Todo cuidado é pouco

por Luis Borges 13 de abril de 2016   Pensata

A segurança de pessoas e bens em imóveis, vias públicas e parques, por exemplo, é uma preocupação constante para todo cidadão. Para muitos, basta a sensação de insegurança para aguçar a paranóia ou até mesmo o pânico. Apenas reclamar dos governantes e das forças policiais, reivindicar agilidade do Poder Judiciário e Ministério Público ou ficar na expectativa de que mais presídios serão construídos para encarcerar os que não cumprem as leis não tem sido e não é suficiente para resolver o problema. Também podem ser paliativos os investimentos nas mais diversas modalidades de segurança eletrônica se as pessoas não tiverem uma atitude mais firme e focada nas questões ligadas à segurança. A autodisciplina será sempre fundamental para o cumprimento de todas as determinações contidas nos procedimentos padrão de segurança.

Na semana passada um pequeno e rápido descuido na entrada de um edifício típico de 6 apartamentos, modalidade 2 por andar e garagem no subsolo, foi o suficiente para que um ladrão esperto entrasse no do prédio. A mãe foi levar sua filha de 8 anos até o portão da rua, onde ela embarcaria num transporte especial rumo à escola. O detalhe que decidiu o jogo se deu após o acionamento do dispositivo para a abertura do referido portão, instalado dentro do prédio e antes da porta principal. Aqui é bom lembrar que a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte exige, para o bairro, uma distância mínima de 3 metros entre a parede frontal do edifício e o muro que faz divisa com a rua.

Acontece que o ladrão já estava à espreita e, ao ver o portão se abrir, caminhou rapidamente para dentro prédio. Quando a mãe passou por ele, pensou se tratar de alguma visita para o outro apartamento do primeiro andar. Após o embarque da filha, voltou para seu apartamento, onde deixara a porta da sala semiaberta. Percebeu que sua bolsa, com todos os clássicos pertences, tinha desaparecido. Foi quando ela finalmente se lembrou da pessoa que havia passado por ela há poucos instantes na entrada. Em seguida foi até a garagem, onde quatro pedreiros que estavam trabalhando nas obras de reforma do prédio cochilavam após o almoço. Aí foi percebido outro detalhe. O portão da garagem estava destrancado e ligeiramente encostado. As câmeras do circuito interno mostraram que o ladrão saiu por ali. O resto da história é o que todo mundo sabe e, ainda bem, para consolo da vítima e de outras possíveis vítimas, não houve confronto  nem violência. Ficaram os transtornos dos bloqueios de cartões e documentos, a luta para se registrar um boletim de ocorrência na Polícia e a lembrança do acontecido sempre batendo intensamente na cabeça nos dias seguintes.

Mas o que restou mesmo foi a conscientização da necessidade de se mudar de atitude e a certeza de que tudo começa com a gente. Em situações como a que foi descrita acima não dá para simplesmente terceirizar a causa principal do efeito gerado.

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Missão sem transparência

por Luis Borges 6 de abril de 2016   Pensata

A corrupção no Brasil está em altíssima evidência e discussão em função de seguidas revelações nas últimas duas décadas, com maior expressividade e volume notadamente a partir de 2014. São frequentes as afirmações que dizem ser a corrupção mais velha que a serra, que ela está impregnada na cultura do país ou mesmo que faz parte da índole de políticos e seus partidos financiados por tenebrosas transações nada republicanas.

As relações entre o público e o privado se complementam em profícuas ações de seus agentes nos papéis de corruptos, corruptores e beneficiários dos resultados alcançados.  Se nos altos escalões estão as grandes corrupções, raramente percebidas por auditorias e tribunais de contas, o que pensar das pequenas corrupções, que começam a vir à tona no microcosmos do cotidiano das pessoas? Qual é o impacto que tudo isso acaba trazendo às relações sociais de muitos daqueles que não se sentem em condições de mostrar os desmandos que vêem em seus locais de trabalho em função da sobrevivência imediata?

Fiquei sabendo de um caso que pode ilustrar um pouco uma situação dessa natureza. Trata-se de um grupo de pessoas católicas que realizam missões de evangelização em distritos de pequenos municípios. O trabalho começou há mais de 15 anos, com a participação de 80 missionários. Eles saíam da capital em dois ônibus, gentilmente cedidos pelo proprietário de uma grande empresa do setor, rumo às cidades escolhidas. Havia duas viagens por ano – na Semana Santa e na semana que antecede o dia da Padroeira do Brasil.

