Moro em Belo Horizonte desde 1973, quando a população da cidade era de aproximadamente 1,24 milhão de habitantes. Agora, após 50 anos, chegou a 2,55 milhões, mas a área do município é a mesma: 331,3 km². Na grande BH, a área do município de Nova Lima é de 429,3 km², a de Sete Lagoas 536,9 km² e a de Esmeraldas 909,7 km², por exemplo. Ao longo desse tempo tenho percebido a transformação da cidade em seus diversos aspectos.

Meu ponto aqui é o adensamento urbano da cidade que deveria ser percebido pelos olhares mais atentos de todos, a começar pelos governantes.

Mesmo a cidade tendo um plano diretor, que está em processo de revisão na Câmara de Vereadores, muitas são as consequências do avanço dos empreendimentos imobiliários de todas as naturezas. Pensemos no pouco conhecido mapa acústico da cidade e o quanto ele vai sendo impactado, para pior, diante da transformação urbana.

Nesse sentido, vou contar a conversa que tive com um amigo, pelo telefone fixo, na semana passada. Em tom de desabafo ele falou sobre o que está ocorrendo numa pequena rua em que mora, num edifício construído há 5 décadas em um antigo e tradicional bairro da zona sul da cidade. Seu apartamento fica no andar térreo e tem 250 m², com área privativa. Os demais apartamentos ficam do 2º ao 5º andar, dois em cada, sendo que no último estão as coberturas.

Segundo o amigo, que é síndico do prédio há 5 anos, os moradores foram surpreendidos no início de março com a demolição de dois imóveis vizinhos do prédio. O primeiro, logo abaixo, era uma casa cuja proprietária aparecia por lá durante uma semana a cada estação do ano. Em seguida ficava um pequeno prédio de dois andares e quatro apartamentos cuja aparência externa mostrava a necessidade de uma boa reforma. As demolições começaram por volta das 6h30 da segunda-feira e foram concluídas na mesma semana, por volta das 16h da sexta. O barulho trazido pela demolição foi quase ensurdecedor diante da movimentação das máquinas específicas utilizadas e manobras dos caminhões que retiraram os entulhos em caçambas. Quase sempre algum caminhão obstruía a entrada da garagem do prédio causando mais transtornos. A maioria dos moradores tem idade superior a 68 anos e muitos deles tiveram piora em seus quadros de rinite.

O fato é que na semana seguinte começou a retirada de terra nos dois lotes e a movimentação de caminhões continuou intensa. O amigo síndico conseguiu conversar com os gestores dos empreendimentos, que são de empresas diferentes, e fez as reclamações dos moradores do prédio a começar pela hora em que os trabalhos se iniciam. Até o momento, nada mudou. Apenas foi possível saber que cada terreno vai receber um edifício de sete andares com dois apartamentos por andar, cada um com 67 m².

Como se pode ver e pelo pouco que se sabe, o jeito para os moradores do prédio e outros vizinhos da rua é se preparar para resistir e sobreviver aos transtornos que serão trazidos pelos empreendimentos nos próximos 2 ou 3 anos. Quando tudo acabar, chegarão os novos moradores trazendo mais alaridos e barulhos, muitos veículos automotores, recebimento de muitas encomendas para gerar muito lixo domiciliar, além do uso da mesma rede para distribuição de água tratada, coleta de águas pluviais, coleta de esgotos sanitários e distribuição de energia elétrica…

E você caro leitor, já enfrentou alguma situação semelhante a essa?

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Curtas e Curtinhas

por Luis Borges 28 de setembro de 2022   Curtas e curtinhas

Telemarketing ativo – 60 mil vagas a menos

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) passou a exigir, a partir de março, a identificação com o prefixo 0303 das ligações de telemarketing ativo.

De lá para cá, em torno de 40% a 50% das chamadas deixaram de ser atendidas pelos usuários, segundo a ABT, Associação Brasileira de Telesserviços. Ainda de acordo com a entidade, aproximadamente 60 mil empregados será o número de demitidos até o final de setembro. Até julho, esse número já era de 23 mil pessoas, sendo 80% no estado de São Paulo.

Entre os que mais usam esse serviço estão as operadoras de seguros, planos de saúde, administradoras de cartão de crédito e serviços de telefonia e internet. Obviamente, as dificuldades desses setores para fazer contatos com seus clientes estão cada vez maiores diante do alívio trazido pelo prefixo 0303.

