por Benício Rocha*
O céu azul estava refletido no mar e no olhar daquela que passava sem me ver, apressada para o mar. Como se ele fosse secar, ou a terra acabar.
Contraste de cores, sandálias, canga branca transparente, biquíni vermelho marcante, respirar meio ofegante, pressa!
Finalmente a areia de encontro aos pés e às roupas que excediam (excediam?) estiradas sobre a areia, o correr quase aos saltos, as ondas gulosas, o abraço de tudo com o mar.
O sonho que nem se pode sonhar, o Sol que quase não se pode suportar e ela lá, poesia, harmonia, música e o mais lindo cantar!
Eu que nem gosto do mar queria poder comprá-lo e pra casa levar, esse seria o meu jeito mineiro de ter bem junto de mim aquela partícula humana que ele absorvia, consumia e que a mim prenderia numa inexplicável e deliciosa escravidão loira, de olhos azuis.
Enciumado, cheio de manchas vermelhas decorando meu corpo branco amarelecido em alguns pontos, escurecido noutros, assistia aquele ato prolongado azul e canela, de amor e posse.
Ela se deliciava, saía, entrava…
Ele fazia o jogo, fingia ir embora, voltava aos poucos, em ondas, denso, envolvente, irresistível…
E ela se jogava, afundava, subia, pulava, gritava, deitava, espreguiçava.
E ele nem via as pessoas que o buscavam aqui, desencontravam ali. A todos tratava com rispidez, grosseria e indiferença. Como aqueles débeis seres não percebiam?
Seu momento era outro, único, toda sua atenção estava voltada para ela que, em êxtase, misturava sessenta por cento de seu ser a ele que, total e solidário, integrava-se a ela.
Enxertos recíprocos de necessidades mútuas, duplicidade na felicidade única.
Senti-me levado dali por um par de sandálias coloridas de tiras eternas e inodoras, para as quais, cabisbaixo, humilhado, eu olhava de forma fixa, como se fossem as coisas mais importantes do mundo…
Mas não via nem a mim.
*Benício Rocha é caratinguense ausente e saudoso, mineiro da gema, amante da boa prosa, sócio da MGerais Seguros, aprendiz de servo do Senhor.