Surpresa agradável no consultório

por Luis Borges 3 de dezembro de 2014   Pensata

Uma brasileira viajou pela Europa durante suas férias, em novembro. Cumpriu todas as exigências de praxe contidas nos regulamentos que tratam das viagens internacionais, entre elas o clássico seguro de saúde. Quase na metade da viagem, que durou exatos 30 dias, ela chegou ao sul da França e começou a ter momentos de mal estar, desconforto estomacal, desânimo e passou a imaginar que poderia estar com uma virose. Achou prudente buscar a orientação de um médico e verificar os procedimentos para usar seu seguro saúde. Diante de tantos entraves colocados pela seguradora, que, é claro, já tinha recebido pelo seu risco ainda no Brasil, a brasileira resolveu procurar um médico particular ainda no final do mesmo dia.

A primeira surpresa agradável foi conseguir um horário para ser atendida às 10h da manhã do dia seguinte. Também foi informada, noutra grata surpresa, que o preço da consulta seria de 22€, algo equivalente a 72 reais no câmbio daquele dia.

O comparativo com o Brasil foi inevitável. Uma consulta particular com um especialista em clínica médica custaria, no mínimo, R$ 350,00 . O atendimento provavelmente seria encaixado entre uma consulta e outra da agenda prévia do médico.

No dia seguinte a brasileira chegou ao consultório 10 minutos antes da hora marcada, na expectativa do tradicional “exercício de paciência” até chegar o seu momento de ser atendida. Ela está acostumada a ser tratada como paciente, e não como cliente, em boa parte dos locais que procura no Brasil para atendimento em serviços da saúde.

De novo, novas surpresas. A consulta iniciou-se apenas 10 minutos após a hora marcada. O próprio médico foi buscá-la na sala de espera e levou-a ao consultório. Após os cumprimentos iniciais, o médico fez uma anamnese bem objetiva e direta. Ele diagnosticou uma virose, como já imaginado, prescreveu alguns medicamentos e fez as orientações finais, se colocando à disposição para quaisquer outras necessidades nos dias subsequentes. Após 25 minutos, a consulta foi encerrada com o próprio médico recebendo os seus honorários, dando o troco, assinando recibos e preenchendo documentos para um possível reembolso do valor na chegada ao Brasil. Novamente, ele acompanhou a paciente até a porta de saída da clínica.

Mais uma vez, a comparação foi inevitável. Pela primeira vez, sentiu-se tratada como cliente e não simplesmente como uma paciente, que deve esperar até a hora que for a sua, como se o atendimento médico fosse quase que um favor. Lembrou-se também de profissionais da saúde que às vezes perguntam muito, falam pouco e sequer informam qual é o valor da pressão arterial do paciente. Isso para não falar daqueles que se sentem muito especialistas, mas não trabalham com a visão sistêmica e, portanto, não atentam para efeitos colaterais e impactos em outras funções orgânicas. Assim seguiu em frente pensando em limites técnicos de planos de saúde, exames laboratoriais para apoio ao diagnóstico, consultas que duram menos de 15 minutos e na postura de alguns profissionais que se pensam proprietários da verdade. Enfim, pensou que gostaria mesmo é de ser tratada como cliente em todos os lugares, sempre com qualidade, preço justo e atendimento digno e respeitoso à condição humana. Ela já esta de volta ao Brasil e prosseguirá buscando seu intento com sua alta resiliência.

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Foram 56 anos morando em diversos bairros de Belo Horizonte, a maioria deles em apartamentos. Até que o casal resolveu se mudar para uma cidade da Região Metropolitana. Agora faz pouco mais de um ano que estão lá, distantes 90km da capital, sentindo um crescente bem estar com o novo estilo de vida.

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Ficam felizes com a redução da ansiedade e o aumento da paciência, decorrente do cultivo das plantas, além do conforto advindo do clima mais ameno. Nas fotografias deste post estão alguns dos resultados que eles estão colhendo, nessa faixa etária em que buscam entender melhor o significado das coisas, só que num espaço mais sossegado.< Hortênsias no jardim Hortênsias no jardim[/caption]

Você tentaria algo semelhante? Ou prefere ficar na capital?