Sistema Único de Mobilidade – SUM

A quinta-feira 22 de setembro marcou a chegada da primavera ao Hemisfério Sul e o dia mundial sem carro. Cerca de 140 entidades da sociedade civil organizada e alguns pesquisadores aproveitaram a data para lançar um manifesto propondo a criação do Sistema Único de Mobilidade – SUM.

A proposta é que o sistema integre a União Federal, os Estados e os Municípios num modelo semelhante ao do SUS. Também fazem parte das proposições a distribuição de recursos de maneira integrada entre os três níveis de governo, o controle público sobre dados de bilhetagem eletrônica e promoção de linhas de financiamento para implementar infraestruturas de transporte público.

O objetivo dos signatários é colocar um manifesto no contexto do debate do projeto de lei 3278/2021, que trata do marco legal da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que está em tramitação no Senado Federal.

Será que a coisa vai andar?

O Crescimento do setor de seguros

Quantos e quais são os seguros que você faz anualmente para bens como residências e veículos, por exemplo ?

A Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) estima que a arrecadação do setor crescerá 13,7% nesse ano e chegará a quase R$ 350 bilhões. Desse montante estão excluídos o setor de saúde e o DPVAT.

Um dos mais representativos grupos em termos de arrecadação é o grupo de automóveis cuja demanda deverá crescer 26% no ano.

Por sua vez, o seguro rural, que já cresceu mais de 40% em 12 meses até junho na comparação com o período anterior, deve fechar o ano em alta de 23,8%. A demanda firme desde 2021 tem a ver com a precaução dos produtores diante dos extremos climáticos, além da subvenção para contratação de suas coberturas.

Salários e penduricalhos nos Tribunais de Contas do Sudeste

A Associação Contas Abertas, o IPC e o Observatório Político pesquisaram e divulgaram nesse mês a remuneração dos Tribunais de Contas da região sudeste, que pode ser acessada aqui. Anteriormente foram divulgados os da região sul e centro-oeste. Existe a expectativa para a divulgação das regiões norte e nordeste bem como do Tribunal de Contas da União (TCU) até o final do ano.

O relatório aborda o artigo 39 da Constituição Federal, que trata do teto salarial do funcionalismo, os benefícios da carreira, a responsabilidade fiscal e a necessária moralidade administrativa. Especificamente entre os benefícios, chamados penduricalhos, são citados auxílio alimentação, auxílio creche, auxílio saúde, reembolso de planos de saúde, automóveis e cotas de combustível, gastos com telefones, verbas para computadores, despesas com segurança pessoal, pagamentos de cursos, sessenta dias de férias e venda de parte delas, licenças-prêmio etc.

Como se vê, a discussão obre as castas do serviço público ainda vai longe.

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No início da noite de 27 de junho, uma segunda-feira, aconteceu um incêndio no quarto 61 do décimo andar do hospital da Santa Casa em Belo Horizonte. Segundo o portal G1, o fogo foi causado por um vazamento de oxigênio atrelado à pane de um equipamento. No andar existem 50 leitos do Centro de Tratamento Intensivo-CTI e naquele momento 931 pessoas estavam internadas no hospital, que teve de ser evacuado. Foram confirmadas as mortes de duas pessoas no translado.
Incêndio causou estragos no 10º andar da Santa Casa — Foto: Santa Casa/Divulgação