A cessão dos ônibus só era conhecida, inicialmente, pelo coordenador da missão, por seu assistente imediato e pelo gerente comercial da empresa. Mesmo assim, nos últimos cinco anos cada missionário pagava R$180,00 pelo transporte e R$30,00 pelo lanche a bordo do ônibus. Cada missionário levava, também, uma cesta básica para a família que o hospedava.

Durante a preparação para a primeira viagem do ano passado, um dos participantes ficou sabendo do caráter gratuito do ônibus ao longo de todos os anos de existência da missão. A informação espalhou-se rapidamente pelo grupo, mas ninguém se dispôs a questionar o coordenador, nem individualmente e nem em grupo. Os mais revoltados decidiram abandonar a missão já naquele momento. Outros fizeram o mesmo no segundo semestre.

O fato é que na Semana Santa deste ano, apenas 20 pessoas participaram da missão e, como que por encanto, não tiveram que pagar os R$180,00 da passagem. Entre os remanescentes do grupo circulou a informação de que o coordenador está à procura de doações vindas de outras empresas de boa vontade. Entretanto como nada foi perguntado, nada foi explicado sobre o destino dado ao dinheiro arrecadado ao longo de todo esse tempo, apesar da fértil imaginação de muitos. Aliás, o que mais se fala nesse momento é colocar uma pedra sobre o passado e tentar começar uma vida nova, com o grupo passando a ser dirigido por uma comissão de 4 pessoas, sem a presença do coordenador, mas contando com a participação do atual assistente.

Como se vê não é nada muito diferente do que acontece em outros escalões da República. A cultura é muito forte.

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Quem vê o atual Ministro da Fazenda, ex-Planejamento, falando sobre a queda da arrecadação do Governo Federal, ligada aos tributos que incidem sobre a atividade econômica, pode imaginar que ele veio do reino das palavras. No lugar de ir direto ao ponto e mostrar as causas que levaram a esse efeito, ele faz um “lero lero” danado para afirmar que aconteceu uma “frustração de receitas”.

Como esperar algo diferente? Entendo que, mesmo se o acirramento político não estivesse tão elevado, os resultados decorrentes do projeto de poder focado em vencer as eleições presidenciais a qualquer custo não seriam muito diferentes dos que estão sendo colhidos.

Se você ler no site significados.com.br algumas definições de frustração verás que pode ser um sentimento, uma emoção que ocorre quando algo que era esperado não ocorreu ou que surge quando identificamos um erro entre aquilo que planejamos alcançar e o que realmente aconteceu.

A arrogância impede que se admita os erros nas premissas que foram utilizadas, mas o uso de belas palavras não é suficiente para justificar ou mascarar a recessão econômica que também paralisa o país.

Também sobrou para as pessoas a “frustração de receitas”, com a perda do poder aquisitivo diante da alta inflacionária, o desemprego direto de quase 10 milhões de pessoas de acordo com o IBGE e até mesmo as dificuldades que aqueles que permanecem trabalhando têm encontrado para repor suas perdas inflacionárias.

A frustração é mais que real e sobrou mesmo foi para a população pagar a conta. Há um ano, que palavras o ministro tinha para negar o crescimento do desemprego? Agora as pessoas não podem contribuir com mais dinheiro para evitar a frustração do Governo Federal, pois elas estão precisando é de trabalho e renda para sobreviver. Será que as cores de abril nos sinalizarão a chegada ao fundo do poço?

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Barrado na despedida

por Luis Borges 24 de março de 2016   Pensata

Parentes, amigos e familiares de um senhor, morto aos 69 anos, encontraram-se no adro da igreja após a celebração da missa de sétimo dia de sua passagem para outro plano espiritual. A troca de cumprimentos, condolências e informações sobre o ocorrido foi permeada pela distribuição dos santinhos, que se tornarão mais um meio de lembrança do morto enquanto o luto vai se dissipando para dar lugar à saudade. Esse clima não impediu que numa das rodas de conversas alguém perguntasse por qual razão um dos irmãos do falecido não estava presente. Esse mesmo alguém, aliás, não percebeu que outros irmãos também estavam ausentes. Mas o fato é que um primo, de ouvidos atentos e que estava próximo à roda, entrou na conversa se dispondo a explicar as causas.