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Vale a leitura

por Luis Borges 30 de novembro de 2014   Vale a leitura

Desejos dominantes – “O que você quer ser quando crescer” é uma indagação frequente que os adultos brasileiros fazem às crianças e adolescentes. Mesmo diante de muitos sonhos, desejos, informações e abordagens midiáticas a resposta não é fácil. Construir um caminho mostrando o que fazer e como fazer também é desafiante e depende de várias variáveis. Ainda assim, nada esta garantido e muitas vezes o caminho precisa ser refeito ou mudado para outras direções. Nunca está tudo dominado e em um determinado momento do tempo será necessário caminhar por conta própria. É preciso encontrar o foco e ter muita resiliência até que a certeza se confirme duradoura e resista a tantos questionamentos que poderão surgir. Neste artigo, Contardo Calligaris, psicanalista italiano radicado no Brasil, aborda alguns aspectos dessa instigante busca que exige que cada um procure a sua solução mas sem garantia automática de sucesso, ainda que tão desejado.

O tal de mercado – Desde que a Presidente da República anunciou em sua campanha à reeleição que trocaria o Ministro da Fazenda, portanto sinalizando possíveis correções de rumos, o que mais se especulou foi qual seria a reação do mercado. Mas, afinal de contas, o que é o tal de mercado e como ele age através das pessoas que nele atuam para viabilizar seus negócios? É o que aborda Hélio Schwartsman, bacharel em Filosofia e articulista da Folha de São Paulo.

Eucalipto avança em Minas – Os crescentes e prolongados períodos de seca dos últimos quatro anos impactaram bastante a geração de energia hidrelétrica e a disponibilidade de água para o abastecimento das cidades. A discussão desse fenômeno nos obriga a analisar mais detidamente as causas que estão gerando esse efeito. Uma que sempre aparece é o desmatamento, cada vez mais intenso. Entretanto, diante das restrições para transformar matas nativas em insumos para segmentos industriais como siderurgia, papel e celulose, por exemplo, cresceu rapidamente o reflorestamento utilizando o eucalipto. Ele avançou notadamente nas terras antes ocupadas por matas virgens e pastagens. É o que mostra a dissertação de mestrado “Modelagem da cobertura da terra e análise da influência do reflorestamento na transformação da paisagem: Bacia do Rio Piracicaba e Região Metropolitana do Vale do Aço” defendida pelo professor Carlos Henrique Pires Luiz, do Instituto de Geociências da UFMG.

Uma aula atrativa – Imagine que você precisa assistir aulas numa sexta-feira, das 19h30 às 22h30, num curso de pós graduação lato sensu, nível de especialização. A imaginação vale, também, para um curso de graduação de ensino médio ou do Pronatec. O que faria você permanecer o tempo todo no ambiente da aula? Qual deveria ser o modo de atuação do professor na interação com os alunos para deixar de ser uma mera estação repetidora de conteúdos pouco conectados com a realidade? Leia neste artigo de Adriano Silva, publicado no site do Projeto Draft, o diferenciado caso de Romeo Busarello, professor do Insper e vice-presidente de Marketing da Tecnisa.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 27 de novembro de 2014   Curtas e curtinhas

Fechamento das contas – Mais uma vez a base aliada vacilou e o Congresso Nacional não teve quórum para aprovar, na quarta-feira, o abandono da meta de Superávit Primário de R$ 116 bilhões. Assim, ficou-se de tentar colocar o assunto na pauta da próxima semana, já que dois novos vetos da Presidente da República têm prioridade de votação. E olha que outros 38 vetos da mesma Presidente já haviam sido mantidos pelo dócil Congresso na terça-feira, em curtíssimo espaço de tempo.

Teto salarial – A Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público da Câmara do Deputados aprovou a elevação do teto salarial dos ministros do Supremo Tribunal Federa para R$ 35.919,05. Apesar da desindexação da economia prevista no Plano Real, o critério para estabelecer o reajuste foi indexá-lo ao valor do IPCA do IBGE, que mediu a inflação dos últimos 4 anos. Assim fica mais fácil a propagação da inflação, que o Banco Central admite que só atingirá os 4,5% ao ano em 2016. Por outro lado os membros do Poder Judiciário em todo o país já estão felizes, pois serão atingidos pelo efeito cascata decorrente da vinculação de seus salários a percentuais do que ganham os ministros do STF.