Santa Casa/Divulgação

Quando surgem problemas desse e de outros tipos que tem grande repercussão na mídia a pergunta imediata é sempre a mesma, ou seja, quais as causas do incêndio. Em menor escala surgem os caçadores de culpados de qualquer natureza e também alguns propondo soluções para que o fato não se repita.
 Mas que lições podemos tirar e pontuar para que todos possam conhecer, compreender e se conscientizar da importância da gestão da manutenção para colocá-la em prática. Isso vale para as pessoas físicas e jurídicas nos setores públicos e privados.
É importante lembrar que Sistema é um conjunto de partes interligadas que por sua vez possuem inúmeros processos, conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos. Quando o resultado de um processo é ruim, indesejável nos deparamos com um problema, mas que precisa ser resolvido, jamais ignorado, negado ou justificado com desculpas. Gerenciar é resolver problemas com uma visão sistêmica.
A nossa reflexão aqui deve partir da premissa de que tudo começa com a gente e com o nosso querer nos ambientes em que atuamos devidamente comprometidos. Mas quais tem sido as nossas atitudes perante a necessária e prioritária gestão da manutenção? Podemos começar, por exemplo com a gestão da saúde individual nos diversos níveis de cuidados e descuidos que cada um tem, o que mostram os indicadores e os sintomas (sinais) disponíveis.
Essencialmente a gestão da manutenção poderá ser corretiva – a mais cara – para remover as falhas, preventiva para evitar que as falhas ocorram e preditiva para predizer que algo deve ser feito a partir da probabilidade de ocorrer uma falha em determinado componente após certo tempo de uso (num avião, por exemplo). Não dá para esperar a exaustão para depois agir.
Raciocínio semelhante pode ser feito para a manutenção de nossas residências ao longo do seu tempo de uso. Daqui a 3 meses terá início o período chuvoso. Será que os nossos telhados com as suas calhas serão revisados e limpos para evitar futuros entupimentos? Caso contrário a água das chuvas procurará caminhos alternativos para seu escoamento e poderá pingar dentro da casa.
Na mesma direção e sentido podemos pensar sobre a quantas anda a gestão da manutenção em tudo aquilo que está sob a responsabilidade dos municípios, dos estados e da União. A sensação que dá é de muita manutenção corretiva, mas isso precisava ser confirmado pelos dados constantes nos respectivos portais da transparência, pois afinal de contas, quem não mede, não gerencia e quem não controla também não gerencia.
E se houver um incêndio no local de trabalho público ou privado de cada um de nós, se o elevador emperrar com sua lotação máxima no vigésimo andar de um prédio, se o motor do veículo fundir no meio do viaduto ou se uma carreta perder o freio na decida de uma avenida, por exemplo, o que fazer? Ou apenas sentiremos falta da gestão da manutenção?
Como se vê gestão é o que todos precisam, inclusive a da manutenção, mas nem todos ainda sabem que precisam.
Para ler a matéria do G1, clique aqui.
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O residencial Jardim das Hortênsias foi construído num terreno de 800 m² na região nordeste de Belo Horizonte. Na parte central do lote está um edifício com 12 apartamentos, sendo 4 por andar, e área base de 85 m² cada um. No subsolo existem duas vagas de garagem para cada apartamento. No primeiro andar os 4 apartamentos possuem área privativa. No segundo estão os apartamentos tipo e no terceiro ficam apartamentos com as respectivas coberturas. O prédio tem elevador, mais uma vaga externa de garagem para cada apartamento, área de lazer, segurança eletrônica e síndico profissional. A construtora vendeu o prédio na planta e, aos trancos e barrancos, levou 8 anos para entregar o que foi vendido.

Como acontece com frequência nessas situações, muitas coisas não foram feitas e outras receberam a aplicação de materiais e componentes bem abaixo da qualidade que foi especificada. A construtora geralmente se justificou, se contorceu em explicações ou simplesmente fugiu de suas responsabilidades.

Passados 5 anos em que os apartamentos estão ocupados pelos proprietários, sendo que três deles mudaram de proprietário, o que não muda é o nível e a quantidade de atitudes desrespeitosas da maioria deles.

Qualquer coisa que acontece, independente do que diz o regimento interno, é suficiente para se instalar o tribunal do grupo de WhatsApp integrado pelos moradores. Muitos que são valentes nas telas não resistem aos mínimos argumentos numa conversa cara a cara ou numa assembleia geral do edifício diante de fatos, dados e evidências objetivas conforme a natureza dos temas. O portão de pedestres ou da garagem esquecidos abertos, churrasqueira desregulada esparramando fumaça, o lixo domiciliar armazenado de qualquer jeito, sem obedecer aos padrões, música em alto volume em alguns apartamentos, ocupação indevida de vagas de automóveis na garagem… aparecem com frequência nas postagens do grupo.

Mas o que “bombou” na semana passada foi uma tentativa de entrega de uma encomenda para um morador que não estava em casa. Não demorou muito, ele recebeu um aviso da transportadora dizendo que a encomenda foi entregue com sucesso. Foi o suficiente para que ele perguntasse no grupo de WhatsApp quem havia recebido a sua encomenda. Como ninguém respondeu de imediato, ele insistiu na pergunta.

