Sempre que somos surpreendidos por algo inesperado tendemos à paralisia, ao medo. O que nos resta é reagir em busca de soluções adequadas, consistentes para o problema. É o caso da peleja com o ensino a distância na tentativa de suprir a suspensão das atividades presenciais do ensino nos ambientes de uma escola.

Tenho conversado com alguns poucos professores de cursos de graduação e pós-graduação sobre dificuldades e restrições que estão enfrentando na modalidade online do ensino a distância. As referências são tanto para as aulas síncronas, que acontecem ao vivo com a possibilidade de interação entre professor e aluno, quanto para as aulas assíncronas, já gravadas e que podem ser assistidas a qualquer momento.

Como o país tem muita dificuldade para trabalhar com o planejamento estratégico em curto, médio e longo prazo tenho lembrado a todos que o Ministério da Educação propôs o Ensino a Distância – EAD em 1996, com parâmetros definidos pela Lei Federal  nº 9.394/96 . Efetivamente tudo começou a ganhar ritmo em 1999, notadamente no ensino superior, em cursos de maior carga teórica.

Meu ponto aqui se refere às aulas síncronas para evidenciar algumas afirmações quase que unânimes e outras bem específicas que também despertam nossa atenção. Todavia deixo claro que minha amostra é pequena e, por isso mesmo, não posso generalizar conclusões, mas apenas registrá-las. Todos notam a falta que faz a interação face a face permitida pela aula presencial. Agora é mais difícil reorientar uma aula, já que muitos alunos não ligam suas câmeras. Todos também se lembram da concorrência permanente dos dispositivos tecnológicos, sempre ao alcance dos participantes, o que só aumenta a dispersão. Portanto faltam foco e autodisciplina.

A preparação das aulas ao longo desse tempo todo da pandemia também é objeto de muita reclamação. Todos dizem que estão trabalhando muito e não são remunerados devidamente para esse trabalho adicional. É diferente o esforço para dar uma aula presencial com duração de 2 horas e outra com o mesmo tempo no digital. Outros reclamam que estão investindo do próprio bolso para ter tecnologia e espaço físico adequados a um nível de qualidade aceitável. Lembram que, não raro, a conexão cai e é aquela agonia até que tudo se restabeleça. Um professor falou de alunos que deixam o dispositivo tecnológico ligado na aula, mas com a câmera desligada, e vão fazer outras coisas. O padrão de sua escola exige que o professor seja o último a sair do ar, mas às vezes ele se vê obrigado a encerrar as atividades mesmo sem a retomada dos distraídos dubladores de presença. Outro professor disse que, em sua escola, é preciso chamar um aluno pelo nome aleatoriamente a cada 10 minutos fazendo perguntas para assim confirmar sua presença e movimentar a aula.

Para finalizar, registro a fala de um professor que descobriu que precisava ser ator diante das câmeras e ensaiar mais suas apresentações, pois de vez em quando perde o “fio da meada” em seu palco vazio, sem plateia.

Aguardemos as aulas presenciais quando for o momento.

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Vale a leitura

por Luis Borges 11 de abril de 2021   Vale a leitura

Mercado precisa de analistas de dados 

Faz tempo que o “achismo” entrou em declínio e não se sustenta mais, ainda que muitos insistam em praticá-lo. A gestão dos negócios passa obrigatoriamente pela observação sistemática dos fatos e dados, que geram informações que podem se transformar em conhecimento para ajudar na tomada de decisões de quem precisa decidir. Para fazer esse trabalho altamente qualificado e inteligente estrategicamente o mercado esta em busca dos analistas de dados. No momento, a procura é bem maior que a oferta. Leia a abordagem de Alessandra Montini no artigo “Tem um profissional que as empresas querem muito, mas não acham. É você?” publicado no canal Tilt do portal UOL.

