A morte de Clara Nunes

por Luis Borges 2 de abril de 2017   Música na conjuntura

Foi num dia como hoje, há exatos 34 anos, que faleceu a cantora Clara Nunes. Mineira, nascida em 12 de agosto de 1942 no município de Paraopeba, mais especificamente no distrito de Cedro, hoje Caetanópolis.

Ao longo de seus pouco mais de 40 anos de vida teve uma trajetória profissional na qual foi subindo degrau a degrau até tornar-se a grande cantora que foi. Começou a cantar no coro de uma igreja e, aos 14 anos, foi trabalhar como tecelã na fábrica de tecidos Cedro e Cachoeira, onde ficou por 2 anos. Aos 16 anos mudou-se para Belo Horizonte, indo morar no bairro Renascença, e prosseguiu como tecelã durante o dia, estudante do curso Normal Superior à noite e cantora no coral de uma igreja nos finais de semana.

Em 1960 venceu a etapa mineira do concurso “A Voz de Ouro ABC” e ficou em terceiro lugar na etapa nacional. Depois veio a fase de cantora na Rádio Inconfidência, apresentadora de seu próprio programa musical na TV Itacolomi, a participação no cinema, a mudança para o bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 1965, e o término de sua participação no movimento da Jovem Guarda em 1968 com o filme “Jovens Pra Frente”.

A partir daí aderiu ao samba e à pesquisa mais intensa sobre a música e o folclore na cultura brasileira. Converteu-se ao Candomblé e foi pesquisar suas origens e ritos musicais no continente africano. Em 1972 consagrou-se definitivamente como cantora de samba ao lançar o LP “Clara, Clarice Clara”. A seguir participou com grande destaque ao lado do ator Paulo Gracindo do espetáculo “Brasileiro Profissão Esperança”, texto de Paulo Pontes.

Dentre seus vários discos lançados na sequência da carreira, com muito sucesso, podem ser citados os álbuns “Clara Nunes”, “Alvorecer”, “Claridade”, “Canto das Três Raças”, “As Forças da Natureza”, “Guerreira”, “Esperança”, “Brasil Mestiço”, “Clara” e “Nação”, que foi seu último LP, gravado em 1982. Mais detalhes sobre a carreira de Clara Nunes podem ser vistos aqui.

Apenas como uma pequena amostra para quem quiser relembrar de imediato alguns de seus grandes sucessos sugiro que se ouça as músicas:

Tributo aos Orixás

Conto de areia

Juízo final

Portela na avenida

O falecimento de Clara Nunes em 02/04/1983 se deu após 28 dias de internação na UTI da Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, em decorrência de reação alérgica ao anestésico usado numa cirurgia de varizes e a uma parada cardíaca.

É grande o reconhecimento pelo conjunto da obra da cantora e muitas são as homenagens que lhe são prestadas de diversas formas. Destaco aqui a musica Um ser de luz, cantada por João Nogueira de autoria de Paulo César Pinheiro (ex-marido de Clara Nunes), Mauro Duarte e João Nogueira conforme a letra a seguir.

Um ser de luz
Fonte: Vagalume

Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar
Sua voz então
Ao se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava
Espantava a dor
Com a força do seu cantar

Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela se foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
A gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de Vê-la, sabiá

Sabiá
Que falta faz tua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia
Canta, meu sabiá, voa, meu sabiá
Adeus, meu sabiá, até um dia
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