Pelo menos sete moradores responderam que não pegaram e não precisavam de ficar com a encomenda, dois perguntaram se o vizinho estava pensando que eles eram ladrões e todos disseram que de agora em diante não pegarão encomendas para ninguém.

Isso é um pequeno resumo do nível das falas postadas no dia do ocorrido.

No início da manhã seguinte o morador postou nova mensagem pedindo desculpas pelo ocorrido no dia anterior, dizendo ter sido informado pela transportadora que sua encomenda não foi entregue e que, devido a um erro de processamento, ele acabou sendo avisado do contrário.

Como se vê os detalhes decidem, inclusive para quem não presta atenção nas coisas e age no impulso com muita vontade de dar vazão à própria ansiedade por algo que estava esperando e também buscar um culpado pela não chegada da encomenda às suas mãos.

Apontar o dedo é bem mais fácil que gerenciar para resolver problemas.

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“Ele é assim mesmo”

por Luis Borges 5 de abril de 2022   Pensata

O professor universitário Naldo Teles aposentou-se em 2016 e colocou em prática um propósito há muito acalentado. Mudou-se com a esposa para uma pequena propriedade, em um distrito de um município a cerca de 100km de Belo Horizonte. Para trás ficou o tempo em que morou em apartamentos de cinco diferentes bairros da capital. Rapidamente ocorreu um bom entrosamento com boa parte dos moradores do local, que lutam permanentemente pela preservação da cultura e da arte características da região. E nesse conhece um daqui, aproxima-se mais de outro ali, Naldo, sempre comunicativo foi se mostrando solícito e disponível para atos solidários com os seus novos vizinhos. Logo ele, que sempre foi e é um construtivista no campo social.

Como ele possui uma caminhonete com a qual se desloca até Belo Horizonte para levar ou trazer de lá algum bem, quando necessário, acaba também ajudando algum vizinho com necessidades semelhantes.
Mas como as pessoas possuem diferente níveis de compreensão quanto ao que é combinado em relação a eventos de qualquer natureza, de vez em quando acontecem coisas que deixam visíveis o desconforto e o constrangimento entre as partes envolvidas nessa espécie de camaradagem.

Aconteceu recentemente o atendimento de um pedido feito por Dona Brígida, uma das primeiras pessoas a se aproximar do professor e sua família quando se mudaram para a propriedade. Tratava-se do transporte de um móvel de madeira, do tipo cômoda, contendo 4 gavetas e vidro grosso na superfície, para ser entregue em Belo Horizonte na residência de Valquíria, uma ex-companheira de seu filho Amílcar. Ele tem 41 anos, é servidor público municipal, tem dois cachorros, dois gatos e mora num pequeno barracão no lote em que está construída a casa da mãe.

Quando surgiu a oportunidade para atender a solicitação feita pela vizinha, o professor Naldo disse a ela numa segunda-feira que partiria para Belo Horizonte às 9 horas do próximo sábado. Disse também que aguardaria seu filho para pegar a caminhonete e nela colocar o móvel na carroceria até, no máximo, a hora do almoço da sexta-feira.

Como nada aconteceu dentro do prazo acertado e, segundo o professor “o que é combinado não é caro”, ele procurou Dona Brígida no início da noite e cobrou dela a falta de iniciativa de seu filho para cumprir o que foi planejado. Diante da firmeza do professor dizendo que a falta de atitude do filho dela estava causando transtornos para a execução do plano de ação, ela justificou dizendo que “ele é assim mesmo” e que tinha ido namorar naquela noite. Disse também que cuida até dos gatos e cachorros dele e pediu uma tolerância até o início da manhã seguinte para o filho resolver o problema.

Faltando meia hora para o início da viagem, Amílcar pegou a caminhonete com o professor e foi em casa colocar o móvel em sua carroceria. Assim, a viagem começou com apenas 20 minutos de atraso. O professor entregou a encomenda no endereço combinado e, no final da tarde retornou para a propriedade. Só ao chegar em casa que percebeu que a tampa de vidro do móvel, embalada num tecido, não tinha sido retirada da caminhonete e acabou se quebrando no caminho de volta. Aí ele solicitou ao filho da vizinha que retirasse os pedaços do vidro quebrado de sua carroceria.

