Perdas no poder aquisitivo vão se consolidando
Se você fosse ouvido por um instituto de pesquisa durante um levantamento para retratar um determinado instante do tempo, o que diria se a pergunta fosse “quais são as suas preocupações nesta virada do ano”? Por acaso estariam entre elas o aumento da pobreza, do desemprego e da fome? Apareceria na sua resposta a economia que nunca deslancha e é cada vez mais marcada pela estagnação com inflação alta? Em que sequência apareceriam as preocupações com a educação, saúde, segurança, combate à corrupção e reforma política, por exemplo?
Pelo que tenho visto em algumas pesquisas confiáveis divulgadas por agora fica disparada em primeiro lugar a preocupação com o aumento da pobreza e da fome. Em segundo lugar, mais abaixo, aparece a economia que não cresce.
Observando e analisando os fatos e dados vai ficando clara a consolidação das perdas do poder aquisitivo causadas pela alta inflação. Retrato disso é que, em média, 70% das categorias trabalhistas não conseguiram negociar ajustes salariais para repor a inflação. Junte-se a isso a não correção da tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas, o que já acontece há 7 anos. Na prática, um aumento de carga tributária. No cálculo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal a defasagem na correção da tabela nos últimos 25 anos (1996- 2021) chegou a 130% e gerou uma arrecadação extra para os cofres públicos de R$149 bilhões. Ainda segundo a Unafisco, se a correção tivesse sido plena, estariam isentos de pagar imposto de renda os ganhos até R$4.469,02 ao invés dos atuais R$ 1.903,98. Na faixa superior da tabela estariam sujeitos à alíquota de 27,5% os ganhos acima de R$10.948,96 e não os atuais R$4.664,69.
A proposta de reforma ampla do Imposto de Renda enviada pelo Ministério da Economia à Câmara dos Deputados em junho de 2021 tentava fazer uma tênue correção da tabela, mas empacou no Senado e foi colocada na “geladeira” pelo senador Ângelo Coronel (PSD-BA), relator da proposta. Para evitar o vácuo deixado, o relator apresentou em 15 de dezembro de 2021 um novo texto tratando apenas da tabela do Imposto de Renda, que deve começar a ser discutido pelos senadores a partir de fevereiro de 2022 após o fim das férias dos parlamentares. Essencialmente entre as proposições estão o limite de isenção para quem ganha até R$3.300 mensais, a extinção da alíquota de 7,5%, a manutenção das demais alíquotas, sendo corrigidas em 13,6%, o que elevará a alíquota máxima de 27,5% para R$5.300,00 ao invés dos atuais R$4.664,68. Faz parte também a correção automática da tabela toda vez que a inflação acumulada chegar a 10%. A ideia é que tudo entre em vigor em 2022.
Se tudo der certo, será que isso estará aprovado antes das eleições ou é apenas mais um canto de sereia no tempo que não deixa de passar? Enquanto isso a cada mês consolidam-se as perdas do poder aquisitivo praticamente sem perspectivas de serem recuperadas numa conjuntura em que prevalecem as estratégias de sobrevivência num verdadeiro “salve-se quem puder” pois “o trem tá feio mesmo”. Basta olhar para a drástica redução da classe média e o grande aumento da base da pirâmide social.
E você, caro leitor, como avalia o seu caso diante dos fatos e dados aqui citados?