Lei 8.666 – A lei que regulamenta as licitações para a aquisição de bens e serviços pelo poder público em todos os seus níveis vigora desde 21 de junho de 1993. Um dos seus objetivos gerais é o combate à corrupção. A longo desses 21 anos surgiram muitas propostas para a sua revisão, mas o Congresso Nacional ainda não conseguiu avançar num texto que consiga promover um generoso consenso entre todas as partes envolvidas e interessadas. Dá para imaginar que essa revisão ainda vai demorar muito, principalmente após as estarrecedoras revelações advindas da operação Lava Jato da Policia Federal envolvendo a Petrobras.

Operação Alcatéia – Esta é mais nova operação da Polícia Federal que está chegando à mídia. Ela trabalha com a suspeita de desvio de mais de R$ 1 bilhão em impostos federais em Niterói, onde alguns auditores da própria Receita estão na lista de suspeitos investigados. Se o homem é o lobo do homem, imagine os lobos que participam de uma alcatéia com foco bem definido! Até tu Receita Federal, que cuida tão bem das pessoas físicas pagadoras de impostos!

1 para 10 – Segundo a Advocacia Geral da União, desde de 2010 foram identificados desvios de dinheiro equivalentes a  R$ 12,4 bilhões dos quais apenas R$ 1,2 bilhão foram recuperados para os cofres públicos. Indo direto ao ponto, apenas R$ 1,00 em cada R$ 10,00 foram recuperados. E olha que tem  gerente da Petrobras, que é de terceiro escalão, devolvendo R$ 250 milhões em delação premiada! Pelo visto, compensa.

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Demissão da pior forma

por Luis Borges 26 de novembro de 2014   Pensata

O ano caminha para o fim enquanto o Natal se aproxima e a economia brasileira ainda não dá sinais de melhoria. É interessante notar como se manifestam no dia-a-dia da vida os reflexos da perda de poder aquisitivo decorrente do galope inflacionário. Também dá para perceber uma maior lentidão nos negócios em função do pessimismo dos empresários e a população em geral mais preocupada com o desemprego, o que deixa muitas pessoas mais cautelosas na hora de fazer dívidas de um modo geral. Nesse cenário, começam a surgir mais notícias de empresas demitindo funcionários, por razões diversas.

Enquanto pensava no estado emocional das pessoas que estão sendo demitidas e nas dificuldades para se recolocar rapidamente no mercado de trabalho nesse difícil momento da economia, fiquei sabendo de um caso desrespeitoso com a pessoa e indigno de seres humanos. Aconteceu com uma funcionária que trabalhava há 22 anos numa agência de um grande banco privado em Belo Horizonte. Logo nesse segmento, que acumula lucros de bilhões de reais a cada trimestre e que não aceita resultados com nenhum centavo abaixo da meta estipulada.

A funcionária, que exercia a função de assistente administrativa, chegou ao seu setor de trabalho às 8 horas da sexta-feira passada, como de costume. Antecipando-se aos seus colegas de trabalho, ela colocou a vasilha de água para ferver, na expectativa de que alguns minutos depois um gostoso café estaria à disposição de todos. Entretanto, a gerente de recursos humanos chegou ao local inesperadamente e a convocou para uma reunião na sala ao lado. A funcionária argumentou que a água logo estaria fervendo, mas recebeu a determinação de que deveria deixar isso pra lá.

Iniciada a conversa e diante dos rodeios e “me-me-més” da gerente, a funcionária perguntou a ela se tudo aquilo era para demiti-la e também o que tinha feito para merecer tal situação. Aliviada e sem graça diante das perguntas que atalharam seu caminho, a explicação da gerante foi seca e direta. Disse que a funcionária estava no banco há muito tempo e tornou-se cara para a instituição. A política da instituição, segundo explicou a gerente de RH, é evitar ao máximo que pessoas permaneçam trabalhando na empresa por mais de duas décadas. Para que isso aconteça, a tecnologia da informação será cada vez mais incrementada para aumentar a competitividade.