Sabedor de que “ele é assim mesmo” o professor esperou pacientemente até a quarta-feira seguinte, quando Amílcar finalmente retirou os resíduos da caminhonete e pediu para o professor não ficar de mal dele pelo que aconteceu.

Agora o professor Naldo está pensando em como proceder quando algum outro vizinho solicitar algo semelhante, pois não quer ser punido por acreditar nas pessoas e sempre cumprir o que é combinado. Porém ele tem afirmado que “se as pessoas não mudam, mudo eu”. Será fácil?

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Quando eu era criança em Araxá, minha querida cidade natal e capital secreta do mundo, ouvia com frequência alguém me perguntando “o que você vai ser quando crescer?”.

Agora, pouco mais de meio século depois, vieram me perguntar algumas vezes sobre onde e com quem estarei morando na fase idosa mais avançada de minha vida. Sempre digo que tudo que penso sobre isso gravita em torno de uma função de várias variáveis, que se alterarão no tempo que passará um dia de cada vez. Se acontecer isso ou aquilo, assim ou assado… tudo vai depender da realidade daquele exato momento.

Enquanto isso é importante seguir aprendendo com a experiência de outras pessoas, em seus erros e acertos, para que tudo nos ajude a projetar cenários sobre o que o futuro poderia vir a ser para nós em função de uma realista expectativa de vida.

Nessa caminhada de observação e análise fiquei pensativo sobre um caso do qual tomei conhecimento recentemente.

Trata-se de uma senhora de 94 anos, viúva há 6, atualmente com uma deficiência motora que a obriga a usar uma cadeira de rodas para se locomover. Desde que ficou viúva ela mora em sua própria casa sob os cuidados da única filha. Esta filha é aposentada, 66 anos e viúva também há 6. Ela tem três irmãos, um mais velho que ela, aposentado, 68 anos de idade, e outros dois mais novos, sendo um aposentado de 63 anos e o caçula de 60 anos, médico endocrinologista em plena atividade profissional.

De uns tempos para cá a mãe tem tentado se locomover sozinha, sem usar a cadeira de rodas, e está levando tombos preocupantes cujas consequências são imprevisíveis em relação a danos.

Acontece que ela sempre foi muito ativa, bastante atuante e tomando a frente de tudo nas coisas da vida familiar. Ela ainda não se conformou com o seu atual nível de dependência.

Vale lembrar que essa filha que cuida dela é também muito atuante, bastante agitada e queixosa do cansaço decorrente de suas atividades. Aliás ela tem um filho que mora com ela na casa da mãe, em companhia da esposa e do filho do casal.

No final do ano passado a filha cuidadora declarou-se em profunda exaustão, sem condições de continuar fazendo o que tem feito nos últimos anos, mesmo contando com a ajuda de uma cuidadora de idosos profissional durante 40 horas semanais.

A filha escreveu um detalhado relatório, que foi enviado para os três irmãos, mostrando a situação atual da mãe e propondo que ela fosse morar numa Instituição de Longa Permanência para Idosos – ILPI – do setor privado.

Passados 2 meses ela só recebeu resposta do irmão mais novo, o médico, dizendo que não pode fazer mais nada além do que já faz, ou seja, continuar pagando o plano de saúde da mãe e o salário da sua cuidadora profissional. Como os outros dois filhos estão em silêncio permanente e está implícito na proposta feita que eles terão que contribuir financeiramente para viabilizá-la – logo eles, que atualmente se sentem isentos de qualquer responsabilidade – a irmã está percebendo que continuará cuidando da mãe, mesmo tendo chegado à exaustão. Ela já diz que “o que não tem remédio, remediado está” e que “seja o que Deus quiser”.

Caro leitor, o que isso tudo te faz pensar? Será que isso só acontece com os outros ou também pode nos alcançar?

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Tenho conversado com pessoas de diferentes faixas etárias sobre as condições em que estão trabalhando e como vão as relações com quem ocupa os diferentes níveis hierárquicos da estrutura organizacional do negócio. Em sua maioria, essas pessoas trabalham em organizações de médio e grande porte do setor público – inclusive empresas estatais – e setor privado.

