora marcada. O próprio médico foi buscá-la na sala de espera e levou-a ao consultório. Após os cumprimentos iniciais, o médico fez uma anamnese bem objetiva e direta. Ele diagnosticou uma virose, como já imaginado, prescreveu alguns medicamentos e fez as orientações finais, se colocando à disposição para quaisquer outras necessidades nos dias subsequentes. Após 25 minutos, a consulta foi encerrada com o próprio médico recebendo os seus honorários, dando o troco, assinando recibos e preenchendo documentos para um possível reembolso do valor na chegada ao Brasil. Novamente, ele acompanhou a paciente até a porta de saída da clínica.
Mais uma vez, a comparação foi inevitável. Pela primeira vez, sentiu-se tratada como cliente e não simplesmente como uma paciente, que deve esperar até a hora que for a sua, como se o atendimento médico fosse quase que um favor. Lembrou-se também de profissionais da saúde que às vezes perguntam muito, falam pouco e sequer informam qual é o valor da pressão arterial do paciente. Isso para não falar daqueles que se sentem muito especialistas, mas não trabalham com a visão sistêmica e, portanto, não atentam para efeitos colaterais e impactos em outras funções orgânicas. Assim seguiu em frente pensando em limites técnicos de planos de saúde, exames laboratoriais para apoio ao diagnóstico, consultas que duram menos de 15 minutos e na postura de alguns profissionais que se pensam proprietários da verdade. Enfim, pensou que gostaria mesmo é de ser tratada como cliente em todos os lugares, sempre com qualidade, preço justo e atendimento digno e respeitoso à condição humana. Ela já esta de volta ao Brasil e prosseguirá buscando seu intento com sua alta resiliência.