Quando a sustentabilidade não é estratégica

por Luis Borges 3 de junho de 2015   Gestão em pauta

Municípios mineiros que dependem das atividades mineradoras para sobreviver estão nas manchetes, devido aos problemas que enfrentam nesse período de baixa.

De Itabirito vem a notícia de que um restaurante, localizado no centro da cidade, cozinhava 45 kg de arroz por dia e agora não passa dos 15kg. A prefeitura também perdeu arrecadação com o declínio do minério de ferro e o pouco que está recebendo chega com atraso aos cofres.

Em Congonhas outro restaurante também perdeu muitos clientes e agora serve mil refeições por dia, mas já serviu 3 mil no passado.

Nos bons tempos, a prefeitura de Nova Lima praticamente dobrou seu número de funcionários, quando a tonelada do ferro estava em torno de 200 dólares e a China crescia muito e ampliava seus estoques estratégicos. Agora o atual prefeito faz ajustes, demitindo funcionários para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em Itabira mais de 2.500 empregados das empreiteiras que trabalham para a Vale já foram demitidos neste ano, segundo o sindicato da categoria. E, é claro, a Vale se diz em adequação ao novo cenário mundial, com a tonelada de minério em torno de 50 dólares, quando o custo de produção tem que ser reduzido para manter a competitividade e a lucratividade para os acionistas.

Muitos exemplos poderiam ser citados, já que outros municípios de Minas Gerais também estão sofrendo com a contração econômica, variando apenas a escala e o setor afetado. É claro que quanto pior, pior mesmo, e o nosso atual quadro social mostra isso com muita clareza e pouca paz.

A reflexão que proponho aqui é sobre as causas que levaram esses municípios citados a demonstrar baixa sustentabilidade diante da crise instalada e que persiste. Há indícios claros de que eles falharam em seus planejamentos estratégicos e também em seus reposicionamentos estratégicos diante das mudanças nos cenários.

Pelo visto não se preocuparam com a avaliação de cenários, verificando como se inseriam as mineradoras localizadas nos municípios na economia de mercado global, cujas variáveis elas não controlam, no máximo acompanham.

Também não dá para uma prefeitura avançar na Lua como se fosse queijo. Frente ao momento de boa arrecadação, muitas aumentaram seus gastos, esquecendo-se da expectativa de vida cada vez mais longa de quem está na ativa e dos inativos. E, o que é pior, as prefeituras contavam que o boom do minério de ferro era para sempre.

É importante lembrar que o minério de ferro e outros 40 minerais explorados no estado também estão sujeitos à exaustão, com suas respectivas especificidades, inclusive de mercado extremamente dinâmico. Um fundo deveria ser formado para garantir a sustentação no momento em que só houver buracos deixados pela mineração. Os recursos para esse fundo poderiam vir de parte da atual CFEM (Contribuição Financeira sobre a Exploração Minerária) que equivale a 2% da receita líquida das empresas mineradoras. Aliás, existe proposta para que a CFEM passe a ser de 4% da renda bruta das mineradoras mas, para isso, o marco regulatório do setor, que já tramita há alguns anos, precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional.

Concluindo eu diria que esse é mais um exemplo de como a gestão estruturada faz falta em todos os setores da atividade humana, sejam eles públicos, privados ou do terceiro setor. Quem não tem estratégia está condenado à morte. E não adianta ficar de gabinete em gabinete, de qualquer instância de poder, pedindo ou negociando favores. A economia possui seus ciclos, que devem ser percebidos e compreendidos para serem enfrentados de maneira sistêmica, com muito conhecimento e foco. Senão, a cada mudança de vento seremos surpreendidos sem sustentabilidade para enfrentar os desafios.

  Comentários

Publicado por

Publicado em