Perguntei a uma delas, que trabalha com vendas, sobre como está a relação com seu ex-colega de setor que tornou-se seu novo chefe imediato após assumir a superintendência comercial há seis meses em Belo Horizonte, devido à demissão do ocupante anterior do cargo.

A matriz fica na cidade de São Paulo, onde está o diretor comercial, a quem os diretores das filiais são subordinados. Trata-se de uma concessionária focada na venda de automóveis zero km, que presta serviços de assistência técnica e tem um setor para a venda de carros usados que entram como parte do pagamento dos veículos novos vendidos.

É interessante registrar que, do quadro de 10 vendedores da empresa, 6 trabalham juntos desde 2017 e um deles é o que foi promovido para exercer a função de superintendente. A vaga de vendedor deixada por ele só foi ocupada no início deste mês após longo processo seletivo.

A grande questão levantada pelo vendedor é a mudança de postura do colega que virou chefe após assumir a nova função, com a perspectiva de um nível mais alto de remuneração atrelado ao atingimento das metas mensais estabelecidas. Antes da promoção ele participava de conversas informais do grupo, que não era equipe, falava da importância da gestão pela liderança, e não pelo comando, bem como demostrava sua expectativa por processos de trabalhos participativos no dia a dia e realçava a essencialidade da cooperação entre as partes envolvidas na busca para entregar o resultado esperado.

Fazia coro com as clássicas críticas à postura do chefe anterior, que não era gestor nem líder, e só cuidava de atender as solicitações dos superiores hierárquicos em Belo Horizonte e São Paulo.

Até agora nada mudou com o novo colega na chefia da superintendência comercial. Ele só fala em atingir cada vez mais metas malucas, portanto inatingíveis, passa a maior parte do tempo em reuniões e contatos pelos dispositivos tecnológicos. Ao final do dia, pergunta aos vendedores se as vendas estão na linha da meta mensal. Lembra a todos que é preciso faturar, que a remuneração do grupo está em jogo e que não se deve ficar na zona de conforto, pois ninguém terá lugar garantido se não houver entregas.

A expectativa em relação ao novo chefe é a mesma que existia em relação ao anterior, ou seja, que ele converse e oriente as pessoas, que discuta com todos as dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico, inclusive falta de componentes para montagem de veículos novos, perfil de clientes numa conjuntura econômica tão adversa sem perspectivas de crescimento…

O jeito é cada vendedor usar o Índice de Viração Própria – IVP – diante da necessidade de sobreviver. Dá para imaginar o terrível clima organizacional diante de posturas que se repetem por parte daqueles que teoricamente ganham para dar a direção dos negócios. Acaba prevalecendo a Lei de Murici, cada um cuida de si. No caso, as intenções de outrora não foram acompanhadas pelos gestos de agora.

E você, caro leitor, conhece ou tem convivido com um caso semelhante?

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Uma vendedora sem treinamento

por Luis Borges 10 de novembro de 2021   Pensata

Algumas vezes tenho insistido neste espaço que os clientes esperam receber de seus fornecedores de bens e serviços tudo o que foi solicitado conforme as especificações feitas, com preço justo e que a entrega aconteça no prazo combinado. Imagine a insatisfação de qualquer cliente, por mais complacente que ele seja, quando pelo menos uma dessas três dimensões não é atendida plenamente! Alguns clientes até tentam entender as causas do efeito indesejável, ou seja, do problema gerado. Com certeza o gerente do processo deveria resolver o problema após identificar a suas causas, para estancar as perdas que decorrem dele, inclusive a perda do cliente.

Exemplifica bem essa situação o caso de um cliente de uma loja que comercializa tintas para pintura de paredes de imóveis na região Leste de Belo Horizonte. A construção civil está retomando o crescimento em meio a uma alta inflação, inclusive no setor, e falta de alguns insumos que, quando reaparecem, voltam mais caros. Assim, atrasos de cronogramas tornam-se inevitáveis, até mesmo para fazer o reequilíbrio orçamentário.