 “Estamos lidando com uma situação inédita do mercado: nunca houve tantos dados e informações disponíveis, dos quais precisamos interpretar, entender, destrinchar, dominar e ter controle. Tudo isso faz parte do dia a dia de qualquer empresa que busca se destacar. No entanto, em meio ao volume de dados que as companhias têm nas mãos, os executivos estão saindo à caça de profissionais que saibam entender as potencialidades dos dados disponíveis. O que eles não esperavam é que, mesmo com a constante procura, não há talentos para ocupar os cargos que estão em aberto.”

Vegetariano e/ou Vegano 

Uma pesquisa feita pelo Ibope em 2018 mostrou que cerca de 30 milhões de brasileiros se consideravam vegetarianos. Quais são as características de quem é um vegetariano, no sentido amplo ou estrito? E de um vegano? Leia a abordagem de Giacomo Vicenzo em seu artigo “Qual é a diferença entre vegetarianismo e veganismo?”publicado no canal ecoa do portal UOL.

“O vegetarianismo prevê uma dieta sem carne, seja ela bovina, de frango, peixe ou outro animal. Ovo, leite e derivados podem ser consumidos. Existe também o vegetarianismo estrito, isto é, nada de origem animal vai para o prato.

Já no veganismo não se come nada de origem animal, como no vegetarianismo estrito, e também não se compra nenhum produto que tenha origem animal ou que tenha sido testado em animais – a ideia é não financiar o sofrimento animal de qualquer tipo.”

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Sentiu chegar o seu momento

por Luis Borges 7 de abril de 2021   Pensata

Sabe aquelas ocasiões em que você liga para um antigo colega de trabalho com quem as relações eram marcadas pela empatia e um bom grau de afinidade nas ideias? Recentemente lembrei-me de um que era meu colega no magistério de uma instituição federal de ensino superior. Resolvi cumprimentá-lo pela passagem de seu aniversário de nascimento. Ele ficou um pouco surpreso, mas agradecido pela lembrança. Afinal de contas nosso último contato aconteceu há pouco mais de 3 anos. Logo a conversa já se encaminhou para várias dimensões da pandemia da Covid-19 e como ela tem sido enfrentada no plano individual e coletivo, nem sempre a partir do conhecimento científico.

De repente falei sobre a dificuldade para se conseguir uma vaga numa Unidade de Terapia Intensiva de um hospital público ou privado, tanto pelo SUS quanto por um plano de saúde suplementar ou mesmo com pagamento particular. Foi aí que meu colega pediu um tempo para contar o perrengue que passou em meados de 2018, portanto um pouco depois de nossa última conversa.

Segundo sua narrativa ele ficou surpreendido por um diagnóstico que indicou uma certa urgência para a realização de uma cirurgia de grande porte em seu aparelho digestivo e que deveria passar alguns dias na UTI para sua maior segurança. Feitos todos os preparativos para a cirurgia, ele se internou num hospital de alta complexidade conveniado de seu plano de saúde em vigor desde o tempo em que estava na ativa. À medida em que foi chegando a hora de ir para o bloco cirúrgico ele disse que também sentiu chegar seu momento, que poderia ser o da partida para outro plano espiritual. Às vezes tentava contrapor a isso com a esperança matemática de que o problema poderia ser resolvido e a vida teria sua continuidade. Logo ele, que era professor de estatística e probabilidade, ou seja, uma parte da matemática. Acabou por pensar na finitude da vida, no quanto deixou de levar isso em consideração, inclusive varrendo para debaixo do tapete qualquer conversa sobre a morte. Nos preparativos para o início da cirurgia listou mentalmente coisas que ainda gostaria de fazer, mas nem terminou, pois o anestesista entrou em ação. Despertou horas mais tarde e percebeu que a vida continuava. Agradeceu pela nova oportunidade de prosseguir vivo diante da gravidade de seu caso.