Segundo o primo, tudo começou quando foi diagnosticada a doença que causou o óbito. O irmão se colocou à disposição da família do morto para colaborar na gestão da empresa do irmão enfermo caso eles sentissem necessidade de um suporte solidário. A oferta foi interpretada pela esposa e filhos como oportunismo, típico de quem tinha interesse de “mamar na teta da vaca”. Chateado por ter sido mal interpretado e sem chance de clarear mais a sua boa intenção, o irmão se manteve à distância enquanto a doença avançava célere.

Foram poucas as possibilidades de visitas, mas o dito irmão ausente comparecia dentro do possível. Quando soube que o fim se aproximava, ele tentou fazer uma visita ao irmão enfermo. Foi à sua residência um dia antes da partida. Seria um gesto de despedida, ainda que o irmão estivesse sedado. Após insistentes chamadas pelo interfone, seu acesso à residência foi autorizado e lá dentro um dos sobrinhos lhe disse que não seria possível sua entrada no quarto do pai, conforme orientação médica fixada na porta, com restrição à visitação (o enfermo já estava em coma), para que ele não ficasse agitado. Ao tentar engatar uma fala reforçando a decisão da família, o sobrinho foi interrompido peremptoriamente pelo tio que disse a ele: “não gostei, e vou te poupar de continuar falando, tentando de forma incoerente justificar a atitude de vocês, pois estou aqui como irmão de seu pai, não sou visita, e tentei exercer o direito de me despedir dele ainda em vida”. Logo em seguida deixou o local.

Assim só lhe restou se despedir do irmão no espaço onde se realizou o velório, no qual permaneceu tempo suficiente para consumar o seu ato. Não havia espaço para mais nada em função das circunstâncias.

Aos poucos as pessoas foram se dispersando na porta da igreja e foi cada um para o seu lado, no prosseguimento do curso da vida de quem ficou por aqui. Quando nada, fica o benefício da dúvida sobre o que poderá acontecer durante o processo do inventário dos bens do irmão morto.

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Muitas são as pessoas que têm me perguntado sobre como estou vendo a atual situação brasileira e em que vai dar isso tudo. Tenho falado e repetido que, quando a história muda, tudo volta à estaca zero em um novo patamar, seja ele melhor ou pior que o anterior.

Viemos de um período recente de crescimento econômico e de uma maior inclusão das camadas sociais nas categorias de consumo. O emprego era quase pleno e o super ciclo das commodities embalava a economia e era considerado como se fosse eterno para quem governava o país. A crise econômica internacional foi desprezada e considerada uma “marolinha”, para só depois ser defendida pelos ocupantes do poder como a principal causa da deterioração da situação.

A fracassada nova matriz econômica, implementada a partir do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, e a sua necessidade de ganhar a qualquer custo as eleições presidenciais de 2014 acentuaram as dificuldades, com o estouro das contas públicas. O acirramento da disputa política entre os partidários de A, B e C contaminou de vez a economia e agrava a cada dia o social. Até a presidente já chegou a admitir a possibilidade de não ter percebido no tempo certo que a situação estava piorando rapidamente ao final de 2014.

O sofrimento das pessoas torna-se maior neste março de 2016, ao perceberem que a quase totalidade dos indicadores que medem a situação do país está em visível piora, rumo ao fundo do poço ainda não atingido. Os mais acompanhados e sentidos diretamente por todos nós são a inflação alta e a queda do poder aquisitivo dela decorrente, o altíssimo desemprego e a recessão econômica.

Como estamos olhando para trás, os números de 2015 foram bem ruins em relação ao ano anterior. E os de 2016 continuarão piorando diante da incapacidade política e da falta de líderes com credibilidade suficiente para propor soluções para uma sociedade tão dividida. Além disso, não dá para deixar de citar a necessária capacidade de gestão.

Ainda vamos continuar passando pelo purgatório, quase que sem sair do lugar, e precisando olhar para frente na expectativa de que os indicadores começarão a “despiorar” a partir de 2017, só que com os parâmetros do novo patamar – o país tendo encolhido algo em torno de 10%.

O automóvel vai ter que ficar mais em casa, as viagens aéreas ou terrestres terão que ser reduzidas, os imóveis prosseguirão com a lucrativa bolha estourada e os banqueiros estarão felizes como sempre. Nas ruas, a insegurança e a sensação de insegurança maiores ainda, mas a conjuntura é de sobrevivência no Brasil real. Infelizmente recuamos pelo menos 10 anos com dois passos atrás e o paraíso perdido no projeto de poder e na corrupção secular inerente à nossa cultura.