Esse cliente comprou duas latas de tinta com a capacidade de 18L, na cor branco neve, e saiu da loja rapidamente sem conferir a especificação do bem adquirido. Como sempre, estava com muita pressa na “correria louca” do seu cotidiano. Tão logo o pintor de paredes recebeu a tinta já foi dizendo que a cor estava errada, pois veio branco gelo. Mesmo diante da falta de tempo e da necessidade da continuidade da pintura, o jeito foi voltar rapidamente à loja para efetuar a troca das latas para a cor branco neve.

A chegada à loja foi o início de um verdadeiro calvário. O estacionamento para veículos dos clientes estava com as três vagas ocupadas e sem previsão de alteração. O jeito foi procurar outro local para estacionamento nas proximidades. Passaram-se 15 minutos até o cliente finalmente entrar na loja. Todas as atendentes do balcão estavam ocupadas e 10 minutos depois é que uma delas ficou disponível. Como se tratava de uma devolução, com geração de crédito no sistema operacional, ela sentiu-se insegura alegando que não conhecia o processo. Estava há menos de um mês trabalhando na loja e o sistema é diferente daquele que ela utilizava em seu trabalho anterior. Só lhe restou pedir ajuda a uma colega, o que foi iniciado após a conclusão do atendimento do cliente que já estava em andamento. Lá se foram mais 10 minutos de espera. Finalmente começou um treinamento no padrão de lançamento de crédito que não era escrito, e cada empregado faz do jeito que entende até conseguir concluir a tarefa. Após mais 10 minutos a vendedora se sentiu em condições de fazer a operação.

Lançado o crédito no sistema foi possível dar saída no estoque das latas de tinta na cor branco neve. Outros 10 minutos se passaram para que um Auxiliar de Serviços Gerais levasse as latas até o carro do cliente, que estava estacionado a dois quarteirões da loja. O cliente acabou gastando quase 1 hora do seu precioso tempo para fazer a troca das latas de tinta, mas poderia ser bem menos se a vendedora da loja tivesse sido treinada no Padrão Operacional do Processo (POP) ou se a mercadoria tivesse sido conferida antes de sair da loja. Obviamente nem teria sido necessária a troca.

O treinamento continua sendo essencial no sistema de gestão de qualquer negócio, seja ele micro, pequeno, médio ou grande, público ou privado. Continuamos longe da excelência, mas não podemos desanimar.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 8 de novembro de 2021   Curtas e curtinhas

Quatro anos de Reforma Trabalhista

Entrou em vigor no mês de novembro de 2017 a Reforma Trabalhista, quando Michel Temer era Presidente da República. Como sempre, a Reforma era a panaceia para todos os males e, na propaganda oficial em sua defesa, se falava na geração de 2 milhões de empregos nos dois primeiros anos de sua vigência e de 6 milhões ao longo de 10 anos. Recentemente o próprio Temer reconheceu o exagero destes números.

Passados quatro anos o que cresceu foi a quantidade de desempregados, com o acréscimo de mais 2 milhões de pessoas aos 12 milhões já existentes, segundo o IBGE. A nova legislação trouxe mais flexibilidade para os empregadores na hora de contratar e demitir empregados, mas não foi capaz de aumentar a quantidade de vagas. Para isso, a economia e os investimentos deveriam crescer muito mais ao invés da redução ou extinção de direitos trabalhistas. O que sobrou foi a precarização das condições de trabalho.

Duas ou três casas decimais?

A diretoria da Agência Nacional de Petróleo definiu que os combustíveis para veículos automotores comercializados pelos postos deverão ter seus preços nas bombas exibidos com duas casas decimais, no lugar das três usadas atualmente. Assim, o preço de 1 litro de gasolina comum será vendido a R$6,97 e não mais a R$6,974, por exemplo. A medida entra em vigor 6 meses depois de sua publicação no Diário Oficial da União, ou seja, no início de maio de 2022 . Segundo a ANP, a mudança visa facilitar “o entendimento dos consumidores” sobre os preços.

Parece que se lembraram dos critérios de arredondamento da matemática enquanto os preços da gasolina, óleo diesel e etanol continuam subindo. É importante lembrar que o uso das três casas após a virgula(centésimos) vem desde 1994, no início do Plano Real, e tinha também como objetivo a melhor compreensão dos consumidores, pois a diferença de preços entre postos poderia estar nos centésimos. Muda isso, muda aquilo, mas é tudo a mesma coisa.

