Pode guardar as panelas

por Luis Borges 17 de março de 2015   Música na conjuntura

Se à mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta, o que esperar da democracia representativa que precisa evoluir para o modelo participativo? O mínimo que espero na conjuntura em que estamos vivendo é que prevaleça a verdade com absoluta transparência em função dos fatos e dados reais. Isso tudo sem ter a ingenuidade de acreditar que seja possível existir um equilíbrio entre a razão e a emoção.

Também não posso concordar com a negação das evidências objetivas que permeiam de vários modos a insatisfação das pessoas e da sociedade. Não dá para afirmar seguidamente que o poder aquisitivo está assegurado e que a inflação está sob controle. Por maior que seja a manipulação e a contabilidade criativa, fica difícil tentar impor que 8% de inflação anualizada é a mesma coisa que os 4,5% da meta nunca atingida pelo Banco Central nos últimos 4 anos. E assim seguem diversos outros exemplos em nome do ajuste fiscal, tais como a não correção plena da tabela do Imposto de Renda, o confisco de direitos sociais, o aumento do desemprego, o aumento de impostos e a recessão econômica.

Se a nova classe média começa a perceber que pode estar fazendo o caminho de volta às origens é sinal de que as coisas realmente já começam a exigir um novo reposicionamento estratégico. Consumir menos também significará existir menos, ainda que se tenha um alto Índice de Viração Própria (IVP). Em sendo assim cantar a música Pode guardar as panelas do grande compositor e cantor Paulinho da Viola é um bom sinal de alerta nesses tempos cada vez mais bicudos.

Pode guardar as panelas
Paulinho da Viola

Você sabe que a maré
Não está moleza não
E quem não fica dormindo de touca
Já sabe da situação
Eu sei que dói no coração
Falar do jeito que falei
Dizer que o pior aconteceu
Pode guardar as panelas
Que hoje o dinheiro não deu 

Dei pinote adoidado
Pedindo emprestado e ninguém emprestou
Fui no seu Malaquias
Querendo fiado mas ele negou
Meu ordenado apertado, coitado, engraçado
Desapareceu
Fui apelar pro cavalo, joguei na cabeça
Mas ele não deu

Você sabe que a maré
Não está moleza não
E quem não fica dormindo de touca
Já sabe da situação
Eu sei que dói no coração
Falar do jeito que falei
Dizer que o pior aconteceu
Pode guardar as panelas
Que hoje o dinheiro não deu

Para encher a nossa panela, comadre
Eu não sei como vai ser
Já corri ora todo lado
Fiz aquilo que deu pra fazer
Esperar por um milagre
Pra ver se resolve essa situação
Minha fé já balançou
Eu não quero sofrer outra decepção
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