Perdas no poder aquisitivo vão se consolidando

por Luis Borges 20 de dezembro de 2021   Pensata

Se você fosse ouvido por um instituto de pesquisa durante um levantamento para retratar um determinado instante do tempo, o que diria se a pergunta fosse “quais são as suas preocupações nesta virada do ano”? Por acaso estariam entre elas o aumento da pobreza, do desemprego e da fome? Apareceria na sua resposta a economia que nunca deslancha e é cada vez mais marcada pela estagnação com inflação alta? Em que sequência apareceriam as preocupações com a educação, saúde, segurança, combate à corrupção e reforma política, por exemplo?

Pelo que tenho visto em algumas pesquisas confiáveis divulgadas por agora fica disparada em primeiro lugar a preocupação com o aumento da pobreza e da fome. Em segundo lugar, mais abaixo, aparece a economia que não cresce.

Observando e analisando os fatos e dados vai ficando clara a consolidação das perdas do poder aquisitivo causadas pela alta inflação. Retrato disso é que, em média, 70% das categorias trabalhistas não conseguiram negociar ajustes salariais para repor a inflação. Junte-se a isso a não correção da tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas, o que já acontece há 7 anos. Na prática, um aumento de carga tributária. No cálculo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal a defasagem na correção da tabela nos últimos 25 anos (1996- 2021) chegou a 130% e gerou uma arrecadação extra para os cofres públicos de R$149 bilhões. Ainda segundo a Unafisco, se a correção tivesse sido plena, estariam isentos de pagar imposto de renda os ganhos até R$4.469,02 ao invés dos atuais R$ 1.903,98. Na faixa superior da tabela estariam sujeitos à alíquota de 27,5% os ganhos acima de R$10.948,96 e não os atuais R$4.664,69.

A proposta de reforma ampla do Imposto de Renda enviada pelo Ministério da Economia à Câmara dos Deputados em junho de 2021 tentava fazer uma tênue correção da tabela, mas empacou no Senado e foi colocada na “geladeira” pelo senador Ângelo Coronel (PSD-BA), relator da proposta. Para evitar o vácuo deixado, o relator apresentou em 15 de dezembro de 2021 um novo texto tratando apenas da tabela do Imposto de Renda, que deve começar a ser discutido pelos senadores a partir de fevereiro de 2022 após o fim das férias dos parlamentares. Essencialmente entre as proposições estão o limite de isenção para quem ganha até R$3.300 mensais, a extinção da alíquota de 7,5%, a manutenção das demais alíquotas, sendo corrigidas em 13,6%, o que elevará a alíquota máxima de 27,5% para R$5.300,00 ao invés dos atuais R$4.664,68. Faz parte também a correção automática da tabela toda vez que a inflação acumulada chegar a 10%. A ideia é que tudo entre em vigor em 2022.

Se tudo der certo, será que isso estará aprovado antes das eleições ou é apenas mais um canto de sereia no tempo que não deixa de passar? Enquanto isso a cada mês consolidam-se as perdas do poder aquisitivo praticamente sem perspectivas de serem recuperadas numa conjuntura em que prevalecem as estratégias de sobrevivência num verdadeiro “salve-se quem puder” pois “o trem tá feio mesmo”. Basta olhar para a drástica redução da classe média e o grande aumento da base da pirâmide social.

E você, caro leitor, como avalia o seu caso diante dos fatos e dados aqui citados?

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