Mutirão tenta receber dívidas

A Federação Brasileira de Bancos, o Banco Central do Brasil, a Secretaria Nacional do Consumidor e o Senado Federal estão promovendo durante o mês de novembro um mutirão para a renegociação das dívidas em atraso de pessoas físicas com as instituições bancarias e financeiras. Na campanha falam até em educação financeira, mas não abordam as altas taxas de juros cobradas nas quais estão embutidos os riscos dos calotes dos devedores. Falam também em reinserção dos devedores no mercado após a renegociação, mas é claro que tudo que for conseguido será bom para enfeitar os resultados nos bancos no balanço de 31 de dezembro. Como sabemos, banco é banco e melhor seria não precisar deles, mas como fazer isso na difícil conjuntura que estamos atravessando com estratégias de sobrevivência?

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A economia e a realidade

por Convidado 16 de outubro de 2021   Convidado

*por Malco Camargos 

Uma frase que marcou para sempre o mundo das estratégias das campanhas eleitorais começa a soar cada vez mais alta aqui no Brasil. Em 1992, quando Jorge Bush destacava seus feitos em guerras internacionais e valorizava a soberania conquistada, Bill Clinton aumentava seu favoritismo à medida que os americanos avaliavam a crise econômica, o medo da inflação e a dificuldade de comprar imóveis. Nesse contexto o mote da eleição foi dado por James Carville, responsável pelo marketing na campanha de Clinton – “É a economia, estúpido”.

James Carville foi o criador da frase mas não foi responsável por mostrar o peso da economia na escolha dos eleitores. Diversos autores, em diferentes universidades no mundo, vêm comprovando e refinando a teoria do impacto da percepção da situação econômica sobre a decisão de voto. O cálculo é simples e pode ser resumido em uma única frase – se a economia vai bem o eleitor vota no candidato governista e se a economia vai mal, busca um nome na oposição.

Para falar de economia uma distinção básica deve ser feita – o que podemos entender por macroeconomia e microeconomia.  O cenário macroeconômico aborda questões da economia doméstica e internacional com ênfase nas perspectivas de crescimento, política monetária e fiscal – a macroeconomia mensura o desempenho da economia em um país, sua capacidade de produzir crescimento e sua política econômica internacional. Uma área valorizada por economistas e agentes econômicos e, em geral, relevada pelos cidadãos. Já a microeconomia vai ter foco no comportamento e nas escolhas das pessoas na economia e também na relação entre o capital e o trabalho que podem gerar diferenças salariais entre grupos da sociedade (homens e mulheres, brancos e negros, etc…) e as motivações das decisões dos consumidores.

Entre estes dois cenários, o macro e o micro, deve-se considerar também a percepção das pessoas. Nenhum indicador macroeconômico tem peso maior do que a constatação do desempenho econômico a partir da experiência do consumidor/cidadão/eleitor. É na hora de ir ao supermercado, à farmácia ou mesmo ao bar que o cidadão faz sua avaliação da economia; isto somado com a possibilidade ou não de sair para trabalhar e ter uma remuneração digna formam o pensamento econômico que vai moldar o voto do eleitor quando ele estiver em frente à urna. Nesse sentido, em algumas situações, economistas e alguns especialistas valorizam a ação de determinado governo na condução da política econômica, mas os cidadãos não percebem melhoria na sua qualidade de vida e optam por outra alternativa que não a recondução do grupo que governa ao poder.

No Brasil, em 2022, o presidente Bolsonaro vai tentar valorizar seus feitos econômicos: enxugamento da máquina, privatizações, distribuição de dividendos, balança comercial e busca da solidez nas contas públicas. Mas nada disso é mais significativo do que a sensação de que o salário conquistado – quando isso é possível – não dura até o final do mês para a maior parte dos brasileiros e que vários itens básicos não são incluídos na cesta de compras por falta de dinheiro.

Não há retórica econômica que mude a percepção de que Bolsonaro não produziu melhoras na vida dos brasileiros. À revelia do que dizem alguns economistas, nenhum indicador significa mais que a própria experiência diante de uma realidade cada vez mais dura para milhões de brasileiros. Realidade esta que faz com que o eleitor tenha saudade de um tempo em que podia viver bem o presente e sonhar com o futuro – duas coisas que lhe foram tiradas nos últimos tempos.

*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas. 

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