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O galo não cantou

por Luis Borges 25 de fevereiro de 2016   Pensata

A insatisfação rondava alguns moradores de um prédio residencial de muitos andares, no centro do bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. O motivo? O galo da casa de um vizinho. É um detalhe interessante, o bairro é um dos maiores de BH, com cerca de 46 mil habitantes de acordo com o IBGE, e ainda conserva muitas casas com quintal e barracões no fundo. Mas, aos poucos, os edifícios começam a predominar na paisagem do bairro e o número de moradores aumenta.

A tal insatisfação começava lá pelas 03h00, quando o galo confirmava os versos da música “Samba do jato”, de Toquinho e Vinícius de Moraes: “um galo cantou, meu sonho acordou…”.

A reação não demorou muito. Intolerantes e incapazes de conversar, dialogar em busca de uma solução equilibrada para a situação, alguns entre os vizinhos optaram pelo pior caminho. Tentaram um galicídeo para silenciar o galo.

Segundo os moradores da região, observando do alto do prédio a vida no galinheiro, alguns desses incomodados moradores perceberam que o galo e as dez galinhas passavam, ao longo do dia, por um portão que dava acesso ao jardim da casa. Logo alguém sugeriu que se jogasse nesse jardim um pouco de milho misturado com veneno em forma de chumbinho, na esperança de eliminar o galo.

Aconteceu que quatro galinhas morreram envenenadas, fato imediatamente percebido por um dos moradores da casa, aliás, dono do galinheiro, que resolveu bloquear a passagem para o jardim. Sem perder tempo, repôs imediatamente o seu plantel com quatro novas galinhas. O galo continuou a cantar até o amanhecer para a alegria de um outro vizinho, que mora em um barracão de fundos e se levanta de madrugada para trabalhar do outro lado da cidade.

Mas na madrugada do sábado de Carnaval o galo não bateu asas e nem cantou às três da manhã, como de costume. O admirador do canto ficou intrigado com a falta do seu despertador. Logo ao sair de casa ficou sabendo da morte do dono do galo e do galinheiro, no início daquela noite. Achou incrível o silêncio da ave, que só voltou a cantar na madrugada seguinte.

Enquanto isso, os vizinhos intolerantes – e que não conversam – não sabiam que o morador que sobrou na casa não gostava de galo, galinhas ou galinheiro. Uma semana após a morte, nada sobrou no quintal da casa. O admirador do galo respirou aliviado ao saber que o destino das aves não foi a panela, mas que o galo branco de pintas pretas foi viver e cantar num sítio do Morro do Chapéu, ao lado de suas galinhas brancas, pretas e marrons.

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Tributos continuam incomodando

por Luis Borges 22 de fevereiro de 2016   Pensata

Persisto extremamente incomodado com o crescimento da carga de tributos que incide sobre os nossos ombros. Escrevi sobre esse tema em 30 de setembro de 2015 e, quase cinco meses depois, as coisas só pioraram, embaladas pelo aumento dos índices inflacionários e pela recessão econômica.

Aqui o incômodo aumenta mais e dói intensamente diante da forma com que tudo é feito. A criatividade para encontrar saídas chega a abusar de nossa inteligência e sempre avança despreocupada com a transparência tão esperada no que seria um jogo aberto e democrático.

O Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação estima que, em 2015, os brasileiros gastaram 41,37% de sua renda com o pagamento de tributos, cobrados sob a forma de impostos, contribuições e taxas. Esse percentual foi formado por 23,28% de receitas vindas do consumo, 15,06% de Imposto de Renda sobre ganhos de capital e salários e 3,03% de taxas.

Novos tributos

A queda na arrecadação das receitas da União, estados e municípios foi muito maior que os seus planejamentos conseguiram perceber. Para compensar, bastou à União se fingir de “mortinha” e não corrigir a tabela do Imposto de Renda Retido na Fonte, dobrar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), voltar a cobrar a CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), aumentar a alíquota do Pis/Pasep sobre combustíveis e alguns bens importados bem como não renovar a isenção de impostos para as remessas de dinheiro ao exterior até o limite de R$20 mil, cuja vigência se encerrou no último dia do ano passado.

No plano dos estados um exemplo de aumento de carga tributária foi dado por Minas Gerais, com o acréscimo de 2% a 10% na alíquota do ICMS que entrou em vigor em 1º de janeiro para diversos bens e serviços, aí incluídos os segmentos de telecomunicações e energia elétrica.