A funcionária, ainda se refazendo do susto, perguntou sobre o cumprimento de aviso prévio e sobre seus direitos trabalhistas, mas foi logo interrompida pela gerente. Não seria necessário cumprir aviso, todos os direitos já estavam calculados e bastava apenas homologar a demissão no Sindicato dos Bancários. A gerente arrematou a conversa informando à funcionária que, saindo da sala, ela já deveria voltar para casa. Não permitiu o cafezinho do juízo final junto aos colegas do setor.

Forma e conteúdo caminham lado a lado, e o ser humano merece mais respeito. É lamentável que ainda aconteçam fatos como esse em pleno ano de 2014 na República Federativa do Brasil.

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Após intensa luta política entre nacionalistas e entreguistas e no embalo da campanha popular  “O petróleo é nosso”, foi criada por lei em 3 de outubro de 1953 a Petrobras – Empresa Brasileira de Petróleo, que também definiu o monopólio estatal desse combustível fóssil. O país inteiro se mobilizou, num movimento que começara em 1936 com o escritor Monteiro Lobato denunciando a má vontade do governo Vargas com a perfuração de poços de petróleo e sua permanência como propriedade Brasileira. São dessa época seus livros “O Escândalo do petróleo”, censurado pelo ditador Getúlio Vargas em 1937, e “O poço do visconde”.

Em 1997, foi criada a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e quebrado o monopólio estatal. O capital internacional passou a participar do negócio.

Hoje a União Federal possui 50,26% das ações da Petrobras e o BNDES 9,95%. A presidência do seu Conselho de Administração é exercida por um Ministro de Estado e a presidência da empresa é ocupada por alguém indicado pelo Governo Federal, bem como seus diretores.

Será que hoje ainda podemos bradar que “a Petrobras é nossa”? Se ela está ameaçada e desvalorizada no mercado diante das tenebrosas transações cotidianamente reveladas nas investigações policiais, haverá mobilização social em sua defesa?

Em Belo Horizonte existe na Praça Afonso Arinos, próximo à Faculdade de Direito da UFMG, um monumento alusivo à participação dos mineiros naquela época. Ele é mostrado na fotografia postada a seguir. Será que outro monumento poderá ser erguido por ali, em função do que a Petrobras esta passando hoje?

Monumento alusivo ao petróleo e à Petrobras / Foto: Sérgio Verteiro

Monumento alusivo ao petróleo e à Petrobras / Foto: Sérgio Verteiro

 

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Autêntica Minas

por Convidado 24 de novembro de 2014   Pensata

por Benício Rocha

A minha cidade, autêntica Minas, de ruas amorosas aos pés de seus montes eternos, cuja eternidade só finda com a extração de minérios, primeiros mineiros, vive na paz e aconchego do clima de montanhas.

Pastos verdes, cachoeiras, ilhas de Mata Atlântica, gado, cafezais e nós, um aqui, outro ali, o Sol, um cachorro a latir amigavelmente, na estrada um carro apressado passa. Saudades da terra, poeira, charretes, carros de bois, tropas e tropeiros, paisagem mineira abraçando minha terrinha, mais que povoado, menos que cidade grande. Cidadão ali vive muito bem.

Igual a quase mil cidades, conjunto de poesias, com rimas perfeitas, e junto às mais lindas pessoas do mundo, Caratinga faz-se diferente somente porque os olhos que a vêem são os do meu coração, amante amolecido, saciado, que conhece de memória de menino cada centímetro daquele rincão, e sente seus cheiros pelo mundo afora.

Na cidade grande eu moro, mas naquele cantinho vivo, lembrando daquele menino que engenhava formas de tirar os morros que dividem a cidade em três para, na planura surgida, ver a cidade crescer, progredir…

Ainda bem que o empreendimento não aconteceu, o pouco progresso e o ainda menos ar de ontem me fazem lembrar de onde sou, como fui formado e como se desenvolveu em mim essa capacidade de, nem sempre, romper mas, contornar os obstáculos e, às vezes dividido, compreender, aceitar e ser feliz.

Nas lembranças me encontro quando me perco, e recomeço minha marcha caminhando para suas entranhas um dia.

Minha cidade e meu coração ainda pulsam… lentos, comedidos. E minha felicidade, eterna saudade, sem pressa os acompanha.

Catedral de São João Batista, em Caratinga. / Fonte: Site da Prefeitura Municipal

Catedral de São João Batista, em Caratinga. / Fonte: Site da Prefeitura Municipal

Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.

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