Como para saber falar é preciso saber ouvir, continuei ouvindo o colega sem me preocupar com o tempo. Então, foi a vez do colega narrar o período passado na UTI. Ele disse que ficou pensando muito em si mesmo, em como valorizar mais o tempo de vida que poderia ter pela frente. Em outros momentos pensava bastante na esposa, nos 3 filhos, nas 2 netas e nos boletos a pagar. De vez em quando se assustava com a grande movimentação no ambiente, principalmente nos curtos horários de visitas. A UTI estava com as 10 vagas daquele bloco ocupadas.

Enfim tudo se passou, inclusive o luto pelas perdas significativas que teve no aparelho digestivo. Ele segue firme, vivendo com as condições funcionais que passou a ter. Na sequência da conversa sugeri ao colega que imaginasse como teria sido o seu perrengue se isso tivesse acontecido no atual momento da pandemia.

Por último ficamos de tentar tornar nossas conversas mais frequentes. Será que conseguiremos?

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Como vai você na pandemia?

por Luis Borges 29 de março de 2021   Pensata

Chegamos ao 2º outono da pandemia da Covid-19 no Brasil – e quiçá um terceiro pode estar se avizinhando. Os números e seus recordes mostram as perdas para todos em variadas dimensões e intensidades, indo dos que perderam a vida (mais de 312 mil), aos enlutados na dor pela perda dos que partiram, aos sobreviventes sequelados até o sistema de saúde colapsado. Fica também visível como a Gestão Estratégica e Operacional faz falta e é extremamente necessária – principalmente para um país que sente há anos os efeitos do pífio desempenho da economia. Pena que o horizonte segue perdido no modo realista.

Partindo da premissa de que tudo começa com a gente e que precisamos estar bem para que possamos cooperar com as outras pessoas, a começar pelas que estão próximas, podemos até fazer uma analogia com a orientação dada no início de uma viagem de avião para que, em caso de despressurização da cabine, coloque primeiro a sua máscara para só depois ajudar outras pessoas. Meu ponto aqui é refletir e dar consequência ao aprendizado que pode advir dos “telecontatos” que eu, você e nós provavelmente estejamos protagonizando nesses momentos de tantas incertezas e desafios à continuidade da vida.

A pergunta padrão que tenho ouvido no início das conversas é “Como vai você na pandemia?”. Na maioria das ocasiões respondo que estou indo bem dentro do possível, observando e praticando com muita disciplina todas as determinações dos padrões sanitários vigentes. Realço que é preciso muita resiliência e que tento ser semelhante ao bambu que “enverga, mas não quebra”. Só não sei até quando. Algumas vezes respondo com a lembrança da música Sinal Fechado (1970), de Paulinho da Viola, dizendo ou cantarolando:

“Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro, e você? Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranquilo, quem sabe quanto tempo, pois é. Quanto tempo?”.

Mas indo como, diante de tantas ameaças? É possível ter um sono tranquilo hoje, às vezes me pergunta alguém. Na verdade tenho buscado viver um dia de cada vez essencialmente em casa, mantendo uma observação e análise críticas em relação às informações e conhecimentos que surgem em diferentes meios. O que vem pela frente é um aspecto sempre levantado. Tenho dito que minha expectativa maior é pelo aumento rápido da velocidade da vacinação, para que as pessoas tenham um comportamento adequado ao momento e que os dirigentes do país em todos os níveis cumpram as suas obrigações lastreadas na verdade.

Quanto pior, pior mesmo!

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Vale a leitura

por Luis Borges 26 de março de 2021   Vale a leitura

A carestia, a fome e o desperdício de alimentos 

As perdas na cadeia produtiva de alimentos podem e devem ser medidas. Desde a plantação da lavoura, colheita e transporte para os centros distribuidores até chegar às nossas residências e também aos restaurantes. Os desperdícios em nossas residências são muito maiores do que podemos imaginar, às vezes sequer são percebidos ou mesmo quantificados. Enquanto isso, crescem a carestia e a fome, que contrastam com o enorme desperdício. Leia a interessante abordagem em torno do tema feita por Mara Gama em seu artigo “Só revolução no consumo pode frear desperdício de comida no mundo” publicado no blog Ecoa do portal UOL.