Também é assustador ouvir o Presidente da CEMIG bradar que a empresa tem o direito de reajustar a tarifa de energia elétrica em abril, como se o tarifaço médio de 51% do ano passado já tivesse sido total e facilmente digerido pelos consumidores.

Isso só reforça a minha sensação de que não existe noção sobre a real capacidade que as pessoas têm para arcar com repasses tão automáticos e imediatos em conjuntura tão desfavorável. Até parece que estamos num capitalismo sem riscos, onde cada um simplesmente reserva o seu pedaço. Competitividade, nem pensar.

Enquanto a sociedade não consegue se organizar para enfrentar de maneira mais consistente seus problemas, vou vivendo também de fatos que trazem lampejos de realismo esperançoso, como aconteceu na Inconfidência Mineira em função da cobrança do Quinto do Ouro ou na recente mobilização da população da cidade de Oliveira, também em Minas, que não aceitou o aumento dos salários dos vereadores para a próxima legislatura e ainda os rebaixou de R$3 mil para R$880,00 mensais.

Pode vir mais um…

E, para completar, sou obrigado a registrar os apelos que estão sendo feitos para que o Congresso Nacional aprove a volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira) com a alíquota de 0,38% para dar uma força no caixa da União, estados e municípios. É claro que existe uma grande chance dessa contribuição ser “provinitiva”, ou seja, provisória definitiva.

Nesse ritmo os brasileiros chegarão facilmente à destinação de 42% de sua renda para pagar tributos.

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Conversando sobre aposentadoria

por Luis Borges 24 de janeiro de 2016   Pensata

Quanto mais se avança na idade e se chega em torno dos 50 mais surgem questões ligadas à aposentadoria.

“Quando você vai se aposentar?”

“Você paga previdência privada para complementar o INSS ?”

“Ah, você é concursado. Ainda bem, você tem direito à aposentadoria integral, não é mesmo?”

Essas perguntas são amostras de conversas das quais tenho participado com pessoas da classe média, de idades entre 53 e 68 anos.

Os temores e as dúvidas são muitos, as suposições e simulações quase sempre são mentais e às vezes se verbalizam nas conversas. Poucos falam com clareza sobre o planejamento que fizeram para deixar o trabalho no serviço público ou privado aos 58, 63 ou 68 anos por exemplo. O medo do novo aparece implícito em muitas falas e acaba transparecendo mais no decorrer das conversas.

Algumas dessas pessoas já estão em condições técnicas de se aposentar, mas estão protelando a tomada de decisão enquanto tentam planejar como será a rotina na condição de aposentado. Outros manifestam explicitamente a preocupação com a redução dos proventos do atual salário de, digamos, 12 mil reais, que cairá ao máximo de R$5.189,82, teto atual do INSS. Alguns que estão nessa condição tentam manter a disciplina de formar um fundo próprio para suplementar o que será recebido da Previdência Social.

Existe também 0 caso de um funcionário público que está ansioso para completar 60 anos, o que acontece daqui alguns meses, esperando poder se aposentar antes que ocorra alguma mudança na regra do jogo nesses tempos de queda na arrecadação do setor público. Nesse caso, a prioridade é garantir o direito adquirido. A sequência do cotidiano será ajustada sem a pressão do temor de perdas financeiras significativas.

Também existe o caso de uma pessoa que já se aposentou no poder Judiciário Federal e que fica encorajando outros colegas a fazer o mesmo. Descreve seu ócio atual, cheio de pequenas atividades e de um bom tempo “pirulitando” em redes sociais e também buscando outros conteúdos. Essa pessoa toma cuidado para não se exceder nos exemplos, pois teme passar a sensação de que está totalmente livre. Não quer ouvir o famoso “já que” – “já que você está à toa, podia ir ao banco”…

aposentadoria ócio

Curtir o ócio na varanda de um café é uma opção para você? | Foto: Marina Borges

Por último, completo a amostragem com o caso de um funcionário de uma empresa de economia mista. Ele se sentiu obrigado a se aposentar pelos critérios de um programa de demissão voluntária incentivado. Ainda não completou 59 anos de idade e esperava trabalhar pelo menos mais três antes de se aposentar. Mas, em uma conversa, seu gerente imediato deixou claro que a expectativa da empresa era pela sua aposentadoria. Só lhe restou assinar a solicitação formalizando a decisão para vigorar após o carnaval. Decisão tomada, ele começou a planejar o futuro, projetando trabalhar numa semana “zipada”, de terça a quinta-feira, sem vínculos empregatícios. O final de semana será de sexta a segunda-feira.

