Tiradentes
A Inconfidência ou Conjuração Mineira foi um movimento que buscava a independência da Capitania de Minas Gerais, que se tornaria uma república livre da exploração dos colonizadores portugueses. A gota d’água para o avanço do movimento foi a fúria arrecadadora da Coroa Portuguesa, que não se conformava com a exaustão das minas de ouro e atribuía à sonegação e ao contrabando o declínio do recebimento de seus impostos. Na base do Decreto, passou a exigir 100 arrobas de ouro por ano, independente do nível de produção, e determinou que as pessoas se virassem para atingir o que era exigido. Essa foi a maneira encontrada para se fazer o ajuste fiscal da época.
Mas os inconfidentes não contavam com a traição do companheiro Joaquim Silvério dos Reis, que foi premiado com a anistia de impostos que devia em função da delação que fez dos companheiros do movimento. E assim, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi condenado à morte e executado em 21 de abril de 1789, no Rio de Janeiro, e seu corpo esquartejado foi levado para ser exposto na hoje cidade de Ouro Preto. Embora haja divergências entre historiadores sobre o tamanho da importância de Tiradentes nas lutas do povo brasileiro o fato é que ele é considerado um herói e o dia 21 de abril é um feriado nacional.
A maior comenda concedida pelo governo de Minas Gerais é a Medalha da Inconfidência, que é entregue todos os anos nessa data às pessoas agraciadas desde a sua criação em 1952 pelo então Governador Juscelino Kubitschek. Na cerimônia de hoje uma coroa de flores será depositada no monumento ao mártir da Inconfidência e haverá discursos do Presidente do Supremo Tribunal Federal, orador oficial do evento, do Prefeito de Ouro Preto e do Governador do Estado. A conjuntura marcada pela insatisfação de boa parte da população com os atuais rumos do país é marcada pela promessa de manifestações, como a do grupo “Vem pra janela”, que promete panelaço no local.
Que tal uma reflexão, ainda que sem dor, sobre o tamanho da aprendizagem do povo brasileiro nesses 226 anos que nos separam daquele 21 de abril de 1789? Para embalar essa reflexão pode ser lido o livro Romanceiro da Inconfidência, obra prima de Cecília Meireles, lançado em 1953. A seguir, uma pequena amostra desse livro nos versos do Romance da Denúncia de Joaquim Silvério, grande traidor da Conjuração.
ROMANCE DA DENÚNCIA DE JOAQUIM SILVÉRIO Cecília Meireles No Palácio da Cachoeira, com pena bem aparada, começa Joaquim Silvério a redigir sua carta. De boca já disse tudo quanto soube e imaginava. Ai, que o traiçoeiro invejoso junta às ambições a astúcia. Vede a pena como enrola arabescos de volúpia, entre as palavras sinistras desta carta de denúncia! Que letras extravagantes, com falsos intuitos de arte! tortos ganchos de malícia, grandes borrões de vaidade. Quando a aranha estende a teia não se encontra asa que escape. Vede como está contente, pelos horrores escritos, esse impostor caloteiro que em tremendos labirintos prende os homens indefesos e beija os pés aos ministros! As terras de que era dono, valiam mais que um ducado. Com presentes e lisonjas, arrematava contratos. E delatar um levante pode dar lucro bem alto! Como pavões presunçosos, Suas letra se perfilam. Cada recurvo penacho é um erro de ortografia. Pena que assim se retorce deixa a verdade torcida. (No grande espelho do tempo, cada vida se retrata: os heróis, em seus degredos ou mortos em plena praça; - os delatores, cobrando o preço das suas cartas...)