 “… um dos dados mais importantes do documento “Índice de Desperdício de Alimentos 2021” é que o desperdício doméstico é o maior. O peso é o de 23 milhões de caminhões de 40 toneladas. Quase 570 milhões de toneladas do total jogado fora provém dessa fonte, ou 61%. O restante fica para as perdas em serviços de alimentação (26%) e varejo (13%). Dá para dizer que da produção total do planeta, 11% é desperdiçado após a compra do alimento.”

Construindo a aposentadoria que vai chegar um dia

A última reforma da Previdência Social jogou mais pra frente a hora de se aposentar e piorou muitas das regras anteriormente vigentes. Por isso mesmo – e apesar de todos os pesares da caminhada – é preciso pensar em algo além do dinheiro que virá do INSS. Mas como fazer isso diante das preocupações que você tem com o ciclo idoso da vida, que se aproxima a cada dia que passa, inexorável?

Leia a abordagem de Marcia Dessen no artigo “De quanto dinheiro você precisa para viver, do jeito que quiser viver, até o fim da vida?” publicado no portal Folha de São Paulo.

“Se forem prudentes, vão se dar conta de que é preciso planejar o futuro, estimar a quantidade de recursos necessária, nem muito, que sacrifique o presente, nem pouco, que comprometa a qualidade de vida no futuro, mas o suficiente, para viver a vida que desejam.

Planejar a vida, depois as finanças, permitirá conhecer em tempo, ainda na fase dos 30, 40 anos, que capital deve ser acumulado para garantir um futuro confortável.”

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Celina Oliveira, 23 anos, estudante do 3º ano de medicina, mudou-se da casa de sua avó materna após 14 anos de permanência. Celina chegou lá aos 9 anos de idade juntamente com sua mãe, a administradora de empresas Juliana Souza, em função dos desdobramentos da morte traumática de seu pai, o engenheiro mecânico do setor automobilístico Telmo Oliveira, então com 40 anos de idade. A causa de sua morte foi o infarto agudo do miocárdio. Na época, ele enfrentava uma acentuada dependência do álcool e do tabaco industrializado.

A avó materna, Dona Marli Souza, à época com 70 anos de idade, ficou muito comovida com o estado emocional da filha – então com 36 anos – e também da neta. Diante disso propôs que ela retornasse para a casa dos pais com a filha. Ainda mais que lá só moravam, na época, Dona Marli e o marido Olavo Souza, que acabou vindo a óbito 2 anos depois.

Então foram acertados os parâmetros para a nova configuração da casa, inclusive os gastos financeiros. Dessas conversas participaram também os dois irmãos e uma irmã de Juliana, todos mais velhos que ela e que sempre visitam a casa, principalmente nos finais de semana.

Aos poucos as perdas foram sendo elaboradas e as coisas chegando ao seu desejável lugar. Juliana dando continuidade à sua trajetória profissional e afastando sempre qualquer possibilidade de encontrar um novo companheiro. Celina passou pela adolescência cursando o ensino fundamental e o médio com excelente aproveitamento, mas também mostrando uma forte personalidade para exigir que tudo fosse feito conforme a sua vontade. Caso contrário, as brigas com a mãe e a avó seriam certas.

Por outro lado, o tempo também passou para a avó Marli, que foi ficando mais lenta e com a memória mais fraca mas se mantendo à frente de todos os afazeres da casa como sempre fez.

Um ponto de inflexão marcante se deu quando Celina ingressou numa Faculdade de Medicina, dessas que exigem investimentos anuais de 12 parcelas mensais entorno de R$10 mil, fora livros, transporte, alimentação… Ela, que já “se achava”, passou a “se achar” ainda mais, e começou a cobrar insistentemente de sua mãe que se mudassem para um apartamento mais apresentável do que a casa de sua avó. Ela queria ter um ambiente que considerasse mais adequado para convidar amigos e colegas de faculdade para se encontrarem.