Se cada caso é um caso, um certo friozinho na barriga acaba acontecendo, ainda que nem sempre seja admitido. De qualquer maneira, a questão da aposentadoria se impõe num determinado instante do curso da vida, ainda que não se possa controlar todas as condições. A cantilena da reforma da Previdência Social continua aparecendo na pauta, como se fosse um grande passo para a salvação de todos os desajustes das contas públicas. Mas se e quando se viabilizar tem grandes chances de trazer algo pior do que já temos hoje.

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Tributo ao Grupo Escolar Pio XII

por Luis Borges 18 de dezembro de 2015   Pensata

As celebrações dos 150 anos de emancipação política de Araxá reforçam em mim a honra e a glória de ter nascido na cidade, que considero eterna e capital secreta do mundo. Esse sentimento é sempre explicitado nos mais diversos ambientes pelos quais transito, tanto em atividades pessoais quanto profissionais. Contribuo sempre para que cada vez mais e mais pessoas saibam que Araxá significa “lugar alto de onde primeiro se avista o Sol” e que vale a pena conhecer, frequentar ou nela residir.

Sinto que as emoções do momento nos embalam e nos dão forças para continuar construindo e crescendo de maneira realista e esperançosa, apesar de todos os problemas, do país e da cidade, que precisam ser superados.

Considero que não existe substituto para o conhecimento e é dele que sempre virão soluções para as incertezas que nos desafiam. Por isso, aproveito a importante data de 19 de dezembro de 2015 para prestar um tributo ao Grupo Escolar Pio XII.

Fachada atual do Grupo Escolar Pio XII, em Araxá | Foto: Firmo Magela

Fachada atual da Escola Estadual Pio XII, em Araxá | Foto: Firmo Magela

Foi em uma inesquecível segunda-feira, 5 de fevereiro de 1962, que comecei ali meus estudos no primeiro ano do curso primário aos 7 anos de idade. Lembro-me como se fosse hoje de minha chegada junto com meu pai à sede do grupo, na Rua Dom José Gaspar, quase em frente à Fábrica de Doce de Leite Estância e ao lado do Mercadinho do Belchior.

Em setembro de 1965, ano do centenário de Araxá, o grupo foi transferido para sua sede própria, feita de latão, na Rua Calimério Guimarães, onde plantei a minha primeira árvore no pátio que ficava bem próximo à divisa com a rua.

Finalmente, em agosto de 1981, o grupo mudou-se para a sua atual sede, à Avenida Joaquim Porfírio Botelho, 240, no Bairro Santo Antônio, onde o conforto térmico é bem melhor. Seu nome atual é Escola Estatual Pio XII. Hoje estudam ali 375 alunos, dos quais 75 em tempo integral.

Escola Estadual Pio XII. | Foto: Firmo Magela

Escola Estadual Pio XII. | Foto: acervo da Escola

Reconheço e homenageio agradecido as professoras que me proporcionaram toda a base no então curso primário, alicerce firme para os demais caminhos que percorri e ainda percorro no mundo do conhecimento. Quero dar um destaque especial à professora Áurea Leda de Carvalho e Silva, diretora desde a fundação da escola, em maio de 1960, até 1988, quando se aposentou. Seguem-na as também sempre lembradas professoras Hercília da Conceição Cardoso, Magda Helena de Ávila, Irene Ferreira de Assis, Cleide Benencase, Laís França de Castro e Marta Mascarenhas Torres. Também permanecem em minha memória os dedicados serviços prestados pelas auxiliares Rita de Paula, Manoela e Ana, com as deliciosas sopas da merenda escolar.

Hoje meu querido Grupo Escolar Pio XII prossegue firme na sua missão de ensinar e dar a base do conhecimento para que seus alunos cresçam com sustentabilidade no mundo do saber. Homenageio a atual equipe através da diretora Vicentina Aparecida Ribeiro Borges e da secretária Maria Aparecida Dutra Vaz.

Encerro o tributo mostrando fotografias de Dona Áurea, primeira diretora, e de Vicentina Borges, a atual diretora.

