Quem cuidaria do tio Zé?
Uma sobrinha por parte de mãe foi visitar tio Zé, 60 anos de idade, que morava numa pequena casa alugada na região de Venda Nova em Belo Horizonte. O Zé era separado da esposa há muitos anos e não tiveram filhos. A sobrinha, que é enfermeira de nível superior com mestrado, se assustou ao verificar uma piora acentuada no estado clínico do tio, que tinha distrofia muscular. Aliás, essa foi a causa da morte dos dois irmãos do Zé. Restaram-lhe duas irmãs, Mariazinha, 71 anos, três filhas e dois filhos, e Neuzinha, 66 anos e uma filha.
Percebendo a gravidade da situação, a sobrinha enfermeira providenciou a internação do tio num hospital filantrópico, mesmo com as dificuldades e obstáculos cada vez maiores nas coisas ligadas à saúde. De cara, no primeiro dia de internação, Mariazinha perguntou aos membros da família quem cuidaria do tio Zé quando ele deixasse o hospital, mas já respondendo que não seria ela devido à precariedade da sua própria saúde.
Por sua vez, Neuzinha disse quase que imediatamente que também não poderia cuidar do seu querido irmão. Ela justificou sua impossibilidade devido à sua condição física desfavorável em função do peso bem acima do desejável, dos ossos descalcificados, da glicose altamente variável e de suas frequentes alergias respiratórias. Foi nesse clima que tio Zé encerrou seu curso de vida no final do oitavo dia de internação hospitalar.
Se de um lado as preocupações cessaram, já que ninguém precisaria de cuidar mais dele, veio por outro uma surpresa para muitos. Nos preparativos para o velório e sepultamento do tio Zé, sua irmã Neuzinha começou a procurar as sobrinhas e sobrinhos propondo que se fizesse uma “vaquinha” entre eles para cobrir as despesas, pois ela mesma não tinha condições para tal. Foi aí que Mariazinha lembrou a todos que tio Zé havia deixado recursos financeiros suficientes para cobrir todos os gastos após a sua morte. Arrematou dizendo que a conta da caderneta de poupança era conjunta com Neuzinha e que ela pegou o dinheiro emprestado com o irmão após uma necessidade urgente.
Como as pessoas se revelam mais cedo ou mais tarde, uma das sobrinhas se viu obrigada a emprestar seu cartão de crédito à tia para cobrir os gastos, que foram divididos em cinco parcelas que posteriormente serão ressarcidas à credora. Dá até para imaginar o pânico da tia caso não aparecesse alguém para salvá-la desse imbróglio.
Como rolo só chama mais rolo essa mesma irmã do tio Zé começou a discutir, no dia seguinte ao sepultamento, a destinação dos eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e móveis deixados pelo irmão. E já se colocando como a merecedora de tudo devido às suas dificuldades atuais e porque visitava o irmão pelo menos uma vez por mês.
Após a celebração da missa de 7º dia do passamento, Neuzinha soube que todos concordaram com o seu pleito, mas solicitaram que ela rescindisse imediatamente o contrato de aluguel da casa onde ele morava, pois a aposentadoria do tio Zé deixou de existir. E foi cada uma das irmãs para o seu lado, mas Mariazinha saiu falando para suas filhas e filhos que todos deveriam ficar alertas pois Neuzinha poderia reaparecer a qualquer momento trazendo outros problemas para todos resolverem.
Você se lembra de ter vivido ou tomado conhecimento de uma situação semelhante a essa no âmbito de parentes, amigos ou colegas de trabalho?