Perceba as sutilezas da reduflação

por Luis Borges 25 de julho de 2022   Pensata

Faz tempo que estamos convivendo com o fantasma da inflação, após praticamente duas décadas e meia de estabilização econômica advinda do plano real de 1994, no governo federal do engenheiro Itamar Franco. Temos toda uma geração de brasileiros que ainda não tinha convivido com essa tamanha perda do poder de compra de bens e serviços.

Precisamos olhar bem e prestar atenção redobrada nas inúmeras sutilezas que acompanham os processos inflacionários.

O fato é que a inflação é uma garantia da perda de poder aquisitivo a começar pela incapacidade de muitas categorias de trabalhadores para conseguir repor em suas negociações salariais, pelo menos, a metade dos índices inflacionários do período negociado. Ainda assim, a carga tributária também aumenta devido a não correção da tabela do imposto de renda na fonte desde 2015.

Como existe uma forte tributação sobre o consumo dos alimentos, combustíveis, serviços de saneamento, energia elétrica, telecomunicações e transportes, fica claro que quem mais paga o pato são as camadas de mais baixa renda, que fazem parte da cada vez mais larga base da pirâmide social. Diante de tudo que está sendo falado e não falado nesse ano eleitoral polarizado, é grande o desafio para os diversos setores da economia em tentativas para mascarar a inflação na busca da minimização de seus efeitos.

Esse fenômeno é abordado pelo neologismo denominado reduflação, que segundo a enciclopédia livre Wikipedia é “o processo em que os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto que o seu preço se mantém inalterado ou aumenta. Este efeito é consequência do aumento do nível geral dos preços dos bens, manifestado por unidade de peso ou volume, causado por inúmeros fatores, principalmente a perda do poder aquisitivo da moeda e a queda do poder de compra dos consumidores e/ou do aumento do custo dos insumos, cuja resposta da oferta é a redução do peso ou tamanho dos bens transacionados”.

Um bom exemplo foi dado por um supermercado na zona leste de Belo Horizonte que vendia uma dúzia de ovos de galinha por R$ 11,90 e agora passou a vender uma caixa com espaço para 10 unidades (dúzia de 10) pelo mesmo preço da dúzia. Será que a pesquisa para compor o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA do IBGE consegue captar essa diferença sutil? Vale lembrar que nos últimos 12 meses (julho 2021 à junho 2022) ele ficou em 11,89%.

Inúmeros outros exemplos podem ser citados para chamar a nossa atenção sobre esse fenômeno e o processo que o gera. Lembremos da comida congelada, que você comprava em quantidade suficiente para alimentar duas pessoas e que o preço ainda é o mesmo, mas a quantidade foi reduzida em 40% e até a embalagem passou por uma readequação.

Lembremos também daquele medicamento de uso diário e contínuo que a indústria farmacêutica embalava no blister contendo 30 comprimidos, que agora vem com 28 e pelo mesmo preço alto de sempre.

Que tal a lembrança das bolachas recheadas, que tiveram a quantidade reduzia de 10 para 8, bem como o próprio diâmetro, e o preço simplesmente aumentou. Assim, cada um de nós pode perceber a enorme criatividade de todos que tentam fazer algo se parecer com o que não é. Mas é no bolso que cada um, conforme seu tamanho, pode perceber o quanto já perdeu e o enorme desafio que é fazer a gestão do orçamento.

Outros aspectos da reduflação estão ligados à legislação existente sobre a obrigatoriedade de informar ao consumidor a redução da quantidade e peso dos bens durante seis meses após a alteração. Vale também lembrar que existe no país o código de defesa do consumidor há mais de três décadas.

Mas esses temas ficarão para outra pensata.

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