D. Áurea Leda e Vicentina Borges. | Fotos do acervo da Escola, gentilmente cedidas ao blog.

D. Áurea Leda e Vicentina Borges. | Fotos do acervo da Escola, gentilmente cedidas ao blog.

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Problemas crônicos de Santa Tereza

por Luis Borges 9 de dezembro de 2015   Pensata

Um dos mais antigos e tradicionais bairros de Belo Horizonte, Santa Tereza tem cerca de 16 mil habitantes, segundo o IBGE.

Feira na Praça Duque de Caxias em dezembro de 2014. / Foto: Marina Borges

Feira na Praça Duque de Caxias em dezembro de 2014. / Foto: Marina Borges

Como todo bairro da cidade, também enfrenta problemas. Alguns se tornaram problemas crônicos, já que não foram combatidos assim que surgiram.

Acredito que identificar um problema é metade da sua solução. Por isso, sistematicamente mostramos situações vividas no bairro e na cidade aqui no Observação e Análise. Chegado dezembro, mês de balanços, temos uma boa oportunidade para relembrar situações existentes no bairro. Os problemas elencados aqui não têm ordem de prioridade para ser resolvidos, e foram levantados por mim e também por diversos moradores com quem convivo.

Trânsito

Rua Mármore, via de entrada no bairro. Logo no início, no cruzamento com a Rua Gabro, já temos um gargalo, principalmente nos horários de pico – são muitos veículos querendo entrar no bairro, sair do bairro, pegar outras ruas. Em dia de jogo no Estádio Independência fica quase impossível passar ali, à pé ou de carro. O pedestre que quiser atravessar com segurança, independente da idade, vai precisar de muita paciência. Falta ali uma solução que priorize a segurança de todos, pedestres, ciclistas, motoristas. Seria o caso de usar o padrão que a BHTrans vem aplicando no Centro da cidade?

O tráfego no bairro parece cada vez mais intenso do ponto de vista de quem mora nele. A falta de educação no trânsito, aliada à ausência de fiscalização, contribui para complicar ainda mais as coisas. Um caso foi mostrado neste post, quando uma pessoa desrespeitou as regras de estacionamento perto de esquinas e atrapalhou a vida de todos que circulavam no local. Vale dizer que esse comportamento, infelizmente, não é um caso isolado.

Outro problema comum é a circulação de veículos em velocidade superior à permitida nas ruas do bairro. Também estamos vendo cones reservando vagas para lavação de carro e para estacionamento em frente a estabelecimentos comerciais, o que não é permitido.

Por fim, é preciso lembrar os grandes eventos culturais, como Carnaval de Rua e shows na Praça Duque de Caxias. Os moradores sofrem com veículos parados em portas de garagens e também com os mal-educados que ignoram os banheiros químicos.

Sujeira e abandono

Há pontos no bairro que são conhecidos como locais de sujeira e abandono. É o caso do “cemitério” de veículos nas ruas Tenente Durval e Tenente Vitorino, que já foi mostrado aqui no início deste ano. Como se vê na foto abaixo, da Rua Tenente Durval, há veículos que continuam por lá. Segundo moradores, alguns há mais de 3 anos.

Foto: Sérgio Verteiro

Foto: Sérgio Verteiro

Na Rua Nefelina há um lixão, sempre recebendo todo tipo de contribuição e gerando insegurança para moradores e visitantes.

Foto: Sérgio Verteiro

Foto: Sérgio Verteiro

Barulho excessivo

Também é preciso lembrar de algumas composições ferroviárias, mais longas e barulhentas, rasgam a madrugada dos moradores que estão mais próximos da linha do trem. Vale mencionar também que algumas caixas de som, em volume muito alto, ficam ligadas até altas horas, com som que se propaga ao longe, principalmente de quinta a sábado.

O que fazer?

Se identificar o problema é metade da solução, a segunda metade depende de ação. Resolver estes e outros problemas crônicos do bairro depende da ação e cooperação de todos os envolvidos, para que os problemas possam desaparecer em um determinado horizonte de tempo.

Sabedor de que essas situações não são exclusivas de Santa Tereza – pelo contrário, estão presentes em muitos outros bairros da cidade – reafirmo a minha certeza de que só nos resta encarar e lutar pela sua solução. Mesmo sabendo que os esforços serão desiguais, mas que poderão ser combinados conforme o pique e a vontade de cada um. O que não dá é para negar, ignorar ou dar desculpas diante da realidade em que estamos inseridos e vivemos.

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