Após dois anos de muitas pressões e discussões, Juliana cedeu às exigências da filha Celina e se mudaram no início deste ano para o sonhado apartamento. Porém, no pior momento da pandemia da Covid-19. A avó Marli foi convidada para morar com elas mas recusou-se peremptoriamente. Reafirmou o desejo de ficar em sua casinha até o dia em que seus olhos se fecharem.

Agora, os filhos tentam convencê-la a aceitar a presença de cuidadoras de idosos para acompanhá-la durante as noites e de uma empregada doméstica para ajudá-la nos serviços da casa durante o dia.

E a vida segue nas duas casas, no pior momento da pandemia.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 18 de março de 2021   Curtas e curtinhas

Greve em maturação

Apesar do fracasso da greve geral marcada para 1 de fevereiro, os caminhoneiros continuam manifestando insatisfação com a tabela de fretes, os constantes aumentos do preço do óleo diesel e seguem pressionando o Governo Federal em paralisações específicas em estados como São Paulo e Minas Gerais. Enquanto isso o dólar passa dos R$ 5,80 e a OPEP (Organização Dos Países Exportadores de Petróleo) resolveu não aumentar a produção em abril, o que ajuda a manter o barril de petróleo em torno de U$68. Assim a Petrobras aumentou novamente os preços dos combustíveis nessa semana conforme sua política de preços alinhada com o mercado internacional. Agora o Governo Federal está propondo a ampliação do programa do Microempreendedor Individual (MEI) para inclusão de caminhoneiros autônomos. O faturamento máximo anual passaria para R$300 mil ao invés dos atuais R$81 mil. Também está sendo proposta a criação do Documento de Transporte Eletrônico para unificar diversos documentos exigidos dos caminhoneiros e assim reduzir a burocracia. Vamos ver quando o Congresso Nacional conseguirá discutir e aprovar essa proposta e se isso impedirá uma futura greve geral. 

Empréstimo compulsório

O jurista Modesto Carvalhosa sugeriu, em artigo publicado no Estadão, que uma das fontes para o financiamento do auxílio emergencial venha de um empréstimo compulsório de 20% da remuneração (salários e penduricalhos) dos funcionários públicos ativos e inativos da União durante 12 meses. Ele incidiria sobre as remunerações a partir de R$ 10 mil. Esse empréstimo compulsório seria ressarcido aos servidores a partir de 2027, durante 5 anos, devidamente corrigido pela Selic. Será que essa proposta tem alguma chance de ser aprovada ou é apenas mais um exercício tentando formular como fazer dinheiro nesses tempos tão bicudos?

Crescimento necessário da economia

O IBGE divulgou que o PIB do Brasil ficou negativo em 4,1% no ano passado. Com esse índice, consolida-se mais uma década perdida, na qual o crescimento médio anual da economia foi de apenas 0,3% segundo a Fundação Getúlio Vargas. A década perdida anteriormente aconteceu nos anos 80 do século passado, quando o PIB teve um crescimento médio anual de 1,6% segundo a mesma Fundação.

O país precisa de um crescimento da economia em torno de 4% ao ano para que a população seja atendida em suas necessidades de trabalho e renda. O desafio é enorme e exige muita competência de quem for liderar esse processo. Enquanto isso, o Boletim Focus do Banco Central dessa semana projeta o crescimento do PIB para esse ano em 3,23% e de 2,39% no ano eleitoral de 2022. A conferir.

 

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Aluga-se imóvel sem fiador

por Luis Borges 15 de março de 2021   Pensata

Espero que você esteja percebendo em suas caminhadas pela cidade de Belo Horizonte a grande quantidade de placas com os dizeres “Aluga-se” ou “vende-se” em imóveis diversos. Após um ano de pandemia o mercado imobiliário também busca se reposicionar estrategicamente dentro da lei da oferta e da procura nesse momento tão ruim da economia brasileira.

Quem já precisou de alugar um imóvel residencial – casa, apartamento, barracão – ou comercial – sala, loja, galpão – sabe bem das exigências que um locatário/inquilino deve atender. É por isso que chama a atenção dos mais atentos um anúncio de aluguel colocado na frente de uma loja numa das ruas mais movimentadas do bairro Santa Efigênia, na zona leste de Belo Horizonte. A descrição do imóvel mostra que trata-se de uma loja de 50m² com mezanino de 30m², uma vaga em frente à entrada para estacionamento de veículo, aluguel mensal de R$2.500,00 acrescido do IPTU de R$120,00. O proprietário solicita um locatário com renda mensal de R$8.000,00 e não é preciso fiador/avalista. Mas o que fica para ser dito por último pela imobiliária é que existe a necessidade de se fazer um Seguro Fiança que pode variar de 9% a 16% do valor do aluguel, o que depende de qual seguradora vai aprovar o cadastro do potencial locatário. Só ai fica claro que não é preciso fiador porque ele foi substituído por outra modalidade de garantia para o locador que, no caso, é o Seguro Fiança.

Será que essa loja vai ser alugada rapidamente após esse ano de pandemia que hoje esta em seu pior momento? Aliás, estima-se que cerca de 20% dos imóveis comerciais estão fechados em Belo Horizonte à espera de um novo inquilino, mesmo com os preços dos aluguéis semelhantes aos de um ano atrás ou até bem menores. Vale lembrar que muitos locatários conseguiram descontos de até 50% no valor de seus aluguéis por um determinado período no início da pandemia através de negociações bem como a troca do índice usado para reajustar os valores dos contratos renovados com o uso do IPCA no lugar do IGPM, que aliás, chegou a 28,95% em fevereiro desse ano.

Como deve estar sendo o posicionamento de muitas das pessoas que investiram na aquisição de imóveis para serem alugados na expectativa de que gerariam um complemento financeiro para os proventos da aposentadoria? Imaginemos o que é ter, de repente, um imóvel desocupado pois o inquilino não consegue mais pagar o preço contratual enquanto o proprietário não renegocia nada, na certeza de que não pode fazer nenhuma concessão para não prejudicar seu próprio orçamento. O inquilino devolve o imóvel e o proprietário, além de ficar sem o dinheiro do aluguel – mesmo pagando 15 % de imposto de renda e 10% de taxa de administração da imobiliária – ainda tem de arcar com o IPTU e o condomínio no caso de um edifício, por exemplo.

Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, mas reflita um pouco sobre o que você faria se estivesse numa situação como a descrita aqui.

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Na janela da dispersão

por Luis Borges 8 de março de 2021   Pensata

Frequentemente ouço pessoas dizendo que estão muito cansadas e que já não aguentam mais tantas coisas que precisam fazer ou deveriam ser feitas no dia, na semana ou no mês. Muitas dessas pessoas ainda emendam as falas abordando a complexidade exponencial das várias variáveis que desafiam a arte de viver nesses velozes tempos de mudanças e incertezas que estamos atravessando. É livre a queda de paradigmas que exigem um rápido e consistente reposicionamento estratégico. Mas como fazer isso é o grande desafio que temos. Falar o que fazer aparentemente é mais fácil. Imaginemos uma espécie de engenharia – criação – simultânea diante de tantas possibilidades e restrições presentes na conjuntura vivida e nos cenários que podemos tentar desenhar em meio a tantas incertezas. Enquanto isso a inteligência estratégica ainda fustiga aqueles que ficam na dúvida entre ter razão ou ter sucesso.

Tenho perguntado a essas mesmas pessoas quais são as causas presentes no plano macro que estão tirando a sua energia e aumentando o seu cansaço. As respostas mais citadas passam pelas preocupações com a economia que não se recupera, o desemprego aberto, a pandemia que se agrava, a volta da carestia e da inflação. Todas são variáveis externas que as pessoas não controlam, mas podem acompanhar.

Por outro lado podemos também tentar melhor observar e analisar o nível micro do cotidiano de nossas vidas para melhor conhecer e compreender os processos dos quais fazemos parte e temos autoridade para atuar neles.  Será que as pessoas que estão reclamando muito, cada vez mais queixosas, estão percebendo as causas fundamentais e secundárias dos resultados que estão colhendo, das entregas que não estão fazendo? Afinal de contas, qual é o seu negócio? Você tem foco em que? O que é preciso fazer para combater a dispersão? Por exemplo, buscar as informações e os conhecimentos necessários para a tomada de decisões no tempo adequado. Estamos necessitando muito mais de buscar um foco para o que estamos fazendo e precisamos fazer, até mesmo pela sobrevivência e isto depende também de nós. Não dá só para terceirizar a nossa parte.

Muitas das mesmas pessoas que estão cansadas justificam o estado em que se encontram alegando que é fundamental permanecer na janela das conexões para descobrir oportunidades e buscar o seu melhor aproveitamento. Tudo bem, mas em qual dosagem? Qual é o ponto de equilíbrio? Reflita um pouco sobre o seu comportamento diante de tudo que está à sua disposição, a começar pelos inúmeros grupos de WhatsApp dos quais você participa, por exemplo. Qual é o nível de agregação de valor trazido ou qual é o valor retirado? Infelizmente, queiramos ou não, precisamos estar atentos para não ficarmos estagnados na janela da dispersão em nome da conectividade apenas e tendo a vida mediada pelo celular na palma da mão.

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Gente humilde

por Luis Borges 1 de março de 2021   Música na conjuntura

O Dia Mundial da Justiça Social ocorreu em 20 de fevereiro e lembra importância de relações mais justas entre o indivíduo e a sociedade. Ainda estamos longe desses ideais de justiça em prol da paz social, principalmente quando constatamos que, segundo o IBGE, os 10% mais ricos ficaram com 43% da renda nacional em 2019. Enquanto conseguirmos manter a capacidade de nos indignarmos diante de tantas desigualdades haverá a esperança de dias melhores numa sociedade bem mais justa. Mas como é duro ver a realidade e não agir por impotência ou autismo social, tanta gente em situação de rua ou nos aglomerados das cidades grandes, médias ou mesmo pequenas. Tudo se agrava mais com a carestia, a fome, o contínuo avanço da pandemia…

Nesse sentido revisitei a música Gente Humilde, composta por Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, em 1945, que foi complementada por Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Hollanda no final da década de 60 do século passado. Ela fez sucesso em 1970 ao ser lançada inicialmente pela cantora Ângela Maria em seu disco – LP – Ângela Maria de Todos os Temas, e em seguida pelo cantor Chico Buarque no disco Chico Buarque de Hollanda, vol. 4 . 

Naquele ano o Brasil tinha 95,5 milhões de habitantes e 3,3 milhões de desempregados. Hoje, pouco mais de 50 anos depois, a população é estimada em 212 milhões de habitantes, os desempregados se aproximam de 14 milhões e os desalentados chegam a 5,5 milhões. Enquanto isso, 60 milhões de pessoas aguardam um novo auxílio emergencial “permanente”, a bolsa capital.

Vale a pena conhecer ou ouvir de novo Gente Humilde nesse início de março de 2021.

Gente Humilde
Fonte: Letras.mus.br

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem, de algum lugar
Aí me dá uma inveja dessa gente
Que vai em frente, sem nem ter com quem contar

São casas simples, com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda, flores tristes e baldias
Como a alegria de não ter onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar.
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